Convivência no grupo espírita

 

No livro Conduta Espírita, ditado por André Luiz ao médium Waldo Vieira, o autor espiritual tem a generosidade de discorrer sobre qual deve ser o proceder do espírita sobre 47 diferentes temas do cotidiano. Mesmo afirmando na introdução do livro que não pretende estabelecer rotinas, cerimoniais ou convenções, reconhece ele a necessidade de “sintonizar as nossas manifestações, no campo vulgar da vida, com os princípios superiores que nos comandam as diretrizes”.[1]

A liberdade espiritual é essência da nossa Doutrina. Por uma questão de espaço não poderemos aqui tratar de todas as quatro dezenas de temas que o nosso amigo espiritual discorreu e, por isso, recomendamos o estudo do referido livro.
Destacamos, no entanto, um dos temas trazidos por André Luiz e observado por Kardec, em O Livro dos Espíritos:
“Quando, porém, [o homem] conseguir a soma de gozos que o progresso intelectual lhe pode proporcionar, verificará que não está completa a sua felicidade. Reconhecerá ser esta impossível, sem a segurança nas relações sociais, segurança que somente no progresso moral lhe será dado achar. Logo, pela força mesma das coisas, ele próprio dirigirá o progresso para essa senda e o Espiritismo lhe oferecerá a mais poderosa alavanca para alcançar tal objetivo”.[2]
O codificador coloca a segurança nas relações sociais como fator essencial para a felicidade. Isto nos ajuda a compreender que a convivência tem em nossas vidas um papel fundamental. Santo Agostinho nos ensina sobre isto quando fala dos mundos de provas e expiações. Ele diz, por exemplo, que nosso planeta tem as condições para nos fornecer os devidos estímulos necessários para o nosso crescimento intelectual e moral.[3]
“A Terra, conseguintemente, oferece um dos tipos de mundos expiatórios, cuja variedade é infinita, mas revelando todos, como caráter comum, o de servirem de lugar de exílio para Espíritos rebeldes à lei de Deus. Esses Espíritos têm aí de lutar, ao mesmo tempo, com a perversidade dos homens e com a inclemência da natureza, duplo e árduo trabalho que simultaneamente desenvolve as qualidades do coração e as da inteligência. É assim que Deus, em sua bondade, faz que o próprio castigo redunde em proveito do progresso do Espírito”.
O crescimento moral se expressa pelos nossos relacionamentos em todos os ambientes, sejam domésticos, do trabalho material, ou mesmo na casa espírita. E tanto Kardec como os espíritos da codificação nos alertam sobre isto. Se almejamos ser homens de bem, a nossa prática da caridade deve estar alinhada ao que nos propõe a questão 886, de O Livro dos Espíritos, que nos diz: benevolência para com todos, indulgência para com os erros alheios e perdão das ofensas. Não há como termos boa convivência e segurança em nossas relações sociais fora desta prática. As respostas às questões 298 [4] e 967 [5] de O Livro dos Espíritos são claras em relação ao tema.
O ambiente da casa espírita, em particular, é bastante propício à autoanálise de nossos pensamentos, falas e condutas, graças a boa intenção de todos os que estão presentes, bem como pela ajuda dos bons Espíritos, além do contato com princípios e valores que são estudados regularmente. O esforço deve ser de todos e de cada um. Não podemos terceirizá-lo sob pena de não experimentarmos, mesmo que superficialmente, a felicidade que os Espíritos mais elevados têm em mundos superiores. Não podemos postergá-lo sob pena de não sermos alcançados pela promessa do Espírito de Verdade: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!”[6]

Rômulo Novais

[1] VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita. Pelo Espírito André Luiz. Rio
de Janeiro: FEB, Item Mensagem ao leitor.
[2] KARDEC, Allan. O Livro dos espíritos. Tradução de Guillon
Ribeiro. 93ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013, 4ª parte, Capítulo II,
Conclusão, p 465.
[3] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução
de Guillon Ribeiro. 131ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013, Capítulo
III, Há Muitas Moradas na Casa de Meu Pai, p 63.
[4] KARDEC, Allan. O Livro dos espíritos. Tradução de Guillon
Ribeiro. 93ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013,
Parte II, Capítulo VI, p 181. […] ¨ Da discórdia nascem todos os
males dos humanos; da concórdia resulta a completa felicidade.”
[5] KARDEC, Allan. O Livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro.
93ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013,
Parte IV, Capítulo II, p 434. ¨ […] ¨ O amor que os une lhes é fonte
de suprema felicidade.¨ […]
[6] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução
de Guillon Ribeiro. 131ª

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