Obediência e Resignação

“A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração”. [1]

Razão, em sentido geral, é a faculdade de entendimento, raciocínio e ponderação, capacidade própria do ser humano em oposição à emoção. Assim, na análise das coisas e situações que nos rodeiam, usamos dessa capacidade para efetuarmos nossas escolhas. Com isto, não dizemos que nossas escolhas não sejam carregadas de emoção, mas sim que não deixamos que essa última tenha grande parte nas nossas decisões.

Por exemplo, se escolho ser pai ou ser mãe, constituir uma família, posso fazer essa escolha racionalmente, considerando quais criaturas possibilitarão, não só a mim ou a eles, a condição necessária para nossa evolução e desenvolvimento, por meio de novas atitudes uns perante os outros, tais como: generosidade, fraternidade, caridade, trabalho, etc, desenvolvendo assim as nossas emoções.

Se faço por outro lado, uma escolha tomada apenas pela emoção, corro o risco de ferir a mim e aos outros no meu entorno. Tomando por base o exemplo anterior, se penso na minha família apenas como degrau para o meu próprio engrandecimento e nada mais importa, tudo o que for a meu favor farei acontecer sem levar em consideração o que poderá gerar de prejuízo para os que me cercam. Agirei sem pensar nas consequências. Pois em um dia estaremos alegres, com ótimo humor e no momento seguinte estaremos enfurecidos, contrariados, dado que a vida não é estabelecida a nosso bel prazer, mas sim que tem movimento próprio. Ou seja, as coisas acontecem independente da nossa vontade, sendo partícipes nas ações, e precisamos aprender a controlar as reações. E quanto mais soubermos usar a razão e a emoção com equilíbrio, maiores chances teremos de acertar pela compreensão e pela aceitação do coração.

Nos tempos atuais percebemos a grande atividade intelectual, que gera novos “confortos” para a vida em sociedade, mas que também favorece ou melhor, explicita a indiferença moral que assola a vida em comunidade. Nossa geração padece desse vício – indiferença moral- que se contrapõe a lei de amor. Indiferença pelo bem-estar do próximo, pelo que sente, pelos seus sonhos, pelas suas paixões, etc, enquanto que, nosso Mestre Jesus nos dizia para perdoar setenta vezes sete vezes [2], entregar a túnica [3], andar duas milhas [4], ou seja, existem outras pessoas no mundo que precisam de nosso olhar carinhoso, sem malícia ou julgamento. Fazermos ao outro o que gostaríamos que nos fizessem [5]. De forma que, colocando em prática tudo aquilo que já aprendemos e utilizando da nossa razão para escolhermos, seja possível colocar em prática o nosso melhor nas tarefas e nos trabalhos que nos foram confiados pela misericórdia divina.De forma que, santificaremos o nosso dia, possibilitaremos a Deus que Ele nos ampare, pois Ele “não te apagou a chama da fé e nem te retirou a oportunidade de continuar trabalhando” [6]. Eis o consentimento da razão, pois “todo aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” [7].

Assim devemos continuar trabalhando, em nosso favor e do próximo, para andarmos na luz.

Mas, como trabalhar nesses dias tão difíceis que nos são apresentados? Parece que falta compreensão, liberdade, dinheiro, trabalho, profissão, etc. E isso ocorre na família, na sociedade, na escola, enfim, nos variados espaços que nos movimentamos. Parece ser impossível seguir em frente, com fé. A dúvida surge e coloca em “xeque” nossa aceitação do quanto devemos ser obedientes e resignados perante as situações, em contraponto a nossa rebeldia em seguir a programação espiritual. Eis o consentimento do coração: o trabalho é essencial para o avanço intelectual e moral dos espíritos encarnados, e a obediência a que nos compete fazer o bem tem o nome de obrigação cumprida no dicionário da realidade. Quem executa com alegria as tarefas consideradas menores, espontaneamente se promove as tarefas consideradas maiores.

Honremos os trabalhos com o melhor de nós pelo consentimento da razão e do coração.

“Quando o trabalhador converte o trabalho em alegria, o trabalho se transforma na alegria do trabalhador”. [8]

João Jacques Freitas Gonçalves

[1] Capítulo IX – ESE – Bem aventurados os que são brandos e
pacíficos.
[2] Mateus 18: 21-22
[3] Mateus 5:40
[4] Mateus 5:41
[5] Mateus 7:12
[6] Livro de Respostas, Emmanuel, capítulo 14
[7] João 8:12
[8] Livro Sinal Verde, capitulo Dever e Trabalho, espírito André Luiz.