O propósito da religião

Indubitavelmente, desde os primórdios da criação, os seres vivos fluem por harmoniosa corrente de permuta com o Criador. Desde os átomos, respeitando as leis físico-químicas de afinidade, até o ser pensante-individualizado, tal circuito é estimulado por todas as leis regentes da própria Natureza: da semente ao fruto ou do berço ao túmulo; ensejos diversos conduzem a vinculação ao Supremo Doador da vida. Por características refertas de personalidade puramente humana, entretanto, a religião passou a ser concebida como uma forma de controle espiritual e social, estabelecendo parâmetros e leis dentro de uma fé sem o uso da razão. Dessa forma, por muito tempo a humanidade se entregou à religião por apenas convenção social e/ou perspectivas individuais, representando mais os desejos de alguns, do que a fraternidade, o amor e o perdão, especialmente após a vinda do nosso mestre Jesus.
Por esta ótica, convém reflitamos nos bens férteis que a religião pode proporcionar aos seus filhos. A palavra religião tem duas acepções dignas de menção: a primeira redunda nos rituais, dogmas e preceitos estabelecidos por diversos cultos, todos louváveis pela expressão de fé que alimentam; a segunda, induz-nos a pensar em sua etimologia, de modo que religião provém do verbo latino religare, o qual significa reconectar, religar ou voltar a unir. Ora, nesta acepção é notório que, ainda que respeitáveis todas as formas de expressão de louvor ao Criador, deveremos efetivamente ultrapassar os limites do culto exterior e contemplar as potências que herdamos de Deus, conectando-nos a Ele pelo sentimento, a fim de que não venhamos aprovar nossos equívocos e condutas por simplesmente termos o hábito de frequentar templos de pedras. A esse respeito, Jesus nos ensinou que a espiritualidade – conexão do ser com algo maior que si próprio, de forma a converter seus potenciais em bem, amor, caridade, compreensão e perdão – pode ser descoberta por intermédio da religião, que acalenta seus filhos ao conduzi-los ao autoconhecimento. Ademais, é imperioso reconhecer que há religiosos que não se conectam com sua espiritualidade, bem como há indivíduos que se reconectam ao Arquiteto do Universo, sem ter acesso a qualquer religião. Paralelamente, o insigne codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, esclarece-nos de que a religião é, sim, uma ferramenta de progresso que auxilia a jornada do Espírito imortal ao encontro de si mesmo, e, por conseguinte, ao encontro de Deus.
Dessa forma, lembremo-nos de Jesus, que ao ser julgado por adoradores e doutores da lei, em templos de pedra, jamais deixou de amá-los, por saber que cada um pode se conectar ao Pai no culto do coração. Assim como eles, nós também guardamos nossas incoerências e, ainda sim, o mestre continua a nos amar, por saber que despertos os potenciais, poderemos em verdade, ficar assegurados que aquele que crê e age no Cristo fará também as obras que ele faz e outras maiores, de vez que ele irá se conectar ao Pai, conforme o evangelista João anota no capítulo 14, versículo 12.

Jerônimo Ferreira

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O que nos motiva a viver?

A conversa faz parte da vida humana antes mesmo de aprendermos a falar. Um bebê que grunhe, chora e aponta para objetos ou para si, conversa com aqueles que estão à sua volta para tentar lhes passar uma ideia. Não suficiente, ao longo de todos os dias, pontos de vista, conceitos e argumentos são externados ao monte por todos nós, do acordar ao adormecer. Falar, escrever, trocar mensagens ou posts em redes sociais são formas diferentes de uma mesma coisa: dialogar.
Estando o diálogo tão presente em nossas vidas, é de se esperar que saibamos fazê-lo bem. Porém, por diversas vezes, parece que não. Quantas vezes nos deparamos preparando o próximo argumento em uma conversa enquanto o interlocutor está com a palavra? Quantas vezes o interrompemos como se o conhecimento e sabedoria fosse nosso e o outro só tivesse que ouvir e aprender?
Esse tipo de diálogo vertical é frequente e nele não há reciprocidade. Todas as partes de uma mesma conversa se julgam superiores e se preparam para o convencimento das demais, fechando-se para o aprendizado e para a mudança de ideias. É combativo; a palavra se torna arma de subjugação e inflação do ego. Diferente do diálogo horizontal proposto por Francisco de Assis.
O diálogo horizontal é construtivo. Todos os envolvidos, mesmo em posições diferentes, devem procurar dar importância ao que o outro expõe. A presença na conversa é total: não se despreza a palavra do outro para pensar em como convencê-lo do contrário, não se fala com arrogância e sim com abertura para mudar de opinião ou de aceitar que no fim todos continuarão com opiniões contrárias, isentando-se de ressentimentos.
Francisco usava desta maneira de dialogar quando pedia que seus companheiros chamassem sua atenção aos erros, pois se via ainda como imperfeito. Pedia as opiniões de Frei Leão ou se colocava ao lado de Clara para aprender com as suas recomendações. Sentava-se com muitas pessoas, de ideias e religiões diversas, conversando com todas e aprendendo um pouco mais sobre o mundo, diferentes realidades, e sobre si mesmo, ao observar suas reações ao que era lhe exposto.
Tudo isso, pois se inspirava em Jesus; que apesar de ter a maior inteligência na história do planeta, ainda se sentava com quem se dispunha a conversar com ele e ouvia as palavras e os corações de todos.
Que possamos refletir quanto ao modo de falar e ouvir o outro, usando, usando da estratégia de Francisco e Jesus em todos os diferentes diálogos do nosso dia-a-dia para que, aos poucos e juntos, possamos aprender a conversar.

