O que pedimos e o que precisamos

Intensificou-se os preparativos na residência de dona Isabel para o início dos trabalhos da noite. Faltava ainda mais de uma hora para a palestra evangélico-doutrinária que seria ministrada pelo senhor Bentes. Estavam presentes trinta e cinco encarnados. No plano invisível o número de necessitados passava dos duzentos, dentre os quais se encontravam entidades perturbadoras que acompanhavam os aprendizes ali reunidos. A vigilância, por outro lado, estava reforçada.
André Luiz reparou que havia vários pedidos de orientações, conselhos médicos, assistência e passes, todos colocados sobre uma grande mesa. Quatro médicos espirituais acompanhados de quarenta cooperadores diretos trabalhavam recolhendo informações e aprofundando em detalhes de cada situação ali relatada. Diante da enorme quantidade de papéis nominados, Aniceto explicou que se tratavam de indicações das pessoas que diziam precisar de amparo e socorro imediato. Em seguida, Vicente perguntou se elas recebiam tudo o que pediam.
Antes, porém, de colocarmos a sábia resposta do mentor espiritual, precisamos recordar dois ensinamentos de Jesus. O primeiro é “a cada um segundo as suas obras” [2]. Isso nos lembra a sabedoria e a perfeição de lei de causa e efeito, ou ação e reação, que proclama que toda criatura, esteja encarnada ou desencarnada, recebe no tempo certo os frutos de sua semeadura. Se fizermos o bem, no tempo oportuno receberemos o bem de volta, sendo que o mesmo vale para o mal praticado. Portanto, nada do que nos acontece é por acaso, pois para tudo há um motivo justo, útil e absolutamente necessário ao nosso processo de aprendizado e evolução.
O segundo ensinamento é “pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á.”[3]. Podemos pedir o que quisermos? Podemos! Devemos pedir o que quisermos? Não, pois entre poder e dever há grande diferença. Não devemos fazer tudo o que podemos, pois há coisa que podemos fazer que nos são prejudiciais. Ademais, os nossos pedidos devem passar por um importante filtro moral. Explicando melhor: ao fazer um pedido a Deus, temos que ter a responsabilidade de pedir algo que seja verdadeiramente necessário, útil, bom e justo. Não obstante, de acordo com o Cristo apenas pedir não basta, pois é preciso também buscar e bater. Tais expressões indicam a necessidade do pedinte se esforçar e perseverar para ser merecedor do que está pedindo, além de fazer todo o possível para que o pedido se realize. Nesse sentido, ensina-nos Allan Kardec: “Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará” [4], em outras palavras, faça sempre a sua parte bem feita e aquilo que não estiver ao seu alcance, confie que Deus fará o que for melhor para você.
Mas voltemos ao questionamento: as pessoas recebem tudo o que pedem ao plano espiritual? Eis a resposta de Aniceto: “Recebem o que precisam. Muitos solicitam a cura do corpo, mas somos forçados a estudar até que ponto lhes podemos ser úteis, no particularismo dos seus desejos; outros reclamam orientações várias, obrigando-nos a equilibrar nossa cooperação, de modo a lhes não tolher a liberdade individual. A existência terrestre é um curso ativo de preparação espiritual e, quase sempre, não faltam na escola os alunos ociosos, que perdem o tempo ao invés de aproveitá-lo, ansiosos pelas realizações mentirosas do menor esforço. Desse modo, no capítulo das orientações, a maior parte dos pedidos são desassisados[5]. A solicitação de terapêutica para a manutenção da saúde física, pelos que de fato se interessem pelo concurso espiritual, é sempre justa; todavia, no que concerne a conselhos para a vida normal, é imprescindível muita cautela de nossa parte, diante das requisições daqueles que se negam voluntariamente aos testemunhos de conduta cristã. O Evangelho está cheio de sagrados roteiros espirituais e o discípulo, pelo menos diante da própria consciência, deve considerar-se obrigado a conhecê-los.”[1]
Agora, por favor, faça o seguinte: volte ao parágrafo anterior e leia-o novamente, com muita atenção, meditando em cada palavra dita pelo benfeitor. Tenho certeza de que você entenderá que os fatores que determinam o atendimento ou não de um pedido são bastante complexos e variáveis. Há muito o que se ponderar e verificar em cada caso. Do mesmo modo, ficará claro que nada dispensa o esforço individual de progresso que nos cabe, cujas diretrizes se encontram grafadas nas imorredouras páginas do Evangelho. Finalizando, você entenderá que o Pai Celestial é tão magnânimo que Ele, em sua eterna bondade e sabedoria, nem sempre nos dá o que pedimos, mas sempre nos concede o que precisamos.

Valdir Pedrosa

[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por
Francisco Cândido Xavier – capítulo 46 (Aprendendo sempre).
[2] Evangelho Segundo Mateus 16:27.
[3] Evangelho Segundo Mateus 7:7.
[4] O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – capítulo
25 (Buscai e achareis).
[5] Desassisados: variados, perturbados, alucinados, doidos, desvairados, delirantes, malucos, loucos, tresloucados.

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