Humildade

Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus. (Mateus 5:3)

Certamente esta é uma das mais conhecidas bem-aventuranças proferidas por Jesus
no Sermão do Monte. Conforme Kardec nos esclarece no capítulo 7 de O Evangelho segundo o Espiritismo, a expressão “pobre de espírito” deve ser compreendida como equivalente àquele que é humilde, e não àquele tido como ignorante. Assim, Jesus coloca
a humildade como uma das características fundamentais para que possamos erigir o
Reino dos Céus – estado consciencial relativo à verdadeira paz e à felicidade genuína –
em nossa intimidade. Humberto de Campos, no livro Boa Nova, assevera que Jesus convidou, para o círculo daqueles que Lhe seguiriam de modo mais próximo, “os homens mais humildes e simples do lago de Genesaré” (cap. 5). Sem verdadeiramente reconhecermos nossa posição como criaturas ainda muito imperfeitas e que necessitam do apoio e do amparo divino, nada conquistaremos de novo.

Humildade é reconhecermos que somos filhos de um Pai que é todo misericórdia, amor e benevolência. Somos pequeninos em grandeza espiritual, ainda; nossa marcha evolutiva é lenta, incorremos nos mesmos equívocos por diversas vezes… No entanto, ao concebermos que há uma inteligência superior a nós que comanda todos os processos do Universo, reconhecemos que não temos controle sobre quase nada… Além disso, se reconhecemos que ao Criador pertencem todos os processos da vida, que Ele rege as leis do mundo físico e as leis morais, temos paciência para esperar o tempo de Deus. Como dizia Chico Xavier, a paciência desarticula os mecanismos do mal.

A humildade consiste, ainda, em pedirmos perdão: não poucas vezes sabemos que erramos em relação ao nosso próximo mas, por arrogância ou soberba, mantemo-nos a distancia, sem nos aproximarmos de nosso irmão com o coração aberto, buscando restabelecer a sintonia da concórdia. Ora alegamos vergonha por nossos atos, ora nos justificamos alegando que, se agimos daquele modo menos feliz, é porque o outro provocou aquele sentimento em nós. São os velhos hábitos cristalizados de culparmos os outros ao invés de reconhecermos a parcela de responsabilidade que nos cabe em cada situação.

Por fim, não nos esqueçamos de que ser humilde significa fazer a parte que nos compete sem cobrar ou esperar nada de ninguém, “sem criar problemas, e oferecendo à construção do bem de todos o melhor concurso de que sejamos capazes.” (Emmanuel, livro Encontro Marcado).

Maria do Rosário A. Pereira

Erraticidade: período de refazimento e aprendizado

“Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. (João 14:2.)”

Superada a compreensão de que a vida após a morte e a reencarnação são realidades da sabedoria Divina, uma nova questão se coloca: o que ocorre com as almas quando não estão encarnadas? Na questão 224 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta aos espíritos exatamente isto: “o que é a alma no intervalo entre as encarnações?” A resposta é direta: “Espírito errante, que aspira a novo destino, que espera.” Os dicionários da Língua Portuguesa dão como sinônimo de “errante” os termos “vagueante, que vagueia, que não tem residência fixa, que vive como nômade.” Desta forma, o termo derivado, erraticidade, que denomina este artigo, refere-se a momentos na vida dos espíritos em que eles vagam, livres da matéria tangível, podendo se deslocar pelos espaços do universo. O termo errante não traz, então, relação com o substantivo erro, como muitos, equivocadamente, consideram. Tal confusão decorre da associação que se faz entre a necessidade da reencarnação que a Lei de Progresso nos impõe e os erros e falhas que, ainda, cometemos com os que conosco se relacionam, em função da nossa baixa compreensão em relação à moral do Cristo.