Igor Costa

FRANCO, Pereira Divaldo; SAID, Cesar Braga. Francisco, o Sol
de Assis. Capítulo 13
FRANCO, Pereira Divaldo. (Ditado por Joanna de Ângelis). Momentos de Iluminação, capítulo 4.

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Ajuntai o trigo no meu celeiro

Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O Reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo; mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio. E os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente? Por que tem, então, joio? E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres, pois, que vamos arrancá-lo? Porém ele lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro.” (Mateus, 13:24-46)
A parábola do Joio e do Trigo é bastante curiosa e instrutiva. Inicialmente destaco que Jesus não impõe um ensinamento por meio de uma parábola. Ele apenas propõe. “Propôs-lhes outra parábola, dizendo…”. Isso significa que o aprendizado e seu consequente efeito transformador dependem do desejo sincero do aprendiz. E que nenhuma mudança acontecerá por imposição. Dizendo de outro modo, a lição está aí, aproveita quem quiser.
Jesus compara o “Reino dos Céus” a um campo de cultivo. O homem que faz uso da boa semente representa a boa vontade e a bondade latente que há em cada ser criado a imagem e semelhança de Deus. No entanto, o sono dos homens citado na parábola é um alerta para a facilidade que temos em desconsiderar essa bondade inerente que há em todos nós. Toda vez que priorizamos o ter em detrimento ao ser, dormimos. É neste instante que “veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se”. Perceba que o inimigo é seu. Veio o seu inimigo! Nós o permitimos. Nós o cultivamos, tanto que… “quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio”.
Afinal, quais são os nossos inimigos? O que nos tem “adormecido” diante da perspectiva do crescimento espiritual? De modo didático e simplificado, arrisco dizer que nos dias atuais tudo que nos compromete a qualidade do descanso noturno é um inimigo a ser abatido. Redes sociais e maratona de séries ao longo da madrugada, arrependimento por diálogos agressivos, alimentação em desalinho, consumo de álcool e outras drogas, sensualidade viciada, sobrecarga de trabalho, preocupação excessiva com bens móveis e imóveis, negligência na educação de filhos, infidelidade, pensamentos obsessivos por vingança, entre tantos outros.
Uma análise precipitada pode sugerir que a atitude natural é eliminar imediatamente esses males da nossa vida. Mas, não é bem assim que alcançamos êxito. Esses inimigos não se implantaram de um dia para o outro. Eles pertencem à nossa história de vida e para extirpá-los de forma definitiva torna-se necessário conhecê-los profundamente, reconhecendo quais foram as atitudes que os geraram e as motivações que os mantém. “Queres, pois, que vamos arrancá-lo? Porém ele lhes disse: Não.”
A parábola esclarece de modo inequívoco que qualquer atitude superficial de mudança está fadada ao fracasso. Quantas vezes, por impulso irrefletido e caráter de urgência, buscamos remédios, cirurgias, dietas, atividade física, religião, enfim, e por não alcançarmos a “cura milagrosa” desistimos nas primeiras horas agravando o quadro? Por que isso acontece? Segundo o ensinamento, faltou deixar o joio crescer, ou seja, conhecer muito bem o inimigo para não comprometer todo o sistema. O inimigo está sediado na essência, não na aparência. “Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar”.
Colher primeiramente o joio é promover a tão propagada e necessária reforma íntima. É revestir-se de humildade a partir do entendimento que viver é espiritualizar-se, e espiritualizar-se é acordar cada manhã e se movimentar ao longo do dia como espírito e não apenas como um corpo desejante. É conhecer o Cristo e deixar-se envolver por seus valores, aplicando-os especialmente no seio da família e na sociedade. Agindo assim poderemos colher o trigo. E o que fazer com ele? Ahh, o trigo? “Mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro.”

