Em contrapartida

Eu conheci a Doutrina Espírita em minha juventude, fase da vida muito favorável às mudanças. E convenhamos – mudar não é fácil! No entanto, reconhecer que as bases espíritas estão naturalmente presentes nos múltiplos campos do conhecimento humano, facilita bastante. Dizendo de outra forma: o espiritismo não pretende ser uma doutrina de contradição, mas sim de iluminação. Vejamos um exemplo.
Entre as ciências biológicas existe um conteúdo muito interessante denominado “Relações ecológicas interespecíficas”. Nele, encontraremos os diversos modos pelos quais as espécies se relacionam dentro de uma harmonia que revela a existência de uma inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Assim, um beija flor em busca do néctar é muito mais do que um simples processo de polinização. Trata-se da própria expressão do Criador dentro de uma realidade de intercâmbio, pois a ave promove a reprodução da flor como contrapartida. Da mesma forma, as dores da alma são frequentemente motivadas pela não percepção de que a CONTRAPARTIDA É A REGRA DO JOGO. Analisemos as relações amorosas, as familiares, as comerciais, sem o valor da retribuição e, pronto – sofrimento à vista! Acontece que a contrapartida, como não poderia deixar de ser, constitui-se a base sublime das relações que se estabelecem entre as almas em jornada na Terra e os espíritos. Neste caso, traduzimos contrapartida como “Intercâmbio mediúnico”. No livro Mediunidade e Sintonia, o espírito Emmanuel assevera que “Se o homem recebe o concurso dos Espíritos Benfeitores, é natural que os Espíritos Benfeitores algo esperem igualmente do homem”. Notemos, portanto, que a mesma relação ecológica que se estabelece ao nível dos seres vivos também está presente na dimensão do espírito.
O desconhecimento dessa realidade faz com que a pessoa gaste muito tempo e muita energia na pretensão de ser servida e não servir, de ser elogiada e não elogiar, de receber e não se dar, ser perdoada e não perdoar, ser amada e não amar. No entanto, o Evangelho de Jesus e a Doutrina Espírita nos remetem a um movimento exatamente contrário, oferecendo-nos como guia, por exemplo, a oração de São Francisco – “Senhor, fazei que eu procure mais, consolar que ser consolado. Compreender, que ser compreendido, amar que ser amado. Pois é dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado”.
Neste sentido, o médium não pode ignorar A SUA CONTRAPARTIDA em resposta a todos os benefícios potenciais que o intercâmbio mediúnico pode lhe propiciar. É um equívoco frequentar grupos de estudo e reuniões de educação mediúnica desconsiderando que o Evangelho é uma valiosa modalidade do Livro dos Médiuns. É pelo exercício constante da caridade, da simplicidade, do desapego material, da humildade, que ofereceremos aos espíritos a possibilidade da comunicação e da intervenção amorosa em nossa realidade individual e coletiva. É imprescindível assumir um papel ativo diante do trabalho mediúnico por meio de testemunhos diários no seu campo de ação promovendo belos avanços nos diversos setores da vida. Emmanuel na obra supracitada resume o tema afirmando que o “progresso universal, em todos os tempos, é obra de intercâmbio”. E quem não deseja o progresso universal… EM CONTRAPARTIDA?

Vinícius Moura

Referência:
Mediunidade e sintonia. Francisco Cândido Xavier ditado pelo
espírito Emmanuel. Cap.4: Intercâmbio.

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