Estar na erraticidade é estar na condição natural de espírito, é estar no “[…] mundo espírita, que preexiste e sobrevive a tudo”.¹ Estar encarnado é condição temporária do espírito. Assim, “Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana”, segundo Teilhard de Chardin.²

A condição de espírito errante causa curiosidade e especulações diversas entre os que não estudam seriamente a Doutrina Espírita, não raro criando mitos e teorias excêntricas sobre as relações entre os dois planos da vida,o plano dos encarnados (plano físico) e o plano dos desencarnados (plano espiritual). Com base, entretanto, nas informações trazidas no início do Capítulo VI de O Livro dos Espíritos aprendemos que o intervalo entre as reencarnações é de duração variável: “[…] Desde algumas horas até alguns milhares de séculos. Propriamente falando, não há extremo limite estabelecido para o estado de erraticidade, que pode prolongar-se muitíssimo, mas que nunca é perpétuo. Cedo ou tarde, o Espírito terá que volver a uma existência apropriada e purificá-lo das máculas de suas existências precedentes.”³

Na categoria de errantes, os Espíritos têm oportunidade de progredir. O estudo, o aconselhamento de Espíritos que lhes são superiores, a observação, as experiências vivenciadas, entre outros, facultam-lhes os meios de melhoria espiritual.4

O filme Nosso Lar destaca intensamente tal situação. O estado de erraticidade cessa quando o Espírito atinge o estágio da Perfeição Moral, tornando-se Espírito Puro. Não é mais errante, visto que chegou à perfeição, seu estado definitivo.5 Conforme o grau de perfeição que tenham alcançado, estes permanecem ligados a determinadas colônias na Espiritualidade. Nessas regiões elevadas do Plano Espiritual, atuam como orientadores, promovendo o progresso da humanidade terrestre.

Sendo a maioria dos Espíritos desencarnados em nosso planeta, a diversidade dos níveis evolutivos dos Espíritos errantes variam ao infinito. São mais ou menos felizes […] conforme seus méritos. Sofrem por efeito das paixões cuja essência conservaram, ou são felizes, de conformidade com o grau de desmaterialização a que hajam chegado. Na erraticidade, o Espírito percebe o que lhe falta para ser mais feliz e, desde então, procura os meios de alcançá-lo.6

As ideias, e, consequentemente, os conhecimentos dos Espíritos modificam-se quando na erraticidade. Com efeito, […] sofrem grandes modificações, à proporção que o Espírito se desmaterializa. Pode este, algumas vezes, permanecer longo tempo imbuído das ideias que tinha na Terra; mas, pouco a pouco,a influência da matéria diminui e ele vê as coisas com maior clareza. É então que procura os meios de se tornar melhor.7

Muitas são as moradas mentais, espirituais e físicas anunciadas por Jesus e todas concorrem para as transformações morais que necessitamos.

Rômulo Novais

 

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 93.ed. 9. imp. (Edição Histórica). Brasília, DF: FEB, 2019. q. 85.
2 Pierre Teilhard de Chardin (1881/1955) foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que tentou construir uma visão integradora entre ciência e teologia.
3 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 93.
ed. 9. imp. (Edição Histórica). Brasília, DF: FEB, 2019. q. 224-a.
4 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 93.
ed. 9. imp. (Edição Histórica). Brasília, DF: FEB, 2019. q. 226
5 ______. ______. q. 227.
6 ______. ______. q. 231.
7 ______. ______. q. 318.

 

Sementes

Na Parábola do Semeador, Jesus recorre à natureza para facilitar a nossa compreensão acerca da evolução espiritual no planeta Terra. Ao afirmar “Eis que o semeador saiu a semear”, o Mestre nos convida a receber a semente da Boa Nova no terreno de nossos corações e nos lembra que somos semeadores e devemos escolher, com amor, as sementes lançadas nos ambientes que frequentamos.

O Mestre continua: “E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na” (Mt13:4). Ele exemplifica os tipos de terrenos de acordo com o nosso processo evolutivo. Isso não quer dizer que somos iguais a esses terrenos mas, sim, que nos comportamos como os vários exemplos de terreno citados por Jesus ao longo do tempo.

Há dias em que, ao receber o convite da espiritualidade amiga para estudar a Doutrina Espírita, participar das reuniões públicas, e praticar a caridade, agimos como aqueles que estão à margem do caminho e que, ao receberem o convite para o bem, deixam que os interesses materiais e as influências inferiores devorem as sementes do Mestre, alterando o seu trajeto.