Vinícius Trindade

O que pedimos e o que precisamos

Intensificou-se os preparativos na residência de dona Isabel para o início dos trabalhos da noite. Faltava ainda mais de uma hora para a palestra evangélico-doutrinária que seria ministrada pelo senhor Bentes. Estavam presentes trinta e cinco encarnados. No plano invisível o número de necessitados passava dos duzentos, dentre os quais se encontravam entidades perturbadoras que acompanhavam os aprendizes ali reunidos. A vigilância, por outro lado, estava reforçada.
André Luiz reparou que havia vários pedidos de orientações, conselhos médicos, assistência e passes, todos colocados sobre uma grande mesa. Quatro médicos espirituais acompanhados de quarenta cooperadores diretos trabalhavam recolhendo informações e aprofundando em detalhes de cada situação ali relatada. Diante da enorme quantidade de papéis nominados, Aniceto explicou que se tratavam de indicações das pessoas que diziam precisar de amparo e socorro imediato. Em seguida, Vicente perguntou se elas recebiam tudo o que pediam.
Antes, porém, de colocarmos a sábia resposta do mentor espiritual, precisamos recordar dois ensinamentos de Jesus. O primeiro é “a cada um segundo as suas obras” [2]. Isso nos lembra a sabedoria e a perfeição de lei de causa e efeito, ou ação e reação, que proclama que toda criatura, esteja encarnada ou desencarnada, recebe no tempo certo os frutos de sua semeadura. Se fizermos o bem, no tempo oportuno receberemos o bem de volta, sendo que o mesmo vale para o mal praticado. Portanto, nada do que nos acontece é por acaso, pois para tudo há um motivo justo, útil e absolutamente necessário ao nosso processo de aprendizado e evolução.
O segundo ensinamento é “pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á.”[3]. Podemos pedir o que quisermos? Podemos! Devemos pedir o que quisermos? Não, pois entre poder e dever há grande diferença. Não devemos fazer tudo o que podemos, pois há coisa que podemos fazer que nos são prejudiciais. Ademais, os nossos pedidos devem passar por um importante filtro moral. Explicando melhor: ao fazer um pedido a Deus, temos que ter a responsabilidade de pedir algo que seja verdadeiramente necessário, útil, bom e justo. Não obstante, de acordo com o Cristo apenas pedir não basta, pois é preciso também buscar e bater. Tais expressões indicam a necessidade do pedinte se esforçar e perseverar para ser merecedor do que está pedindo, além de fazer todo o possível para que o pedido se realize. Nesse sentido, ensina-nos Allan Kardec: “Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará” [4], em outras palavras, faça sempre a sua parte bem feita e aquilo que não estiver ao seu alcance, confie que Deus fará o que for melhor para você.
Mas voltemos ao questionamento: as pessoas recebem tudo o que pedem ao plano espiritual? Eis a resposta de Aniceto: “Recebem o que precisam. Muitos solicitam a cura do corpo, mas somos forçados a estudar até que ponto lhes podemos ser úteis, no particularismo dos seus desejos; outros reclamam orientações várias, obrigando-nos a equilibrar nossa cooperação, de modo a lhes não tolher a liberdade individual. A existência terrestre é um curso ativo de preparação espiritual e, quase sempre, não faltam na escola os alunos ociosos, que perdem o tempo ao invés de aproveitá-lo, ansiosos pelas realizações mentirosas do menor esforço. Desse modo, no capítulo das orientações, a maior parte dos pedidos são desassisados[5]. A solicitação de terapêutica para a manutenção da saúde física, pelos que de fato se interessem pelo concurso espiritual, é sempre justa; todavia, no que concerne a conselhos para a vida normal, é imprescindível muita cautela de nossa parte, diante das requisições daqueles que se negam voluntariamente aos testemunhos de conduta cristã. O Evangelho está cheio de sagrados roteiros espirituais e o discípulo, pelo menos diante da própria consciência, deve considerar-se obrigado a conhecê-los.”[1]
Agora, por favor, faça o seguinte: volte ao parágrafo anterior e leia-o novamente, com muita atenção, meditando em cada palavra dita pelo benfeitor. Tenho certeza de que você entenderá que os fatores que determinam o atendimento ou não de um pedido são bastante complexos e variáveis. Há muito o que se ponderar e verificar em cada caso. Do mesmo modo, ficará claro que nada dispensa o esforço individual de progresso que nos cabe, cujas diretrizes se encontram grafadas nas imorredouras páginas do Evangelho. Finalizando, você entenderá que o Pai Celestial é tão magnânimo que Ele, em sua eterna bondade e sabedoria, nem sempre nos dá o que pedimos, mas sempre nos concede o que precisamos.

