Convivência no grupo espírita

 

No livro Conduta Espírita, ditado por André Luiz ao médium Waldo Vieira, o autor espiritual tem a generosidade de discorrer sobre qual deve ser o proceder do espírita sobre 47 diferentes temas do cotidiano. Mesmo afirmando na introdução do livro que não pretende estabelecer rotinas, cerimoniais ou convenções, reconhece ele a necessidade de “sintonizar as nossas manifestações, no campo vulgar da vida, com os princípios superiores que nos comandam as diretrizes”.[1]

A liberdade espiritual é essência da nossa Doutrina. Por uma questão de espaço não poderemos aqui tratar de todas as quatro dezenas de temas que o nosso amigo espiritual discorreu e, por isso, recomendamos o estudo do referido livro.
Destacamos, no entanto, um dos temas trazidos por André Luiz e observado por Kardec, em O Livro dos Espíritos:
“Quando, porém, [o homem] conseguir a soma de gozos que o progresso intelectual lhe pode proporcionar, verificará que não está completa a sua felicidade. Reconhecerá ser esta impossível, sem a segurança nas relações sociais, segurança que somente no progresso moral lhe será dado achar. Logo, pela força mesma das coisas, ele próprio dirigirá o progresso para essa senda e o Espiritismo lhe oferecerá a mais poderosa alavanca para alcançar tal objetivo”.[2]
O codificador coloca a segurança nas relações sociais como fator essencial para a felicidade. Isto nos ajuda a compreender que a convivência tem em nossas vidas um papel fundamental. Santo Agostinho nos ensina sobre isto quando fala dos mundos de provas e expiações. Ele diz, por exemplo, que nosso planeta tem as condições para nos fornecer os devidos estímulos necessários para o nosso crescimento intelectual e moral.[3]
“A Terra, conseguintemente, oferece um dos tipos de mundos expiatórios, cuja variedade é infinita, mas revelando todos, como caráter comum, o de servirem de lugar de exílio para Espíritos rebeldes à lei de Deus. Esses Espíritos têm aí de lutar, ao mesmo tempo, com a perversidade dos homens e com a inclemência da natureza, duplo e árduo trabalho que simultaneamente desenvolve as qualidades do coração e as da inteligência. É assim que Deus, em sua bondade, faz que o próprio castigo redunde em proveito do progresso do Espírito”.
O crescimento moral se expressa pelos nossos relacionamentos em todos os ambientes, sejam domésticos, do trabalho material, ou mesmo na casa espírita. E tanto Kardec como os espíritos da codificação nos alertam sobre isto. Se almejamos ser homens de bem, a nossa prática da caridade deve estar alinhada ao que nos propõe a questão 886, de O Livro dos Espíritos, que nos diz: benevolência para com todos, indulgência para com os erros alheios e perdão das ofensas. Não há como termos boa convivência e segurança em nossas relações sociais fora desta prática. As respostas às questões 298 [4] e 967 [5] de O Livro dos Espíritos são claras em relação ao tema.
O ambiente da casa espírita, em particular, é bastante propício à autoanálise de nossos pensamentos, falas e condutas, graças a boa intenção de todos os que estão presentes, bem como pela ajuda dos bons Espíritos, além do contato com princípios e valores que são estudados regularmente. O esforço deve ser de todos e de cada um. Não podemos terceirizá-lo sob pena de não experimentarmos, mesmo que superficialmente, a felicidade que os Espíritos mais elevados têm em mundos superiores. Não podemos postergá-lo sob pena de não sermos alcançados pela promessa do Espírito de Verdade: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!”[6]

Rômulo Novais

[1] VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita. Pelo Espírito André Luiz. Rio
de Janeiro: FEB, Item Mensagem ao leitor.
[2] KARDEC, Allan. O Livro dos espíritos. Tradução de Guillon
Ribeiro. 93ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013, 4ª parte, Capítulo II,
Conclusão, p 465.
[3] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução
de Guillon Ribeiro. 131ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013, Capítulo
III, Há Muitas Moradas na Casa de Meu Pai, p 63.
[4] KARDEC, Allan. O Livro dos espíritos. Tradução de Guillon
Ribeiro. 93ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013,
Parte II, Capítulo VI, p 181. […] ¨ Da discórdia nascem todos os
males dos humanos; da concórdia resulta a completa felicidade.”
[5] KARDEC, Allan. O Livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro.
93ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013,
Parte IV, Capítulo II, p 434. ¨ […] ¨ O amor que os une lhes é fonte
de suprema felicidade.¨ […]
[6] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução
de Guillon Ribeiro. 131ª

