É preciso valorizar
É comum ouvirmos no meio espírita confrades desavisados alardearem quanto à necessidade de matarmos o homem velho para promover o nascimento do homem novo. Antes de mais nada é preciso compreender os conceitos. O homem velho representa o passado ou em outras palavras as experiências boas ou não que vivenciamos, bem como os valores bons ou ruins amealhados ao longo das existências. Em função do estágio evolutivo no qual nos encontramos nem sempre o nosso homem velho se apresenta como algo totalmente positivo. Por outro lado o homem novo é aquilo que já aspiramos é o resultado do progresso espiritual que buscamos é o homem renovado e iluminado pelo conhecimento e pela prática das lições do Cristo. Portanto, o homem novo (futuro) nada mais é do que o homem velho (passado) transformado. Se matarmos o homem velho não haverá o homem novo.
Estamos dizendo isso para demonstrar a importância de valorizar as nossas conquistas. Certo somos espíritos atrasados carregando ainda um homem velho bem pesado reflexo dos inúmeros vícios, mazelas e defeitos que alimentamos. Por outro lado também é óbvio que nem tudo é ruim. Em reencarnações passadas adquirimos virtudes, conquistamos valores e tivemos experiências enobrecedoras. Desta forma uma das tarefas que devemos realizar é a reforma interior que nada mais é do que identificar os pontos positivos e negativos que possuímos e trabalhá-los. Precisamos potencializar e otimizar ao máximo os positivos e minimizar ou até mesmo acabar com os negativos. Não se trata de tarefa fácil, mas sim de esforço necessário. Sem isso, não evoluímos.
Diante do acima exposto fica clara a nossa necessidade de melhoria, mas também é um alerta para aprendermos a valorizar o que já conquistamos. Ora, se hoje somos bafejados pelo conhecimento da Doutrina Espírita e pelo aprendizado do Evangelho de Jesus, é porque já temos algo que nos capacita a isso. Ninguém recebe nada de graça, tem que haver merecimento. É sobre essa necessidade de valorização que a jovem Cecília, filha do casal Bacelar, comentou com André Luiz e Vicente, quando sua família visitou Alfredo e Ismália no Posto de Socorro. Disse ela: “Estou trabalhando há muito para alcançar um prêmio de visita a “Nosso Lar”. Minhas superioras prometeram-me semelhante satisfação para o ano próximo. (…) Entretanto, para consegui-lo tenho de atender a umas tantas obrigações importantes.”[1] É importante ressaltar que a família Bacelar vivia na colônia espiritual “Campo da Paz”, local de árduos trabalhos santificantes. Admirado, Vicente perguntou se era necessário tanto merecimento assim para ela conhecer a colônia que ele aprendeu a chamar de lar. Esclareceu Cecília: “Sem dúvida. O meu amigo talvez não esteja convencido, quanto ao brilho de sua atual posição. Viver em “Nosso Lar” é uma grande bênção. Acaso não o terá compreendido ainda? (…) Segundo os instrutores que nos visitam em “Campo da Paz” os seus Ministérios são verdadeiras universidades de preparação espiritual. O ensejo educativo neles é imenso. E chego a crer que para avaliarem a extensão da benesse que Jesus lhes concedeu seria necessário viverem alguns anos em nossa colônia onde o trabalho ativo de vigilância e assistência é mais imperioso, mais exigente.” [1]
Vicente e André não percebiam completamente o quanto eram bem-aventurados por viverem em “Nosso Lar”. Mesmo depois de passarem por extensas provações após o desencarne ambos foram acolhidos na colônia, estudaram, se prepararam e naquele momento ensaiavam os primeiros passos no serviço de assistência ao próximo. Viver em “Nosso Lar” e em outras cidades semelhantes no plano espiritual é um prêmio para aqueles que fizeram por merecer. Não é simplesmente uma benção divina concedida a qualquer um. Todos que nelas vivem e trabalham se esforçam diariamente para se provarem dignos. São espíritos que já possuem algumas virtudes conquistadas em vidas anteriores e que podem ser colocadas em prática no trabalho do bem. Não é qualquer um que entra nessas colônias. Basta lembrar o caso da vampira, barrada em “Nosso Lar”, pelo irmão Paulo[2] e o fato dos Samaritanos excursionarem de tempos em tempos nas regiões umbralinas em busca de espíritos que já estejam em condições de serem amparados[3].
André ainda mencionou o fato de existirem em “Nosso Lar” um grande número de sofredores e que o Ministério da Regeneração é uma verdadeira colmeia. Sem perder a sagacidade nas observações, Cecília considerou: “Você diz muito bem quando se refere a colmeia significando possibilidades de trabalho. Creia que os sofredores que atingem o seu núcleo já se encontram a caminho de excelentes realizações. Naturalmente que os irmãos desequilibrados, que por lá existem, já se torturam pelo vagaroso despertar da consciência já sentem remorsos e arrependimentos indicativos de renovação. São sofredores que melhoram progressivamente, porque o ambiente da cidade é de elevação positiva. Onde a maioria vive com a bondade a maldade da minoria tende sempre a desaparecer. “Nosso Lar” portanto, mesmo para os que choram, possui soberanas vantagens espirituais.” [1]
Por tudo isso precisamos valorizar as conquistas e concessões espirituais, pois são elas que pavimentam as veredas onde pisamos na presente encarnação. O somatório de nossas experiências passadas nos localiza hoje na estrada evolutiva que trilhamos. Por bem ou por mal estamos onde merecemos e precisamos estar. Valorizemos as oportunidades recebidas utilizando-as da melhor forma possível a fim de promover o nosso progresso espiritual, afinal de contas “a quem muito é dado, muito será cobrado.”[4]
Valdir Pedrosa
[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por
Francisco Cândido Xavier – capítulo 29 (Notícias interessantes).
[2] Nosso Lar – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 31 (Vampiro).
[3] Nosso Lar – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 28 (Serviço).
[4] Evangelho Segundo Lucas 12:48.