Perdoar sempre

Escrever sobre o perdão é sempre um desafio a mais. Talvez porque perdoar não seja tão fácil quanto parece, mas é ao mesmo tempo, uma das ações mais meritórias e enobrecedoras para nosso espírito imortal. Sim, perdoar é o remédio santo. Perdoar àqueles que Deus colocou em nosso caminho e se tornaram instrumento de sofrimento em nossas vidas requer esforço individual. Temos duas opções: perdoar agora, enquanto estamos a caminho com o ofensor e darmos um passo importante rumo à nossa evolução; ou esperar que o tempo passe… adiando o trabalho que nos cabe, aguardando uma nova oportunidade que pode nos custar uma longa espera em séculos de dores prolongadas sem necessidade.

Muitas pessoas já reconheceram em suas mentes inteligentes a necessidade de se perdoarem umas às outras. Concordam plenamente que o perdão traz benefícios para quem o pratica, e algumas até se sentem incomodadas pelo fato de ainda não conseguirem realmente perdoar. Porque lá no “ fundinho” do coração, elas guardam suas mágoas, rancores, amarguras e ressentimentos. A razão não conseguiu convencer o coração a perdoar. E ele continua pesado, oprimido. O que fazer então? Não desanimemos! Quem já entende que deve perdoar já deu o primeiro passo para conseguir. O próximo passo é começar a transformar o sentimento que nos algema à pessoa, que tira nossa vitalidade, nossa alegria de viver, e inclusive, pode até nos adoecer. É uma atitude de auto-enfrentamento na arena do nosso íntimo, onde as feras são o egoísmo, o orgulho e a vaidade que ainda habitam em nós. Na verdade, não queremos olhar para esses sentimentos porque pensamos que eles nos protegem, mas são eles que alimentam a mágoa e o rancor. Quando remoemos constantemente o mal que nos fizeram e guardamos ressentimentos é porque nossa afetividade está egoísta. Demonstra que estamos tendo tanto zelo por nós mesmos que nos apegamos a esse sentimento exacerbado de bem próprio de tal forma que temos que ressentir indefinidamente o momento em que ele foi abalado. Isso não é amor próprio. Olhamos o tempo todo prá nós mesmos, concentrando a energia que nos sobrou para rememorar o passado, os acontecimentos infelizes e a pessoa que nos prejudicou de alguma forma. Enquanto isso nossa vida está passando e não realizamos aquilo que viemos realizar em nossa trajetória evolutiva.

Perdoar não significa concordar com a atitude errada do ofensor. E nem significa que o nosso perdão vai corrigir quem nos prejudicou, porque quem corrige são as leis divinas. O perdão vai nos libertar, vai regenerar a parte “ferida” que sobrou de nós e vai nos dar força para reconstruir e seguir em frente, não permitindo que ninguém nos tire o dom de renovar a própria vida.

Não podemos esperar que de repente iremos perdoar. O perdão não acontece como num passe de mágica. Precisamos começar a abrir o coração e teremos que fazer força porque ele vai estar fechado, talvez endurecido , traumatizado ou ferido. No início, comecemos por obrigação, porque somos cristãos e é incoerente ser cristão e não perdoar. Até que um dia isso se torne um ato espontâneo, como um hábito mesmo e assim seremos capazes de perdoar sem fazermos esforços.

Lembremos dos ensinamentos de Cristo em Mateus 5:38-42, no ESE, Cap.XII “Amai os vossos inimigos” – “Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal que vos querem fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhe apresente também a outra, e que se alguém quiser pleitear contra vós, para vos tomar a túnica, também lhes entregueis o manto; e que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil.”

Comecemos agora a tolerar mais, a suportar mais um pouco. Jesus nos fez a proposta de doar sempre um pouco mais. Quando perdoamos, nós, de fato, doamos mais além, doamos uma parte de nós a quem nos ofendeu. Doamos o que há de melhor em nós, e até então, não sabíamos, pois essa virtude só se desabrocha no ato de perdoar. E nós, realmente, só possuímos o que doamos. Portanto, aceitemos o convite do Cristo para “caminhar” mais, “apresentar” mais e “entregar” mais.

Ainda em Mateus, Cap.198, v.21 a 22 – “Então, aproximando-se Pedro, disse-lhe: Senhor, quantas vezes meu irmão pecará contra mim e o perdoarei? Até sete vezes? Jesus lhes diz: não te digo que até sete vezes, mas até setenta (vezes) sete”.

Quantas vezes já perdoamos o nosso próximo? Quantas ainda faltam para perdoar? Pense agora em alguém que você já entendeu que precisa perdoar. Visualize seu rosto. Olhe nos seus olhos. Só de pensar seu coração bate diferente. Uma dor pungente te visita como se espinhos cravassem nas fibras mais íntimas do seu coração? Então, é hora de buscar Jesus para te socorrer. Nesse momento, uma luz resplandecente ilumina todo o ambiente e você sente as vibrações de amor vindo em sua direção. Um bem estar, uma plenitude toma conta do seu ser ao fitar o mestre. Aqueles olhos mansos e misericordiosos de Jesus te transmitem tudo o que você precisa para começar a perdoar. Sua respiração agora está calma e seu coração leve e sereno. Cristo se aproxima e ergue suas mãos em sua direção. As chagas te fazem lembrar da cruz. Nesse momento, você recorda que Ele foi traído por um amigo e negado por outro. Você vai se aproximando e estende sua mão direita a Ele. De mãos dadas a Cristo, uma força incrível se apodera de você. Você percebe que Cristo convida a pessoa que você precisa perdoar para se aproximar . Você oferece sua mão esquerda a essa pessoa e juntos, vocês três formam uma roda Crística. É um momento de entrega. Entregue suas dores, mágoas, angústias, desilusões, ressentimentos, ao médico das almas. É um momento de revitalização. Ele veio para curar suas feridas.

Lembremos agora de como a literatura espírita pode nos ajudar nesse sentido. No maravilhoso livro Renúncia, de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, Alcione, um espírito da mais alta envergadura, ensina-nos a enfrentar todas as dificuldades e dores da vida, amando, perdoando, tolerando e compreendendo sempre, com o coração entregue a Jesus. Que possamos guardar pra sempre suas sábias recomendações: “Deixe que as mãos de Cristo tracem o roteiro para seguirmos em frente. Não podemos enfrentar as penas do mundo sem o Cristo. Viemos para a terra para adquirir ou provar alguma virtude. É imprescindível buscar a companhia do Divino amigo para sermos socorridos a tempo. Jesus tem sempre uma palavra luminosa para cada situação, uma energia inspiradora a cada momento mais amargo, desde que lhe busquemos o socorro divino.”

Adriana Souza