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Comunicação Vetada

Ser-lhe-á possível, meu irmão, entender-se por mim com os nossos orientadores quanto à possibilidade de me comunicar diretamente com a minha filha, presente à reunião? Estou certa de que, com a permissão devida, nossa Isabel me atenderá a angústia materna.”[1] Esse foi o pedido feito por uma senhora desencarnada a Isidoro, o marido já falecido de dona Isabel, que supervisionava as atividades espirituais em seu antigo lar. Tal solicitação é totalmente compreensível: uma mãe angustiada no plano espiritual querendo muito se comunicar com a filha que ainda se encontrava na dimensão física. Tal cenário deve ser mais comum do que imaginamos, pois basta ver os inúmeros casos semelhantes que fervilham em livros mediúnicos. Aliás, não seria esse um dos principais objetivos da mediunidade? Colocar em contato direto seres cujos laços de afeição permanecem após a morte?
É claro que, em circunstâncias absolutamente equilibradas, nas quais tanto o desencarnado quanto o encarnado apresentem harmonia e estabilidade emocional, merecimento, e desde que exista um propósito verdadeiramente útil, esse tipo de comunicação poderia ser realizada sem maiores problemas. Todavia, nem sempre é assim que acontece. Em muitas situações, o comunicante não possui as condições ideais ou, às vezes, é o estado do companheiro que ainda vive na carne que não lhe permite receber as mensagens do Mais Alto. Além disso, não podemos nos esquecer de três fatores imprescindíveis na comunicação mediúnica: o mérito, a necessidade e a utilidade do intercâmbio.
Diante do pedido daquela senhora, Isidoro, que tinha o desejo profundo de lhe ser útil, conversou com o instrutor espiritual mais graduado da reunião e, logo depois, um tanto quanto constrangido, trouxe para nossa irmã uma resposta surpreendente: “Minha irmã, o nosso nobre Anselmo não julga viável o seu pedido. Asseverou que sua filhinha ainda não está em condições de receber essa bênção. Ela tem necessidade de testemunhar, agora, o que aprendeu do seu exemplo, no mundo, e precisa permanecer no campo da oportunidade, sem repousar indevidamente nos seus braços. (…) Não somente por isso, minha amiga, nosso instrutor se vê forçado a desatender. A medida traria inconveniente grave para o seu sentimento maternal. No estado evolutivo em que se encontra, e considerando o velho hábito adquirido, a filhinha se agarraria excessivamente ao seu auxílio. Prender-se-ia à mãezinha afetuosa e sensível, e talvez a irmã se visse perturbada em sua nova carreira espiritual. Ela precisa estar mais livre para testemunhar, enquanto o seu coração deve permanecer em liberdade, por nobre merecimento conquistado ao preço do seu suor e lágrimas, quando na Terra. Considerando, embora, o caráter sagrado do amor em sua feição maternal, nossos orientadores não podem conceder à sua filha o direito de perturbá-la. Compreende? Não se atormente com esta impossibilidade transitória. Lembre-se de que todos somos filhos de Deus. O Senhor terá recursos para atender à jovem, em seu lugar. Quanto ao mais, alegremo-nos em nossos serviços. Recorde que o auxílio não se verificará pelo processo direto, mas podemos recorrer ao método indireto. Quem sabe? Amanhã, possivelmente, poderá encontrar-se com sua filha, em sonho.” [1]
Isso explica o motivo de inúmeras vezes não sermos atendidos em nossos mais profundos desejos de obter mensagens de entes queridos desencarnados. Como aprendemos acima, comunicações são vetadas pelos mentores simplesmente porque seriam prejudiciais aos envolvidos. A separação das criaturas, embora temporária, é necessária. No caso em estudo, aquele era o momento em que a filha encarnada precisaria crescer, caminhar com as próprias pernas, sem se abrigar demasiadamente na mãe. Se o intercâmbio mediúnico ocorresse, ela veria nesse fenômeno uma oportunidade de sempre buscar o auxílio da genitora, deixando de se esforçar e progredir na senda evolutiva. Começava uma nova etapa em sua vida, na qual ela deveria exemplificar o que aprendeu com a mãe. Era hora do testemunho. Por outro lado, tudo isso poderia causar graves perturbações à senhora desencarnada que, simplesmente por ter atravessado o véu da morte não deixou de ser mãe amorosa e velosa. Por essas razões, o veto naquele instante era o mais sábio a ser feito, pois acima de qualquer coisa, aquela filha era, antes de tudo, filha de Deus, o Pai que nunca nos desampara.
Mas resta ainda uma lição, não menos importante: quando pautamos nossas atitudes no amor, absolutamente nada fica perdido, nada fica sem resposta. Isidoro salienta que o impedimento se refere apenas ao contato direto. Porém, em função do enorme amor maternal daquela senhora, poderiam recorrer ao procedimento indireto, através do qual é possível que encarnados e desencarnados se encontrem por meio dos sonhos.

Valdir Pedrosa

[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por
Francisco Cândido Xavier – capítulo 47 (No trabalho ativo)

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Que fazeis de especial?

Em leitura do Sermão do Monte, momento consagrado a grandes revelações da Lei de Amor pelo Mestre Jesus, deparamo-nos com a frase acima: Que fazeis de especial? É uma pergunta direta, sem rodeios, que nos instiga a pensar sobre a nossa conduta na presente reencarnação e o tanto que isso influencia o próximo, seja para o bem ou para o mal.
É certo que estamos cercados por uma nuvem de testemunhas¹, conforme nos relata o apóstolo, e esses que nos rodeiam avaliam nossa conduta para saberem se agimos do jeito que falamos. Ainda, tanto atuando no bem quanto no mal, sintonizamos com outras entidades e potencializamos a ação com a força condutora do bem ou do mal.
Portanto, o direcionamento do nosso proceder na Vida diz sobre quem são as testemunhas que nos rodeiam e como influenciamos e somos influenciados por elas.
Assim, é prudente perguntar: estamos fazendo algo fora da nossa rotina, que nos distingue e que estejamos empregando toda a nossa excelência? Não estamos querendo dizer que é para fazermos algo que está fora das nossas forças ou ainda do nosso entendimento, mas sim dentro daquilo que nos compete, como cristãos. Por exemplo: na sua ocupação de trabalho, você tem empregado o melhor de si, a sua melhor versão de trabalhador? Na sua família tem sido o melhor pai, a melhor mãe, o melhor filho? Ou simplesmente tem se “agarrado” às reclamações, doenças ou comportamentos que “escravizam” as pessoas ao seu modo de proceder? No meio social tem se portado com dignidade, tolerância e fraternidade? Entendendo que nem todos têm o mesmo conhecimento, inteligência ou pensamentos iguais aos seus? Que todos merecem uma palavra de gentileza e carinho? Porque tanta exigência de nossa parte ou ainda que nos obedeçam incontinenti? Somos parte do problema ou a solução do mesmo? São reflexões que exigem nosso fazer, nosso construir, e nosso emprego na forma física e moral, ao que já nos foi ensinado por Jesus.
E a presente encarnação nos é concedida por Deus, através de Jesus, como oportunidade para nos aprimorarmos como espíritos. E essa especialização começa no instante em que compreendemos nossa responsabilidade com o bem do próximo. Porque a maior prova de amor é “fazer ao outro o que gostaria que te fizessem”² e que o amor, em sua existência, será aquilo que você fizer dele³.
Nesse sentido, Emmanuel, no livro Vinha de Luz, afirma que os “espiritistas cristãos possuem patrimônios de entendimento muito acima da compreensão normal dos homens reencarnados”, mas ainda se encontram fazendo as coisas de ordinário, comum, sem realmente colocar em prática os ensinamentos de Jesus. “Então façamos o nosso melhor que nós pudermos fazer enquanto não tivermos condições melhores de fazer melhor ainda o que nos dispomos a fazer”4.
Temos sido crentes sem sermos cristãos, ou seja, cremos na palavra do Senhor (“campo da ideia”) mas não nos movimentamos para que a palavra se concretize em obras (“campo da ação”). Primeiro em nós mesmos e, em segundo para aqueles que necessitam.
De tal forma que ao fim da presente jornada possamos afirmar para nós mesmos: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”.
Ou melhor: apesar das dificuldades, renunciei a mim mesmo, mantive a fé e a confiança em Jesus.
Conte conosco Senhor, estamos prontos.

