Formação dos Mundos

Não seria exagerado afirmar que, desde sempre, o homem procura compreender o processo de sua criação, do universo e do mundo que habita, como nos provam as várias manifestações históricas, científicas e religiosas sobre o tema. De certa forma, tal busca é manifestação de nossa essência divina nos despertando para algo maior do que nós mesmos, dando-nos conta de que a vida, suas dores, alegrias e desafios possuem uma razão que vai além do que os nossos sentidos podem explicar.

A compreensão do processo de formação do homem, do mundo que habita e do universo que faz parte é tema intrigante, e Allan Kardec não desperdiçou a oportunidade de submetê-lo aos espíritos superiores. Muito embora, no atual estágio evolutivo, não tenhamos respostas definitivas para tais questões, trazem os espíritos da codificação informações valiosas que nos convidam à reflexão e que jogam luzes sobre o tema, permitindo ampliar nosso conhecimento a seu respeito, apesar de nossas limitações cognitivas para apreender toda complexidade da questão.

De forma didática, a criação será objeto do capítulo III da primeira parte de O Livro dos Espíritos, na qual Allan Kardec questionará aos espíritos da codificação sobre a formação dos mundos; a formação dos seres vivos; o povoamento da Terra, com referência à figura de Adão; a diversidade das raças humanas; a pluralidade dos mundos; fechando o capítulo com considerações e concordâncias bíblicas acerca da criação. Com a explicação de que o universo “abrange a infinidade dos mundos que vemos e dos que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se movem no espaço, assim como os fluidos que os enchem”, Allan Kardec inicia o capítulo III da primeira parte de O Livro dos Espíritos tratando sobre a formação dos mundos, mesmo objeto do presente artigo.

E, para entender o tema, nada mais oportuno do que iniciar a sua reflexão questionando se o universo – que, para nós, assume feições de infinitude – existe desde sempre, como Deus, ou se, ao contrário, foi ele criado, como perguntou Allan Kardec aos espíritos superiores na questão 37 de O Livro dos Espíritos. Referida pergunta traz consigo importante aspecto a ser observado: se o universo existisse, desde sempre, não seria ele obra de Deus, o que permitiria equiparar um (universo) ao outro (Deus). Contudo, os espíritos da codificação foram taxativos nesse ponto e deixaram claro que “é fora de dúvida que ele [universo] não pode ter-se feito a si mesmo. Se existisse, como Deus, de toda a eternidade, não seria obra de Deus”. Com isso, por mais abstrato nos pareça, o universo nem sempre existiu, e, assim como nós – o que abrange os mundos que lhe integram -, foi criado por Deus.

Como o universo foi criado por Deus, Allan Kardec, então, com a didática que lhe é peculiar, na questão 38 perguntou aos espíritos da codificação como se deu esta criação. De forma simples e direta, responderam eles que foi pela vontade de Deus. Mais uma vez, o espírito pesquisador de Allan Kardec se manifestou. Por mais importante fosse a revelação de que a criação do universo é fruto da vontade de Deus, não se contentou Kardec com tal informação, e avançou na busca por ser mais específico, questionando se poderemos conhecer o modo de formação dos mundos e a duração desse processo, como se vê das perguntas 39 e 42 de O Livro dos Espíritos.

Ao que parece, pretendia Kardec que os espíritos detalhassem o processo em si da criação dos mundos. Em resposta, os espíritos esclareceram que a formação dos mundos se dá pela condensação da matéria disseminada no Espaço, sendo tudo o que poderíamos conhecer e que eles poderiam dizer a respeito. E, quanto à duração de tal processo, apenas o Criador saberia dizê-lo, sendo louco quem pretendesse afirmá-lo em Seu lugar. 

Compreendida a criação, com as informações que podemos ter no nosso estágio evolutivo, quase que intuitivamente somos levados a pensar no outro extremo, isto é, na extinção dos mundos, o que foi objeto da pergunta 41 de O Livro dos Espíritos. A seu respeito, Kardec questionou os espíritos se um mundo já formado poderá desaparecer, disseminando-se no Espaço a matéria que lhe compunha. E, de forma coerente, pois o que foi criado poderá ser extinto, responderam os espíritos que Deus renova os mundos como renova os seres vivos, o que permite concluir pela possibilidade de extinção dos mundos.

Ainda com relação ao tema, em resposta à pergunta 40, os espíritos da codificação esclarecem que, ainda que se possa identificar em um cometa um começo de condensação da matéria para a formação de um mundo futuro, seria inadequado acreditar que eles influenciam para além dos aspectos físicos, alcançando questões morais, o que ratifica e reitera que nossas escolhas são fruto de nossa vontade e do nosso livre arbítrio, o que nos faz sermos responsáveis pelas nossas obras.

Frederico Barbosa Gomes