Trabalhos intensos na madrugada
As tarefas prosseguiam intensas na casa de dona Isabel. Espíritos amigos desempenhavam diversas atividades, principalmente no salão, enquanto lá fora continuava a chuva forte. Nas primeiras horas da madrugada, o movimento aumentou consideravelmente. Muitos encarnados chegavam ao recinto em virtude do sono do corpo físico. Como aprendemos anteriormente, por meio desse fenômeno a alma se desprende de sua vestimenta carnal e adentra o plano espiritual. É verdade que muitos não possuem condições suficientes para empreender longas jornadas e permanecem praticamente imóveis ao lado de seus corpos. Porém, também são numerosos aqueles que, atendendo aos princípios de afinidade e sintonia, dirigem-se ou são conduzidos a locais e instituições no Além em função do merecimento ou de suas necessidades evolutivas.
Especificamente no capítulo em estudo[1], o mentor Aniceto explicou que se tratavam de encarnados desligados parcialmente de seus corpos e encaminhados ao pouso de trabalho espiritual que era o lar de dona Isabel, a fim de que pudessem ser auxiliados com orientações a respeito das vicissitudes pelas quais passavam na Terra. O nobre benfeitor ressaltou que, nessa tarefa, há imensa dificuldade em transmitir mensagens instrutivas em lugares comuns porque frequentemente estão contaminados por matéria mental de ordem inferior. Por outro lado, destacou que em locais edificantes, como a residência de dona Isabel, a Espiritualidade Superior consegue acumular maiores quantidades de energias positivas, tornando possível prestar grande auxílio às pessoas.
Ampliando suas observações, André Luiz percebeu que muitos recém-chegados se apresentavam indecisos, cambaleantes, sonolentos, parecendo convalescentes ou enfermos. Inclusive, alguns dependiam do amparo de amigos espirituais para se manterem de pé. Aqueles encarnados estavam ali reunidos com os bons Espíritos em função do desprendimento parcial causado pelo sono do corpo físico. No entanto, a maioria não conseguia compreender com exatidão o que os benfeitores lhes diziam e o que estava acontecendo ao seu redor. Recebiam os conselhos e orientações com boa vontade, mas demonstravam enorme incapacidade de retenção e entendimento. Chegavam até a sorrir de forma infantil e ingênua. Percebendo a perplexidade de seu pupilo, o mentor Aniceto tratou de explicar a situação com sua proverbial sabedoria: “Os Espíritos encarnados, tão logo se realize a consolidação dos laços físicos, ficam submetidos a imperiosas leis dominantes na crosta. Entre eles e nós existe um espesso véu. É a muralha das vibrações. Sem a obliteração temporária da memória, não se renovaria a oportunidade. Se o nosso campo lhes fora francamente aberto, olvidariam as obrigações imediatas, estimariam o parasitismo, prejudicando a própria evolução. Eis porque raramente estão lúcidos ao nosso lado. Na maioria dos casos, junto de nós, permanecem vacilantes, enfraquecidos…”.[1]
Temos aí uma explicação para aqueles “sonhos” em que estamos num local estranho e não conseguimos perceber com clareza o que está acontecendo ou o que fazemos ali. Detectamos a presença de entidades amigas, algumas talvez até as reconhecemos, mas muitas vezes não temos como identificá-las. Vimos que estão conversando conosco tranquilamente, como se estivessem nos orientando ou consolando, mas não conseguimos compreender com exatidão o que nos falam.
Depois de algum tempo, acordamos no plano físico sabendo que algo aconteceu, o que geralmente classificamos como um simples “sonho”. Mesmo sem saber de fato o que ocorreu, ficamos com aquela sensação gostosa de que estávamos no meio de pessoas que se importam conosco e que velam por nós. E não raras vezes, durante o transcorrer das horas ou dos dias, aos poucos nos lembramos de coisas que vimos ou ouvimos naqueles momentos do “sonho” e, para nossa surpresa, constatamos que dizem respeito a soluções dos problemas que vivenciamos na Terra.
Se tivéssemos plena lembrança de tudo que acontece nesses períodos de liberdade da alma, poderíamos menosprezar as diversas oportunidades de crescimento espiritual com as quais nos deparamos no dia a dia. Correríamos o risco de ficarmos relapsos, deixando de lado nossas responsabilidades e compromissos. Todavia, em sua imensa sabedoria, bondade e justiça, Deus permite que nessas circunstâncias se levante um pouco o denso véu de vibrações que nos separam daqueles que amamos e que já se encontram no plano espiritual. Com isso, enquanto nos esforçamos e perseveramos nas labutas do cotidiano, vamos nos lembrando, de acordo com o nosso merecimento e necessidade, dos conselhos e advertências que recebemos nesses intensos trabalhos espirituais que acontecem madrugadas afora.
Valdir Pedrosa
[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 38 (Atividade plena).