O propósito da religião

Indubitavelmente, desde os primórdios da criação, os seres vivos fluem por harmoniosa corrente de permuta com o Criador. Desde os átomos, respeitando as leis físico-químicas de afinidade, até o ser pensante-individualizado, tal circuito é estimulado por todas as leis regentes da própria Natureza: da semente ao fruto ou do berço ao túmulo; ensejos diversos conduzem a vinculação ao Supremo Doador da vida. Por características refertas de personalidade puramente humana, entretanto, a religião passou a ser concebida como uma forma de controle espiritual e social, estabelecendo parâmetros e leis dentro de uma fé sem o uso da razão. Dessa forma, por muito tempo a humanidade se entregou à religião por apenas convenção social e/ou perspectivas individuais, representando mais os desejos de alguns, do que a fraternidade, o amor e o perdão, especialmente após a vinda do nosso mestre Jesus.
Por esta ótica, convém reflitamos nos bens férteis que a religião pode proporcionar aos seus filhos. A palavra religião tem duas acepções dignas de menção: a primeira redunda nos rituais, dogmas e preceitos estabelecidos por diversos cultos, todos louváveis pela expressão de fé que alimentam; a segunda, induz-nos a pensar em sua etimologia, de modo que religião provém do verbo latino religare, o qual significa reconectar, religar ou voltar a unir. Ora, nesta acepção é notório que, ainda que respeitáveis todas as formas de expressão de louvor ao Criador, deveremos efetivamente ultrapassar os limites do culto exterior e contemplar as potências que herdamos de Deus, conectando-nos a Ele pelo sentimento, a fim de que não venhamos aprovar nossos equívocos e condutas por simplesmente termos o hábito de frequentar templos de pedras. A esse respeito, Jesus nos ensinou que a espiritualidade – conexão do ser com algo maior que si próprio, de forma a converter seus potenciais em bem, amor, caridade, compreensão e perdão – pode ser descoberta por intermédio da religião, que acalenta seus filhos ao conduzi-los ao autoconhecimento. Ademais, é imperioso reconhecer que há religiosos que não se conectam com sua espiritualidade, bem como há indivíduos que se reconectam ao Arquiteto do Universo, sem ter acesso a qualquer religião. Paralelamente, o insigne codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, esclarece-nos de que a religião é, sim, uma ferramenta de progresso que auxilia a jornada do Espírito imortal ao encontro de si mesmo, e, por conseguinte, ao encontro de Deus.
Dessa forma, lembremo-nos de Jesus, que ao ser julgado por adoradores e doutores da lei, em templos de pedra, jamais deixou de amá-los, por saber que cada um pode se conectar ao Pai no culto do coração. Assim como eles, nós também guardamos nossas incoerências e, ainda sim, o mestre continua a nos amar, por saber que despertos os potenciais, poderemos em verdade, ficar assegurados que aquele que crê e age no Cristo fará também as obras que ele faz e outras maiores, de vez que ele irá se conectar ao Pai, conforme o evangelista João anota no capítulo 14, versículo 12.

Jerônimo Ferreira

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