O trabalho com a infância na Feig – ontem, hoje e amanhã

Muitas são as histórias que compõem a trajetória da Fraternidade Espírita Irmão Glacus e o trabalho com a infância. 

Uma delas começou na sede no Padre Eustáquio, em 1986, dez anos após o nascimento da Fraternidade: a Creche Meimei nasce como a materialização de um sonho daqueles que ajudaram nos primeiros tempos de prestar assistência a crianças de mães que não tinham com quem deixá-las enquanto trabalhavam para garantir o sustento da família. Funcionou por dez anos, no terceiro andar do prédio na Henrique Gorceix, muito antes da ampliação da sede, e fez parte da vida de muitas crianças e famílias. 

A Creche Meimei ajudou, assistiu e ao mesmo tempo ensinou muito aos envolvidos no seu dia a dia. Quando encerrou suas atividades, em 1997, já funcionava na Fundação a Creche Irmão José Grosso, e houve um esforço de transferência das crianças para lá, o que não foi possível por questões de logística das famílias. Como última ação, a Creche Meimei ajudou a conseguir vagas para todas as crianças em creches da região do bairro Padre Eustáquio. 

Em 1992 nasce na Fundação, ainda com o nome de Creche José Grosso, a primeira atividade assistencial no chamado até então “Pavilhão José Grosso do Complexo Fundação” previsto assim no projeto. Começa atendendo a 25 crianças de um a sete anos, e, passados cinco anos, quando a Creche Meimei encerrou suas atividades, já eram 100 crianças. As instalações recém- construídas foram visitadas na Reunião de Confraternização (hoje Convívio Espiritual)no terceiro domingo de janeiro do mesmo ano.

Um registro feito no jornal “Evangelho e Ação” informa a percepção sobre o espaço naquela visita – as instalações amplas, planejadas – sete salas, cinco banheiros, sendo dois adaptados para as diversas idades; cozinha, despensa, lavanderia e um terraço de 400m2. Foi construída em curto período de tempo, com recursos vindos de doações, e planejada a partir das experiências vividas na Creche Meimei. E era um novo ponto de partida para um trabalho tão sonhado. 

As crianças chegavam. A região, de muitas necessidades e extrema vulnerabilidade social, fez com que os anos de trabalho fossem intensos e desafiadores. E, especialmente, felizes. Como era belo registrar os rostinhos que chegavam e logo se transformavam devido aos cuidados e à alimentação ali ofertados. 

Em 2006 a até então Creche, torna-se o Centro de Educação Infantil Irmão José Grosso – CEI, o que parece ser um detalhe de nome, mas na realidade informa a amplitude do trabalho que passou a ser realizado, que vai além das atividades de creche: assistência, cuidado com alimentação, higiene, segurança física entre tantos outros aspectos.E passa a fornecer Educação Infantil, com planejamento pedagógico e ambiente educacional de pré-escola, conforme prevê o Artigo 30 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei 9394/96). 

Cresceram também a responsabilidade e o tamanho dos desafios para a Feig. A meta, já definida naquela época e que ainda permanece atual, é que as crianças, além da primeira etapa da Educação Básica, possam permanecer sob a orientação escolar da Fundação Espírita Irmão Glacus até completarem os ensinos Fundamental e Médio no Colégio Espírita Professor Rubens Costa Romanelli. 

O tempo continua passando, e nas páginas do jornal “Evangelho e Ação” são muitos os registros de conquistas, avanços e realizações. O início das atividades do Colégio Romanelli no ano seguinte ao CEI, em 1993 e tantos outros desafios superados, simultânea e posteriormente na busca da sustentabilidade das atividades doutrinárias, de assistência fraterna e dos continuados projetos de assistência material e promoção social da Feig. 

Após uma orientação da espiritualidade mentora, por volta de 2006 um projeto começou a ser desenvolvido para aproximação das instalações do Centro de Educação Infantil Irmão José Grosso ao espaço do Colégio Espírita Rubens Costa Romanelli. De novo, muitos estudos e análises dos recursos necessários para uma mudança de espaço sem comprometer o funcionamento e o continuado atendimento às crianças. Mas, sempre no horizonte, foram sendo feitos ajustes e buscadas soluções no projeto arquitetônico proposto e também nos recursos. 

