Fé e bom ânimo sempre

Talvez nunca tenha sido tão difícil, para muitos de nós, manter a fé e o bom ânimo como nos dias atuais. Estamos sendo convocados ao crescimento espiritual através de provas individuais e coletivas intensas, que estão aferindo a nossa fé em cada momento do nosso dia a dia.

Sentimo-nos como se estivéssemos atravessando um mar revolto de dificuldades, incertezas, infortúnios. Como se um vendaval de acontecimentos nos transportassem para tempestades provacionais inimagináveis.

Esta travessia nos remete ao Evangelho de Jesus, em Mateus (4:22-36), quando o Mestre estava em um barco com seus discípulos e acalmou a tempestade. Mais tarde, notando que o barco havia se afastado devido à ventania, Jesus foi até eles caminhando sobre as águas.

Pedro então disse-lhe: “Se és tu, Mestre, mande-me ao seu encontro sobre as águas!”, e Jesus permitiu. O apóstolo, assim, começou a caminhar. Porém, num dado momento, começou a temer e afundar e pediu socorro ao Mestre. Jesus, então, segurou-o firme em suas mãos, dizendo: “Homem de pouca fé. Por que duvidaste?”. Ao subirem no barco, o mar bravo se acalmou e todos se sentiram aliviados.

Mas como ter fé suficiente para nos mantermos firmes e com bom ânimo durante os momentos mais desafiantes da vida?

Primeiramente, é preciso reconhecer que a fé não é algo que chega até nós sem esforço da nossa parte. Não é transmitida através da convivência, da admiração ou do pertencimento a uma crença ou religião.

A fé é uma conquista pessoal. Devemos reservar um lugar para que ela seja cultivada em nosso coração, assim como uma planta, que necessita de ser regada e cuidada todos os dias, para que cresça e nos sustente com sua fortaleza, sua sombra e seus frutos nas horas difíceis. Demonstrar a fé quando não somos desafiados pelas intempéries e incertezas da vida é muito fácil. Mas não tem sido tão fácil provar a nossa fé diante das dificuldades e riscos que a vida nos apresenta, atendendo ao convite de Jesus, que nos chama a caminhar sobre as águas revoltas, mas permanece ao nosso lado, nos estendendo a mão e acalentando a certeza de que Ele nunca nos deixará a sós.

Ter fé é confiar. Mas acreditar é diferente de confiar. Embora a diferença seja sutil, a confiança exige mais de nós, é um ato de entrega. Nós podemos acreditar em muitas coisas, mas a confiança em Cristo nos propõe sairmos de nós mesmos e nos entregarmos em suas mãos com a certeza do amparo. A certeza nasce da infalibilidade Dele, e a confiança inclui aceitarmos os desígnios de Deus em tudo aquilo que não podemos mudar em nossas vidas e nos acontecimentos que estão além do nosso controle. A confiança nos inspira à resignação e à ação na hora de transformarmos tudo aquilo que cabe a cada um de nós mudar ou renovar. Não é passividade, é calma. É paz para aguardar, para saber quando agir e quando recuar diante do caminho.

Nossas ações são impulsionadas pela fé. “A fé e o amor são as forças mais poderosas do universo”, como já dizia Madre Teresa de Calcutá, mulher que representou a personificação da fé entre nós, tendo sua essência na caridade. A fé sem obras é morta. O que realmente nutre a fé é a caridade conosco e com o nosso próximo.

No livro Intervalos, psicografia de Chico Xavier, na lição intitulada “Fé, trabalho e merecimento”, Emmanuel nos ensina que “a fé vitoriosa é aquela que se alicerça no trabalho. A esperança ociosa é simples divagação. Se estamos procurando entesourar a fé, não acreditemos que isso possa ser feito namorando altares de pedra. Que a fé seja buscada no lugar de serviço que o mundo nos reserva.”.

 Nunca devemos nos esquecer também dos frutos da resiliência, amadurecidos pela fé viva dentro de nós ao longo do tempo. Tenhamos a certeza de que tudo passa, temporadas tristes e felizes. Tudo chega, passa e vai embora. A fé é a que sempre fica. Ao lado da esperança, a fé é a que nos mantém dispostos a continuar, a lutar, a almejar a felicidade possível e a alegria de viver.

