Ser luz

Falando novamente ao povo, Jesus disse: “Eu sou a luz
do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas
terá a luz da vida”. (João, 8:12).

 

Em sentido figurado, a luz é aquilo ou aquele que esclarece, ilumina ou guia o espírito. O simbolismo da luz pode ser observado em toda a revelação bíblica e nos pensadores notáveis de nossa história. Temos que a primeira ação de Deus registrada pela Bíblia é a separação da luz e das trevas (Gênesis 1: 3-5). No relato, Deus é o único autor da luz e até as próprias trevas reconhecem o seu poder. A metáfora da luz é encontrada em outros trechos dos livros que compõe o Antigo Testamento, nas profecias. Por isso, diz-se que “Deus é luz”.

No Novo Testamento, a luz prometida pelos profetas surge quando Jesus começa a sua pregação na Galiléia e cumpre-se o oráculo de Isaías 9:1 (Mt, 4:16). Quando ele ressuscita, “segundo as profecias”, é para “anunciar a luz ao povo e às nações pagãs ”(At: 26: 23). Cristo é revelado como luz, mas é sobretudo por seus atos e palavras que vemos Cristo revelar-se como luz do mundo. A metáfora da luz está presente em Santo Agostinho, que compara o conhecimento à luz e atribui a Deus a fonte que ilumina as coisas e as portas à luz do dia. Locke (filosofo inglês e ferrenho defensor da liberdade e da tolerância religiosa) compara a luz da lamparina, sua chama um tanto débil, com o entendimento humano.

Na Codificação, realizada por Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, questão 625, encontramos o esclarecimento de que: “Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava.” No Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo I, item 3, para elucidar o que Jesus representa para os espíritas temos que seu papel não foi de um simples legislador moralista, cheio de promessas. Sua autoridade vinha da natureza excepcional do seu Espírito e da sua missão divina, que se resume em nos ensinar que a verdadeira vida não é a que transcorre na Terra e sim a que é vivida no reino dos céus, estágio de conexão contínua com Deus.

Na obra A Caminho da Luz, psicografada por Francisco Cândido Xavier, em que o Espírito Emmanuel traça a história da civilização à luz do Espiritismo, encontramos a seguinte afirmativa sobre Jesus: “[…] Todas as coisas humanas se modificarão. Ele, porém, é a Luz de todas as vidas terrestres, inacessível ao tempo e à destruição”. Este mesmo autor espiritual, comentando a passagem evangélica na qual o Cristo designou seus discípulos como sendo a luz do mundo (Mateus, 5:14), assinalou-lhes tremenda responsabilidade na Terra. É que quis enfatizar que todos nós, seguidores de Jesus, sem espírito de sacrifício, renúncia, tolerância e boa vontade, somos lâmpadas mortas no santuário do Evangelho.

Recomenda-nos, assim, não nos determos em conflitos ou indagações sem proveito, visto que a luz não argumenta, mas sim esclarece e socorre, ajuda e ilumina (Xavier, F.C, Fonte Viva, cap. 105). Podemos concluir que Jesus, governador espiritual da Terra, nosso modelo, impõe sua autoridade moral, fazendo luz todo o tempo, naturalmente, sem ofensas e violências. Usa da autoridade do Amor. Procurando seguir seus passos poderemos, pouco a pouco, transformarmo-nos em autênticos discípulos, que sabem refletir a luz do Evangelho nas inúmeras atividades de caridade. Somos convocados a cada dia a doar as nossas forças na atividade incessante do bem, levando consolo, alegria, esperança e conhecimento nas nossas palavras e atos. Já refletiu sobre isto? É hora de abraçarmos nossas responsabilidades! Ser luz!

Leticia Schettino Peixoto