João Jacques

¹ Hebreus, 12:1.
² Mateus, 7:12.
³ André Luiz, livro Sinal Verde, “Em matéria afetiva”, capítulo 37.
4 Palestra Psicosfera, Emerson Pedersoli, Laframn.
[5] Paulo de Tarso, 2 Timóteo 4: 7-8.
[6] Emmanuel, livro Vinha de luz.

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O melindre e suas raízes

Quando buscamos o significado da palavra melindre, dentre muitos, vamos encontrar que é uma tendência da pessoa que se magoa com facilidade.
Este sentimento, além de fortalecer no indivíduo a falsa ilusão de injustiça, gera obstáculos para o seu crescimento, e para a vivência das experiências necessárias, diante das conquistas que logra alcançar.
O melindre nasce do orgulho, que dita muitas vezes, em nossas existências, uma visão equivocada que nos leva a crer que temos privilégios e que não podemos sofrer nenhuma restrição aos nossos desejos e vontades. No fundo estas posturas revelam insegurança e imaturidade espiritual.
Para vencermos tal estado de ilusão, temos como rota segura o autoconhecimento, que mobiliza em nós as potencialidades da alma imortal, capazes de sustentar o nosso equilíbrio emocional nas circunstâncias da vida.
O fortalecimento da fé, por meio da prece, do trabalho no bem, do estudo de uma página edificante, e tantos outros recursos espirituais, como também os recursos que a ciência nos oferece, conduzem ao reconhecimento da paternidade Divina, eliminando o medo do abandono, do fracasso, do não reconhecimento; despertando o autoamor, único caminho para a legitima fraternidade.
Aos poucos, respeitando o tempo de cada floração, vamos compreendendo que existe espaço e possibilidade de beleza e perfume para todos os seres no imenso jardim do Criador.
Que tenhamos a certeza deste amor e sigamos firmes, rumo a novos sentimentos e possibilidades.

Mariluce Gelais

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Conhece-te a ti mesmo

A importância de conhecer a si mesmo vem sendo transmitida aos homens por filósofos e pensadores muito antes da vinda de Cristo. No século IV AC, a mensagem “Conhece-te a ti mesmo” já se encontrava gravada no pórtico de entrada do templo do deus Apolo, na cidade de Delfos, na Grécia antiga.
No O Livro dos Espíritos, questão 919, Kardec pergunta ao Espírito da Verdade qual seria o meio mais eficaz para nos melhorarmos e resistirmos às solicitações do mal. Temos como resposta: “Um sábio da antiguidade vos disse: “Conhece-te a ti mesmo”. Essa é a máxima que fundamenta toda a doutrina filosófica de Sócrates. O pensador dizia que devemos procurar conhecer a nós mesmos antes de nos preocuparmos em conhecer a origem da natureza ou das coisas. Sócrates aconselhava os seus discípulos na busca do autoconhecimento para que pudessem vencer as trevas interiores.
O espiritismo reforça com veemência a importância do autoconhecimento, de saber quem realmente somos, de conhecer as nossas dificuldades, de tirar as máscaras que muitas vezes usamos, até inconscientemente, para acobertar as nossas imperfeições.
Transportando a essência desses ensinamentos para os dias atuais, devemos nos perguntar: será que estou buscando me conhecer? Será que estou utilizando o autoconhecimento como meta para atingir o meu crescimento espiritual?
Para evoluirmos espiritualmente é importante identificarmos em nós as virtudes que temos, objetivando aprimorá-las, e as nossas más tendências que precisamos eliminar. O autoconhecimento é processo de libertação pois nos permite conhecer quem realmente somos.
Na prática, como proceder para o conhecimento de si mesmo? Na questão 919a de O Livro dos Espíritos, Kardec faz exatamente esse questionamento acima. A resposta é dada por Santo Agostinho, que sugere a prática que exercitava enquanto encarnado aqui na Terra. Ele nos diz que devemos refletir sobre as nossas atitudes diárias, nossas palavras, nossos sentimentos, nossas ações, sejam eles positivos ou negativos. Ele nos conta que, diariamente, ao fim do dia, interrogava a sua consciência e perguntava a si mesmo se não faltara com algum dever, se teria dado motivos para alguém dele se queixar. Ele afirma que assim agindo, foi descobrindo as mudanças interiores que necessitava realizar.
Temos o livre-arbítrio para mudarmos quem somos. Rever as nossas atitudes diárias, questionar a razão de agirmos de determinadas maneiras, auxilia-nos a compreender melhor a nossa personalidade. Entender a nossa consciência, identificar nossos desejos, seus limites, perceber nossos erros, aceitá-los, repará-los de forma humilde, porém resiliente, são metas que podem ser alcançadas através da meditação, do questionamento interior, ou seja, de práticas que conduzem ao autoconhecimento. A partir do momento em que realmente sabemos quem somos e como reagimos, tornamo-nos capazes de lidar com sentimentos negativos sem que eles nos dominem. Conhecendo-nos seremos capazes de, aos poucos, realizarmos a nossa reforma íntima, processo esse que consiste em olhar para si mesmo e mudar de dentro para fora, transformando pensamentos e ações. A busca pelo autoconhecimento tem que ser resultado da nossa vontade e não de mera intenção. É necessário querer. É preciso decidir olhar para dentro de si. Não há progresso possível sem a observação de nós mesmos. E esse não é um processo fácil. Exige disciplina, força de vontade, dedicação. Como nos diz o filósofo Immanuel Kant: “Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço”. Que possamos “Conhecer a nós mesmos” para que sejamos capazes de nos libertar de nossas sombras e encontrar a luz, não fora, mas dentro de nós.

