Mediunidade vitoriosa

Martins Peralva, no capítulo “Mediunidade Vitoriosa” do livro Mediunidade e Evolução, inicia seu comentário afirmando que “o comportamento de quem reencarna com obrigações definidas no setor mediúnico é objeto de preocupação dos amigos da vida espiritual”. Cabe a cada um que se encontra envolvido com o tema se perguntar: por quê? Qual o motivo da preocupação?

Devemos considerar que a mediunidade geral, inerente a todos os seres humanos, é um instrumento sutil que exerce efeitos patentes em todos os campos da vida humana e em todos os momentos. O que pensar, no entanto, em relação àquele que renasce com obrigações definidas no setor mediúnico? Este breve comentário se destina a quem se encontra, de uma forma ou de outra, comprometido com a mediunidade tarefa.

No capítulo citado, o autor afirma ainda que “grande é o número dos que realizam, imperfeitamente, os compromissos mediúnicos”. E os motivos são bem variados: medo, insegurança, vaidade, indisciplina, desorganização, entre tantos outros. No entanto, estou convencido de que a causa raiz é a incerteza da imortalidade da alma, do intercâmbio entre os espíritos e da nossa própria natureza espiritual. Sim, eu sei. O mundo nos confunde! Faz-nos crer que o mais importante é ter, e não ser. Acumular, e não compartilhar. Ser servido, e não servir. Vencer, e não convencer. Aparentar, e não se admitir. Ou seja: tudo aquilo que é contrário à “Oração de São Francisco”. Estes comportamentos geram graves obstáculos para o que almejamos espiritualmente. Uns procrastinam diante do compromisso assumido com a mediunidade tarefa. “Amanhã eu vou! Depois eu estudo! Hoje não!” Outros permanecem matriculados no departamento mediúnico da casa espírita há décadas sem progresso. Estão ali, mas não estão. São assíduos, mas não se pode contar com eles. O tempo passa, a mediunidade fica. “Atendem objetivos inferiores dissociando o serviço do intercâmbio do imperativo evangélico”, alerta Peralva.

A atual pandemia, ao determinar o fechamento momentâneo das portas das casas religiosas, oportunizou valiosos entendimentos
que não teríamos de outra forma. Pelo menos não em tão curto espaço de tempo. Um deles é a visão do papel efetivo das casas espíritas em nossas vidas. Em minha opinião, ficou claro, por exemplo, que o estudo da doutrina (mediunidade) e do evangelho pode perfeitamente ser realizado remotamente, em grupos interativos, de modo seguro, econômico, abrangendo um número bem maior de participantes e com belíssimos reflexos na harmonia no lar. No entanto, não me parece adequado educar a prática mediúnica dessa forma. Por outro lado, caridade e amor ao próximo se exercem no contexto interpessoal, na sociedade, cuja célula mater é a família. Fazer essa distinção é fundamental. Afinal de contas, em que precisamos da casa espírita para exercer a mediunidade? Qual é a contribuição delas no exercício da caridade? E se as portas não mais se abrissem? Reflita inspirando-se no modo como viveu Jesus.

Para alcançar êxito em sua tarefa, o médium deve inicialmente avaliar sua postura em relação ao tema. Eu tenho me envolvido com
a tarefa de corpo e alma? Eu tenho contribuído para o desenvolvimento de outros médiuns? Eu tenho exercido a virtude da tolerância? E da humildade? Eu tenho perseguido um crescimento moral com base no evangelho? Qual tem sido o meu grau de dependência da casa espírita para alavancar a minha reforma íntima? Que benefícios o meu status de médium dentro do movimento espírita tem ofertado a outras pessoas, especialmente as mais próximas?

A reflexão sincera sobre esses e outros tópicos, aliada ao aprimoramento nas atitudes cristãs, darão o desejado impulso rumo à mediunidade vitoriosa. Certamente, deixaremos de ser objeto de preocupação dos amigos da vida espiritual. Muito pelo contrário. A busca da mediunidade vitoriosa nos credenciará a viver na companhia deles, sendo intuídos, protegidos e incentivados, nos posicionando finalmente como espelhos da luz maior refletindo amor a muitos corações. Eis uma boa definição para Mediunidade com Jesus. Dentro e fora da casa espírita.

Vinícius Trindade