Fuja das rogativas maléficas

Maravilhado com os efeitos da prece proferida por Ismália, André Luiz observava avidamente tudo o que acontecia ao seu redor. O ambiente fora tomado uma claridade serena, doce e irradiante, bem diferente da iluminação artificial. Os flocos de energia que partiam dos tarefeiros ali presentes se multiplicavam no ar, encaminhando- se para os Espíritos que dormiam. A impressão era que tal energia penetrava os corpos enrijecidos e inanimados, chegando às células mais profundas. Em seguida, algumas daquelas verdadeiras múmias espirituais começaram a dar sinais de vida, fosse por meio de gemidos ou se postando como sonâmbulos que acabavam de desapertar de pesadelos atormentadores.

 Dentre todos naquela situação, havia dois que receberam auxílio de todo tipo, inclusive o chamado sopro curativo[1]. Ambos acordaram subitamente como loucos e saíram em desabalada carreira pelo pavilhão. Alfredo, o administrador do posto de socorro, explicou que aqueles infelizes acreditavam estar sonhando e que, como não era possível fugir das instalações, em breve pediriam socorro em outras áreas, onde seriam devidamente acolhidos para o tratamento necessário. As demais múmias ficaram imóveis novamente e as luzes foram se apagando de forma gradua.

Ismália sinalizou o término das atividades da oração, agradecendo à pequena comitiva de Nosso Lar pelo concurso fraterno, salientando que há alguns dias nenhum irmão menos feliz havia se levantado.

Foi neste momento que o nobre mentor espiritual Aniceto, explicando alguns aspectos fundamentais da prece dentro do contexto que eles haviam acabado de presenciar: “(…) o trabalho da prece é mais importante do que se pode imaginar no círculo dos encarnados. Não há prece sem respostas. E a oração, filha do amor, não é apenas súplica.

É comunhão entre o criador e a criatura, constituindo, assim, o mais poderoso influxo magnético que conhecemos. Acresce notar, porém, já que comentamos o assunto, que a rogativa maléfica conta, igualmente, com enorme potencial de influenciação. Toda vez que o Espírito se coloca nessa atitude mental, estabelece um laço de correspondência entre ele e o além. Se a oração traduz atividade no bem divino, venha donde vier, encaminhar-se-á para o Além em sentido vertical, buscando as bênçãos da vida superior, cumprindo-nos advertir que os maus respondem aos maus nos planos inferiores, entrelaçando-os mentalmente uns com os outros. É razoável, porém, destacar que toda prece impessoal dirigida às forças Supremas do Bem, delas recebe resposta imediata, em nome de Deus. Sobre os que oram nessas tarefas benditas, fluem, das esferas mais altas, os elementos-força que vitalizam nosso mundo interior, edificando-nos as esperanças divinas, e se exteriorizam, em seguida, contagiados de nosso magnetismo pessoal, no intenso desejo de servir com o senhor. ” [2]

Tais informações enriquecem muito o conhecimento de que já dispomos sobre a oração e seus mecanismos[3]. Todavia, gostaríamos de chamar a atenção para algo de extrema relevância: as rogativas maléficas. Rogar é apelar, pedir, solicitar veemente. Existem indivíduos que, infelizmente, fazem rogativas maléficas, ou seja, se ligam mentalmente ao plano espiritual inferior, vinculando- se à espíritos ignorantes que ainda se comprazem com a prática do mal. Nestes conluios das trevas, as pessoas solicitam a assistência de entidades malfazejas, visando a realização de seus desejos egoístas e mesquinhos, sendo que muitas vezes planejam prejudicar seus desafetos encarnados. ‘‘ Aquele que intenta praticar uma ação má, pelo simples fato de alimentar essa intenção, chama em seu auxilio maus Espíritos, aos quais fica então obrigado a servir, porque dele também precisam esses Espíritos para o mal que queiram fazer. Nisto é que consiste o pacto. ” [4]. Destacamos o fato de que a rogativa em si nem é necessária; apenas a intenção de fazer o mal já coloca os Espíritos inferiores em estreita ligação conosco.

Mas como nos livramos de tão perniciosa influência cuja sintonia nós mesmo buscamos? Os grandes mestres da humanidade nos ensinam que a providência Divina é tão justa, sábia e misericordiosa que coloca em nossas próprias mãos as condições para nos desvencilharmos de tal situação. Aprendemos com os mentores que essa sintonia pode ser quebrada com nossa mudança íntima, renovando-nos em Cristo, pois os Espíritos que procuram nos arrastar para o mal só se apegam às pessoas que os chamam pelos desejos e os atraem pelos pensamentos. Entretanto, embora repelindo-os pela vontade e pela reforma interior, eles não se afastam de todo. Ficam à espreita, de tocaia, aguardando que tenhamos um momento de invigilância par se aproximarem novamente. Contudo, quando praticamos o bem em todas as ocasiões possíveis e colocamos toda a confiança em Deus, não há dúvida de que, deste modo, repeliremos a influência dos Espíritos inferiores e, como dizem os guias, aniquilaremos o domínio que eles desejam ter sobre nós. [5]

A escolha, invariavelmente, é de cada um. Façamos então bom uso do livre-arbítrio e direcionemos nossos desejos, sentimentos e pensamentos sempre para o bem.

Valdir Pedrosa 

[1] Vide artigo ‘‘o sopro curador’’ de Valdir Pedrosa.

[2] Os mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 25 (Efeitos da oração).

[3] Vide artigo “A importância da prece” de Valdir Pedrosa.

[4] O livro dos Espíritos – Allan Kardec – 2ª parte- capitulo IX (Da intervenção dos Espíritos) – questão 549.

[5] O livro dos espíritos – Allan Kardec – 2ª parte – capitulo IX (Da intervenção dos Espíritos) – questões 467 a 469.