Gratidão e equilíbrio interior

“Em tudo dai graças”. (Tessalonicenses, 5:18)

É incontestável que as conquistas da inteligência e os significativos avanços científicos e tecnológicos muito têm nos impulsionado ao progresso. No entanto, nunca foi tão desafiador viver e conviver num mundo com tamanha competitividade e pesada carga de informações, com anseios individuais e coletivos que, em sua maioria, resumem-se em ter, acumular e desfrutar ao máximo os prazeres proporcionados pela vida material.

Viver nesse contexto tem gerado em muitos de nós um sentimento de insatisfação íntima. Não raras vezes, deixamos de valorizar quem somos, o que conquistamos, quem está ao nosso lado e o que a vida nos dá a cada dia para focarmos nossa atenção plena naquilo que está sempre nos faltando. Essa insatisfação constante acaba produzindo um desequilíbrio interior que se torna nítido através da nossa inquietude, desarmonia íntima, falta de paz interior e alegria de viver, o que reflete, naturalmente, em nosso relacionamento com o próximo. 

Metaforicamente, seria como se tivéssemos dentro de nós uma balança espiritual necessitando de ajustes. A angústia decorrente da insatisfação aponta para a nossa dificuldade em conciliar os opostos dentro e fora de nós. Cuidarmos na medida certa da matéria e do espírito, lidarmos com as diferenças, com a idealização e com a realidade, com as mudanças e com a permanência, com nossos anseios, necessidades, prioridades…

Viver exige de nós interiorização e reflexão sobre o que temos valorizado em nossas vidas, o que temos escolhido e colocado, talvez em excesso, num dos pratos dessa balança; e o que tem nos faltado para o equilíbrio interior. Será que estamos carregando sentimentos pesados como a mágoa, ressentimento, ódio, orgulho, egoísmo, raiva, ciúmes, inveja, maledicência, etc? E os sentimentos leves como o amor, a gratidão, a fé, a alegria, a compaixão, o otimismo, a empatia, a devoção, o altruísmo, a caridade… Será que que eles têm sido priorizados em nossa vida?

A gratidão é um dos sentimentos importantíssimos para o nosso equilíbrio espiritual. Ela permite que valorizemos tudo o que temos, cada detalhe do que nos acontece, por menor que seja, com contentamento, como algo suficiente e merecedor do nosso reconhecimento. É muito fácil sermos gratos à vida quando tudo está bem, quando recebemos uma dádiva, alcançamos um êxito e nos sentimos plenos, como nos diz um trecho da canção Alma das andorinhas, de João Cabete “eu só sei dizer que sinto Deus sorrindo para mim…”

Mas precisamos ir além das aparências e cultivar a gratidão também na travessia das provações, acalentando a certeza de que Deus segura firmemente nossas mãos nesses momentos e nos acompanha sempre, nunca nos desamparando. O primeiro passo é aceitar-nos merecedores de tudo o que nos acontece, de tudo o que a vida nos tira ou oferece, nunca revoltando contra as dificuldades que nos visitam a alma ou o corpo, mesmo que no momento não consigamos entender o porquê da aflição, mas esforçarmos para reconhecer que cada dor traz uma lição que ainda precisamos aprender para evoluir. Sermos gratos evita que essas aflições endureçam nossos corações e permite que vejamos tudo como oportunidades de crescimento; faz com que a nossa inteligência se recoloque na direção de Deus, que é o manancial de bênçãos. Como Paulo de Tarso, que ensinou e exemplificou com a própria vida, sempre agradecendo a Deus em meio a tantas adversidades.

Nas mensagens Agradeçamos a Deus e Agradecimentos esquecidos, constantes nos livros Paz e Renovação e Fé, Emmanuel e André Luiz nos alertam para a necessidade de se cultivar os agradecimentos esquecidos na hora dos contratempos, de tal forma que para cada aspecto negativo do “contra”, a gratidão nos leve a enxergar o lado positivo do “a favor”, levando-nos a perceber que cada problema traz em si a solução. Exemplificando: Pessoas demostram irritação para conosco? Oportunidade de praticar a tolerância e paciência. Prejuízos aconteceram? Oportunidade de discernimento. Abandono afetivo e desilusão? Mais confiança em nós mesmos, compreensão e perdão. Problemas desafiantes? Estão nos ensinando a arte de pensar com decisão e segurança. Enfermidades? Paciência porque tudo passa. Tribulações? Os tempos de calma voltarão. Perda de entes queridos? Lembrar dos momentos de alegria e carinho que te proporcionaram e reconhecer que eles apenas viajaram antes de nós. 

Pesquisas demonstram que pessoas que cultivaram o hábito de expressar gratidão em suas vidas são mais saudáveis emocionalmente e fisicamente. Robert A. Emmmons é um pesquisador que investiga os efeitos da gratidão na saúde das pessoas. Seus estudos concluíram que exercícios diários de gratidão fortalecem o sistema imunológico devido aos estímulos cerebrais que esse sentimento desperta, podendo reduzir o risco de doenças como infarto, AVC, ansiedade e depressão.

Um dos métodos sugeridos por ele é a criação de um “Diário da gratidão” que consiste em anotar, ao final de cada dia, as coisas pelas quais somos gratos. No início pode surgir uma certa dificuldade, mas como a disciplina antecede a espontaneidade, em pouco tempo se tornará um hábito prazeroso contar as bênçãos que Deus nos dá a cada dia. 

Como afirma Emmanuel, em seu livro Urgência, lição 2, intitulada Contar as bênçãos: “contar as bênçãos que temos é a melhor medida para diminuir o peso das provações. Aprendamos a guardar para com Deus um coração agradecido, para recebermos de Deus a paz necessária para o equilíbrio.” 

 

Adriana Souza