Jesus continua: “E outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Mas, vindo o sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz.” (Mt 13:5-6). Quando nos comportamos como o terreno pedregoso, árido, sem empatia, sem caridade e sem amor fraternal, recebemos as sementes do Evangelho, e não as permitimos crescer, logo, elas são queimadas pelo sol do nosso egoísmo, impedindo-nos de seguir em frente com o Mestre. 

Outras vezes, nos comportamos como a terra cheia de espinhos, ficamos animados com o convite da Boa Nova, ficamos motivados, mas, rapidamente, os espinhos, como o do ódio, da ganância e do egoísmo sufocam as sementes que não desenvolveram raízes profundas no bem. 

Muitas vezes, entretanto, representamos a terra fértil na qual a semente do Evangelho é acolhida, aconchegada e produz frutos que contribuem para a nossa elevação espiritual. 

Assim o importante é nos reconhecermos e atuarmos como terrenos em processo de adubação e cultivação de conhecimento e de amor, com grande potencial para espalhar sementes e cultivar outros terrenos na Seara de Jesus.

Francisleny Lopes

Felicidade

O que é a felicidade? Podemos ser felizes aqui na Terra? Depende de nós?

O dicionário nos diz: qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar. Outra definição: estado de espírito de quem se encontra alegre ou satisfeito; alegria, contentamento, fortúnio, júbilo.

Na Bíblia, no sermão do Monte, temos as Bem-aventuranças (cap.5:1-12), que significam segundo o dicionário: estado de plena felicidade; condição de extremo bem-estar. No primeiro momento nós achamos contraditório “bem aventurados os aflitos”, ou seja, felizes os aflitos, mas a Doutrina Espírita vem nos ajudar a compreender.

Vamos ver a felicidade de acordo com a Doutrina Espírita.

Todos nós fomos criados para atingir a felicidade, assim como fomos criados para atingir a perfeição. A felicidade e a perfeição são inerentes ao espírito, ou seja, estamos destinados a sermos felizes assim como a sermos perfeitos. À medida que evoluímos, vamos desenvolvendo a semente que está dentro de nós.

Várias encarnações são necessárias neste mundo, e em outros, até que não vamos precisar encarnar mais. Uns evoluem mais rápido, enquanto outros, paralisam e demoram um tempo maior.

Como Jesus nos disse, as Bem Aventuranças, que nos cabem no futuro, dependem de como procedemos aqui, seguindo, praticando e vivenciando seus passos. A plena felicidade e perfeição são fatalidades futuras do espírito. 

Jesus nos disse que seu reino ainda não é deste mundo (João cap.18:36). Cabe a nós entendermos que de acordo com a nossa evolução e o mundo em que vivemos temos que plantar para colher no futuro. 

Quando o Evangelho segundo o Espiritismo nos diz no item 20, cap.5 que “ a felicidade não é deste mundo”, quer que entendamos que a felicidade plena não, pois ela está ligada à perfeição e como somos seres em evolução (ainda imperfeitos) podemos usufruir de uma felicidade relativa que está ligada às conquistas espirituais, e não materiais (efêmeras) que pertencem ao mundo material e não nos acompanharão quando de retorno ao plano espiritual: nossa verdadeira morada. Os bens terrenos (materiais) são instrumentos e não o nosso objetivo. O nosso objetivo é o aprimoramento moral, a evolução do espírito. Jesus em seu Evangelho nos esclarece: “Não queirais entesourar para vós tesouros na terra onde a ferrugem e a traça os consome, e onde os ladrões os desenterram e roubam. Mas entesourai para vós tesouros no Céu, onde não os consome a ferrugem nem a traça, e onde os ladrões não os desenterram nem roubam.” (Mateus, 6:20)

Muitas vezes nos equivocamos, buscando fora de nós a felicidade. Temos que ir construindo dentro de nós. 

No Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, este assunto é tratado na questão 920: Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra? A resposta dos espíritos: “Não, por isso que a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra.”

