Evangelho no Lar
Dona Isabel chamou os filhos para participarem do estudo ou culto do Evangelho no lar. André Luiz notou que nem todos despertavam o mesmo interesse pela nobre atividade. Aniceto informou que “as meninas são entidades amigas de ‘Nosso Lar’, que vieram para serviço espiritual e resgate necessário, na Terra. O mesmo, porém, não acontece ao pequeno, que procede de região inferior.”[1] Isto ocorre em muitas famílias, como explica Allan Kardec: “A união e a afeição que existem entre pessoas parentes são um índice da simpatia anterior que as aproximou. Daí vem que, falando-se de alguém cujo caráter, gostos e pendores nenhuma semelhança apresentam com os dos seus parentes mais próximos, se costuma dizer que ela não é da família. Dizendo-se isso, enuncia-se uma verdade mais profunda do que se supõe. Deus permite que, nas famílias, ocorram essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos, com o duplo objetivo de servir de prova para uns e, para outros, de meio de progresso. Assim, os maus se melhoram pouco a pouco, ao contato dos bons e por efeito dos cuidados que se lhes dispensam. O caráter deles se abranda, seus costumes se apuram, as antipatizas se esvaem.”[2] Joãozinho, de fato, não se revestia de substância luminosa e, diferentemente de suas irmãs, atendeu ao convite da mãe não com alegria, mas simplesmente por obediência.
Joaninha, a filha mais velha, levou à mesa cadernos de anotações e recortes de jornais. Dona Isabel se sentou à cabeceira da mesa e Neli, de nove anos de idade, fez a prece inicial rogando a Jesus o amparo e o esclarecimento espiritual. Simultaneamente, no plano extrafísico da residência singela, os tarefeiros invisíveis se sentaram e alguns deles, mais íntimos de Isidoro e Isabel, permaneceram ao lado da senhora, que enxergava e ouvia quase todos eles. Após a oração proferida por Neli, o Novo Testamento foi aberto por sua mãe como se fosse ao acaso, porém, a verdade é que Isidoro, seu pai desencarnado, atuou auxiliando a focar o assunto que seria estudado naquela noite: “Outra parábola lhes propôs, dizendo: – O Reino dos Céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem tomou e semeou no seu campo.”[3] Nesse momento André presenciou curiosa ocorrência. Fábio Aleto, um espírito de condição elevada e nobre, se aproximou da viúva e colocou a destra sobre sua fronte. Aniceto explicou que esse amigo daria a “interpretação espiritual do texto lido. Os que estiverem nas mesmas condições dele, poderão ouvir-lhe os pensamentos; mas, os que estiverem em zona mental inferior, receberão os valores interpretativos, como acontece entre os encarnados, isto é, teremos a luz espiritual do verbo de Fábio na tradução do verbo materializado de Isabel.”[1]
A dedicada mãe das crianças entrou em concentração profunda por alguns momentos, como se absorvesse a luz que a rodeava. Logo em seguida, iniciou os comentários, fazendo uma ligação entre o ensinamento evangélico da noite e notícia que haviam lido sobre o suicídio de uma jovem. Como não poderia ser diferente, seu verbo suave e firme orientou, esclareceu e consolou os filhos, procurando despertar neles a alegria e a confiança na Providência Divina. Ao término de sua fala, o Espírito Fábio retirou a mão da fronte de Isabel e ela passou a meditar, como se tivesse sentido o afastamento da ideia em curso. Os companheiros invisíveis estavam comovidos e as crianças impressionadas.
Em síntese, o estudo ou culto do Evangelho no lar não é um ritual de adoração, mas sim um momento reservado à prece e ao estudo metódico dos ensinamentos de Jesus em nosso próprio lar. Foi implantado pela primeira vez por Jesus na casa de Simão Pedro.[4] O objetivo principal é incentivar o esforço pessoal para uma reforma íntima consciente, por meio da compreensão da moral do Cristo. Através do estudo do Evangelho no lar temos o saneamento do ambiente espiritual da residência, o fortalecimento diante das dificuldades, a melhoria no relacionamento familiar, além da orientação e esclarecimento a espíritos desencarnados, mesmo sem a manifestação mediúnica ostensiva, que não é recomendada nestes momentos. A participação de membros da família e amigos deve ser livre, ou seja, ninguém deve ser constrangido ou obrigado a participar. Mesmo estando sozinhos, podemos e devemos realizar o culto, porém fazendo as leituras e comentários em voz audível. Essa atividade poderá ocorrer em qualquer cômodo da casa, de preferência o que seja mais tranquilo e favoreça a concentração. Não há nenhuma necessidade de velas, incensos, imagens, enfeites ou roupas especiais. Pode ser colocado um recipiente com água para ser fluidificada pela Espiritualidade Amiga.
É importante que o estudo do Evangelho seja realizado sempre no mesmo dia da semana e no mesmo horário, a fim de recebermos com mais eficácia o auxílio dos benfeitores espirituais e também favorecer a presença de desencarnados que buscam esclarecimento. O tempo de duração ideal é de trinta a sessenta minutos, no máximo. Seus benefícios transcendem o ambiente do lar, propiciando harmonia e paz às residências vizinhas. Além disso, não há um procedimento fixo para o culto no lar, mas geralmente é feito da seguinte forma: leitura e comentários de uma página evangélica-doutrinária, como das obras de Emmanuel que comentam as lições de Jesus, por exemplo, a fim de harmonizar o ambiente e os participantes. Em seguida profere-se a prece inicial e, na sequência, é feita a leitura de um ou mais trechos do Novo Testamento ou do Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. Essa leitura pode ser feita “ao acaso” ou em sequência. Logo depois os participantes comentam o trecho lido, buscando-se alcançar a essência dos ensinamentos do Cristo e realçando-se a necessidade da sua aplicação na vida diária.
Valdir Pedrosa
[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 35 (Culto doméstico).
[2] O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – capítulo 4 (Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo) – item 19.
[3] Evangelho Segundo Mateus 13:31.
[4] Jesus no Lar – Pelo Espírito Neio Lúcio, psicografado por Fran- cisco Cândido Xavier – capítulo 35 (Culto doméstico).
Fonte: Jornal Evangelho e Ação – Junho/2020 – Edição 340.