Com o que você tem sonhado?
Ao adentrarem o local onde se encontravam quase dois mil Espíritos que dormiam com expressões dolorosas e terríveis, Aniceto esclareceu: “- Todos os que dormem nestes pavilhões permanecem dentro do mau sono. – Mas teremos, porventura, nas zonas espirituais, os que estejam em bom sono?- interrogou Vicente, de modo brusco. – Sem dúvida – respondeu Aniceto, solícito-, temos na esfera de nossas atividades os que repousam períodos curtos, quais trabalhadores retos que esperam o repouso noturno, com a tranquilidade dos que sabem trabalhar e descansar, de consciência aliviada. (…) Mas esses não precisam estacionar, como filhos da sombra, nas construções de emergência de um Posto de Socorro. (…) Quem dorme em desequilíbrio, entrega-se a pesadelos. Todos estes irmãos desventurados que nos cercam, aparentemente mortos, são presas de horríveis visões íntimas.”[1]
Sono é o estado em que cessam as atividades motoras e sensoriais e o corpo físico entra em repouso, ocorrendo desta forma o refazimento de suas forças. Nesse momento a presença do Espírito não é necessária e, em várias ocasiões, ele se afasta e age a distância do instrumento carnal, entrando em conexão com a dimensão espiritual. De acordo com o Espiritismo, enquanto dormimos a alma não repousa com o invólucro corporal e “o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos.”[2]
Martins Peralva[3] propõe a divisão dos sonhos em três tipos: os comuns são aqueles povoados de reminiscências dos fatos cotidianos que se fixam na mente. Às vezes são imagens caóticas e confusas que refletem a preocupação do indivíduo com o mundo material. Reflexivos são os sonhos nos quais mergulhamos mais profundamente em nossos registros de vidas passadas, revendo imagens ou situações que vivenciamos em outras reencarnações. Já os chamados sonhos espíritas são as lembranças de nossa vivência real no mundo dos Espíritos, o que ocorre devido ao desprendimento parcial que experimentamos durante o sono. São recordações de encontros, estudos e tarefas que participamos na esfera espiritual.[3]
É importante destacar que quando há condições do Espírito se libertar parcialmente do corpo físico pelo fenômeno do sono, ele entra em contato com regiões do plano extrafísico assim como com entidades com as quais se sintonize ou se afinize. Por causa disso destacamos a orientação de Aniceto, ao afirmar sabiamente que quem vive no desequilíbrio, entrega-se a pesadelos. Praticar e se comprazer no mal, alimentar maus hábitos e não se esforçar para melhorar espiritualmente, conduz o homem a uma existência que o distancia do bem, da luz, da paz e da verdade. Como consequência direta de seus atos e pensamentos, sua vida em estado de vigília estará sempre em desarmonia e, consequentemente, seus sonhos se transformarão em constantes pesadelos.
Enquanto o corpo físico dorme, nós, enquanto Espíritos imortais e temporariamente livres da matéria densa, podemos nos encontrar com entes queridos que já partiram para o Mais Alto, bem como receber consolo, esclarecimentos e orientações por parte dos mentores, guias e protetores espirituais. Havendo necessidade e merecimento recebemos tratamento para alguma enfermidade. Dependendo de nossa condição evolutiva é possível participarmos de estudos em colônias no Além e até mesmo de trabalhos em benefício de encarnados e desencarnados, seja no plano físico ou no espiritual.
Contudo, se permanecermos distanciados da prática dos ensinamentos do Cristo, não teremos essas oportunidades. Quando, e se conseguirmos nos desvincular do corpo de carne, seremos levados automaticamente a lugares tenebrosos do plano astral com os quais sintonizamos, em companhia de entidades infelizes que se afinizam com gostos e tendências que cultivamos. Podemos, inclusive, ter o convívio noturno com Espíritos sombrios que nos desejam o mal. Portanto, é preciso sublimar sentimentos, desejos, pensamentos e atitudes de acordo com os postulados do Espiritismo. Outrossim, alguns hábitos salutares auxiliam a termos bons sonhos, como por exemplo a prece e a leitura edificante. Deste modo, estaremos no céu durante o dia e alcançaremos o paraíso à noite; ou viveremos em trevas diariamente e teremos o inferno como companheiro noturno.
A escolha é de cada um.
Valdir Pedrosa
[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 23 (Pesadelos).
[2] O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – 2ª parte – capítulo 8 – questão 401.
[3] Estudando a Mediunidade – Martins Peralva – capítulo 17 (Sonhos).