Conhece-te a ti mesmo

A importância de conhecer a si mesmo vem sendo transmitida aos homens por filósofos e pensadores muito antes da vinda de Cristo. No século IV AC, a mensagem “Conhece-te a ti mesmo” já se encontrava gravada no pórtico de entrada do templo do deus Apolo, na cidade de Delfos, na Grécia antiga.
No O Livro dos Espíritos, questão 919, Kardec pergunta ao Espírito da Verdade qual seria o meio mais eficaz para nos melhorarmos e resistirmos às solicitações do mal. Temos como resposta: “Um sábio da antiguidade vos disse: “Conhece-te a ti mesmo”. Essa é a máxima que fundamenta toda a doutrina filosófica de Sócrates. O pensador dizia que devemos procurar conhecer a nós mesmos antes de nos preocuparmos em conhecer a origem da natureza ou das coisas. Sócrates aconselhava os seus discípulos na busca do autoconhecimento para que pudessem vencer as trevas interiores.
O espiritismo reforça com veemência a importância do autoconhecimento, de saber quem realmente somos, de conhecer as nossas dificuldades, de tirar as máscaras que muitas vezes usamos, até inconscientemente, para acobertar as nossas imperfeições.
Transportando a essência desses ensinamentos para os dias atuais, devemos nos perguntar: será que estou buscando me conhecer? Será que estou utilizando o autoconhecimento como meta para atingir o meu crescimento espiritual?
Para evoluirmos espiritualmente é importante identificarmos em nós as virtudes que temos, objetivando aprimorá-las, e as nossas más tendências que precisamos eliminar. O autoconhecimento é processo de libertação pois nos permite conhecer quem realmente somos.
Na prática, como proceder para o conhecimento de si mesmo? Na questão 919a de O Livro dos Espíritos, Kardec faz exatamente esse questionamento acima. A resposta é dada por Santo Agostinho, que sugere a prática que exercitava enquanto encarnado aqui na Terra. Ele nos diz que devemos refletir sobre as nossas atitudes diárias, nossas palavras, nossos sentimentos, nossas ações, sejam eles positivos ou negativos. Ele nos conta que, diariamente, ao fim do dia, interrogava a sua consciência e perguntava a si mesmo se não faltara com algum dever, se teria dado motivos para alguém dele se queixar. Ele afirma que assim agindo, foi descobrindo as mudanças interiores que necessitava realizar.
Temos o livre-arbítrio para mudarmos quem somos. Rever as nossas atitudes diárias, questionar a razão de agirmos de determinadas maneiras, auxilia-nos a compreender melhor a nossa personalidade. Entender a nossa consciência, identificar nossos desejos, seus limites, perceber nossos erros, aceitá-los, repará-los de forma humilde, porém resiliente, são metas que podem ser alcançadas através da meditação, do questionamento interior, ou seja, de práticas que conduzem ao autoconhecimento. A partir do momento em que realmente sabemos quem somos e como reagimos, tornamo-nos capazes de lidar com sentimentos negativos sem que eles nos dominem. Conhecendo-nos seremos capazes de, aos poucos, realizarmos a nossa reforma íntima, processo esse que consiste em olhar para si mesmo e mudar de dentro para fora, transformando pensamentos e ações. A busca pelo autoconhecimento tem que ser resultado da nossa vontade e não de mera intenção. É necessário querer. É preciso decidir olhar para dentro de si. Não há progresso possível sem a observação de nós mesmos. E esse não é um processo fácil. Exige disciplina, força de vontade, dedicação. Como nos diz o filósofo Immanuel Kant: “Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço”. Que possamos “Conhecer a nós mesmos” para que sejamos capazes de nos libertar de nossas sombras e encontrar a luz, não fora, mas dentro de nós.

Eliane Marchetti

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