Valdir Pedrosa

[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por
Francisco Cândido Xavier – capítulo 46 (Aprendendo sempre).
[2] Evangelho Segundo Mateus 16:27.
[3] Evangelho Segundo Mateus 7:7.
[4] O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – capítulo
25 (Buscai e achareis).
[5] Desassisados: variados, perturbados, alucinados, doidos, desvairados, delirantes, malucos, loucos, tresloucados.

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Bem-aventurados os que têm os olhos fechados

Convido a todos os leitores a explorarmos juntos o Cap. VIII do Evangelho Segundo o Espiritismo, acerca das instruções deixadas pelos Espíritos através das bem-aventuranças, especificamente aquela que diz “Bem-aventurados os que tem os olhos fechados”.
Trata-se de uma “Evocação” a um Espírito conhecido da época, o Pároco João Maria Batista Vianney, designado Vigário geral na cidade de Ars-sur-Formans, também chamado de “O Cura de Ars”. Lembrado pela devoção, capacidade de curar, ótimo confessor, e pelo cuidado que tinha com toda a comunidade, especialmente com os mais pobres. Em 1925 seria canonizado pela Igreja Católica.
Vejamos a seguir a comunicação mediúnica de J.B. Vianney, O cura d’Ars:

Bem-aventurados os que têm fechados os olhos
Esta comunicação foi dada com relação a uma pessoa cega, a cujo favor se evocara o Espírito de J.B. Vianney, Cura d’Ars.
20. Meus bons amigos, para que me chamastes? Terá sido para que eu imponha as mãos sobre a pobre sofredora que está aqui e a cure? Ah! Que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a vista e as trevas a envolveram. Pobre filha! Que ore e espere. Não sei fazer milagres, eu, sem que Deus o queira. Todas as curas que tenho podido obter e que vos foram assinaladas não as atribuais senão Àquele que é o Pai de todos nós. Nas vossas aflições, volvei sempre para o céu o olhar e dizei do fundo do coração: “Meu Pai, cura-me, mas faze que minha alma enferma se cure antes que o meu corpo; que a minha carne seja castigada, se necessário, para que minha alma se eleve ao teu seio, com a brancura que possuía quando a criaste.” Após essa prece, meus amigos, que o bom Deus ouvirá sempre, dadas vos serão a força e a coragem e, quiçá, também a cura que apenas timidamente pedistes, em recompensa da vossa abnegação.
Contudo, uma vez que aqui me acho, numa assembleia onde principalmente se trata de estudos, dir-vos-ei que os que são privados da vista deveriam considerar-se os bem-aventurados da expiação. Lembrai-vos de que o Cristo disse convir que arrancásseis o vosso olho se fosse mau, e que mais valeria lançá-lo ao fogo, do que deixar se tornasse causa da vossa condenação. Ah! Quantos há no mundo que um dia, nas trevas, maldirão terem visto a luz! Oh! Sim, como são felizes os que, por expiação, vêm a ser atingidos na vista! Os olhos não lhes serão causa de escândalo e de queda; podem viver inteiramente da vida das almas; podem ver mais do que vós que tendes límpida a visão!… Quando Deus me permite descerrar as pálpebras a algum desses pobres sofredores e lhes restituir a luz, digo a mim mesmo: Alma querida, por que não conheces todas as delícias do Espírito que vive de contemplação e de amor? Não pedirias, então, que se te concedesse ver imagens menos puras e menos suaves, do que as que te é dado entrever na tua cegueira! Oh! Bem-aventurado o cego que quer viver com Deus. Mais ditoso do que vós que aqui estais, ele sente a felicidade, toca-a, vê as almas e pode alçar-se com elas às esferas espirituais que nem mesmo os predestinados da Terra logram divisar. Abertos, os olhos estão sempre prontos a causar a falência da alma; fechados, estão prontos sempre, ao contrário, a fazê-la subir para Deus. Crede-me, bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é, muitas vezes, a verdadeira luz do coração, ao passo que a vista é, com frequência, o anjo tenebroso que conduz à morte. Agora, algumas palavras dirigidas a ti, minha pobre sofredora. Espera e tem ânimo! Se eu te dissesse: Minha filha, teus olhos vão abrir-se, quão jubilosa te sentirias! Mas, quem sabe se esse júbilo não ocasionaria a tua perda! Confia no bom Deus, que fez a ventura e permite a tristeza. Farei tudo o que me for consentido a teu favor; mas, a teu turno, ora e, ainda mais, pensa em tudo quanto acabo de te dizer. Antes que me vá, recebei todos vós, que aqui vos achais reunidos, a minha bênção. – Vianney, cura d’Ars. (Paris, 1863)
