Fé raciocinada, conquista do Espírito
Aprendendo com André Luiz
André Luiz continuava profundamente surpreso com tudo o que presenciava nos pavilhões
do posto de socorro da colônia Campo da Paz, onde se abrigavam quase dois mil Espíritos que dormiam rígidos, cadavéricos e prostrados. Diversos servidores dedicados atendiam as orientações de Alfredo e Ismália, providenciando recursos aos irmãos menos felizes de acordo com suas necessidades: alimentação líquida, medicamentos, água fluidificada, passes e, em alguns casos até o sopro curador.
Alfredo explicou que esses Espíritos
“dormem, porque estão magnetizados pelas próprias concepções negativistas; permanecem paralíticos, porque preferiram a rigidez ao entendimento; mas dia virá em que deverão levantar-se e pagar os débitos contraídos”. Em seguida concluiu: “A fé sincera é ginástica do Espírito. Quem não a exercitar de algum modo, na Terra, preferindo deliberadamente a negação injustificável, encontrar-se-á mais tarde sem movimento. Semelhantes criaturas necessitam de sono, de profundo repouso, até que despertem para o exame das responsabilidades que a vida traduz.” [1]
Pela explicação do benfeitor percebemos o quanto a fé é importante em nosso desenvolvimento espiritual. Em termos comuns podemos definir fé como crença, confiança
ou certeza na existência de um fato ou na veracidade de alguma asserção. No que tange ao campo religioso, o homem foi alimentado ao longo dos séculos por uma fé cega, ou seja, uma crença imposta pela força ou por preceitos. Todavia, com o advento da Doutrina Espírita, o conceito de fé foi renovado, pois já naquele tempo, na segunda metade do século XIX, não havia mais espaço para a fé cega. De mãos dadas com a razão e a ciência, o Espiritismo iluminou a humanidade com a apresentação da fé raciocinada, proclamada por seu insígne Codificador, Allan Kardec:
“A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.” [2]
Assim, o homem ficava livre da submissão à uma teologia tirana e obsoleta, uma vez que a fé raciocinada não vem por meio de prescrições nem imposições, pois é fruto da conquista individual do Espírito em sua evolução.
Segundo Emmanuel,
“ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade. Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer: “eu creio”, mas afirmar: “eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento. Essa fé não pode estagnar em nenhuma circunstância da vida e sabe trabalhar sempre, intensificando a amplitude de sua iluminação, pela dor ou pela responsabilidade, pelo esforço e pelo dever cumprido. Traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança que sabe enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração, e significa a humildade redentora que edifica no íntimo do Espírito a disposição sincera do discípulo, relativamente ao “faça-se no escravo a vontade do Senhor”. [2]
E Kardec arremata dizendo sobre a serenidade que a fé real proporciona:
“A fé sincera e verdadeira é sempre calma; faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao objetivo visado.” [4]
A fé espírita baseia-se nos fatos e na lógica e não apenas na simples crença herdada de nossos antepassados. Por isso dissemos que, se a fé é força que nasce com a própria alma, a fé raciocinada é conquista do Espírito imortal em sua caminhada infinita, desenvolvendo-se e fortalecendo-se a cada passo dado na jornada evolutiva. Desta forma, se utilizarmos a fé conscientemente, poderemos suprimir longas curvas em nosso caminho e nos livrarmos de inúmeros sofrimentos. Confiança em Deus, estudo, trabalho e prática do bem, eis a receita para superarmos dificuldades e vencermos os desafios que a vida nos apresentará, sem esmorecer.
Para finalizar essas reflexões sobre a fé, reproduzimos trechos de mensagem ditada por José, um Espírito protetor:
“Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou. A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com esta uma trindade inseparável. (…) Pregai pelo exemplo da vossa fé, para a incutirdes nos homens. Pregai pelo exemplo das vossas obras para lhes demonstrardes o merecimento da fé. Pregai pela vossa esperança firme, para lhes dardes a ver a confiança que fortifica e põe a criatura em condições de enfrentar todas as vicissitudes da vida. (…) Tende, pois, a fé, com o que ela contém de belo e de bom, com a sua pureza, com a sua racionalidade. Não admitais a fé sem comprovação, cega filha da cegueira. Amai a Deus, mas sabendo porque o amais; crede nas suas promessas, mas sabendo porque acreditais nelas…” [5].
Valdir Pedrosa
[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 22 (Os que dormem).
[2] O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – capítulo 19 (A fé transporta montanhas) – item nº 7.
[3] O Consolador – Pelo Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier – questão nº 354.
[4] O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – capítulo 19 (A fé transporta montanhas) – item nº 3.
[5] O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – capítulo 19 (A fé transporta montanhas) – Instruções dos Espíritos – item nº11.