Eliane Marchetti

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A orientação mediúnica

A orientação mediúnica que buscamos na Fraternidade Espírita Irmão Glacus está revestida de lições que precisamos descobrir – retirar o véu da letra.
São palavras grafadas de lições imorredouras que o solicitante, ansioso para ter o seu “desejo” respondido, terá deveras dificuldade de ir além da grafia.
Como todo recurso da misericórdia, a orientação, como o nome já esclarece, é um roteiro aos que a buscam.
André Luiz, em suas obras amplia-nos a visão de como se dá o mecanismo.
Vamos buscar refletir sobre o seu conteúdo.
Aparentemente, são palavras sem sentido profundo à Alma imatura, mas bastará buscar o significado para que se amplie: “Paz e alegria; Jesus abençoe; cooperaremos; ler os livros…; cooperar em uma tarefa de caridade; preces no lar, intuiremos”, são muitas… Tratados para os bem-aventurados…
Precisamos mergulhar no significado destas palavras, contextualizando-as, sentindo-as… Os benfeitores espirituais buscam tocar-nos em nossas necessidades de arrependimento, expiação, reparação e de entendimento acerca das coisas do espírito. E nós desejamos, com comportamentos infantis, respostas às nossas atuais necessidades emocionais e materiais. Vejamos: Que significado poderia ter “Paz e Alegria”?
A Paz só a tem os Espíritos que já venceram, ou melhor dizendo, domaram as suas más inclinações, a ponto de estas serem o combustível da Vontade¹, descrita por Emmanuel, como sendo a gerente de uma organização que tem sobre a sua tutela os departamentos do desejo; da inteligência; da imaginação; da memória…
Paz só a sentem os Espíritos que já exercitam a indulgência consigo.
Paz só a compreendem as Almas que têm burilado a sua vaidade, nas multifaces da personalidade.
Paz é obediência, consentimento da razão.
E a Alegria? A coirmã da Paz. Nela temos a possibilidade de exercitar o Amor em sua mais simples expressão. Não devemos associar a alegria à euforia, ao entusiasmo, às expressões do sorriso facial e corporal.
A alegria é um estado d’Alma. Há seres que nas maiores adversidades materiais e morais são portadores dela. Somente a adquirimos quando já é um estado d’Alma, a espelhar-se em nós. Como? A aceitação de como somos nesta existência – o corpo físico com sua beleza e as deformidades da nossa personalidade, pelas escolhas transatas a nos reclamar corrigenda e transformação. A alegria se instala na Alma que busca dar um sentido existencial à própria vida.
A alegria é um estado de espiritualidade. Portanto, jamais é sentida nas coisas materiais. Somente possuem a alegria, os Espíritos que têm empatia pelo seu semelhante, pois o vê como um Irmão e Irmã que, como ele, está no seu bom combate. Alegria é resignação, consentimento do coração.
Então, “Paz e Alegria” é resultado daquele Ser que se autodescobriu e mais, tem se esforçado para transformar suas realidades íntimas, a partir das suas relações no lar, no trabalho, em sua religiosidade, nas relações sociais. E também descobriu que para ter paz e alegria é necessário vencer com muita renúncia e abnegação – recursos de ordem científica e não meros ritos religiosos.
Desta feita, o que os Benfeitores estão a nos dizer é que precisamos começar, continuar, nos dedicando a clarear quem somos, para enfim nos amarmos…
A nós, os Espíritas, foi ofertado pela misericórdia este contato íntimo com os moradores de outras dimensões do Amor. Pensemos sobre este prisma. Construa o teu amor a partir das suas realidades, ao invés das ilusões do ego e verás que és um “filho” abençoado, pois, em uma noite, em que tua alma angustiada pelos pecados da dor, vem em busca do Cristo Jesus, por meio de outro “filho” despido do corpo físico, que como tu, luta para vencer os seus dramas expiatórios em busca da paz e alegria.
Que Jesus, conhecedor de todos nós, continue a reluzir em nossas almas, nas várias dimensões da vida, o seu infinito amor a nós, seus Irmãos do caminho.
Aos Espíritas que se dispõem a serem os intérpretes do Rabi da Galileia, recebam a nossa gratidão pelo esforço em vencer a si mesmos, ofertando-nos o seu amor e o amor de nosso Pai, Deus.