21. Nota. Quando uma aflição não é consequência dos atos da vida presente, deve-se lhe buscar a causa numa vida anterior. Tudo aquilo a que se dá o nome de caprichos da sorte mais não é do que efeito da justiça de Deus, que não inflige punições arbitrárias, pois quer que a pena esteja sempre em correlação com a falta. Se, por sua bondade, lançou um véu sobre os nossos atos passados, por outro lado nos aponta o caminho, dizendo: “Quem matou à espada, pela espada perecerá”, palavras que se podem traduzir assim: “A criatura é sempre punida por aquilo em que pecou.” Se, portanto, alguém sofre o tormento da perda da vista, é que esta lhe foi causa de queda. Talvez tenha sido também causa de que outro perdesse a vista; de que alguém haja perdido a vista em consequência do excesso de trabalho que aquele lhe impôs, ou de maus-tratos, de falta de cuidados etc. Nesse caso, passa ele pela pena de talião. É possível que ele próprio, tomado de arrependimento, haja escolhido essa expiação, aplicando a si estas palavras de Jesus: “Se o teu olho for motivo de escândalo, arranca-o.”
Não obstante padre, desencarnado, tinha ele a consciência de que se tratava de uma comunicação entre os dois planos da vida, o espiritual e material.
Com humildade, se apresentou e discorreu rapidamente sobre o fato, objeto da “Evocação”, definindo nossa irmã como uma pobre criatura, que perdeu as vistas, e as trevas a envolveram. Na sequência, disse incapaz de realizar milagre, e se algum a ele foi direcionado, quem o fez de fato, foi Deus, o Pai de todos nós.
Sugere à irmã, uma prece, na qual humildemente se peça a cura da alma enferma, e reforça a necessidade que temos de sofrer na carne as consequências dos nossos erros, para que com esforço e aprendizado, possamos retornar às mãos sabias e compassivas do Criador, de posse da nossa pureza que possuíamos quando da criação.
Isto nos remete à figura de Adão e Eva, que vivendo no Paraíso, se envolveram no pecado, e foram expulsos, para que pudessem se redimir de seus erros. Neste simbolismo, como em todos da Bíblia, a clara lição de que caímos no erro, e Deus na sua infinita bondade e misericórdia, nos permite o retorno ao Paraíso, mas com luta, esforço, e muito trabalho. E as dores do corpo, muitas vezes, são os instrumentos para curar a nossa alma enferma.
Prossegue o Espírito evocado, dizendo: “aquele que veio privado da visão deveria se considerar um bem-aventurado”, e afirma que os olhos são portas abertas para a perdição, quando não bem utilizados. Recorda ainda as palavras do Cristo quando nos disse: “Se o teu olho for motivo de escândalo, arranca-o e lança-o ao fogo.” Fazendo clara alusão à visão como causa de escândalo e de queda, enquanto a ausência da visão física, permite viver a vida da alma, de forma mais limpa.
Isso aumenta muito nossa responsabilidade sobre a visão, o que efetivamente fazemos com os nossos olhos. Chama-nos também a atenção para uma maior vigilância, cuidado, a fim de que, os olhos que nos permitem ver o mundo, não sejam objetos de uma nova queda. Fica também claro para nós, que já tivemos várias quedas, pelo mal uso da visão. Encerra dizendo que a cegueira dos olhos, é luz da alma, e que olhos que enxergam, muitas vezes, é a falência do Espírito.
Mostra o Espírito comunicante, disposição para ajudar, e reforça a oportunidade daquele que se vê privado da visão, mas que vivendo em comunhão com Deus, ser-lhe-á permitido divisar as belezas do mundo maior. Por outro lado, a visão pode ser o Anjo Tenebroso que o conduzirá à morte.
Fica, portanto, para nós, a reflexão, sobre a importância da visão e onde o seu mal uso poderá nos levar. A comparação é forte, mas nos solicita aumento da vigilância, valorização da visão, para que se torne comunhão com o Criador, e não instrumento de novas quedas.
Finalmente, ele se dirige à Irmã cega, e diz a ela que entende o quanto a faria feliz se impusesse as mãos, e ela voltasse a enxergar, mas novamente, solicita cautela e sugere que antes de pedir a cura, pensasse em toda a exposição feita, especialmente sobre a bem-aventurança dos que não enxergam, e por isso estão livres da tentação que a visão pode proporcionar. Acrescenta que tudo fará em favor da irmã, mas que a cura, pertence a Deus.
Concluindo nossos estudos, se passamos por provações que não são decorrência da vida presente, não tenhamos dúvida, têm ligação com vidas passadas. A justiça Divina não falha, e nos dá sucessivas oportunidades de redenção. E neste caso específico, dizem os Espíritos, “quem matou à espada, pela espada perecerá”, referindo-se ainda à pena de Talião, abrindo-se inclusive a possibilidade de ter sido nós, a pedirmos a provação pela qual passamos, ainda que não nos lembremos.
Estejamos, pois, atentos aos ensinamentos do Cristo, e na mensagem: “Se o teu olho for motivo de escândalo, arranca-o.”
Vigiemos, especialmente os olhos, para que não nos levem à destruição, mas sim, ao encontro com o Cristo! Muita paz!