 

O espírito Joanna de Ângelis nos fala que os sofrimentos, as dores (que são consequências dos nossos erros ou são provas) fazem com que possamos evoluir. (Livro – Vida: desafios e soluções, psicografia Divaldo Franco).

“A maioria dos menos favorecidos no plano terrestre, se visitados pela dor, preferem a lamentação e o desespero; se convidados ao testemunho de renúncia, resvalam para a exigência descabida…” (livro Pão nosso, lição 89, Bem-aventuranças pelo espírito Emmanuel, psicografia de Chico Xavier). Nem todos os aflitos são bem-aventurados (felizes). O Evangelho segundo o Espiritismo nos explica no cap. 5, nas instruções do Espíritos: bem e mal sofrer. (Item 18)

O Livro dos Espíritos nos diz ainda que a felicidade na Terra é comum e possível a todos: Para a vida material, é a posse do necessário; para a vida moral, a consciência tranquila e a

fé no futuro. Questão 922.

Precisamos viver procurando nos conhecer, modificando pensamentos e ações, procurando viver as leis divinas, tendo sempre o Evangelho como guia seguro, aprendendo com nossos

erros, buscando escolhas melhores, praticando a verdadeira caridade como Jesus entendia: benevolência para com todos, indulgência com faltas alheias e perdão.

Fazendo ao outro o que gostaríamos que nos fizessem, aprenderemos e sentiremos a alegria de ser útil e começaremos o alicerce de nossa felicidade em bases sólidas.

Ser feliz ou não, como este mundo comporta, depende de cada um de nós e é “a consequência das atitudes que o homem assume na rota evolutiva pelo cadinho das incessantes reencarnações” como nos diz o espírito Joanna de Ângelis no livro Estudos Espíritas na pág.123, psicografia Divaldo Franco.

Uma boa leitura é o livro Desperte e seja feliz também ditado pelo espírito Joanna de Ângelis e psicografia de Divaldo Franco, pois nos esclarece sobre diversos temas ligados à nossa conduta para sermos tão felizes quanto a Terra permite.

Katia Tamiette

Seja um ipê florido

Que fazemos de especial, quando estendemos nossas mãos, pensamentos e palavras em favor de alguém ou de alguma boa causa?

Estamos, por meio do serviço, aproveitando a oportunidade bendita de realizar a pequena parte que nos cabe na grande construção proposta por Jesus, a implantação do reino de Deus. Prosseguimos no aprendizado constante e necessário do que seja de fato a grande família universal.

Fazer o bem, a partir desta compreensão, passa então a ser nosso dever como cristãos, e também a nossa oportunidade de crescer servindo, pois o trabalho é lei de Deus e abre as portas para as conquistas do espírito imortal.

Quando observamos a natureza, percebemos o Espírito de cooperação, que se manifesta em tudo, sem alarde. O grande benfeitor Emmanuel nos ensina que a natureza, em toda a parte, é um laboratório divino que elege o Espírito de serviço por processo normal de evolução.

Conseguiremos imaginar quantas pessoas serão impactadas pela beleza de um ipê florido, durante toda existência da árvore? Ou quantos serão saciados pela água de uma pequena nascente que acaba de brotar da terra mãe?

Quando não sabemos por onde começar e o que fazer, mas de fato estamos dispostos a contribuir, não nos faltam os recursos do mais alto em favor do trabalho a ser realizado.

Para tanto, importa observar o convite diário, mesmo que por alguns instantes, para sairmos de nossa zona de conforto, ou até mesmo dos momentos de dor, e percebermos a realidade e a necessidade do próximo.

Utilizando o método da observação, seguido da prece e ação no bem, conseguiremos encontrar a luz necessária para identificarmos o remédio salutar que nos fará balsamizar as nossas próprias feridas.

Já é tempo de retirarmos os véus da ilusão, descermos dos pedestais do orgulho, da inércia mortuária, para realizarmos, de fato, a vida em plenitude de luz, que nos propõe o mestre Galileu.

