Olhai os lírios do campo
“Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.” (Mateus 6:28-29)
Hoje pela manhã, ao levantar, fui às compras de domingo, atividade corriqueira, e me peguei a refletir sobre o quanto mudamos em pouco tempo nessa época de pandemia. E veio a preocupação: estaremos progredindo ou ainda “patinando” em nossas próprias imperfeições?
Nessas reflexões, um fato me chamou mais atenção que os demais: o quanto é difícil mudar na questão de amar. E aqui coloco todas as formas possíveis, por exemplo: ter mais tolerância, mais gentileza, mais sorrisos, mais força de vontade para servir ao próximo, mais palavras carinhosas, etc. Essa palavra “amor” foi muito bem definida pelo apóstolo João, quando disse que “quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (João 4:8).
Jesus, ao nos legar seu Evangelho, nos ensina a termos atitudes amorosas, como uma “tecnologia” adicionada aos nossos afazeres diuturnos. E para que tal tecnologia se incorporasse em nós, nos legou o seu Evangelho. A Boa Nova nos encanta no seu primeiro contato, mas necessita de nossa adesão irrestrita para que tenhamos um reflexo condicionado. Ou seja, na disciplina a que nos submetemos do fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem, teremos um procedimento amoroso, espontâneo. É o que nos afirma também Emmanuel, no livro Coragem: “a disciplina antecede a espontaneidade”. Um gesto amoroso repetido várias vezes condiciona o nosso proceder, tornando-o espontâneo pela criação de bons hábitos.
Nas sábias palavras de Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, “a educação convenientemente entendida constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar caracteres, como se conhece a de manejar inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação.” (O Livro dos Espíritos, questão 917).
Veja que o mestre lionês não discorria sobre a educação formal com a qual estamos acostumados, mas sim sobre a arte de mudar em nós os hábitos perniciosos que não possibilitam o avanço espiritual e o crescimento moral. Conhecer a si mesmo, com acurada inteligência, e fazer de nós instrumentos do bem onde quer que nos situemos. Pois quem vê a Deus só terá atitudes amorosas, tal qual nos afirma Jesus: “Quem vê a mim, vê Aquele que me enviou” (João 12:45).
Mas no começo de nossa conversa disse que estava a refletir pois não tinha certeza de nossa progressão espiritual. E isso se fundamenta no ditado “vivemos como se não houvesse amanhã”, porque estamos buscando a satisfação para os nossos desejos e sensações. E me lembrei do versículo que ilustra esse texto. Deus, nosso Pai, cuida de todos e de tudo que nos cerca, provendo o necessário para vivermos em felicidade. Isso mesmo: felicidade. Em O Livro dos Espíritos encontramos fundamento para essa afirmação:
“922. A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens?
‘Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.’”
Ora, novamente encontramos na regra áurea a chave para nossa harmonização e pleno acordo com a pergunta citada acima: fazer ao próximo o que gostaríamos que nos fizessem.
O fato de ter o necessário já bastaria para minha satisfação material, visto que a busca sem equilíbrio do ter me leva ao sofrimento por desejar aquilo que por hora ainda não posso ter ou, se tenho, por utilizar para minhas próprias satisfações, ao invés de empregar em atividade que traga utilidade. A consciência tranquila é a aprovação pessoal de que minhas atitudes perante a vida guardam relação com o Pai, refletem a sua beleza majestosa em mim, como filho e herdeiro de suas características amorosas. Não tendo nada que me desabone, estou em sintonia com Deus. E a fé no futuro representa a confiança com que me entrego a Deus, não como agente passivo, mas sim como força viva a atuar para engrandecer o Seu nome.
As palavras de Jesus “olhai os lírios do campo” são um cântico de amor, pois reconhecem em Deus o provedor de nossas necessidades. Tenhamos fé Nele para que, permanecendo Nele, seja cumprida a Sua vontade como lhe agrada.
Assim, “buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.” (Mateus 6:33-34).
Como nos afirmam os bons espíritos, a hora é grave, mas se “Deus é por nós quem será contra nós?” (Romanos 8:31).
Muita paz a todos.
João Jacques de Freitas