Sebastião Costa Filho

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O que nos motiva a viver?

Viver não é tarefa fácil. Viver cercado de armadilhas para o espírito, menos ainda. Redes sociais, facilidades tecnológicas, prazeres de todo tipo; tudo há nesse mundo que possa nos tirar de nossa própria órbita, a órbita em torno do amor e do dever com Deus.
Diante das circunstâncias que nos afastam do Divino, como nos sentimos? Tristes, desenergizados, desesperançosos e revoltos. Até conseguirmos entender a origem disso no nosso descuido em relação a um contato mais próximo com Deus, fatalmente passaremos por um longo e árduo caminho. Sim, é nossa missão resguardar nossa conexão com o mais Alto. Nosso Pai está sempre de braços abertos, porém, ir ao encontro a Ele é exclusivamente um encargo pessoal. Estejamos atentos! A vida não é um passeio. Ela é uma luta constante e laboriosa, que não dá espaço para distrações paralisantes ao espírito. “Ó verdadeiros adeptos do Espiritismo!… sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra Divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados.” (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 20, item 4, Missão dos Espíritas).
Trabalhar em nome do amor é nosso combustível diário. Se não nos for possível, em um primeiro momento, ver e compreender esse fato de forma clara, que sigamos no rumo sugerido por André Luiz no livro Sinal Verde, na lição “Dever e Trabalho”: “Quando o trabalhador converte o trabalho em alegria, o trabalho se transforma na alegria do trabalhador”. Não nos enganemos julgando-nos felizes e fortes pelas conquistas e prazeres mundanos do dinheiro, da posse, da beleza, nas paixões derradeiras e no culto à personalidade. Não há como vencer o mundo, da mesma forma como Jesus o fez, deixando-nos levar por destas diretrizes.
“Sim, há muita gente que supõe vencer hoje para acabar vencida amanhã. Todavia, somente a consciência edificada na fé, pelos deveres bem cumpridos à face das Leis Eternas, consegue sustentar-se, invulnerável, sobre o domínio próprio. Somente quem sabe sacrificar-se por amor encontra a incorruptível segurança. Todavia, somente a consciência edificada na fé, pelos deveres bem cumpridos à face das Leis Eternas, consegue sustentar-se, invulnerável, sobre o domínio próprio. Somente quem sabe sacrificar-se por amor encontra a incorruptível segurança. Fortaleçamo-nos, pois, no Senhor e sigamos, de alma erguida, para a frente, na execução da tarefa que o Divino Mestre nos confiou.” (Emmanuel, Fonte Viva, lição Fortaleçamo-nos).

Matheus Lukashevich Santos e
Sarah Francisca Rosa

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Hora a hora, dia a dia

O Espírito Emmanuel ¹ nos instrui que se de fato queremos pautar o nosso caminhar nas diretrizes de Jesus, servindo, não devemos nos esquecer de viver bem cada hora do nosso dia de trabalhador e assim, ao final dele, colhermos as bênçãos do bem viver.
No ambiente do lar, já ao amanhecer, é imprescindível vigiar os nossos pensamentos para que nos lembremos que o Mestre confia em nós e aguarda que cooperemos junto aos que nos rodeiam. Nossas mentes devem estar em sintonia com o bem, com o otimismo, com as ideias de tolerância, compreensão e perdão. Afinal, nossos pensamentos influenciam os encarnados e os desencarnados, podendo as trocas de vibrações gerarem bem-estar ou perturbações no ambiente.
Antes mesmo de começar qualquer trabalho, no lar ou fora dele, é bastante salutar que cultivemos o hábito da prece. De forma singela, silenciosa e sincera, centralizemos nossa força mental no dever a cumprir, solicitando a espiritualidade superior o apoio necessário aos nossos propósitos de esforço na construção da paz.
No nosso planeta, onde vislumbramos os primeiros raios das mudanças rumo a regeneração, certamente ainda encontraremos em casa ou na via pública, conforme Emmanuel nos diz, “[…] a visitação da maledicência a requisitar-te o pensamento e a palavra, à discórdia e à calúnia, à leviandade e à insensatez.”. Prevenir é sempre melhor do que remediar, diz o dito popular. Desta maneira, sabendo que todos estamos sujeitos às provocações de colegas, parentes e até mesmo de desconhecidos, vamos evitar responder com espinhos, com intolerância ou rispidez. Um sorriso, uma palavra de acolhimento, um simples momento de silêncio podem evitar muitos dissabores e conflitos desgastantes.
Estudando os ensinamentos de Jesus, surgem nos nossos caminhos possibilidades de reconhecermos nossos sentimentos, aceitá-los e trabalharmos nossas atitudes e reações, modulando as emoções, reformulando antigos hábitos. A Doutrina Espírita e seus roteiros são valiosos instrumentos para iniciarmos as reformas morais, que nos permitirão evitar a ociosidade, as fantasias e as excitações sem proveito.
Hora a hora, dia a dia, todos somos convidados ao exercício dos novos padrões de comportamento que nos aproximarão do “verdadeiro homem do bem”, aquele que se sente feliz, que tem fé no futuro, pois “que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza.” ²

