A bênção do lar

“Esperemos que esses celeiros de sentimentos se multipliquem – disse Aniceto, sensibilizado. O mundo pode fabricar novas indústrias, novos arranha-céus, erguer estátuas e cidades, mas, sem a bênção do lar, nunca haverá felicidade verdadeira.” [1]

 Ao término do estudo do Evangelho na casa de dona Isabel, Aniceto destacou a importância do lar em nossas vidas, colocando-o como um dos principais fatores para a aquisição da felicidade eterna. Vamos tentar entender um pouco melhor esse assunto iniciando com um ensinamento fantástico ministrado pelo instrutor espiritual Alexandre: “o lar não é somente a moradia dos corpos, mas, acima de tudo, a residência das almas.”[2] Para o homem comum, a residência não passa, de fato, de um local onde moram corpos físicos. Entretanto, para o homem mais espiritualizado, o lar possui aspectos muito mais amplos e complexos, pois é nele que, inicialmente, almas se encontram ou reencontram para darem continuidade a suas longas e árduas jornadas evolutivas.

Todos reencarnamos trazendo uma imensa bagagem adquirida em vidas passadas, na qual consta não apenas os valores conquistados à custa de muito esforço e perseverança, mas, mormente, trazemos vícios, mazelas, defeitos e uma infinidade de dificuldades que precisamos sanar nesta encarnação. O lar e a família são elementos imprescindíveis para se alcançar tal desiderato, tendo em vista que é nesse ambiente, junto aos pais, que o espírito reencarnado na tenra fase infantil recebe as primeiras lições, as quais devem se basear não apenas em palavras, mas sobretudo, em exemplos. Jesus ensinou que “o lar é a escola das almas, o templo onde a sabedoria divina nos habilita, pouco a pouco, ao grande entendimento da humanidade’.[3]

Aprendemos com o Espiritismo que a formação da família começa no plano espiritual, mediante estudos e análises das necessidades de todos os membros que irão compor aquele agrupamento. Desta forma é possível reunir-se no mesmo lar devedores em resgate de antigos compromissos, desafetos companheiros de erros passados, afeições queridas e amigos em trabalho de socorro mútuo. Embora possuindo histórias e aspirações distintas, todos têm um único objetivo: vivenciar o amor. Instrui Allan Kardec: “Deus permite que, nas famílias, ocorram essas reencarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos, com o duplo objetivo de servir de prova para uns e, para outros, de meio de progresso. Assim, os maus se melhoram pouco a pouco, ao contato dos bons e por efeito dos cuidados que se lhes dispensam. O caráter deles se abranda, seus costumes se apuram, as antipatias se esvaem”.[4] Face ao exposto, podemos dizer que normalmente o lar, em sua feição educadora, nos permite o contato com lutas, dores, desavenças, menosprezo, ingratidão, alegria, amizade, amor e mais uma gama de experiências, todas preciosas para o nosso crescimento espiritual. No final das contas é o comportamento de cada pessoa que irá determinar se o ambiente no lar será celestial ou infernal.

No livro O Consolador, Emmanuel foi perguntado sobre onde estaria a base mais elevada para os métodos da educação e sobre qual seria a melhor escola de preparação das almas reencarnadas na Terra. Destacando a importância da família e do lar, o benfeitor pontificou que “as noções religiosas, com a exemplificação dos mais altos deveres da vida, constituem a base de toda a educação, no sagrado instituto da família”. Em seguida completou: “a melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter. Os estabelecimentos de ensino, propriamente do mundo, podem instruir, mas só o instituto da família pode educar. É por essa razão que a universidade poderá fazer o cidadão, mas somente o lar pode edificar o homem. Na sua grandiosa tarefa de cristianização, essa é a profunda finalidade do Espiritismo evangélico, no sentido de iluminar a consciência da criatura, a fim de que o lar se refaça e novo ciclo de progresso espiritual se traduza, entre os homens, em lares cristãos, para a nova era da humanidade.”[5]

Para que saibamos aproveitar bem a bênção que o é o lar, o querido amigo espiritual André Luiz nos deu algumas dicas no livro Conduta Espírita, dentre as quais destacamos: “começar na intimidade do templo doméstico a exemplificação dos princípios que esposa, com sinceridade e firmeza, uniformizando o próprio procedimento, dentro e fora dele.” [6]

Em carta a Timóteo, o Apóstolo Paulo ressaltou a gratidão que devemos ter por aqueles que nos recebem como filhos e que nos proporcionam a bênção do lar: “aprendam primeiro a exercer piedade para com a sua própria família e a recompensar seus pais, porque isto é bom e agradável diante de Deus. (…) Mas se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel”. [7]

E para terminar, reproduzimos uma frase curta e simples, porém de enorme relevância, proferida por uma simpática senhora que assistiu ao estudo do Evangelho na casa de dona Isabel ao lado de André Luiz: “bem-aventurados os que cultivam a paz doméstica”. [1]

Valdir Pedrosa

 [1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 37 (No santuário doméstico).

[2] Missionários da Luz – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 6 (A oração).

[3] Jesus no Lar – Pelo Espírito Neio Lúcio, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 2 (A escola das almas).

[4] O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – capítulo 4 (Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo) – item 19.

[5] O Consolador – Pelo Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier – questões 108 e 110.

[6] Conduta Espírita – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Waldo Vieira – capítulo 5 (No lar).

 [7] I Epístola de Paulo a Timóteo – capítulo 5 – versículos 4 e 8.

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