Não reclame – trabalhe e confie
Chegou o momento dos comentários no estudo do Evangelho no lar de dona Isabel. Isidoro, seu marido já desencarnado, bem como diversos amigos da esfera espiritual, permaneciam na residência participando daquele verdadeiro banquete de luz. Cada criatura ali presente, de ambos os planos da vida, recebeu os ensinamentos de acordo com sua capacidade de entendimento.
Durante a conversa fraterna com os filhos, dona Isabel foi amplamente amparada e intuída pelos espíritos Isidoro e Fábio. A primeira a falar foi Marieta, que aparentava ter sete anos de idade. Em tom comovedor a pequenina perguntou: “Mamãe, se Jesus é tão bom, por que estamos comendo só uma vez por dia, aqui em casa? Na casa de Dona Fausta, eles fazem duas refeições, almoçam e jantam. Neli me contou que no tempo de papai também fazíamos assim, mas agora… Por que será?”[1]
Aquelas palavras calaram fundo no coração materno. Como explicar a uma criança a escassez de alimentos que vitimava a família após o desencarne do pai? A viúva de Isidoro ponderou que não se deve subordinar todos os pensamentos às necessidades do estômago e que muitos desenvolvem variadas e graves enfermidades devido aos excessos cometidos na alimentação. Em seguida, asseverou: “(…) vocês devem estar certos de que Jesus abençoa o pão e a água de todas as criaturas que sabem agradecer as dádivas divinas. É verdade que Isidoro partiu antes de nós, mas nunca nos faltou o necessário. Temos nossa casinha, nossa união espiritual, nossos bons amigos. Convençam-se de que o papai está trabalhando ainda por nós. (…) Quando sabemos amar e esperar, meus filhos, não nos separamos dos entes queridos que morrem para a vida física. Tenhamos certeza na proteção de Jesus! (…) Nunca deveremos reclamar e sim louvar sempre.”[1]
Como não se emocionar ao ouvir uma explicação como essa? Não se trata apenas das palavras, mas sobretudo do sentimento nobre e das energias que revestiram o verbo de Isabel. Eis uma demonstração cabal da certeza do amparo da Espiritualidade Superior e da mais absoluta confiança em Deus. Isso é fruto da experiência adquirida ao longo da evolução espiritual, que confere sabedoria ao ser, da qual ele se utiliza principalmente em circunstâncias desfavoráveis, se transformando em carta viva do Evangelho, orientando, esclarecendo, consolando e, enfim, iluminando vidas.
Em situações análogas àquelas vividas por essa família, muitos teriam comportamento bem diferente daquele apresentado por Isabel. O homem tem a triste mania de jogar a culpa nos outros por tudo de ruim que acontece em sua vida. Transferir a culpa é sempre o caminho mais fácil do que assumi-la. E nesse processo é comum se voltarem, inclusive, contra Deus, tomados por uma revolta que beira as raias da irracionalidade. Há casos em que o alvo muda. Aponta-se para os inimigos, adversários e até mesmo para os familiares e amigos. Acusa-se o demônio e os espíritos obsessores. Coloca-se a culpa até mesmo na reencarnação. Porém, via de regra, o infeliz raramente volta seu dedo acusador para si próprio.
Na vida nos deparamos com pessoas que só reclamam e com indivíduos que fazem as coisas acontecer. Os “reclamões” desperdiçam tempo e gastam energia sem proveito. Vivem em um círculo mental vicioso, incapazes de perceberem as oportunidades de melhoria que a Providência lhes oferece. Resmungam, lamentam e se fazem de vítimas, quando na verdade, são vítimas e algozes de si mesmos. Por outro lado, nos encontramos também com pessoas que, apesar de todas as dificuldades vivenciadas e mesmo não sabendo muitas vezes as causas de seus infortúnios, porfiam e lutam. Com grande esforço e perseverança, buscam vencer as adversidades que, intimamente, enxergam como ensejos de crescimento e progresso espiritual.
Dona Isabel resignava-se com a situação, mas lutava e se esforçava bastante para melhorar um pouco a condição de vida de sua família, a fim de que não faltasse o necessário. Não obstante, ela sabia que o amor e a justiça do Pai Celestial, que é todo perfeição, se manifestam por meio da Providência Divina, que não abandona nenhum de seus filhos, atendendo suas reais necessidades e impulsionando-lhes o progresso.
Valdir Pedrosa
[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 36 (Mãe e filhos).W