O trabalho em “Campo da Paz”

André Luiz estava surpreso com a quantidade de informações que recebia de Cecília, no agradável bate-papo entre eles, Aldonina e Vicente. A conversa havia chegado a um ponto em que a jovem deu mais detalhes sobre algumas atividades desenvolvidas em “Campo da Paz”, colônia que fica bem mais próxima da crosta terrestre do que “Nosso Lar”.

Segundo a filha do casal Bacelar, “as tempestades que nos atingem obrigam-nos a serviços constantes. Os quadros inferiores que nos cercam são profundamente dolorosos. Nossa cidade não possui Ministérios da União Divina, nem da Elevação. Não podemos receber a influência superior com muita facilidade. Trabalhos de comunicação e auxílio necessitam ainda de muita gente educada no Evangelho, para funcionar com eficiência. Além disso, temos os problemas de finalidade. Nossa colônia foi instituída para socorro urgente. A nosso ver, “Campo da Paz” é, mais que tudo, um avançado centro de enfermagem, rodeado de perigos, porque os irmãos ignorantes e infelizes nos cercam o esforço por todos os lados. De dez em dez quilômetros, nas zonas de nossa vizinhança, há Postos de Socorro como este, que funcionam como instituições de assistência fraternal e sentinelas ativas, ao mesmo tempo.”[1]

Pelo relato acima podemos ter uma noção do quanto é difícil e, sobretudo, extremamente meritório os trabalhos realizados na cidade em que Cecília vive na dimensão extrafísica. Não é nada fácil a realização de atividades do bem nas regiões mais densas e próximas da crosta terrestre. São muitas vibrações pesadas e grosseiras, emanadas por parte de encarnados e desencarnados invigilantes, ignorantes e até mesmo que se comprazem com o mal. “Campo da Paz” não possui os Ministérios que, em “Nosso Lar”, favorecem o recebimento mais direto da influenciação dos planos mais elevados da vida. Requer trabalhadores vinculados e educados nos ensinamentos de Jesus para que as atividades mais rotineiras de auxílio e comunicação funcionem a contento.

A colônia é como se fosse um verdadeiro hospital de pronto-atendimento situado em região perigosa com o objetivo de auxiliar fraternalmente os que por lá vivem. Entretanto, muitas vezes os que seriam assistidos se tornam adversários ferrenhos dos trabalhadores do Cristo, tentando a todo modo minar os esforços do bem. Todavia, a boa-vontade, a perseverança, a alegria, a esperança e a coragem são características marcantes e indeléveis de quem escolheu viver à luz do Evangelho. Seria muito mais fácil para os moradores de “Campo da Paz” desistirem dos irmãos infelizes que vivem à sua volta. Porém, ao invés disso, criaram postos de socorro vinculados à colônia e que funcionam tanto como locais de assistência quanto pontos de vigilância.

Se evocarmos na Boa Nova os exemplos de Madalena, Paulo, Pedro, Tiago (filho de Alfeu e Barnabé), dentre outros, perceberemos claramente que as dificuldades nunca foram obstáculos intransponíveis para quem, de fato, segue Jesus. Quanto maiores as dificuldades nas tarefas, maior o mérito de quem as realiza.

“Nosso governador, quando se agravam os serviços, costuma asseverar que estamos num Campo de batalha, com a Paz de Jesus. Imagem alguma define tão bem o nosso núcleo como esta. No exterior, o trabalho é rigoroso e incessante, mas dentro de nós, existe uma tranquilidade que nós mesmos dificilmente podemos compreender.”[1] Este é um aspecto interessante daqueles que já conquistaram a paz, algo que só é possível com bom ânimo. Podemos estar no centro das maiores confusões, vivenciando enormes dificuldades, seja de que natureza forem, passando por vicissitudes assustadoramente complexas, mas se já tivermos conquistado a paz do Mestre em nossa intimidade, interiormente estaremos em um oásis de serenidade, mesmo com todos os obstáculos à nossa volta. Com isso, teremos melhores condições de observar, planejar e agir, sempre de acordo com os princípios espíritas.

Aqui temos mais dois pontos que merecem reflexão. Primeiro, pelo número de reencarnações diárias preparadas em “Campo da Paz”, podemos imaginar o tamanho da fila de Espíritos aguardando oportunidades para retornarem ao plano físico. Por isso, devemos valorizar muito a nossa reencarnação, fazendo o máximo possível para aproveitarmos os ensejos proporcionados por Deus. Segundo, se a dedicação dos amigos espirituais com as crianças até por volta dos sete anos de idade é imprescindível, o cuidado dos pais é imperioso. É neste período que as tendências de vidas passadas do reencarnante estão tamponadas e a ação dos responsáveis é essencial para corrigir mazelas e incutir novos e bons hábitos. A educação moral é obrigação dos pais e o período infantil é o mais propício para ministrá-la.

Ao final do capítulo, a jovem ainda informou que “(…) somente nossos instrutores vão ao serviço sozinhos. Quanto a nós, não saímos, a não ser em grupos. Necessitamos auxílio recíproco, não só no que diz com a eficiência, senão também no que se refere ao amparo magnético. (…) No trabalho de assistência aos outros e defesa de nós mesmos, não podemos dispensar a prática avançada e justa da cooperação sincera.”[1] A citação por nós destacada é um grande ensinamento que não deve ser esquecido por nenhum trabalhador do Evangelho, pois a Lei de Cooperação vige em todo o Universo.

Valdir Pedrosa
[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por
Francisco Cândido Xavier – capítulo 30 (Em palestra afetuosa).