O que nos impede de começar agora? O que nos impede de servir ao bem? Seja você também um Ipê florido na vida de alguém!

Mariluce Gelais

As janelas do amor

No livro Jesus e o Evangelho: À Luz da Psicologia Profunda, Joanna de Ângelis, firmada nas excelentes colocações expostas por Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, comenta um item de cada capítulo desse livro, conclamando o indivíduo à mudança de comportamento e de atitudes perante a vida. Em uma das edições do livro, a imagem da capa contempla duas janelas abertas; uma delas, pode-se entender que somos nós quem abrimos, através de nossos méritos e esforços íntimos. A outra janela, onde Jesus está, permanece sempre aberta para todos. Para abrir a primeira janela, são necessárias boas escolhas durante a jornada da encarnação na Terra. Praticando o amor, é possível abri-la. Joanna de Ângelis, no capítulo 13 (Libertação pelo amor) da obra supracitada esclarece que “Amando-se, ultrapassa-se a própria humanidade na qual se encontra o ser, para alcançar-se uma forma de angelitude, que o alça do mundo físico ao espiritual mesmo que sem ruptura dos laços materiais. Todo esse concerto de afetividade inicia-se no respeito por si mesmo, na educação da vontade e no bom direcionamento dos sentimentos, de forma que a autodescoberta trace conduta saudável que irradie harmonia e alegria de viver, tornando a existência física aprazível seja em que forma se apresente, não sofrendo as alterações dos estados apaixonados e dos gostos atrabiliários.” Esses ensinamentos nos levam a refletir que a Terra se assemelha a uma enorme escola, onde estamos todos nós, conectados uns aos outros, direta e indiretamente. Nossas múltiplas vidas, com suas cadeias de sucessões de acontecimentos, nos levam – através de suas particulares lições – a abrir a janela do amor verdadeiro, tal como o Mestre que nos guia: aquele que necessita ser reconhecido como amigo de todas as horas, nosso amado Jesus.

Denise Castelo Nogueira

Isto é caridade?

A proposta espírita-cristã sobre caridade se diferencia de um pensamento distorcido de nossa sociedade, e inclusive, de alguns grupamentos religiosos. Muitas vezes temos a certeza de que estamos fazendo a caridade, mas não estamos. Por outro lado, pessoas que dizem não terem as mínimas condições de realizar a caridade seja material ou moral, a estão exercendo na mais sublime expressão. É importante entender que caridade se diferencia completamente da visão equivocada de que é somente prestação de serviços aos outros, distribuição de esmolas, assistência social e filantropia. A caridade segundo Jesus não se revela por nenhum ato exterior. Também, a caridade não consiste em assumir e comandar os sentimentos de ninguém, porque às vezes nos colocamos na posição de ajudar as pessoas, e na verdade estamos tentando assumir o controle da vida delas, realizando o que elas é que têm que resolver. Assumimos e tentamos comandar sentimentos, decisões, trazer o bem-estar, assumindo os seus problemas, impedindo às vezes as pessoas de evoluírem e construírem o seu próprio destino. A nossa ajuda, em determinados momentos pode-se tornar patológica, porque criamos dependentes materiais ou afetivos, criamos relacionamentos em busca de compensações, construindo uma baixa autoestima nas pessoas ajudadas. Aquele que dá, aquele que doa, aquele que ajuda nunca deve buscar algum favorecimento pessoal, no sentido de propiciar para ele, mesmo que temporariamente, alguma sensação de bem-estar ou demonstrar um poder íntimo, uma vaidade pessoal, tentando provar aos outros que somos pessoas boas, importantes, e às vezes até merecedoras de atenção.

