O verdadeiro sentido das coisas

“São chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido.”
O Espírito de Verdade (ESE).

O espírito Jesus, nosso guia e modelo, não criou nenhuma religião, partido político ou instituição formal, simplesmente o Mestre nos ensinou, por meio de atitudes e palavras, sobre a relevância da humildade, do perdão, da indulgência e da benevolência. Exaltou o amor ao próximo e a nós mesmos, criaturas divinas.

Jesus não foi honrado, reconhecido pela maioria da sociedade de sua época, tampouco considerado uma figura de sucesso. Despediu-se do mundo entre os mais simples, em meio a zombarias, acusações, abandono e torturas. Entretanto, este irmão maior demonstrou fé na vitória final do bem entre a humanidade, nos perdoou incondicionalmente e incentivou todos a se reerguerem e trabalharem na senda do bem. Sua passagem entre nós, a despeito das inúmeras dificuldades que enfrentou, foi repleta de otimismo, esperança e coragem.

Certamente, como servidor fiel do Criador, ele sabia que destemperos, vinganças, apego ao poder, aos rituais e dogmas não conversam com os caminhos do amor, do progresso espiritual e da busca pela verdadeira paz. Há de prevalecer entre os discípulos sinceros do Cristo a disposição para o trabalho, vontade e coragem para vencer o orgulho e egoísmo, acendendo a chama da esperança.

No livro Vinha de Luz, o Espírito Emmanuel chama nossa atenção para a esperança como lume do espírito, que “[…] vem de cima, a maneira do Sol, que ilumina do alto e alimenta as sementes novas, desperta propósitos diferentes, cria modificações redentoras e descerra visões mais altas”. Sim, o verdadeiro sentido das coisas passa por nos conhecermos melhor, redefinirmos propósitos, aprimorarmos atitudes e cooperarmos.

A simplicidade, a afetuosidade, o respeito pela diversidade, o empenho em oferecer oportunidades e valorizar o ser humano nunca se mostraram atitudes tão necessárias como neste ano de 2020, no qual a humanidade enfrenta uma das maiores pandemias por vírus de que se tem registro em sua história. Considerando o novo contexto político-social imposto pelo isolamento social, pela crise econômica mundo afora, a sociedade desperta em muitas partes do globo, mostrando sua indignação com todas as desigualdades: a de renda, a de oportunidades de educação, a de mobilidade social. Racismo, autoritarismo e violência são combatidos em inúmeras manifestações públicas mundo afora.

A Doutrina Espírita, à luz do Evangelho de Jesus, nos exorta a refletir sobre a necessidade do respeito amplo aos irmãos e da assistência aos necessitados, não só no sustento do corpo físico, mas principalmente no tratamento das chamadas doenças da alma, que conhecemos por solidão, remorso, culpa, mágoas, rancores e ressentimentos. Estas doenças dão, na maioria das vezes, espaço para melindres, inveja, preconceitos e indiferença. Adoecidos e perdidos, não enxergamos os outros e geramos conflitos e rusgas na família e fora dela.

Sabemos que todos estes males estão alicerçados nos espinhos do orgulho e do egoísmo, nossos companheiros de milênios, e em busca de um roteiro de esperança, de vida nova e de cura, é de vital importância investir nas atividades de atendimento fraterno, prática comum nas casas espíritas. Além de diversas formas de assistência material e educacional, nestas atividades são apoiados os irmãos em desespero, doentes, desequilibrados, que buscam socorro. Os mais fortes atendem e apoiam os mais fracos, sejam encarnado ou desencarnados. Este é um bom roteiro para buscarmos um verdadeiro sentido para nossas jornadas.

Sim, são chegados os tempos de reconhecermos que trilhamos por muitos caminhos tortuosos, que nos fizeram ignorar pobres, doentes, ignorantes e, consequentemente, permitir o preconceito racial e uma profunda desigualdade social pelo planeta afora. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, o espírito Pascal orienta-nos assim: “ […] sem a caridade não haverá descanso para a sociedade humana. Digo mais: não haverá segurança. Com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira em que vencerá o mais esperto, uma luta de interesses, em que se calcarão aos pés as mais santas afeições, em que nem sequer os sagrados laços de família mereceram respeito”.

Assim sendo, trabalhemos. Com vontade, disciplina e dedicação podemos abraçar tarefas de assistência, apoiar movimentos pacíficos na comunidade, mas sempre, em primeiro lugar, começar a praticar a caridade dentro dos nossos lares, identificando nossas más tendências, aceitando nossas limitações, orando e aprendendo a perdoar e a pedir perdão, fazendo esforço para que a alegria, a coragem e a esperança estejam presentes em todos os momentos.

Letícia Schettino Peixoto

Xavier, Francisco Cândido. Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. Lição 75. Kardec, Allan. -(ESE); FEB 2016. Tradução Guillon Ribeiro. “Prefácio” e Capítulo XI, item 12.