Júnior

¹Pensamento e Vida, Francisco Cândido Xavier, ditado Pelo Espírito Emmanuel

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Não seja espírita só no centro

As pessoas que vão à casa espírita devem fazê-lo cientes de que estão adentrando uma instituição que, por meio dos ensinamentos legados por Jesus, Allan Kardec e diversos Espíritos superiores, visa auxiliá-las em sua evolução espiritual, fornecendo-lhe oportunidades de estudo e trabalho. Assim, o centro precisa ser visto como um local sagrado, onde o respeito, a fraternidade e a paz reinem em todos os corações. Para muitos, ele será um hospital que fornecerá o tratamento adequado. Para outros, será visto como importante escola de aprendizado e preparação para a vida. Por fim, alguns o verão como elevada escola de trabalho da seara do Cristo.
Desta forma, para melhor aproveitarmos o tempo que permanecemos entre suas paredes, é imprescindível que tenhamos postura mental adequada, predominando o equilíbrio e a harmonia. Evitar o sono, as conversas paralelas e o pensamento vago são medidas fundamentais que denotam não apenas o respeito que temos pela casa que nos acolhe, mas também demonstra a atitude íntima do discípulo que busca com afinco a compreensão das lições do Mestre Nazareno. Infelizmente, são abundantes as situações em que esses aspectos são desprezados. Além de não aprender, muitos ainda perturbam o ambiente e geram transtornos para a Espiritualidade.
Na residência de dona Isabel, relata-nos André Luiz que o companheiro encarnado Bentes, inspirado por mensageiro invisível de nobre posição, proferia palestra que era recebida com respeito pelos desencarnados. Contudo, o mesmo não ocorria no plano físico, onde observava-se uma instabilidade nos pensamentos. Os presentes estavam demasiadamente inquietos e em ansiosa expectativa, o que acabava perturbando o fluxo vibratório. Uma enorme irresponsabilidade era exibida principalmente pelos mais novos em conhecimentos doutrinários, cujas mentes permaneciam vagando bem longe dos comentários edificantes. Os amigos espirituais chegavam a ver as imagens mentais que emitiam. Alguns estavam pensando nas tarefas domésticas, outros se prendiam meramente na realização imediata dos objetivos que os haviam levado até ali. Atualmente é possível identificar pessoas com olhares vagos, talvez pensando na novela, no filme ou no futebol que estão deixando de assistir enquanto estão na casa espírita.
Segundo André, houve momentos em que o desequilíbrio atingiu proporções capazes de afetar a mediunidade de dona Isabel, bem como a recepção da intuição mediúnica do senhor Bentes, que parecia perder a sequência de ideias em sua palestra. Aproveitando o ensejo, o mentor Aniceto considerou: “Muitos estudiosos do espiritismo se preocupam com o problema da concentração em trabalhos de natureza espiritual. Não são poucos os que estabelecem padrão ao aspecto exterior da pessoa concentrada, os que exigem determinada atitude corporal e os que esperam resultados rápidos nas atividades dessa ordem. Entretanto, quem diz concentrar, forçosamente se refere ao ato de congregar alguma coisa. Ora, se os amigos encarnados não tomam a sério as responsabilidades que lhes dizem respeito, fora dos recintos de prática espiritista, se, porventura, são cultores da leviandade, da indiferença, do erro deliberado e incessante, da teimosia, da inobservância interna dos conselhos de perfeição cedidos a outrem, que poderão concentrar nos momentos fugazes de serviço espiritual? Boa concentração exige vida reta. Para que os nossos pensamentos se congreguem uns aos outros, fornecendo o potencial de nobre união para o bem, é indispensável o trabalho preparatório de atividades mentais na meditação de ordem superior. A atitude íntima de relaxamento, ante as lições evangélicas recebidas, não pode conferir ao crente, ou ao cooperador, a concentração de forças espirituais no serviço de elevação, tão só porque estes se entreguem, apenas por alguns minutos na semana, a pensamentos compulsórios de amor cristão. Como veem, o assunto é complexo e demanda longas considerações e ensinamentos”.¹
Ao contrário do que muitos pensam, concentração não é atitude exterior, mas sim a associação a algo, mas não adianta absolutamente nada querer ou tentar se associar ao bem exclusivamente no decorrer dos trabalhos espirituais. Não se cultiva o bem somente nesse momento. Não se é espírita só no centro. De que adianta conhecer o espiritismo e não o praticar? Para nos congregarmos às forças da luz é preciso andarmos na luz, é necessário ter comportamento condizente com a Doutrina que professamos. Devido a essas condutas inadequadas das pessoas, tanto dentro quanto fora das casas espíritas, André percebeu que a palestra proferida pelo senhor Bentes proporcionava benefícios imediatos aos desencarnados, que recebiam consolação e conforto imediatos. Dentre os encarnados, se não fosse o devotamento dos amigos espirituais, o aproveitamento seria quase nulo, pois a maioria cochilava ou estava com os pensamentos desajustados, facilitando as influências nocivas.
Diante de tudo isso, constata-se que nós, enquanto Espírito imortais, devemos primar para sermos melhores a cada dia, sempre nos ajustando ao Evangelho e nos sintonizando com nossos guias e mentores. Afinal de contas, Aniceto deixou um alerta que, em outras palavras, quer dizer o seguinte: não seja espírita só no centro ou enquanto desempenha suas atividades doutrinárias; seja espírita sempre, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.

Valdir Pedrosa

 ¹Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco
Cândido Xavier – capítulo 47 (No trabalho ativo).