Segundo o pensamento Cristão, caridade é uma proposta de mudança nos relacionamentos humanos. É uma proposta de extremo respeito ao outro, que é o ponto basilar, porque sem respeito nunca conseguiremos amar, sermos pacientes, tolerantes ou misericordiosos com o próximo. Respeitar as pessoas como elas são, com suas dificuldades, virtudes, valores, sem fantasias e ilusões. Alicerçados no respeito iremos empreender uma ação transformadora em nossas atitudes, vamos superar nossas limitações, vamos fazer aquilo que nós não estamos acostumados a fazer, vamos ser pessoas diferenciadas daquilo que a sociedade dita como ser caridoso, vamos começar a destruir um pouco o nosso orgulho e egoísmo, que são as grandes amarras que nos prendem ainda a esse mundo de sofrimento. Passemos em revista todos os problemas e dificuldades que temos enfrentado em nossos relacionamentos: familiares, afetivos e sociais. E reflitamos se não são problemas ligados à questão do orgulho, da valorização da nossa personalidade, da supremacia da nossa forma de pensar, de não abrir mão das nossas ideias e do nosso modo de ser.

“Fora da caridade não há salvação”. Exatamente! Sem respeito aos direitos dos outros e o exercício constante do amor exteriorizado através da tolerância, benevolência, indulgência, paciência, não tem jeito mesmo. Se não mudarmos os nossos relacionamentos vamos continuar nesse ciclo vicioso de sofrimentos, dificuldade e decepções. O mundo está mudando, está em processo transformador e regenerador, faz-se necessário mudar nossos relacionamentos e buscar o esforço pessoal, tornar-se robusto no sacrifício pessoal, assumindo nossas responsabilidades diante da vida e sermos extremamente caridosos. E, nunca é demais relembrar a reflexão do Apóstolo Paulo sobre o tema: “… A caridade é paciente; é doce e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária e precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura seus próprios interesses; não se melindra e não se irrita com nada…” E, descrevemos ao final uma análise do Espírito Hammed sobre as reflexões do Apóstolo Paulo: “Ainda que eu falasse a língua dos homens e também a dos anjos; ainda que eu tivesse o dom da profecia e penetrasse todos os mistérios; ainda que eu dominasse a ciência e tivesse uma fé tão grande que removesse montanhas, tudo isso não me serviria de nada se não tivesse amor-respeito aos seres humanos”.

Ladimir Freitas

[1] Texto baseado no Capítulo 48 – Os Olhos do Amor, do Livro
Renovando Atitudes – Francisco do Espírito Santo Neto ditado
pelo Espírito Hammed.

Tua Lâmpada

Tua fé viva! – tua lâmpada.
Zelarás por tua lâmpada para que as perturbações do caminho não te mergulhem nas trevas. O serviço é a chama que lhe define a vida, a compaixão é o óleo que a sustenta.
Clareia a estrada para os que se acolhem na sombra e segue adiante!… Vê-los-ás tresmalhados no grande tumulto… Entre eles, encontramos os que se julgam em liberdade, quando não passam de cativos da ignorância e do ódio; os que deliram na ambição desregrada, pisando o cairel de pavorosas desilusões, os que estadeiam soberbia nas eminências do mundo, admitindo-se encouraçados de poder, sem perceberem o abismo que os espreita, os que fizeram da vida culto incessante a todos os excessos e para quem a morte breve surgira por freio de contenção… E com eles se agitam aqueles outros que desprezaram as vantagens do sofrimento, transformando o benefício da dor em cárcere de revolta; os que descreram do trabalho e se enredaram no crime; os que desertaram da consciência atirando-se ao fogo do remorso e os que perderam a fé, incapazes de sentir a bênção de Deus que lhes brilha no coração!…

Unge de amor o pensamento transviado de todos os que se demoram na retaguarda, enlouquecidos por sinistros enganos e derrama o bálsamo do conforto nas feridas abertas de quantos se afligem na estrada, sob a névoa do desespero!…
Para isso, não contes dificuldades, nem relaciones angústias. Auxilia e ama sempre.
Se garras de incompreensão ou de injúria te assaltaram na marcha, entrega os tesouros que carregas, abençoando as mãos que te firam ou te despojem, mas alça a tua flama de confiança e caminha. Cada golpe desferido na alma é renovação que aparece, cada espinho que se nos enterra na carne do sonho é flor de verdade a enriquecer-nos o futuro, cada lágrima vertida nos alimpa a visão!…

Tua fé viva! – tua lâmpada!…

Faze-a fulgir, acima de tuas próprias fraquezas, para que, um dia, possas transfigurá-la em estrela de eterna alegria, nos cimos da Grande Luz.

