Muito prazer! Eu sou o seu Anjo da guarda

“Santo Anjo do Senhor meu zeloso guardador já que a ti me confiou a piedade Divina hoje e sempre me governa, rege, guarda e ilumina. Amém.”

 

Eu conheci esta oração em tenra idade. Minha mãe orava comigo antes de adormecermos. A ela eu sou muito grato pela inestimável orientação religiosa recebida, especialmente na infância, etapa de vida na qual o espírito absorve com a máxima intensidade as influências do meio. Sei que muitos, mesmo sob o hábito da oração em família, não se sensibilizaram tanto assim. Mas, em mim, essa experiência fez um efeito indescritível. Sinto ter renascido com uma “ânsia religiosa” e, por isso, a evangelização infantil encontrou em mim uma identidade que desde aquele momento, e até hoje, se traduz em paz de espírito e esperança na vida. Fico pensando quantos renascem com a mesma necessidade, e não encontram no lar, o alimento espiritual que tanto necessitam.

Curiosamente, devo à minha mãezinha também a transmigração filosófica-conceitual que imprimi no contexto da fé durante a minha juventude ao pisar pela primeira vez em
uma casa espírita. Parti da concepção tradicional de “religião” para o entendimento e vivência da ideia de “espiritualidade”. Antes, a presença dogmática da “igreja”. Agora, o entendimento e a vivência do sentido amplo de “fraternidade”. Ambas, igreja e fraternidade, elementos de uma mesma caminhada espiritual. Sem dúvida alguma, minha mãe, meu pai e meus irmãos foram anjos em minha infância. Mas nenhum deles é o meu Anjo da guarda! Explico.

Antes de tudo é importante salientar que a ideia da existência dos anjos não é uma exclusividade da doutrina espírita. Vamos
encontrá-los, por exemplo, no budismo, no islamismo, no hinduísmo e no judaísmo. No catolicismo eles estão muito presentes tanto na liturgia, na música, na pintura. Na doutrina espírita, o Livro dos Espíritos oferece uma longa sequência de perguntas e respostas sobre o assunto, na segunda parte da obra, no capítulo IX. Consultando essas páginas é possível constatar que “há espíritos que se ligam particularmente a um indivíduo para protegê-lo. É o espírito protetor, o bom espírito, o bom gênio”, ou… Anjo da guarda. A missão deles “é a de guiar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, levantar- -lhe o ânimo nas provas da vida”. Fazem isso “desde o nascimento, e muitas vezes nos acompanham na vida espírita e mesmo ao longo de várias encarnações”. Desta forma, não raras vezes, ao retornarmos à vida espiritual reconhecemos o nosso Anjo da guarda, “pois provavelmente o conhecemos antes de renascer na Terra”.

Partindo do pressuposto que muitos não reconhecem a sua existência, e que até optam por praticar o mal, qual será a postura do Anjo guardião nesses casos? Os espíritos assim responderam à Kardec – Nesses casos, o Anjo da guarda “afasta-se, quando vê que seus conselhos são inúteis e que mais forte é, no seu protegido, a decisão de submeter-se à influência dos Espíritos inferiores. Mas, não o abandona completamente e sempre se faz ouvir. É então o homem quem tapa os ouvidos. O protetor volta desde que este o chame”.

São Luis e Santo Agostinho complementam: “Sim, onde quer que estejais, estarão convosco. Nem nos cárceres, nem nos hospitais, nem nos lugares de devassidão, nem na solidão, estais separados desses amigos a quem não podeis ver, mas cujo brando influxo vossa alma sente, ao mesmo tempo que lhes ouve os ponderados conselhos. “Ah! se conhecêsseis bem esta verdade! Quanto vos ajudaria nos momentos de crise! Quanto vos livraria dos maus Espíritos! Mas, oh! Quantas vezes, no dia solene, não se verá esse anjo constrangido a vos observar: “Não te aconselhei isto? Entretanto, não o fizeste. Não te mostrei o abismo? Contudo, nele te precipitaste! Não fiz ecoar na tua consciência a voz da verdade? Preferiste, no entanto, seguir os conselhos da mentira!” Oh! Interrogai os vossos anjos guardiães; estabelecei entre eles e vós essa terna intimidade que reina entre os melhores amigos”.

Lembrando que da mesma forma que existem anjos da guarda que atuam de forma individual, as aglomerações de indivíduos, como as sociedades, as cidades, as nações, também têm Espíritos protetores já que “esses agregados são individualidades coletivas que, caminhando para um objetivo comum, precisam de uma direção superior.” Qual é o
nome dele? O que importa? “Dai-lhe o nome que quiserdes. O de um Espírito superior que vos inspire simpatia ou veneração. O vosso protetor acudirá ao apelo que com esse nome lhe dirigirdes, visto que todos os bons Espíritos são irmãos e se assistem mutuamente.”

Que riqueza inestimável e frequentemente desperdiçada! Considerando que o Anjo da guarda sempre pertence a um nível superior ao de seu protegido, como sermos indiferentes a eles diante de tantas necessidades e sofrimentos que presenciamos na Terra? A sua existência como descrito pela doutrina espírita, especialmente pela sua ação pessoal, demonstra sem equívocos o sublime amor de Deus por seus filhos. É a Providência divina atuando particularmente em favor de mim. Em favor de você! Que tal? Um “personal angel”. É evidente que não compreendendo e não crendo, eles deixam de existir. Pelo menos para aquele que descrê.

E o que fazer para estreitar os laços com o seu anjo da guarda? Inicialmente, escolha um nome que lhe agrade. Em seguida, estude O Livro dos Espíritos contrapondo, resposta por resposta, à sua concepção de vida, de Deus e do amor universal. Analise se faz sentido para você. Se esta ideia é coerente com tudo aquilo que você já viveu e acredita. E se está de acordo com os princípios da doutrina dos espíritos. Ao mesmo tempo, estabeleça uma comunicação constante com o seu Anjo da guarda. Estabeleça uma relação de confiança, simpatia e acima de tudo de gratidão. Por ser hierarquicamente superior, o seu Anjo da guarda age inspirado por Jesus. Quanto mais você também assim o fizer, mais estará apto para perceber as intuições para decidir com proveito e se livrar do mal. Amém.

Finalmente, como todo Anjo da guarda possui o seu Anjo da guarda, que tal ser uma espécie de Anjo da guarda de alguém de sua convivência? Já pensou nisso? Dê bons conselhos, ampare nas necessidades materiais, interceda diante das injustiças, silencie diante do conflito injustificado e exalte as qualidades de seu protegido. Estagiando dessa forma no exercício do amor ao próximo, em muito breve você poderá ascender ao status de Anjo da guarda. E aí, será um grande prazer, conhecê-lo!

Vinícius Moura

O Livro dos Espíritos. Capítulo IX – Anjos da guarda. Espíritos
protetores, familiares ou simpáticos. Questões 489 a 522.