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Queixas

Resquícios de nossa ancestralidade egoísta, surge a queixa ou a lamentação, como erva daninha a prejudicar o ambiente em que se instala.
Embora a maioria das criaturas encarnadas esteja passando por provas difíceis, a reclamação ou a queixa em nada resolvem. Aliás, agravam a situação, aumentando o sofrimento em função da lamentação inoportuna.
Certo é que podemos expressar indignação diante das ocorrências infelizes da vida, onde nossa palavra ou atitude, sensatamente colocada, promove o benefício aos semelhantes.
Entretanto, a queixa, quase sempre centraliza nossa mente em circunstâncias infelizes e, nesta posição, costumamos exagerar os defeitos e as nódoas alheias, desperdiçando tempo precioso e ao mesmo tempo, vinculando-nos à outras mentes enfermiças do mundo invisível.
Quem costuma queixar-se de tudo e de todos, cria em torno de si uma psicosfera doentia, cuja presença gera mal-estar em torno daqueles que comungam sua presença, tanto encarnados quanto desencarnados. E por um processo de reflexão, aqueles que estão próximos, caso não estejam em vigilância, passam a reforçar as queixas, criando um clima de desalento e revolta, destruindo as mais belas florações de trabalho e de esperança. Mesmo em nossa casa espírita, quantas obras são prejudicadas em decorrência de nossas queixas, muitas das vezes em função do orgulho ferido? E vale lembrar que mesmo sem expressar verbalmente, quantas queixas mentais estamos emitindo pelo Universo? Cultivemos a fraternidade e o bem, porque, hoje e amanhã, colheremos da própria sementeira, segundo Emmanuel.
Herdeiros de nós mesmos, é o próprio espírito, antes de encarnar, quem escolhe o gênero de provas que irá passar. Desta forma, admitindo que não existem “injustiçados” sobra a Terra, a queixa em relação às vicissitudes da vida, decorrentes do desencadeamento do gênero de provas escolhido, representa acima de tudo ingratidão à Deus. Segundo o benfeitor Emmanuel, Deus permite que “a seiva que nutre a rosa é a mesma que alimenta o espinho dilacerante. Na árvore em que se aninha o pássaro indefeso, pode acolher-se a serpente com as suas armas de morte.” Então porque a queixa, se tudo no universo tem uma razão de ser? Em muitas circunstâncias, aquela pessoa que afastamos pela nossa queixa, pode ter sido a benção que Deus enviou-nos a fim de evitar males maiores em nossa existência.
Necessário retificar nossa visão de mundo, das coisas, das circunstâncias, a fim de vivermos em paz. Esquecemos que somos espíritos na carne e nessa inversão de consciência, acostumamo-nos a supervalorizar a nossa personalidade, quase sempre iludidos de que somos melhores do que outros perante do Criador. Emmanuel orienta-nos o seguinte: “anexai os desejos do reino de vosso ‘eu’ aos sábios desígnios do Reino de Deus”, pois cada desequilíbrio nosso, terá seu reajuste no tempo.
O indivíduo queixoso, quase sempre atribui aos outros a culpa pelos seus insucessos. Diz-nos André Luiz, que “quem vive colecionando lamentações, caminhará sob chuva de lágrimas”. Não tem como ter saúde física e mental, lamentando e reclamando sistematicamente. Os amigos espirituais podem derramar uma “chuva” de bençãos sobre nós, mas se não aprendermos a silenciar e a desculpar as faltas alheias, que também costumam ser nossas, de quase nada valerá o esforço dos benfeitores espirituais a nosso favor.
Assim, considerando que nada acontece ao acaso em nossas existências, Emmanuel nos esclarece que “o discípulo do Evangelho deveria, antes de qualquer alusão amargosa, tranquilizar o mundo interno e perguntar a si mesmo: Queixar por quê? Não será a esfera de luta o campo de aprendizado? Acaso, não é a sombra que pede luz, a dor que reclama alívio? Não é o mal que requisita o concurso do bem?
Tiago, em sua carta (5:19) adverte-nos: “Irmãos, não vos queixeis uns contra os outros, para que não sejais condenados.” Ou seja, condenados pela nossa própria consciência em culpa, cujos reflexos de nossas vibrações doentias, escravizam-nos em teias de enfermidades que nós mesmos criamos.
Certo é que a maioria de nós ainda estamos naquela situação de consolidação dos valores evangélicos, propostos por Jesus.
Portanto, busquemos a exemplificação do Mestre querido que, mesmo sendo traído e abandonado pelos amigos e agredido pela turba inconsciente, não levantou uma única queixa, mas ao contrário, compreendeu a defecção dos companheiros e a ignorância das massas, ali representando a humanidade inteira e, mantendo-se uno ao Criador, endereçou a todos nós a benção do perdão e o olhar de bondade e de misericórdia para com as nossas imperfeições.
Esforcemo-nos para segui-lo.

Mariano Cunha.