Letícia Schettino Peixoto

 ¹Chico Xavier pelo Espírito Emmanuel. Livro: Mãos Marcadas.
Lição nº 35. Página 131.
²O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo 27 – Sede perfeitos.

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Velhos Hábitos

Falar sobre velhos hábitos é relembrar o “homem velho”, aquele que emerge através dos nossos vícios morais, do nosso orgulho, da nossa vaidade, do nosso egoísmo.
Vivemos em um círculo vicioso, acalentando antigos hábitos, procurando a cada reencarnação esquecer nosso passado culposo, para logo depois voltarmos à pátria espiritual desiludidos e nos depararmos com nossa própria realidade de espíritos ainda muito imperfeitos. Assim, seguimos século após século, experienciando situações que pouco nos elevam e despendendo tempo precioso da nossa caminhada.¹
O “homem velho”, o dos velhos hábitos, formado nas paisagens nobres, mas inferiores da vida, esse, meus amigos, preferirá sempre o touro que rime com o ouro. Antes de Cristo desejará o cristal e às cruzes preferirá os cruzeiros.² O tempo, porém, é o remédio bendito. Cada qual terá que, ao seu toque, se renovar, renovando os costumes.
Lembremo-nos que renovar as ideias, as atitudes, é renovar a vida. Deixemos de lado a justiça vingativa, na qual apenas buscamos punição. Reformemos o amor egoísta, aquele de quem só ama se for amado, de quem só busca a própria satisfação entre fantasias.
Nosso Mestre Jesus Cristo segue nos convidando a uma vida nova, adotando os hábitos da bondade e do entendimento como práticas comuns e do amor verdadeiro como lei maior.
Um novo ano se inicia e com ele a oportunidade bendita do recomeço. Nos preparemos para a regeneração da melhor forma, adotando o hábito de amar como nosso Mestre nos ensinou, afinal; “Ninguém deita remendo de pano novo em veste velha. […] Nem se deita vinho novo em odres velhos”.³

Fábio Noronha.

¹ Pensamento e vida, cap. 20
² Deus conosco, 118
³ Mateus 9.16, 17

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O respeito ao próximo mais próximo

Na escala ascensional dos mundos, vivemos hoje em um classificado como de provas e expiações, mundo este que reflete a condição moral e intelectual da maioria de seus habitantes. Podemos assim dizer que na Terra temos uma maioria de espíritos encarnados com a necessidade de lidar com dificuldades e “expiarem”, ou seja, se livrarem de uma determinada culpa ou reparar um erro que cometeram. Por esse motivo, nem sempre a família consanguínea é constituída de espíritos afins, afetivos, compreensivos e fraternos.
Segundo Joanna de Ângelis em seu livro Adolescência e Vida, incontestavelmente, o lar é o melhor e mais eficiente educandário para todos os Espíritos, pois tem o objetivo superior da compreensão dos deveres e busca do crescimento moral. Porém, devido a inferioridade moral de seus membros integrantes, a instituição familiar acaba sendo maculada por animosidades, disputas, conflitos e revoltas.
A família continua sendo o laboratório moral para as experiências de evolução, e ela proporcionará o equilíbrio entre os seus integrantes, mas é necessária a contrapartida dos esforços de cada um em entender e respeitar o momento e as aflições vividas pelos outros.
Por falta de estrutura espiritual, as pessoas que se reencontram nas famílias, quase sempre, dão vazão a seus sentimentos inferiores, revivendo no seio familiar os conflitos pretéritos, podendo agravar ou gerar novas aversões em uma espiral contínua de sentimentos inferiores.
Necessário é que rompamos esta espiral através do exercício do respeito ao direito de nossos semelhantes e atenção aos deveres para com eles. A necessidade de vencermos as nossas paixões é o segredo do sucesso neste empreendimento. Se na reforma íntima, através do autoconhecimento, erguemos templos à virtude e cavamos masmorras aos vícios para uma convivência social harmoniosa, por que não utilizarmos dessas mesmas ferramentas para viver harmoniosamente com o nosso próximo que está tão próximo?
O verdadeiro amor para com o nosso semelhante começa com aqueles que estão no nosso convívio íntimo e a caridade para com o nosso próximo começa com o exercício do respeito.

