Isto é caridade?

A proposta espírita-cristã sobre caridade se diferencia de um pensamento distorcido de nossa sociedade, e inclusive, de alguns grupamentos religiosos. Muitas vezes temos a certeza de que estamos fazendo a caridade, mas não estamos. Por outro lado, pessoas que dizem não terem as mínimas condições de realizar a caridade seja material ou moral, a estão exercendo na mais sublime expressão. É importante entender que caridade se diferencia completamente da visão equivocada de que é somente prestação de serviços aos outros, distribuição de esmolas, assistência social e filantropia. A caridade segundo Jesus não se revela por nenhum ato exterior. Também, a caridade não consiste em assumir e comandar os sentimentos de ninguém, porque às vezes nos colocamos na posição de ajudar as pessoas, e na verdade estamos tentando assumir o controle da vida delas, realizando o que elas é que têm que resolver. Assumimos e tentamos comandar sentimentos, decisões, trazer o bem-estar, assumindo os seus problemas, impedindo às vezes as pessoas de evoluírem e construírem o seu próprio destino. A nossa ajuda, em determinados momentos pode-se tornar patológica, porque criamos dependentes materiais ou afetivos, criamos relacionamentos em busca de compensações, construindo uma baixa autoestima nas pessoas ajudadas. Aquele que dá, aquele que doa, aquele que ajuda nunca deve buscar algum favorecimento pessoal, no sentido de propiciar para ele, mesmo que temporariamente, alguma sensação de bem-estar ou demonstrar um poder íntimo, uma vaidade pessoal, tentando provar aos outros que somos pessoas boas, importantes, e às vezes até merecedoras de atenção.

Segundo o pensamento Cristão, caridade é uma proposta de mudança nos relacionamentos humanos. É uma proposta de extremo respeito ao outro, que é o ponto basilar, porque sem respeito nunca conseguiremos amar, sermos pacientes, tolerantes ou misericordiosos com o próximo. Respeitar as pessoas como elas são, com suas dificuldades, virtudes, valores, sem fantasias e ilusões. Alicerçados no respeito iremos empreender uma ação transformadora em nossas atitudes, vamos superar nossas limitações, vamos fazer aquilo que nós não estamos acostumados a fazer, vamos ser pessoas diferenciadas daquilo que a sociedade dita como ser caridoso, vamos começar a destruir um pouco o nosso orgulho e egoísmo, que são as grandes amarras que nos prendem ainda a esse mundo de sofrimento. Passemos em revista todos os problemas e dificuldades que temos enfrentado em nossos relacionamentos: familiares, afetivos e sociais. E reflitamos se não são problemas ligados à questão do orgulho, da valorização da nossa personalidade, da supremacia da nossa forma de pensar, de não abrir mão das nossas ideias e do nosso modo de ser.

“Fora da caridade não há salvação”. Exatamente! Sem respeito aos direitos dos outros e o exercício constante do amor exteriorizado através da tolerância, benevolência, indulgência, paciência, não tem jeito mesmo. Se não mudarmos os nossos relacionamentos vamos continuar nesse ciclo vicioso de sofrimentos, dificuldade e decepções. O mundo está mudando, está em processo transformador e regenerador, faz-se necessário mudar nossos relacionamentos e buscar o esforço pessoal, tornar-se robusto no sacrifício pessoal, assumindo nossas responsabilidades diante da vida e sermos extremamente caridosos. E, nunca é demais relembrar a reflexão do Apóstolo Paulo sobre o tema: “… A caridade é paciente; é doce e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária e precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura seus próprios interesses; não se melindra e não se irrita com nada…” E, descrevemos ao final uma análise do Espírito Hammed sobre as reflexões do Apóstolo Paulo: “Ainda que eu falasse a língua dos homens e também a dos anjos; ainda que eu tivesse o dom da profecia e penetrasse todos os mistérios; ainda que eu dominasse a ciência e tivesse uma fé tão grande que removesse montanhas, tudo isso não me serviria de nada se não tivesse amor-respeito aos seres humanos”.

Ladimir Freitas

[1] Texto baseado no Capítulo 48 – Os Olhos do Amor, do Livro
Renovando Atitudes – Francisco do Espírito Santo Neto ditado
pelo Espírito Hammed.