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O espiritismo e as artes

Uma das primeiras referências encontradas de como o espiritismo considera a arte está na Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos, na edição publicada em dezembro de 1860. A Revista informa que, em um dos encontros da Sociedade de Estudos Espíritas, realizado no dia 23 de novembro daquele ano, o espírito de Alfred de Musset (poeta, novelista e dramaturgo francês do século XIX, um dos expoentes do Romantismo, que desencarnou em 1857), tendo como médium a senhorita Eugénie, espontaneamente se disponibilizou a responder quaisquer questões dos presentes. Assim, foi perguntado ao Espírito de Alfred, qual seria a influência da poesia no espiritismo. Ao que ele respondeu que a poesia é o bálsamo que se aplica sobre as feridas; ela foi dada ao homem como um maná celeste, e todos os poetas são médiuns que Deus enviou sobre a Terra para regenerar um pouco o seu povo, e não os deixar embrutecer inteiramente.
Sugerimos àqueles que têm interesse em conhecer um pouco mais sobre as poesias espíritas, e em especial sobre a poetisa brasileira Auta de Souza, desencarnada em 1907, que assistam no canal da Feig no YouTube o programa “Na Rota do Espiritismo”, de 20/04/2022. Neste programa redescobrimos a beleza dos vários poemas ditados por este Espírito a Chico Xavier e a outros médiuns, que nos trazem mensagens de bondade e esperança, apelo à fé e à caridade, indicando o rumo certo para a conquista da verdadeira vida. Ainda no citado programa virtual da Feig, nos dias 6 e 13 de abril desse ano, foram tratados os temas Música Espírita, em merecida homenagem a João Cabete e Pintura Mediúnica ou Psicopictografia, respectivamente.
Sim, a influência inspiradora e amorosa da música sobre a alma é uma realidade que se pode comprovar na obra de João Cabete. Suas músicas, tantas vezes executadas nas diversas atividades da FEIG, nos encantam!
No programa do dia 13 de abril, a Feig recebeu dois convidados da Sociedade Beneficente Bezerra de Menezes – SBBM, do Rio Grande do Sul, que falaram sobre a pintura mediúnica. Ieda Maria Luyet, coordenadora do setor de psicopictografia e o Ronaldo Weisheimer, do setor mediúnico, ambos da SBBM, trouxeram esclarecimentos sobre a interface da mediunidade com a arte. Apresentaram os livros sobre o tema psicopictografia, entre eles o Psicopictografia: Um despertar para a luz e um outro recém-lançado1 que trazem informações sobre como esse tipo de mediunidade é aplicado na assistência a espíritos desencarnados.
A arte, além de encantar nossos espíritos, é um recurso terapêutico que com Jesus traz renovação e esperança. Uma boa referência para se compreender a visão da “arte espírita” é o livro O Espiritismo na Arte, de Leon Denis, que viveu entre 1846 e 1927 e também foi um dos responsáveis pela disseminação da filosofia espírita após a morte de Allan Kardec. Embora o autor não trate especificamente da prática da pintura mediúnica, a psicopictografia, aborda a influência dos espíritos sobre pessoas ainda encarnadas que trabalham tanto com a pintura, quanto com outras artes como a arquitetura, a música, a escultura, etc. É interessante observar as definições de arte do autor, que diz que a beleza é um dos atributos divinos e que Deus a colocou nos seres e nas coisas para nos encher a alma de admiração, às vezes de entusiasmo. Complementa Denis que “A arte é a busca, o estudo, a manifestação dessa beleza eterna, da qual aqui na Terra não percebemos senão um reflexo”.

Leticia Schettino

¹Psicopictografia: Um caminho para a Paz, Ieda Maria Luyet,1ª Edição

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SOS Preces: “Ligue e dê um alô para a esperança.”