Emmanuel, no livro Caminho Espírita,
psicografado por Francisco Cândido Xavier

E, de repente, o tempo passou…

No ano passado, o desencarne por doença degenerativa de longo tempo de um dos fundadores da Feig levou participantes de um lanche em família a viajarem no tempo. Eram boas as lembranças que cada um tinha dele. Idades diferentes e experiências variadas, mas todas muito afetivas. E a sensação foi: e, de repente, o tempo passou. Nas vidas daqueles ali reunidos, daquele que voltou para a pátria espiritual e também na trajetória da Fraternidade Espírita Irmão Glacus. A Feig entrou em setembro de 2022 no seu 47º ano de atividades, a ser completado em 2023. São muitos os que nasceram junto com ela; os que constituíram suas famílias, algumas já na 4ª geração (filhos dos netos), e, junto com o ano novo, vem aquela pergunta: estamos aproveitando as oportunidades que esta existência tem nos ofertado? A linha do tempo da Feig é intensa em realizações. Sempre são novas as oportunidades, muitos os problemas apresentados e os desafios a serem superados. Na medida em que cresce e se diversifica o trabalho, mais desafiador fica realizar, tanto para voluntários quanto para aqueles que se vinculam profissionalmente à casa.

Em um dos materiais de trabalho da Feig¹ é apresentada a seguinte questão: “Por que as pessoas vêm à casa espírita?” São muitas as possibilidades de resposta. Logo em seguida uma outra é apresentada: “o que a Feig oferece?” De novo, mais um conjunto de oportunidades, que vão desde o estudo da Doutrina Espírita ao trabalho em muitas frentes. Quando pensamos no passar do tempo, quanto mais ele avança, parece ficar mais ligeiro. Já começou o ano de 2023; em um instante estamos no mês de fevereiro; e logo já vamos ter aproveitado ou deixado passar oportunidades que nos oferece este novo ciclo da existência. O plano de trabalho da Feig para 2023 já está acontecendo, intenso e cheio de oportunidades de estudo e de conhecimento da Doutrina Espírita; de trabalho voluntário por meio de atendimentos fraternos; atividades de assistência e promoção social; acolhimentos e orientação à luz do Evangelho e da Doutrina; educação formal de crianças e jovens. E, junto com tudo isso, muitas oportunidades de nos dedicarmos e nos aprimorarmos. Na passagem evangélica em que Paulo, ainda Saulo, encontra-se com Jesus a caminho de Damasco, ele faz a seguinte pergunta: “Que farei?” E o Mestre determina que se “levante para a sementeira de luz e de amor, através do próprio sacrifício”. Guardadas as devidas proporções, este é um convite: refletirmos sobre o que e como faremos neste novo ano, uma vez que o tempo passa célere, inspirados na mensagem “Enquanto temos tempo”, do espírito Emmanuel: “(…) Ergue-se a casa, elemento a elemento. Constrói-se a oportunidade para a vitória do bem, esforço a esforço. E, tanto numa quanto noutra, a diligência é indispensável”. Evangelho e Ação, agora!

Miriam d´Avila Nunes

[¹] Slides usados nos Encontros Integrar, realizados para novos
tarefeiros pelo Departamento de Tarefeiros – DDIA – Feig.

