A transição em nós
Construindo o Futuro
Chico Xavier, em entrevista dada no início da década de 1970 que originou o livro “Pinga Fogo”, foi questionado sobre a transição e o acirramento das questões sociais e políticas percebidas naquela época. Parte da resposta de Chico, citando Emmanuel, foi “(…) Nós nos encontramos no limiar de uma Era extraordinária, se nos mostrarmos capacitados coletivamente a recebê-la com a dignidade devida. (…)[1]”.
O capítulo XVIII da Gênese traz esclarecimentos sobre esse momento de transição, da lei do progresso e da relação íntima do progresso individual com o coletivo – “(…) Ambos, esses progressos se realizam paralelamente, porquanto o melhoramento da habitação guarda relação com o do habitante.2”
Nesse mesmo capítulo, há a afirmação de que a humanidade já avançou muito, desenvolveu a inteligência e progrediu física e moralmente, mas tem hoje ainda o desafio da elevação do sentimento.
Ao considerarmos que evoluir é sair do pessoal para a visão de conjunto, a elevação de sentimentos tem também relação com a mudança da nossa vibração em direção a um amor que sublime, que possibilite um novo pensar, um novo sentir e agir para a construção de novas consciências, para a “Era extraordinária” citada por Chico Xavier.
Pensando nisso, qual tem sido o nosso papel nesse contexto de transição, sendo a proposta da Doutrina Espírita essa renovação de consciências? Somos individualidades – tarefeiros (voluntários) e frequentadores que fazemos parte da Fraternidade Espírita Irmão Glacus – e um coletivo, inserido neste planeta composto por tantos outros coletivos neste momento de transição.
O contexto é desafiador também para a FEIG. Já são muitas as conquistas, os resultados obtidos, porém é cada dia maior a complexidade das questões que alcançam a Casa. Os desafios enfrentados em cada uma das atividades realizadas se desdobram em tantos outros. Grande é a diversidade de pessoas, de demandas e de expectativas que a cada dia chegam à Casa, que é também escola, oficina e hospital, como afirmam os mentores espirituais. Tudo isso em velocidade e dimensão nunca imaginadas. Felizmente, esse mesmo contexto é rico também em possibilidades.
Recentemente, localizamos uma foto na qual várias linhas de cores diferentes teciam o triângulo da logomarca da FEIG, resultado de uma atividade do “Programa de Aprimoramento do Atendimento ao Público da Casa de Glacus”/2015, que ilustra os vários pontos de intercessão e interdependência nas atividades da FEIG – o quanto as ações dos setores da Casa afetam e são afetados uns pelos outros.
A lembrança da abordagem desse encontro remeteu-nos ao fato de a FEIG ser um coletivo, que congrega muitas individualidades (tarefeiros e frequentadores) em busca de recursos para a nossa reforma intima a partir do trabalho no bem à luz dos preceitos da Doutrina Espírita. Estamos representados em cada ponto de encontro dessas linhas coloridas da foto quando, na tarefa, buscamos a oportunidade do trabalho no bem, como roteiro para o aprimoramento moral do nosso espírito; quando, na Fraternidade Espírita Irmão Glacus – esse laboratório de vivências –, experimentamos o trabalho para todos, ao mesmo tempo em que trabalhamos em benefício de nós mesmos e reciprocamente, nesse caminho possível, apontado na Gênese,3 para a nossa evolução.
Consideradas as devidas proporções, é fato que a nossa atuação individual nesse contexto de transição pode ser diminuta para a humanidade. Porém é e sempre será determinante nos pequenos coletivos dos quais fazemos parte – família, trabalho, escola, casa espírita… –, a partir da forma como desempenhamos o nosso papel em cada um deles.
É com outra parte da resposta de Chico Xavier sobre a transição que encerramos esta proposta de reflexão: (…) “Mas isso terá um preço. Terá o preço da paz. Se nós pudermos nos suportar uns aos outros, amar uns aos outros, segundo os preceitos de Jesus, até que essa Era prevaleça provavelmente no próximo milênio, não sabemos se no princípio, se nos meados ou se no fim. O terceiro milênio nos promete maravilhas, se o homem, filho e herdeiro de Deus, se mostrar digno dessas concessões. Se não, vamos aguentar, nós todos talvez, com as estacas zero ou quase zero para recomeçarmos e fazer tudo de novo. Somos espíritos imortais.4”
Míriam D’Ávila Nunes
1 Pinga-fogo com Chico Xavier; Saulo Gomes (org.), pág. 88, 2009.
2 A Gênese; Allan Kardec, pág. 356, 2013.
3 A Gênese; Allan Kardec, cap. XVIII.
4 Pinga-fogo com Chico Xavier; Saulo Gomes (org.), pág. 88, 2009.