Queixas

Resquícios de nossa ancestralidade egoísta, surge a queixa ou a lamentação, como erva daninha a prejudicar o ambiente em que se instala.
Embora a maioria das criaturas encarnadas esteja passando por provas difíceis, a reclamação ou a queixa em nada resolvem. Aliás, agravam a situação, aumentando o sofrimento em função da lamentação inoportuna.
Certo é que podemos expressar indignação diante das ocorrências infelizes da vida, onde nossa palavra ou atitude, sensatamente colocada, promove o benefício aos semelhantes.
Entretanto, a queixa, quase sempre centraliza nossa mente em circunstâncias infelizes e, nesta posição, costumamos exagerar os defeitos e as nódoas alheias, desperdiçando tempo precioso e ao mesmo tempo, vinculando-nos à outras mentes enfermiças do mundo invisível.
Quem costuma queixar-se de tudo e de todos, cria em torno de si uma psicosfera doentia, cuja presença gera mal-estar em torno daqueles que comungam sua presença, tanto encarnados quanto desencarnados. E por um processo de reflexão, aqueles que estão próximos, caso não estejam em vigilância, passam a reforçar as queixas, criando um clima de desalento e revolta, destruindo as mais belas florações de trabalho e de esperança. Mesmo em nossa casa espírita, quantas obras são prejudicadas em decorrência de nossas queixas, muitas das vezes em função do orgulho ferido? E vale lembrar que mesmo sem expressar verbalmente, quantas queixas mentais estamos emitindo pelo Universo? Cultivemos a fraternidade e o bem, porque, hoje e amanhã, colheremos da própria sementeira, segundo Emmanuel.
Herdeiros de nós mesmos, é o próprio espírito, antes de encarnar, quem escolhe o gênero de provas que irá passar. Desta forma, admitindo que não existem “injustiçados” sobra a Terra, a queixa em relação às vicissitudes da vida, decorrentes do desencadeamento do gênero de provas escolhido, representa acima de tudo ingratidão à Deus. Segundo o benfeitor Emmanuel, Deus permite que “a seiva que nutre a rosa é a mesma que alimenta o espinho dilacerante. Na árvore em que se aninha o pássaro indefeso, pode acolher-se a serpente com as suas armas de morte.” Então porque a queixa, se tudo no universo tem uma razão de ser? Em muitas circunstâncias, aquela pessoa que afastamos pela nossa queixa, pode ter sido a benção que Deus enviou-nos a fim de evitar males maiores em nossa existência.
Necessário retificar nossa visão de mundo, das coisas, das circunstâncias, a fim de vivermos em paz. Esquecemos que somos espíritos na carne e nessa inversão de consciência, acostumamo-nos a supervalorizar a nossa personalidade, quase sempre iludidos de que somos melhores do que outros perante do Criador. Emmanuel orienta-nos o seguinte: “anexai os desejos do reino de vosso ‘eu’ aos sábios desígnios do Reino de Deus”, pois cada desequilíbrio nosso, terá seu reajuste no tempo.
O indivíduo queixoso, quase sempre atribui aos outros a culpa pelos seus insucessos. Diz-nos André Luiz, que “quem vive colecionando lamentações, caminhará sob chuva de lágrimas”. Não tem como ter saúde física e mental, lamentando e reclamando sistematicamente. Os amigos espirituais podem derramar uma “chuva” de bençãos sobre nós, mas se não aprendermos a silenciar e a desculpar as faltas alheias, que também costumam ser nossas, de quase nada valerá o esforço dos benfeitores espirituais a nosso favor.
Assim, considerando que nada acontece ao acaso em nossas existências, Emmanuel nos esclarece que “o discípulo do Evangelho deveria, antes de qualquer alusão amargosa, tranquilizar o mundo interno e perguntar a si mesmo: Queixar por quê? Não será a esfera de luta o campo de aprendizado? Acaso, não é a sombra que pede luz, a dor que reclama alívio? Não é o mal que requisita o concurso do bem?
Tiago, em sua carta (5:19) adverte-nos: “Irmãos, não vos queixeis uns contra os outros, para que não sejais condenados.” Ou seja, condenados pela nossa própria consciência em culpa, cujos reflexos de nossas vibrações doentias, escravizam-nos em teias de enfermidades que nós mesmos criamos.
Certo é que a maioria de nós ainda estamos naquela situação de consolidação dos valores evangélicos, propostos por Jesus.
Portanto, busquemos a exemplificação do Mestre querido que, mesmo sendo traído e abandonado pelos amigos e agredido pela turba inconsciente, não levantou uma única queixa, mas ao contrário, compreendeu a defecção dos companheiros e a ignorância das massas, ali representando a humanidade inteira e, mantendo-se uno ao Criador, endereçou a todos nós a benção do perdão e o olhar de bondade e de misericórdia para com as nossas imperfeições.
Esforcemo-nos para segui-lo.

Mariano Cunha.

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