Um monstro chamado calúnia

Por definição, calúnia é a afirmação falsa e desonrosa a respeito de alguém. Este foi o grande mal praticado por Paulo em sua última encarnação. Ele se encontrava enfermo nas câmaras do posto de socorro da colônia espiritual “Campo da Paz”. Concentrando a capacidade ampliada de visão no doente, André Luiz e Vicente tiveram mais uma importante experiência de aprendizado, supervisionados pelo distinto Aniceto.[1]

Penetrando a tela mental de Paulo, observaram quadros sombrios com diversos vultos se movimentando, principalmente de mulheres. Dentre eles, chamava atenção o de Ismália aparentando estar ansiosa e com a saúde debilitada. Perceberam alguns vultos masculinos evidenciando desespero. No meio deles, identificaram o de Alfredo, marido de Ismália e administrador do posto de socorro, demonstrando cansaço e prematura velhice. Foi possível ouvir maldições e blasfêmias proferidas por vozes misteriosas contra Paulo. Enquanto as mulheres lhe acusavam, os homens agiam como algozes implacáveis dentro da intimidade do enfermo.

André e Vicente se mostraram surpresos pela presença de Ismália e Alfredo naquelas imagens mentais. Foi então que Aniceto explicou que Paulo era o falso amigo que havia lhes arruinado o lar.[2] Além disso, o infeliz companheiro, ali diante deles, cometeu não só a ingratidão, mas também instilou o veneno da calúnia no espírito de várias senhoras, bem como traiu a confiança de outros amigos e arrasou a paz de diversos lares. Segundo o mentor espiritual “o criminoso nunca consegue fugir da verdadeira justiça universal, porque carrega o crime cometido, em qualquer parte. Tanto nos círculos carnais, como aqui, a paisagem real do Espírito é a do campo interior. Viveremos, de fato, com as criações mais íntimas de nossa alma.”[1]

Nas recordações de Paulo, as imagens de Alfredo em pleno desespero e de Ismália aflita, criadas pelo próprio caluniador, constituíam-lhe uma verdadeira punição, pois embora o casal já houvesse superado o lamentável episódio, ele ainda se consumia nas labaredas da consciência culpada. Mais uma vez, Aniceto esclarece: “Para melhor elucidação, recordemos a crucificação do Mestre Divino. Sabemos que Jesus penetrou na glória sublime logo após a suprema dor do Calvário; entretanto, estamos ainda a vê-lo frequentemente pendurado na cruz, martirizado pelos nossos erros, flagelado pelos nossos açoites, porque a visão interior a isso nos compele. A condenação do Mestre foi um crime coletivo e esse crime estará conosco até ao dia em que nos vestirmos na divina luz da redenção. (…) O dever possui as bênçãos da confiança, mas a dívida tem os fantasmas da cobrança.” [1]

É importante frisar que Alfredo, sentindo a necessidade de disciplinar o campo do sentimento, levou Paulo ao posto de socorro para ser amparado. Desencarnado com muito ódio, o marido de Ismália muito sofreu em seus primeiros tempos no Além, não obstante a dedicação da esposa. Posteriormente, desvencilhado das vibrações de rancor e já amparado em “Campo da Paz”, caiu em si e compreendeu suas necessidades de aperfeiçoamento moral. Conquistando méritos aos poucos, logo intercedeu por Paulo, buscando-o nos abismos do umbral. Hoje, trata-o como irmão. Aniceto destaca, porém, que a vitória espiritual de Alfredo foi conquistada à custa de muito trabalho e renúncia. “Nos primeiros tempos, aproximava-se do enfermo como necessitado de reconciliação; depois, como pessoa caridosa; mais tarde adquiriu entendimento, comparando situações; em seguida, sentiu piedade; logo após, experimentou simpatia e, presentemente, conquistou a verdadeira fraternidade, o amor sublime de irmão pelo ex-inimigo.”[1]

Por fim, Vicente perguntou se Paulo ficaria no posto indefinidamente. Aniceto disse que o caluniador voltaria em breve ao planeta pela reencarnação. “Ismália tem feito a seu favor inúmeras intercessões e não deseja que ele, ao retomar a razão plena, se sinta humilhado, com o beneficio das próprias vítimas. Uma das irmãs, por ele caluniada no mundo, já voltou ao círculo carnal, e a abnegada esposa de Alfredo pediu-lhe que recebesse Paulo como filho, tão logo seja oportuno.”[1] No caso em tela, percebemos o quanto a calúnia é prejudicial à nossa evolução. Seus efeitos repercutem mesmo depois do desencarne e, em muitas situações, após grande período de perturbação, apenas a benção da reencarnação é capaz de devolver o equilíbrio e a harmonia a quem caluniou.

Valdir Pedrosa

[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 27 (O caluniador).
[2] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 17 (O romance de Alfredo).