Medo da morte

Você tem medo da morte? Existem pessoas que têm verdadeiro pavor da morte e os motivos são vários: a causa do falecimento; se haverá dor ou não; a incerteza sobre o que há depois do túmulo; a separação dos familiares e amigos que continuarão na Terra; o receio de rever aqueles que partiram antes; o horror das penas eternas e o pânico do tormento perpetrado por seres diabólicos. Esses são apenas alguns motivos que apavoram muita gente quando o tema é a grande viagem.
Entretanto, quando o indivíduo é iniciado em determinado assunto e assim adquire conhecimento sobre algo até então obscuro para si, ele joga luz nas trevas da ignorância e com isso o medo deixa de existir porque, via de regra, o homem tem medo do que não conhece. A partir do momento em que nos tornamos esclarecidos, dispondo de informações verdadeiras, passamos a saber e o saber não deixa espaços nem para descrença e nem para a crença cega, aquela desprovida de razão. Nesse contexto, veremos abaixo o instrutor espiritual Aniceto nos ensinar que o pavor da morte se origina na falta de preparação religiosa.
Um médico da esfera invisível que fazia parte do grupo que trabalhava na casa de dona Isabel, solicitou o auxílio do mentor em um caso singular. Ele, André Luiz e Vicente, foram conduzidos pelo clínico até um necrotério onde “o cadáver de uma jovem, de menos de trinta anos, ali jazia gelado e rígido, tendo a seu lado uma entidade masculina, em atitude de zelo. (…) Parecia recolhida a si mesma, sob forte impressão de terror. Cerrava as pálpebras, deliberadamente, receosa de olhar em torno.”[1] Segundo o facultativo, a pobre moça estava ali há seis horas, paralisada por terrível pavor, mesmo já tendo concluído o processo de desligamento dos laços fisiológicos.
A entidade que estava junto a ela era seu noivo, falecido há algum tempo e que a aguardava carinhosamente no plano espiritual. Ele a chamava sem cessar há seis horas, mas só via nela o terror em função de tudo o que acontecia a sua volta. “A jovem, todavia, cerrava os olhos, demonstrando não querer vê-lo. Notava-se, perfeitamente, que seu organismo espiritual permanecia totalmente desligado do vaso físico, mas a pobrezinha continuava estendida, copiando a posição cadavérica, tomada de infinito horror.”[1] Foi então que Aniceto, compreendendo o que ocorria, chamou sutilmente o comovido rapaz e lhe explicou: “É preciso atendê-la doutro modo. Vejo que a pobrezinha não dormiu no desprendimento e mostra-se amedrontada por falta de preparação espiritual. Não convém que o amigo se apresente a ela já, já… Não obstante o amor que lhe consagra, ela não poderia revê-lo sem terrível comoção, neste instante em que a mente lhe flutua sem rumo. (…) Ausência de preparação religiosa, meu irmão. Ela dormirá, porém, e, tão logo consiga repouso, entregá-la-emos aos seus cuidados. Por enquanto, conserve-se a alguma distância.”[1]
Fazendo-se acompanhar do facultativo que assistiu a moça nos últimos dias, Aniceto se aproximou e a convidou a um tratamento diferente. A jovem perguntou se ele era o novo médico e deu graças a Deus, dizendo que estava em horrível pesadelo no qual o noivo falecido a chamava para o Além. O guia espiritual lhe esclareceu que não há morte e, para tranquilizá-la, confirmou que era o novo facultativo e que lhe aplicaria recursos magnéticos. Era indispensável que ela dormisse e descansasse. André Luiz e Vicente se colocaram em atitude íntima de oração e Aniceto aplicou passes de reconforto que fizeram com que a jovem Cremilda caísse no sono quase instantaneamente.
O instrutor a afastou dos despojos e a entregou ao noivo que, jubiloso e agradecido, volitou carregando “consigo o fardo suave do seu amor.”[1] E para fixar a lição, Aniceto rematou: “Pela bondade natural do coração e pelo espontâneo cultivo da virtude, não precisará ela de provas purgatoriais. É de lamentar, contudo, não se tivesse preparado na educação religiosa dos pensamentos. Em breve, porém, ter-se-á adaptado à vida nova. Os bons não encontram obstáculos insuperáveis. (…) Como veem, a ideia da morte não serve para aliviar, curar ou edificar verdadeiramente. É necessário difundir a ideia da vida vitoriosa. Aliás, o Evangelho já nos ensina, há muitos séculos, que Deus não é Deus de mortos, e, sim, o Pai das criaturas que vivem para sempre.” [1]

Valdir Pedrosa

[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por
Francisco Cândido Xavier – capítulo 48 (Pavor da morte).

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