Predisposições
Na condição de estudante das ciências biológicas, chamou-me a atenção a aula sobre predisposições genéticas. Segundo ela, todos nós nascemos com determinadas sequências nucleotídicas alteradas na molécula de DNA com elevado potencial evolutivo, e que em determinadas circunstâncias podem causar alterações no funcionamento das células. Muitas enfermidades e alguns tipos de cânceres surgem dessa forma. Interessante ressaltar que possuir essas alterações não é uma garantia de adoecimento. O modo de vida do indivíduo é fundamental para que a dita sequência genética alterada se expresse ou não. Por modo de vida entende-se a qualidade da alimentação, do sono, a prática ou não de atividades físicas regulares, o equilíbrio nas relações de trabalho, radiações ionizantes, estabilidade emocional, lazer, uso de determinados medicamentos, o consumo do álcool, afetividade, entre outros.
Da mesma forma que há predisposições genéticas, há predisposições espirituais. Isso ocorre por dois motivos básicos. Primeiro porque não somos apenas corpo. Há então dois elementos gerais do universo: a matéria e o espírito? “Sim, e acima de tudo Deus[1]. E segundo porque a atual existência está longe de ser a primeira de nossa história de vida. As nossas diversas existências corporais se verificam todas na Terra? “Não. Vivemo-las em diferentes mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem as últimas; são, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição”[2].
A justiça divina não é condescendente com a desigualdade de oportunidades. Por que alguns nascem e vivem em uma suposta única existência nas condições mais exigentes, enquanto outros nascem nas condições ideais? Que sorte aguarda os que morrem na infância, quando ainda não puderam fazer nem o bem, nem o mal?[3] E mais. Se tudo é apenas obra do acaso, se tudo se encerra em um único ciclo de uma vida, e que as vezes não dura nem uma semana, porque tanta sensibilidade, porque tanta emoção, tantas dores e amores?
Ao conceber a existência de uma inteligência suprema, causa primária e amorosa de todas as coisas, somos facilmente levados a concluir que cada um é o somatório de experiências vividas em existências anteriores. Não é o objetivo deste artigo desenvolver essa ideia, mas aproveito para salientar que isso é o suficiente para compreendermos os vínculos fortíssimos que temos com determinados países, culturas, religiões, grupos sociais, profissões, bem como a simpatia e antipatia que sentimos por determinadas pessoas, inclusive na família. Relembre a sua infância e notará que nem todos os pensamentos e ideias lhe foram ensinados. E que irmãos de idades próximas, educados no mesmo contexto familiar, possuem temperamento e personalidades exclusivas. Sem contar a individualidade dos gêmeos idênticos.
Pois bem, a evolução do espírito muito além da atual existência traz, por meio do renascimento, determinadas memórias que, assim como ocorre com a herança genética, podem ou não se expressarem, conforme o modo de vida do ser. Todos nós renascemos com essas predisposições que são verdadeiras inclinações tanto para o bem quanto para o mal. Elas definem uma leitura de mundo e influenciam, ou até determinam, as nossas reações, bem como a qualidade de nossos relacionamentos. Sendo assim, é muito desejável que dediquemos parte de nosso tempo ao estudo de nossa essência, o que um filósofo da antiguidade resumiu como… Conheça-te a ti mesmo!
A humildade é o fator primordial para efetivar esse trabalho. Por meio dela, seremos capazes de nos reconhecermos como uma alma em evolução que necessita potencializar as predisposições positivas e evangelizar as predisposições negativas, pois essas não contribuem para a nossa realização espiritual. Isso é possível desacelerando a rotina do dia a dia por meio da melhor seleção de compromissos, o que passou a se chamar de gestão do tempo. Além da análise de riscos que corremos ao nos aproximar ou reaproximar de pessoas e circunstâncias que nos incentivam a queda. Quanto a isso, os jovens especialmente precisam ficar bem atentos. No entanto, muito além da vida vulgar, a gestão do espírito é o que importa. E para realizá-la é necessário reconhecermo-nos como legítimos filhos de Deus, verdadeiros espíritos em passagem na Terra, amparados por entidades de luz nos guiando para dentro de nós mesmos onde efetivamente se encontra O Reino, assim disse Jesus. Dessa forma, estaremos de fato muito bem dispostos para a vida!
Vinícius Moura
[1] Allan Kardec.Livros dos Espíritos. Questão 27.
[2] Allan Kardec.Livros dos Espíritos. Questão 172.
[3] Allan Kardec.Livros dos Espíritos. Questão 222.
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