Thiago Henrique Duarte

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Esquecimento do passado

“Fortifica-nos o coração para que o passado não nos perturbe e o futuro não nos inquiete, a fim de que possamos honrar-te a confiança no dia de hoje, que nos deste para a renovação permanente até a vitória final”. (Prece de Alexandre – Livro Missionários da Luz, Francisco Cândido Xavier por André Luiz.)
A prece do instrutor Alexandre, em epígrafe, esclarece-nos de forma lúcida a importância do dia de hoje como oportunidade divina para a renovação das nossas atitudes.
Dentre os espíritas, porém, encontramos grande número de companheiros seduzidos pela curiosidade quanto ao seu passado. Mesmo compreendendo que temas como Reencarnação, Lei de Causa e Efeito, Justiça e Causas das Aflições, Provas e Expiações e etc. remetem nossas reflexões a condutas pregressas, na verdade, é o nosso orgulho que aguça a curiosidade sobre os nossos relacionamentos, frente a possibilidade de nos descobrirmos em função destacada em sociedades do passado. A diferença entre refletirmos sobre nossas “condutas pregressas” e a curiosidade sobre “a possibilidade de nos descobrirmos em função destacada em sociedades do passado” talvez não seja pequena.
Emmanuel, na personalidade do senador Públio Lêntulos, descreve um sonho que teve, nos seguinte termos: “Todavia, o que mais me humilhava nessas visões do passado culposo, como se a minha personalidade atual se envergonhasse de semelhantes reminiscências, é que me prevalecia da autoridade e do poder para, aproveitando a situação, exercer as mais acerbas vinganças contra inimigos pessoais, contra quem expedia ordens de prisão, sob as mais terríveis acusações.”[1] Observamos que não há destaque no cargo que ocupava e, sim, no uso equivocado dele. Mas a lição do mentor Emmanuel vai além da simples revelação de um passado delituoso. Ela descreve o impacto de nossas condutas anteriores na encarnação seguinte. Vemos claramente, neste caso, que seria melhor o esquecimento temporário do passado à lembrança constrangedora que ele trazia.
Muitos objetam que não podemos nos responsabilizar em reparar danos dos quais não nos lembramos de ter causado. Teria Deus, então, errado ao estabelecer o esquecimento do passado como situação comum nos processos reencarnatórios? Tal forma de pensar é equivocada, pois inverte a lógica da vida. Faz com que pensemos sermos seres materiais que, em determinados momentos, vivem experiências espirituais. Não é assim. Temos uma única vida e ela é espiritual. Nela teremos diversas encarnações. Assim, nossas várias encarnações são unidas pelo fio de uma única vida.
A responsabilidade pelos nossos atos não está radicada nos corpos físicos que utilizamos ao longo de várias existências.
A exemplo de uma casa que ao receber uma nova pintura não perde a cor antiga, apenas a recobre; da mesma forma que você, que agora nos lê, não se isenta dos seus compromissos de trabalho ou que nos seus momentos de sono, para repouso do corpo, não fica isento dos seus compromissos familiares. Um breve esquecimento do passado, durante a encarnação, não nos redime frente à nossa consciência eterna.
Certamente, agimos como as crianças que questionam os pais quando levadas para serem furadas por uma agulha, que lhes inocula uma vacina salvadora ou como aquelas que reclamam dos pais que não lhes permitem se alimentarem somente de doces. Deus, como Pai Maior, estabelece normas para a nossa evolução à revelia da nossa imediata compreensão. Deus não quereria, penso, que nos corrigíssemos pela lembrança dos nossos erros, mas sim porque aprendemos e tivemos mérito de tomar novas atitudes. Desta forma, não nos perturbemos em saber agora o passado pois, apesar da afirmação de que “[…] leis inflexíveis da Natureza, ou, antes, os efeitos resultantes do passado, decidem a sua reencarnação” [2], Jesus nos garantiu que “nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se.” [3]
Façamos uso da fala acima, inspirada por Alexandre, e usemos o dia de hoje para nossa renovação, conforme os ensinos do Cristo: “Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam.” [4]

Rômulo Novais

[1] XAVIER, Francisco Cândido. Há dois mil anos. Pelo Espírito Emmanuel.
48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007, Primeira Parte, cap. 1, (Dois amigos).
[2] DENIS, Léon. Depois da morte. Tradução de João Lourenço de Souza.
26 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XLI.
[3] Mateus 10:26
[4] Lucas 6:27,28

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