Se a fé está presente, é ela que nos permite dar um passo à frente rumo a uma solução, quando tudo parece perdido. É uma voz que nos fala: “Não desista! Recomece! Renove!” e que nos aponta novos caminhos. Que nos faz estender as mãos para buscar ajuda, seja para nós mesmos ou para o nosso próximo.

Buscar novas maneiras de preencher nosso tempo com esperança e bom ânimo é uma forma de ativarmos nossa fé. Muitas vezes, o desânimo chega sorrateiramente e vai nos espreitando de todos os lados possíveis, decorrente das horas vazias, daqueles momentos em que escolhemos “não fazer nada”. Uma sugestão é que não nos permitamos mais de uma hora de ócio por dia. É importante não descansarmos além do necessário, porque é muito fácil de confundir desânimo com cansaço.

O desânimo pode vir também depois das palavras amargas que proferimos ou que nos chegam os ouvidos. Ou vem de mãos dadas com a solidão, quando nos negamos à solidariedade, assim como após um fracasso aparente, uma frustração ou até mesmo após as perdas, que acabam por abalar naturalmente o significado que dávamos à vida, nos convidando, então, à renúncia, ao desapego e à busca de um novo sentido para a nossa existência aqui na Terra.

Nestes momentos, tudo o que precisamos é orar e vigiar! É estender uma de nossas mãos para o Cristo e buscar auxílio através da prece, do Evangelho, do culto no lar. E a outra mão, estendermos ao nosso próximo praticando a caridade. É lembrar também que existem livros edificantes nos aguardando, além da ocupação útil, seja através de uma tarefa doméstica, um artesanato, de uma conversa elevada com o nosso próximo, uma brincadeira com uma criança, do cuidado com as plantas ou com os animais, de ouvir uma música, de aprender ou ensinar, de assistir a uma palestra ou filme edificante, ou qualquer outro programa que eleve o padrão vibratório dos nossos pensamentos, que nos faça sorrir mais. Enfim, são apenas alguns exemplos de atividades que podemos integrar à nossa nova rotina e que nos ajudam a substituir as ideias fixas e os pensamentos negativos por pensamentos saudáveis, que renovam as nossas energias, nos aliviando o coração e a mente, através da transformação de tudo aquilo que é possível transformar.

Quando pensamos numa representação viva da fé nas fases dolorosas da humanidade, logo nos vêm à mente os antigos cristãos, exemplificados no livro Ave Cristo de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier. Eles possuíam uma fé inquebrantável, de tal forma que nada os atemorizava quando convocados ao testemunho. Hoje, não temos mais as feras e os postes, mas sim uma nova realidade criada por nós mesmos, da qual somos herdeiros por desacatarmos as leis universais, estando agora convocados à reparação e construção de uma nova era.

Que possamos estar dispostos, confiantes, esperançosos e operantes nesta grande nau, acalentando em nós a certeza de que o Cristo está no leme, como ilustrou muito bem João Cabete, ao nos presentear com esta belíssima canção:

“Deus, contempla no infinito

A terra em desamor constante

Conflitos dilaceram corações

É a guerra, vagando aos turbilhões.

Apaga-se o milênio

A sombra deblatera

De polo a polo a dor

Reclama em longa espera.

O mundo estala e treme

A luz prossegue e brilha

O Cristo está no leme

Preparando a terra

A nova madrugada

O sol da nova Era

Irá brilhar na terra

Como eterna primavera.

Iluminando os caminhos

Floridos de paz

Na glória do porvir

No imenso azul profundo.

Estrelas acenam ao mundo

A alegria e a esperança

É sublime a aliança

Na harmonia que enternece

E a vida refloresce

Em sorrisos de esplendor

O Cristo amado está no leme

Na alvorada da bonança

Em hosanas ao Senhor

O limiar do mundo novo

Cantará na voz do povo Hinos de paz, hinos de amor”.

Adriana Souza