Laços de família
Embora alguns poucos ainda acreditem que a instituição familiar se encontra em decadência nos dias atuais, indubitavelmente, a família estará sempre preservada, continuará sendo sempre família, escola sagrada onde o amor é exercitado para se expandir na família universal. Ninguém nasce numa família por acaso. É feita uma programação entre os pais e os reencarnantes do mesmo lar, sejam comprometidos pelo desafeto ou ligados pela afeição sincera, mas visando sempre os ajustes necessários à nossa evolução espiritual. É um impositivo da lei da afinidade, que reúne as criaturas que vibram na mesma faixa, formando os laços de família.
Assim, abençoados pela misericórdia divina, mergulhamos na carne, no mesmo grupo familiar, todos recomeçando, experimentando uma nova oportunidade de reparação, trazendo na bagagem nossos potenciais adormecidos, nossas reminiscências dos erros passados, tendências, nossas metas e tarefas específicas. Enfim, nosso compromisso com o momento atual.
Santo Agostinho, no Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 14, Item 9, assevera que: “Os espíritos reúnem e formam famílias induzidos pela identidade de progresso moral, em semelhança de gostos e afeições, procuram-se originando-se as famílias unidas e homogêneas. Se, nas peregrinações, ficarem temporariamente separados, mais tarde se reencontrarão felizes com seu novo progresso. Entretanto, como não devem trabalhar apenas para si mesmos, Deus permite que espíritos menos avançados venham encarnar entre eles a fim de receber conselhos e bons exemplos para progredirem. Causam, às vezes, perturbações no ambiente, mas aí que está a prova a executar. Recebei-os como irmãos; ajudai-os e mais tarde, no mundo dos espíritos, a família se alegrará.”
Não existe família ideal, mas sim família necessária, aquela que contribui para o nosso desenvolvimento espiritual e moral. É imperfeita porque é um espaço de divergências, de lutas, em que cada um traz seus gostos, suas diferenças, mazelas e suas imperfeições, que vão se atritando umas às outras no convívio de cada dia. Contudo, a nossa programação espiritual nos convida à tolerância sem conivência, à paciência, a dizer sim, a dizer não, à coerência, à gentileza.
Diante disso, cabe-nos refletir como tem sido a convivência com os nossos familiares. Temos dirigido a palavra a eles com amor? Temos procurado doar um pouco do nosso precioso tempo para eles? Temos dialogado, a fim de também ouvi-los em suas necessidades? Temos dado um “bom dia, como vai você?” realmente atentos para a resposta deles? Um “boa noite, durma com Deus” sem realmente guardar ressentimentos de algo que nos aconteceu no dia que se passou? Temos oferecido o nosso melhor? Um abraço, um sorriso… Temos feito companhia uns aos outros, criando momentos de descontração e alegria? Ultimamente tem sido comum nos lares as comunicações virtuais que acabam promovendo um grande distanciamento dentro do lar, cada um em seu cantinho, com seu celular, horas e horas conectados com quem está distante, sem limites.
Todos nós já sabemos, mas nunca é demais repetir que a família é o nosso primeiro compromisso. A missão dos pais na educação dos filhos é indispensável e intransferível. Nós precisamos compreender o quão complexa é esta tarefa. Como diz Emmanuel, no livro Vinha de Luz psicografia de Francisco Cândido Xavier, lição 135, intitulada Pais: “Receber encargos deste teor é alcançar nobres títulos de confiança. Por isso, criar os filhos e aperfeiçoá-los não é serviço tão fácil.
A maioria dos pais vivem desviados através de vários modos, seja nos excessos de ternura ou de exigência, mas à luz do Evangelho caminharão todos no rumo da nova era.” Joanna de Ângelis, em seu livro Constelação Familiar, psicografado por Divaldo Pereira Franco, também proporciona-nos uma importante reflexão a cerca do papel dos pais através de uma educação voltada para o amor, para pacificação, para os valores como a dignidade, a amizade, a solidariedade, o trabalho e a caridade. Convida-nos a desarmarmo-nos dos sentimentos inferiores e individualistas para participar ativamente, educando-nos e educando os filhos ao mesmo tempo, num aprendizado constante. Convida-nos a ficarmos atentos para que os interesses materialistas, fúteis, mesquinhos, as facilidades do mundo, não predominem na educação dos filhos, influenciando-os em suas escolhas, em seus propósitos de vida.
Os pais devem sim orientar os filhos para que tenham êxito em sua vida profissional, mas deve haver um equilíbrio entre os conhecimentos intelectuais e morais. Alertar sobre a importância do cuidado com a vida material sim, sem perder de vista sua transitoriedade, reconhecendo a importância também dos cuidados com espírito imortal. Conversar sobre as vicissitudes do caminho, sobre a justiça divina, os compromissos reencarnatórios, a função regenerativa da dor, para que os filhos não cresçam indiferentes ao sofrimento humano, não vivam iludidos como se tivessem vindo ao mundo a passeio, para curtir uma viagem de férias num mundo encantado de fantasias. Levá-los a perceber que a felicidade pode e deve ser construída sim, mas nunca fora do dever cumprido, porque não há paz nem alegria sem aprovação da consciência tranquila.
A orientação religiosa na família é de suma importância, tendo em vista que aumenta a resistência nas lutas morais e emocionais. Realizar o culto cristão do Evangelho no Lar semanalmente, incentivar os filhos a frequentarem a casa espírita, a reconhecerem a importância das tarefas, da leitura edificante e constante, isso tudo exige esforço, bom ânimo e renúncia dos pais, que não podem desistir nunca, porque o papel de quem educa é nunca sentir-se cansado a ponto de desistir. E, principalmente na fase da adolescência, na qual muitas vezes os filhos se mostram rebeldes e refratários aos ensinamentos, são necessárias altas doses de paciência e firmeza para não desanimar do plantio. Continuar investindo nessas sementes de hoje, confiando na colheita que virá um dia, na hora certa.
Que possamos nos posicionar na constelação familiar da qual fazemos parte, onde cada membro da família ocupa seu lugar, independente da dimensão onde esteja, da distância, do espaço físico. Que possamos acolher todos os membros desta constelação com a consciência do pertencimento, da hierarquia familiar, pai no lugar de pai, mãe no lugar de mãe, filho no lufar de filho, irmão no lugar de irmão, todos preservando sempre os sagrados vínculos de amor, gratidão e respeito. Que reservemos um lugar de amor dentro dos nossos corações para cada familiar, na certeza de que os laços que nos unem prosseguirão no mundo espiritual, através das nossas peregrinações, rumo à evolução.
Adriana Souza