Vida social no Posto de Socorro

A vida no Posto de Socorro não se resume apenas às atividades socorristas. Conta-nos André Luiz que, certa noite, Ismália e Alfredo receberam visitantes oriundos da colônia “Campo da Paz”, a qual o Posto era vinculado. “Temos, também, aqui, a nossa vida social. Como não? É preciso saber viver”[1], disse Alfredo. Naquele instante, chegava o casal Bacelar e suas duas filhas em uma carruagem confortável, semelhante as utilizadas no tempo de Luís XV, puxada por dois belos cavalos brancos. Ismália estava contentíssima com a visita e expediu convites afetuosos para que algumas famílias do Posto comparecessem ao castelo, a fim de participarem da seleta reunião.

Ao contrário do que se pode pensar, existe vida social no plano espiritual e, em muitos casos, é intensa. No livro Nosso Lar temos informações sobre eventos que ocorrem no Bosque das Águas e no Campo da Música, por exemplo. Os Espíritos superiores nos ensinam que “Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação”. Aprendemos que o insulamento absoluto é contrário à lei da Natureza, “pois que por instinto os homens buscam a sociedade e todos devem concorrer para o progresso, auxiliando-se mutuamente”. E concluem dizendo que “o homem tem que progredir. Insulado, não lhe é isso possível, por não dispor de todas as faculdades. Falta-lhe o contato com os outros homens. No insulamento, ele se embrutece e estiola”. [2] Não importa onde estejamos, seja no plano físico ou no plano espiritual, sempre precisaremos uns dos outros. A evolução, em si, é individual, entretanto, por mais paradoxal que possa parecer, ninguém evolui sozinho. A troca de conhecimentos e experiências, bem como a permuta de sentimentos e pensamentos, não poderiam ocorrer se vivêssemos de forma isolada.

Outro ponto que nos chama atenção é quanto à aparência dos visitantes. “O chefe do grupo mostrava idade avançada, revelando, porém, excelentes disposições. A senhora dava impressão de madureza, aparentando, contudo, maravilhosa vivacidade, assim como as duas moças”. [1] Temos aí mais uma confirmação dos ensinamentos da Doutrina Espírita, que nos esclarece que, dependendo da vontade e da condição evolutiva do Espírito, ele mantém na dimensão extrafísica a aparência que melhor lhe convém. Por isso nos deparamos com relatos a respeito de entidades que se apresentam com o visual de veneráveis anciões, como também de outras que preferem se mostrar com feições mais jovens. Há igualmente aqueles que exibem aparências que tiveram em reencarnações passadas, além daqueles outros que preferem manter o visual de sua última passagem no orbe terrestre.

Por fim, e não menos importante, destacamos a seguinte passagem: “A alegria era enorme. Não se observava qualquer nota de convencionalismo menos digno, como na Terra. Os gestos de cada um, a simplicidade, a despreocupação e as frases afetuosas demonstravam sinceridade pura. Permanecíamos num quadro social inacessível ao fingimento”. [1] Infelizmente são comuns no mundo carnal relacionamentos que não são baseados na sinceridade e afeição recíprocas. Em vários nota-se a presença de venenos morais como a mentira e a falsidade, acrescentando o que chamamos de convencionalismo social, que nada mais é do que padrões comportamentais normalmente aceitos pelo senso comum, mas que, dependendo do caso, tornam a relação fria e desprovida de naturalidade.

Aqui na Terra, em função do grosseiro corpo físico de que dispomos, conseguimos sem muito esforço esconder nossas reais intenções no convívio com as pessoas que nos cercam. Todavia, o mesmo não ocorre na dimensão espiritual. Lá, desprovidos da vestimenta carnal, utilizamos o perispírito, um corpo de energia mais sutil, diáfano, no qual se reflete a intimidade de cada um. Além disso, existem Espíritos com capacidade de ler os pensamentos facilmente. Percebe-se, assim, que nestes ambientes é impossível disfarçar o que sentimos. Não há espaço para falsidade no trato com os outros. A mentira é algo em extinção. André vivenciou momentos felizes ao presenciar cenas sem fingimento de qualquer natureza, onde reinavam a simplicidade, a afeição e a sinceridade.

Aliás, me lembrei de um comentário do nosso amigo espiritual, quando acompanhava o velório de um homem chamado Dimas. Em meio ao falatório desenfreado dos presentes, André disse que “(…) no estado atual da educação humana é muito difícil alimentar, por mais de cinco minutos, conversação digna e cristalina, numa assembleia superior a três criaturas encarnadas”. [3] Destarte, torna-se urgente nossa reforma moral, nos educando de modo a adequar o discurso à ação, saindo do campo teórico para a vivência prática. Já sabemos o que precisamos fazer. O que falta é fazer.

 

Valdir Pedrosa
[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 28 (Vida social).
[2] O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – 3ª parte – capítulo VII (Da lei de sociedade) – questões 766 a 768.
[3] Obreiros da Vida Eterna – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 14 (Prestando assistência).