Convertido ao Cristo
Conversão. Eu não me recordo quando ouvi esse termo pela primeira vez. Creio que isso tenha ocorrido muito cedo, em um ambiente escolar, em uma aula de Língua portuguesa ou de Matemática. Mas também pode ter sido na aula de História ou até mesmo na de Química. O fato é que converter, e o substantivo conversão, estão muito presentes em nossas existências. Mais adiante, vim encontrá-los na Psicologia, nas bases do Direito e na Legislação de trânsito. De tão frequente, é possível traduzir a vida como uma sequência de conversões. Mas é no campo da religiosidade que esse tema se torna mais significativo. Nas igrejas, nos templos e nas casas espíritas muito se fala sobre “Reforma íntima”. No entanto, não é pela frequência que se lê, que se escreve e que se fala que a alcançaremos. A reforma íntima se conquista pela legítima conversão do espírito.
Do latim, convertere. Conduzir à religião que se julga ser a verdadeira. Fazer mudar de parecer, de modo de vida. Mudar uma coisa em outra de forma e/ou propriedade diferente; transformar, transmutar¹. A vida do personagem evangélico Saulo de Tarso foi um dos exemplos mais marcantes de conversão espiritual. Saulo nasceu em Tarso, na atual Turquia e foi educado no Judaísmo. Ele começou a receber formação rabínica aos quatorze anos como preparação para se tornar Sumo Sacerdote em função de suas qualidades intelectuais e dotes familiares. Saulo era cidadão romano. O que chama atenção no primeiro período de sua vida, e o que nos interessa aqui, são os relatos de sua personalidade fria, radical e, por vezes, cruel. Em nome da lei, Saulo deu vazão aos impulsos mais indesejados no meio social, tais como a intolerância, o orgulho, a inveja, a impaciência, a prepotência, a vingança e o ódio. Um assassino, sem dúvida. Cego para as potências do amor universal.
Curiosamente, sua cegueira espiritual materializou-se na interrupção da visão física na estrada que o conduzia à cidade de Damasco, onde pretendia interromper a ferro e fogo o crescimento do cristianismo local. Lá, surpreendido pela presença envolvente do espírito amoroso de Jesus, Saulo é virado ao avesso ao ouvir Jesus questioná-lo: – Saulo, Saulo. Por que me persegues?² Por não encontrar justificativa em si mesmo, a opção foi entregar-se de corpo e alma à defesa da nova lei que seguia revolucionando os corações. É evidente que sua transformação não ocorreu naquele instante. A estrada de Damasco é o que chamamos vulgarmente de “a gota d’água”. Todo aquele temperamento mediado
por paixões, toda aquela energia, toda aquela determinação na suposta verdade, posicionava-o no limiar da mudança, desejoso de uma nova orientação. O Cristo, como abençoado servo da providência divina, desperta o que estava adormecido e o converte de Saulo – o homem velho, para Paulo – o apóstolo dos
gentios, o semeador da Boa Nova.
Querido irmão, querida irmã. Também somos perseguidores do Cristo! Quem persegue é quem segue por perto, mas ainda não alcançou. Exatamente por isso, abraçamos uma religião que nos conduz à conversão. Diante dela, todas as vezes que agimos com intolerância, discriminamos, radicalizamos nossas preferências, sejam elas políticas ou não, estamos “perseguindo o Cristo” que nos convidou amar ao próximo como a si mesmo. Saulo manifestava as mais odiosas características humanas. No entanto, encerra sua passagem pela Terra como um espírito fiel. – “Desde agora, ninguém me moleste, porque trago em meu corpo, as marcas do Senhor Jesus”³.
Encontramo-nos em uma posição particular no limiar da conversão, o que significa que estamos nos convertendo pouco a pouco. Ou estamos cansados de sofrer, ou transbordando de amor, ou ambos. É curioso reconhecer a nossa estrada de Damasco. Para alguns, é a estrada da doença tida como incurável. Para outros, a injustiça dos homens, a carência na pobreza, a futilidade da riqueza, a infidelidade, entre tantas outras. E ali, em pé a nossa frente, o Cristo sempre se apresenta de braços estendidos, oferecendo a mão e nos conclamando em espírito. – Levanta-te e anda4. E ao lado dele, Paulo complementa: -E assim vos rogo eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que
fostes chamado.5
Além de Paulo, temos muitos outros convertidos do evangelho. Francisco que se
tornou Chico Xavier, Hippolyte Leon que se tornou Allan Kardec, Simão que se tornou Pedro, Maria que se tornou Madalena, enfim. Em todos encontraremos as bases da conversão. E nós? Como saberemos o instante definitivo de nossa conversão? Identificando em si mesmo as cinco marcas do Cristo notáveis em todos os que se convertem: 1- Aproveitamento das horas na prática do bem. 2- Desapego material. 3- Humildade nas relações interpessoais. 4- Renúncia de si mesmo. 5- Amor e fidelidade incondicional a Deus. Quando a sua vida estiver pautada nessas virtudes cristãs, você poderá iniciar a escolha de um novo nome. E com alegria de um verdadeiro convertido dirá, repetindo o apóstolo Paulo: “Já não sou eu mais que vivo, e sim o Cristo que vive em mim.6”
Vinícius Moura
1- Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.
2- Livro de Atos, 9:4-5.
3- Livro de Gálatas 6:17.
4- João, 5:8.
5- Efésios 4:1.
6- Livro de Gálatas 2:20.