O outro e eu
“Há, entre os seres pensantes, laços que não conheceis ainda.”
(Livro do Espíritos: q.387)
Já parou para refletir porque nos sentimos bem ou mal perto de algumas pessoas? Em matéria publicada na Revista Espírita de 1862, Kardec esclarece que quando duas pessoas se aproximam, cada qual envolvida por sua atmosfera perispiritual, há contato desses dois fluidos. Se forem de natureza simpática, se interpenetram; se de natureza antipática, repelem-se e os indivíduos sentirão uma espécie de mal-estar. Afirma ainda que nem sempre a simpatia ou antipatia entre duas pessoas tem causa em existência anterior, pois dois espíritos podem se atrair ou repelir sem terem tido qualquer contato como encarnados.
O espírito Emmanuel, na obra O Consolador, reforça este conceito: “ A simpatia ou a antipatia têm as suas raízes profundas no espírito, na sutilíssima entrosagem dos fluidos peculiares a cada um e, quase sempre, de modo geral, atestam uma renovação de sensações experimentadas pela criatura, desde o passado…”
A psicologia nos esclarece que sempre que nos aproximamos de alguém, a nossa leitura de realidade vai infinitamente além do que o nosso cérebro processa racionalmente. Captamos não só o que nos é dito, mas também impressões visuais, olfativas e temos reações emocionais a partir da comparação bdessas percepções com fatos da nossa história anterior.
Em contato com diferentes pessoas podemos, a nível consciente ou inconsciente, despertar reações emocionais em função de antigos medos, traumas, prazeres que não foram processados e trabalhados. Sentimos inveja, repulsa, culpa, intensa alegria ou conforto sem sequer admitirmos isso para nós mesmos.
No caso das antipatias, sempre nos parece mais fácil atribuir ao outro uma característica negativa do que as aceitar em nós mesmos. Identificamos no outro o que somos ou tememos ser. Em geral, invejosos se acham muito invejados, críticos se julgam criticados, vaidosos e egoístas pouco valorizados…
Somente o autoconhecimento pode nos conduzir a pôr fim a este ciclo de comportamentos equivocados que se repetem com frequência ao longo das nossas vidas, trazendo sofrimento e angústia. Vale refletir que aquele que pensa e age diferente de mim pode me incomodar por estar agredindo verdades que cristalizei ou por estar despertando em mim o medo de enfrentar o novo.
Quando passamos a identificar com sinceridade nossas reações e emoções na relação com o próximo, temos mais justeza ao avaliar uma estranheza legítima (perante desregramentos morais: vícios, violência, etc.) ou um mero mecanismo de defesa de nossas próprias dificuldades, que deve ser corrigido.
Cabe muito bem a recomendação do espírito Irmão José, na obra Crer e Agir: “Exigir menos dos outros e mais de ti. Eis a fórmula ideal para que saibas viver e conviver, proveitosamente, com todos, em qualquer parte do mundo. Experimente ser mais afável, mais solidário, mais atencioso e alegre com os outros para ver o que te acontece”.
Letícia Schettino
Revista Espírita de 1862, página 358. Edicel.
O Consolador, pelo espírito Emmanuel, questão 173.
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questões 387 e 388.
Crer e Agir, pelo espírito Irmão José, psicografia de Chico Xavier e Carlos Bacelli.