Em 2019 é iniciada a obra de adequação do novo espaço para a instalação do CEI, bem ao lado do Colégio. Nortearam o projeto, além da localização, o atendimento a todas as normas técnicas e exigências legais dos órgãos de fiscalização relativas a ambiente ideal para acolhimento das crianças: acessibilidade, segurança, facilidade de deslocamento, entre outros aspectos. 

No andar térreo do segundo prédio da Fundação, as novas instalações do CEI possuem cinco salas de atividades, área administrativa, cozinha equipada para a preparação de alimentos adequados às crianças, refeitório, banheiros, sala multiuso, biblioteca e brinquedoteca. E ainda, entre o CEI e o Colégio, há 370 m² de área descoberta para o lazer das crianças, agora com um solário para bebês. Todos os ambientes possuem amplas janelas que garantem espaços bem ventilados e iluminados, com itens de segurança necessários para a proteção das crianças. 

Depois de 17 anos, o projeto de aproximação às instalações do colégio virou realidade e foi além, agora também adequando-se às exigências da legislação atual, já está em pleno funcionamento desde a volta das férias de julho, para o segundo semestre do ano letivo de 2023. Hoje são 138 crianças de 1 a 5 anos de idade atendidas. 

Em recente visita às instalações do CEI, o pensamento foi longe, lá naquela reunião de Convívio Espiritual de 1992, onde a mesma alegria, contentamento e esperança envolveram todos os que olhavam cada cantinho e cada detalhe. E tudo aquilo realizado por meio de doações e boa vontade. 

E nas lembranças vieram também as crianças que passaram pelos cuidados da Feig nestes mais de 31 anos. Como devem estar? E as sementes lançadas na primeira infância germinaram? Muitas foram as crianças e famílias atendidas, com histórias que sensibilizam e emocionam. 

ROSA – É uma das famosas do CEI. Menina doce, que de tão amorosa, conquista todos em poucos minutos de conversa. Seu pai está preso em outro Estado, e sua mãe tem dificuldades para cuidar dela e permanecer nos empregos que consegue. Ainda assim, Rosa tem conseguido superar as limitações do seu ambiente familiar e assimila os conteúdos e valores que lhe são repassados.E, quando perguntada sobre o que mais gosta no CEI, ela responde: “– De tudo e da comida”. 

CARLINHOS – Tem quatro anos. Hoje podemos dizer que é uma criança alegre. Chegou ao CEI com pouco mais de um ano, com baixa nutrição e “desanimado”. Não gostava de ser tocado, e parecia que tudo o incomodava. Mora em um lugar desprovido de condições básicas de limpeza, saneamento, alimentação e segurança. Na medida em que foi recebendo os cuidados do CEI, foi se tornando outra criança. 

JOSÉ – Está no CEI desde bebezinho. Os pais trabalham duro para criá-lo, junto com os três irmãos, e as coisas não são fáceis. A avó mora com a família e tem uma doença degenerativa que exige dedicação de todos. Para o ano que vem, ele é um forte candidato a ir para o Colégio Espírita Professor Rubens Costa Romanelli, para a 1ª série do Ensino Infantil. Já lê com certa desenvoltura, e os pais comemoram. 

Estas e muitas descrições de realidades das crianças de ontem e de hoje atendidas, preencheriam todas as páginas deste jornal. Inspirados nelas, remetemos àquela reunião de Convívio Espiritual de janeiro de 1992 e, para fechar esta breve história sobre a trajetória da Fraternidade e também da Fundação Espírita Irmão Glacus e o trabalho com a infância, citamos a diretiva de um mentor amigo para o futuro: “Boa vontade, determinação e sentimento de solidariedade cristã”. Evangelho nas ações, agora!

Miriam d´Avila Nunes