Estamos nos aproximando do aniversário de 40 anos da tarefa do SOS Preces em nossa Feig e o sentimento de imensa gratidão, por tantas bençãos recebidas, toma conta dos nossos espíritos, proporcionando-nos algumas reflexões acerca desta tarefa iluminada.
Nesses momentos, palavras nunca são suficientes para traduzir o real sentimento de contentamento e agradecimento ao nosso querido irmão Glacus e toda espiritualidade amiga da casa, que nos oportunizam, no dia a dia, de hora em hora, estarmos juntos neste “oásis de caridade, trabalho, fé e amor que é o SOS Preces”. Palavras proferidas pelo mentor da tarefa, Dr. Bezerra de Menezes, a quem recorremos infinitas vezes, rogando que a luz dos seus olhos misericordiosos ilumine nossos espíritos, e que suas mãos dadivosas operem em favor da cura, do socorro, do remédio espiritual em benefício de todos aqueles que sofrem.
Nossos eflúvios de gratidão também envolvem o fundador desta tarefa: o dedicado irmão espiritual Célio Varela, incansável trabalhador das primeiras horas, desde 01/05/1982.
Lembranças carinhosas, repletas de saudades e de agradecimento, também transbordam dos nossos corações e partem em direção à nossa querida irmã Ilza Marques, hoje na pátria espiritual. Diretora da Assistência Fraterna e plantonista há tantos anos, tendo nos deixado importantes diretrizes, orientações e exemplos de como acolher os corações aflitos através dos fios invisíveis do telefone. Também a outros tantos irmãos que com dedicação e carinho contribuíram para o bom desempenho da tarefa.
A Feig é um hospital de almas e uma escola. Local onde exercitamos o “Amai-vos e instrui-vos”. O SOS Preces pode ser considerado como o Pronto Socorro Espiritual. Um espaço que possibilita um pronto atendimento, uma assistência durante o período de onze horas diárias, inclusive aos sábados, domingos e feriados, onde sempre haverá um ou dois tarefeiros de plantão para acolher os irmãos que ligam em busca de uma prece, uma mensagem, uma orientação, de um lenitivo, de um alívio para suas dores, aflições e angústias.
A presença da equipe espiritual do SOS proporciona uma psicosfera elevada, de tal forma que vários recursos curativos e balsamizantes são empregados no momento da ligação. Conforme manifestou o nosso querido irmão José Grosso: “Quando o telefone toca, um fio brilhante, se assim podemos fazer compreender melhor, liga o atendente àquele que necessita do atendimento. E este fio facilita a comunicação dos pensamentos, e o Mentor ou Mentores que comandam essas atividades têm um veículo através do qual podem interferir com mais facilidade. É como se um soro fosse ligado na veia do paciente: o Responsável no plano espiritual pela atividade pode interferir, mais diretamente, junto ao companheiro que necessita do atendimento.” (http://www.feig.org.br/content/sos-preces-30anos)
O Evangelho de Mateus, 18:20, ensina-nos que “Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome, eu me encontrarei entre elas”.
Muitas vezes acontece de sermos surpreendidos por situações tão inesperadas, que nos abalam de tal forma a não conseguirmos sequer asserenar nossa mente para fazer uma prece, seja para nós mesmos, ou para o nosso próximo. Nesses momentos devemos nos valer do poder que tem a prece intercessória. Jesus orou por seus discípulos e seguidores nas horas supremas. Sabemos que o poder da prece está no pensamento, não depende nem das palavras, nem do lugar, nem do momento e da forma. O que realmente importa é a intenção no bem, é a intensidade da corrente fluídica que se estabelece, acalmando, dulcificando, elevando aqueles que oram às regiões superiores, que propiciam uma melhoria nas emoções, na disposição íntima, fortalecendo o ânimo, encorajando e sustentando, tanto aquele que roga o auxílio para si, como aquele que intercede pelo irmão.
A benfeitora espiritual Joanna de Ângelis, em seu livro “Momentos de Meditação”, psicografado por Divaldo Pereira Franco, cap.20, compara a oração de intercessão com um bálsamo para a alma, que se torna medicação para o corpo. “Não resolve o problema, nem retira a aflição, que constituem recurso de reeducação, todavia, suaviza a aspereza da prova e inspira o calceta, auxiliando-o a atenuar os golpes do próprio infortúnio”. Quando oramos, nossos pensamentos emitidos canalizam nossas forças vivas em direção ao objetivo pelo qual a prece é proferida. Sintonizamos com a ideia divina, com as forças da vida, em faixas de vibrações mais sutis, por isso sentimos um bem estar, uma plenitude após orarmos, e nos tornamos mais receptivos à ajuda que vem do mais alto em nossa direção, abrindo nossos canais de intuição para tomarmos as ações necessárias em nossas vidas.
Quando oramos por um enfermo, o encorajamos com as ideias salutares de que as enfermidades são temporárias e fazem parte do processo evolutivo, dos desafios da vida, das imperfeições da matéria, dos nossos excessos, inevitáveis resgates do passado, ou até mesmo decorrentes do meio em que vivemos em nosso planeta atualmente, muito tem ajudado no cultivo da resignação, da aceitação que afasta a revolta, a tristeza e a depressão. Ajuda como estímulos que são disparados na mente do enfermo e em seguida nos centros atingidos pela doença, que acabam por restaurar o equilíbrio das células.
A oração pelos desencarnados é uma demonstração de afeto, ternura e caridade que os aliviam, renovam suas esperanças, libertam-lhes os pensamentos tormentosos em alguns casos, abrindo caminhos para serem amparados em hospitais espirituais, onde serão reequilibrados. Em outros casos, encorajam para as novas tarefas que os aguardam no plano espiritual. Algumas vezes o desencarnado é um ente muito querido e a dor se faz mais pungente em nosso coração. O que mais necessitamos nesta hora é sermos acalentados pela Doutrina consoladora, que suaviza o nosso sofrimento quando nos diz que não foi por acaso que Deus permitiu que a pessoa partisse antes de nós, que fosse libertada das penalidades e sofrimentos a que todos nós estamos sujeitos; que a separação é apenas temporária… Mensagens de conforto, esperança e resignação nutrem nosso espírito e renovam nosso ânimo para que continuemos a nossa viagem reencarnatória sem desfalecimento e perseverantes, crentes na imortalidade da alma e na vida futura.
As preces também podem ser feitas em favor de nós mesmos, a fim de rogarmos forças para vencermos nossas próprias imperfeições, que chamamos de tentações; a desviar de nós o sentimento de vingança, rancor, ciúmes, orgulho, vaidade, egoísmo, impulsividade, impaciência, intolerância com as diferentes opiniões e com as escolhas alheias. E também a fim de comungarmos com Deus e alimentarmos nossos espíritos.
Lembrando das palavras do nosso irmão Glacus, em reunião de Convívio fraterno em 19/12/2019: “Que possamos vencer a nós mesmos e despertar o chamado do amor, da justiça e da fraternidade. Tripé essencial para qualquer espírito que almeja a felicidade(…) A espiritualidade nunca nos pediu certidão de perfeição. Nos pede somente que nos esforcemos sempre mais um pouco.”
O SOS Preces conta com cerca de 70 tarefeiros que se revezam semanalmente em plantões de três horas de duração. Cada plantão possui dois tarefeiros em atendimento simultaneamente. São cinco plantões diários, das 08h às 21h, ininterruptamente. As ligações atendidas incluem em sua maioria pedidos de preces e mensagens, seguidas por pedidos de orientações em casos de angústia, depressão, relacionamento familiar e com pessoas e solicitações de informações.
Em 2021 foi registrada uma média de 1342 ligações a cada mês.
Toda orientação dada aos atendidos é respaldada no Evangelho de Jesus e na Doutrina Espírita, através de preces, mensagens e esclarecimentos necessários ao espírito em evolução.
Que o mestre Jesus abençoe sempre os objetivos aos quais se propõe esta tarefa, para que ela se expanda a cada dia, alcançando novos patamares, propagando seus raios de ação, consolando os aflitos, confortando a todos, que temos provas e expiações a passar, esclarecendo àqueles que desejam conhecer a Doutrina Espírita e o Evangelho de Cristo, para que a fé, o amor, a bondade, a caridade e a esperança triunfem em nossos corações.

Adriana Souza