Ninguém dá o que não tem

Ismália deu por encerrada a tarefa da oração no posto de socorro vinculado à colônia Campo da Paz, mais especificadamente no pavilhão dos Espíritos que dormiam. Ao perceber a perplexidade   de André Luiz e Vicente, seus tutelados, o instrutor espiritual Aniceto esclareceu, com sua proverbial sabedoria, os pormenores do ocorrido durante a prece proferida pela esposa de Alfredo: “(…)toda prece impessoal dirigida às forças Supremas do bem, delas recebe resposta imediata, em nome Deus. Sobre os que oram nessas tarefas benditas, fluem, das esferas mais altas, os elementos-força que vitalizam nosso mundo interior, edificando-nos as esperanças divinas, e se exteriorizam, em seguida, contagiados de nosso magnetismo pessoal, no intenso desejo de servir com o Senhor. (…) viram, vocês, cair sobre nós os elementos a que me refiro, e observaram a sua exteriorização com as luzes de cada um de nós, em benefício dos irmãos que dormem e sofrem. Concedeu-nos o Altíssimo a força de auxiliar, em porções iguais para todos, mas nós a espalhamos de acordo com a nossa possibilidade e coloração individuais. Ismália, cujos sentimentos são mais amplos e universalistas que os nossos, pode receber comais clareza o auxílio divino e distribuí-lo com mais abundância e eficiência. Temos, aqui, uma profunda lição. Como já disse, o Pai visita os filhos necessitados, através dos filhos que procuram compreende-lo. Não poderíamos abusar do senhor, como abusamos no círculo terrestre dos nossos pais humanos. Não vive Ele ao sabor de nossos caprichos pessoais. Nunca poderia vir, em pessoa, enxugar o pranto do necessitado que chora, em consequência, aliás, do olvido das Divinas Leis. Compete ao necessitado caminha ao reencontro dEle. O senhor, todavia, atende sempre a todos os homens de boa vontade, por intermédio dos homens bons, que se edificam na casa divina. Todos os nossos desejos e impulsos razoáveis são atendidos pelas bênçãos paternais do Eterno. Ainda que nos demoremos nas lágrimas e nas aflições, jamais permanecemos ao desamparo. Apenas devemos salientar que as respostas de Deus vão sendo maiores e mais diretas, à medida que se intensifique o nosso merecimento, competindo-nos reconhecer que, para semelhantes respostas, são utilizados todos quantos trazem consigo a luz da bondade, ou já possuem mérito e confiança para auxiliar em nome de Deus. (…) reparem que, nestes pavilhões, temos mil e novecentos e oitenta abrigados que dormem. Todos recebem diariamente alimento e medicação comuns, mas só quatrocentos são atendidos com alimento e medicação especializados, por se mostrarem mais susceptíveis de justa melhora. Desses quatrocentos, apenas dois terços se revelam aptos à recepção de passes magnéticos. Muitos não podem receber, por enquanto, água efluviada. Poucos foram contemplados com soro curativo e somente dois se levantaram, ainda assim, profundamente perturbados. Já que iniciam um trabalho de cooperação fraternal, não esqueçam esta lição. Façamos todos o bem, sem qualquer ansiedade. Semeemo-lo sempre e em toda a parte, mas não estacionemos na exigência de resultados. O lavrador pode espalhar as sementes à vontade e onde quer que esteja, mas precisa reconhecer que a geminação, o crescimento e o resultado pertencem a Deus. ” [¹]

O ensinamento é cristalino: ninguém pode dar o que não possuiu. No relato acima verificamos que os elementos-força verteram do mais alto em direção aos espíritos tarefeiros, irmãos já conscientes de suas responsabilidades para com o próximo. Como todos ali se encontravam em atitude de oração sincera e prontos para auxiliar, receberam as energias dos planos superiores de acordo com suas possibilidades ou, se preferir, em conformidade com suas condições evolutivas. Algo semelhante ao que Jesus relatou na parábola dos talentos. [²] Após serem absorvidos, esses elementos-força foram exteriorizados impregnados pelos fluidos dos próprios trabalhadores espirituais, manifestando assim o potencial e a luminosidade pertinentes à capacidade de cada Espírito. Pelo texto depreende-se que Ismália era a entidade mais evoluída presente naquele recinto.

Isso nos leva a pensar no quanto podemos contribuir com nossos irmãos, seja em tarefas assistenciais ou até mesmo nos diversos relacionamentos que mantemos. Quando nos conectamos às forças superiores da vida através da oração sincera, recebemos esses fluidos poderosos que somados às energias que nos são próprias, exteriorizam-se em benefício de quantos nos propormos a auxiliar em nome do Cristo. Todavia, para melhorar servir à espiritualidade amiga. É preciso produzirmos e cultivarmos energias positivas. Para isso é essencial mantermos desejos, sentimentos e pensamentos sempre elevados. Se quisermos fazer o bem, precisamos do bem dentro de nós. Se pretendemos espalhar o amor, é necessário cultivarmos o amor em nosso íntimo. Se ansiamos estender a paz por onde passamos, é indispensável respirarmos a paz em nosso mundo interior. Em suma, refletimos o que somos, damos o que temos. Quando entendemos isso e colocamos em prática os ensinamentos dos Espíritos superiores, criamos um círculo virtuoso, no qual nos alimentamos do bem em todos os sentidos, pois sempre podemos exercitá-lo e absorvê-lo, independentemente de qualquer coisa. E o Pai Celestial é tão magnânimo que estabeleceu em Suas leis que é dando que se recebe, como ensinou Francisco de Assis em sua famosa prece.

Deste modo, quanto mais amor oferecemos ao Universo, mais amor o Universo nos oferece. Quanto mais paz e luz espalhamos, mais luz e paz receberemos. Assim, nosso reservatório individual estará sempre transbordando de boas energias e caberá a cada qual espalhar os elementos-força que vêm do Mais alto, acrescidos de seus recursos morais e espirituais. “ O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do seu mau tesouro tira o mal; pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca”, ensinou o Mestre Jesus. [³]

Valdir Pedrosa

[¹] Os mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capitulo 25 (Efeitos da oração).

[²] Evangelho Segundo Mateus 25:14-30.

[³]Evangelho Segundo Lucas 6:45.