Espaço Universal
Os espíritos nos ensinam que o egoísmo e o orgulho são enormes obstáculos à nossa evolução, pois, ao analisarmos, em essência, os vícios que tingem a nossa trajetória, veremos que eles decorrem de um ou de outro, isto é, ou do orgulho e/ou do egoísmo. Pelo orgulho, atribuímo-nos qualidades que não possuímos e exaltamos desproporcionalmente a nossa personalidade, criando de nós mesmos uma imagem que não corresponde à realidade, beirando, em muitos casos, à soberba e à arrogância, o que nos leva a acreditar que somos melhores, mais capazes e mais sábios do que somos.
Por isso, o nosso grande desafio, além de aprender a verdadeiramente amar, é sermos humildes. Isso, ao contrário do que se supõe, não se confunde com baixa autoestima, com subserviência e/ou com falsa modéstia que, muitas vezes, não passa de orgulho dissimulado -, mas sim com a capacidade de reconhecer o nosso verdadeiro valor, nossas capacidades, nossas limitações e os nossos pontos de melhoria. Isto nos permitirá assumir as responsabilidades de que já somos capazes de nos desincumbir, bem como identificar e nos empenhar em melhorar aquilo que sabemos que ainda somos falhos, certos de que a luta é contínua e a evolução é uma lei da qual não podemos fugir.
Infelizmente, o orgulho ainda fala muito malto em nós, especialmente quando tratamos de assuntos que escapam dos nossos sentidos e para os quais os nossos limitados conhecimentos são incapazes de dar as respostas de que gostaríamos de ter. Por isso, é importante ter em mente que o fato de não termos a resposta não significa que ela não exista, pois, às vezes, sequer temos o desenvolvimento necessário para sua compreensão.
Admitir isso é um exercício de humildade, o que nos leva a reconhecer que a nossa razão tem limites decorrentes da nossa própria condição evolutiva, mas que, nem por isso, devemos renunciar ao esforço por uma compreensão contínua de nossa realidade e por saber lidar com as restrições próprias do nosso potencial cognitivo.
A proposta espírita de construir uma fé raciocinada rompe com a ideia de que a fé se limitaria à esfera do acreditar – e não do compreender -, estando restrita ao campo do sobrenatural, onde a razão não trafegaria. Na realidade, a união de ambas (fé e razão) permite descortinar um caminho para a construção do homem integral, por meio do qual crer e compreender são faces de uma mesma moeda. E isso nos permite construir, do ponto de vista intelectual, uma perspectiva mais humilde, por meio da qual o fato de não conhecermos não significa dizer de que não existe, mas pode sinalizar algo que ainda aprenderemos no nosso processo evolutivo.
De certa forma, é isso que os espíritos da codificação nos ensinam, especialmente quando tratam de temas de alta complexidade e de profunda indagação, como é a questão do espaço universal, objeto deste artigo, e que é tratado nas perguntas de número 35 e 36 de O Livro dos Espíritos.
Em busca de maiores esclarecimentos sobre o tema, Kardec questionou aos espíritos da codificação na pergunta 34 daquela obra se o espaço universal seria infinito ou limitado, ao que responderam os orientadores espirituais: “Infinito. Supõe-no limitado: que haverá para lá de seus limites? Isto te confunde a razão, bem o sei: no entanto, a razão te diz que não pode ser de outro modo. O mesmo se dá com o infinito em todas as coisas. Não é na pequenina esfera em que vos achais que podereis compreendê-lo”.
Tentando ser ainda mais didático, Kardec acrescentou à resposta dos espíritos que: “Supondo-se um limite ao Espaço, por mais distante que a imaginação o coloque, a razão diz que além desse limite alguma coisa há e assim, gradativamente, até ao infinito, porquanto, embora essa alguma coisa fosse o vazio absoluto, ainda seria Espaço”.
E, para deixar claro que o universo é um todo ocupado, cuja extensão não temos condições de apreender, esclarecem os espíritos da codificação na resposta da pergunta de número 35 que não há vácuo, pois, o que parece ser vazio, na realidade, está ocupado por matéria cuja percepção escapa aos nossos sentidos e aos equipamentos que temos. Do exposto, temos que a busca pela compreensão de temas de alta complexidade, como o presente, é de fundamental importância para o nosso crescimento e para a nossa evolução. Entretanto, devemos estar atentos para que essa busca não se torne um fim em si mesmo, quando apenas alimentaremos o nosso orgulho.
Por isso, mais do que entender a grandiosidade da revelação sobre a infinitude do universo e sobre a sua taxa de ocupação – o que agrada a nossa razão -, valeria a pena refletir sobre essa lição com os olhos do espírito. E, uma das interpretações que nos parece plausível – interpretação esta que não tem a pretensão de ser a única e nem a de ser a delas – é a de que, de fato, há muitas moradas na casa do Pai. E se, de um lado, a compreensão do universo ainda transcende – e muito – a nossa razão, essa mesma razão é capaz de fortalecer a nossa fé, ao nos permitir perceber que, apesar do nosso minúsculo tamanho diante da infinitude universal e da sua enorme taxa de ocupação, ainda assim, o amor de Deus por nós é infinito, conhecendo-nos a todos pelo nosso próprio nome.
Frederico Barbosa Gomes