Prece e elementos – Força

Chegara o momento da oração no posto de socorro ligado à colônia Campo da Paz. Com as luzes artificiais apagadas, os tons do crepúsculo preenchiam o ambiente e o firmamento apresentava-se imerso em tonalidades celestiais, não obstante a presença de sombra intensa no centro dos pavilhões onde se encontravam os Espíritos que dormiam.

A nobre Ismália, esposa do administrador do posto, Alfredo, iniciou comovente oração, assistida por algumas senhoras que lhe acompanhavam, bem como pelos demais homens e mulheres que compunham o quadro de colaboradores daquela instituição de amor. Aniceto instruiu André e Vicente para que acompanhassem a rogativa mentalmente, repetindo “em pensamento, cada expressão, a fim de imprimir o máximo ritmo e harmonia ao verbo, ao som e à ideia, numa só vibração. ”[1] Penetrando o coração dos presentes, a voz de Ismália se elevava aos Mais Altos- carregada de sentimento puro, pedindo a Deus forças para executar Seus desígnios e amparo àqueles irmãos infelizes que dormiam, ainda “anestesiados pela negação espiritual a que se entregaram no mundo. ”[1]

Naquele momento, André reparou “que a esposa de Alfredo se transfigurara. Luzes diamantinas irradiavam de todo o seu corpo, em particular do tórax, cujo âmago parecia conter misteriosa lâmpada acesa. ”[1] E para sua surpresa, nosso amigo observou que o mesmo fenômeno também acontecia com os demais, inclusive com ele, porém com menor intensidade. Chamou-lhe a atenção o fato de que os tarefeiros ali presentes exibiam expressão luminosa gradativa, obviamente, de acordo com os recursos espirituais e a condição evolutiva de cada um. “As senhoras que acompanhavam Ismália estavam quase semelhantes a ela, como se trajassem soberbos costumes radiosos, em que predominava a cor azul. Depois delas, em brilho, vinha a luz de Aniceto, de um lilás surpreendente. Em seguida, tínhamos Alfredo, cuja luz era de um verde suave e sugestivo, sem grande esplendor. Depois dele, vinham alguns servidores ostentando na fronte claridades sublimes, expressas em variadas cores, e, logo após, Vicente e eu, mostrávamos fraca luminosidade, a qual, porém, nos enchia de júbilo intenso, considerando que a maioria dos cooperadores em serviço apresentava o corpo obscuro, como acontece na esfera carnal ” [1]. Isso acontece com todos nós quando auxiliamos o próximo. Sabemos que não há possibilidade de oferecer recursos que não dispomos, isto é, só podemos dar aquilo que possuímos, principalmente no tocante aos valores que já auferimos como conquista espiritual. Claro que, dispostos a servir desinteressadamente e de boa vontade, os Espíritos que laboram na seara do Cristo potencializam nossos recursos, qualificando-os, aumentando-os e direcionando-os aos que mais necessitam. [2] É da Lei que assim seja.

Observando o ambiente, André, tomado por suave calor que lhe proporcionava sensação de conforto, percebeu que muitos flocos esbranquiçados, de proporções variadas, não caíam sobre os infelizes irmãos que dormiam, mas sim sobre os trabalhadores do bem que oravam naquele momento. Tinha a impressão que eles se derramavam dos planos superiores em direção à fronte dos Espíritos amigos, com a mesma abundância para todos. Mas as surpresas não acabaram aí. Ao tocar seus corpos espirituais, os flocos desapareciam e, em seguida, saíam da fronte (centro cerebral) e do peito (centro coronário) grandes bolhas de luz, coloridas da claridade que cada qual se encontrava revestido. As bolhas subiam e logo depois se dirigiam aos Espíritos que dormiam à feição das antigas múmias egípcias. Percebia-se então a evolução de cada um, conforme relata André: “As luzes emitidas por Ismália eram mais brilhantes, intensas e rápidas, alcançando muitos enfermos de uma só vez. Em seguida, vinham as fornecidas pelas senhoras do seu círculo pessoal. Depois, tínhamos as de Aniceto, de Alfredo e dos demais. Os servos de corpo obscuro emitiam vibrações fracas, mas visivelmente luminosas. Cada qual, naquele instante de contato com o plano superior, revelava o valor próprio na cooperação que podia prestar. ”[1]

E, para finalizar, a explicação sempre concisa do sábio Aniceto: “Na prece encontramos a produção avançada de elementos-força. Eles chegam da Providência em quantidade igual para todos os que se deem ao trabalho divino da intercessão, mas cada Espírito tem uma capacidade diferente para receber. Essa capacidade é a conquista individual para o mais alto. E como Deus socorre o homem pelo homem e atende a alma pela alma, cada um de nós somente poderá auxiliar os semelhantes e colaborar com o Senhor, com as qualidades de elevação já conquistadas na vida. ”[1]

Valdir Pedrosa

 [1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 24 (A prece de Ismália).

 [2] O Livro dos Médiuns – Allan Kardec – capítulo XIV (Dos médiuns) – médiuns curadores (item 176 – 2ª questão).