O trabalho na seara espírita
O vocábulo trabalho tem origem no latim, tripalium. Tal termo era utilizado para designar um instrumento de tortura. Dessa forma, quase sempre, e até hoje, o trabalho é associado ao sofrimento por muitas pessoas. Contudo, o Cristo nos traz o labor como benção divina em favor da nossa redenção. Assim, o serviço, sobretudo, na seara espírita, deve-se pautar no amor e na caridade.
Cabe citar o benfeitor Emmanuel, no livro Pensamento e Vida, psicografia de Francisco Cândido Xavier. No capítulo sete, intitulado Trabalho, Emmanuel nos fala de três tipos: trabalho-obrigação, trabalho-ação e trabalho-serviço. O trabalho-obrigação é o que nos remunera. O trabalho-ação é o que transforma o ambiente. Já o trabalho-serviço é aquele que transforma o homem. Assim, na Seara Espírita devemos nos ater no trabalho-serviço.
No livro de João, capítulo 5, no versículo 17, o apóstolo cita a afirmativa do Governador do nosso Planeta (Jesus): “meu Pai trabalha até hoje, e Eu também”. Daí, podemos concluir quão importante é o labor. Nesse mesmo viés, a Doutrina Espírita nos aponta o trabalho como Lei da Natureza, a qual nos permite o progresso e a evolução: material, espiritual e moral. O progresso material consiste em cumprir os nossos deveres para conosco mesmos, para a família e para a sociedade da qual participamos. O progresso espiritual é realizado através do trabalho em favor do próximo com caridade, humildade e amor, onde a fraternidade possa ser desenvolvida em nossos corações. Já o progresso moral é conquistado por meio da reforma íntima, onde cada um de nós deve trabalhar as nossas mazelas. Essa condição pode ser caracterizada pela fala de Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar as suas más inclinações”.
Em O Livro dos Espíritos na questão 675, Kardec pergunta aos espíritos superiores: “se por trabalho só se devem entender as ocupações materiais?” E eles responderam que trabalho é toda ocupação útil. Constatamos, dessa forma, que os estudos, a difusão da Doutrina Espírita e todas as tarefas desenvolvidas nas Casas Espíritas são ocupações úteis e dignificantes. Contudo, tais Casas, na sua grande maioria, estão carentes de tarefeiros. Analogamente, o evangelista Lucas (Lc 10:2) nos relata as palavras do nosso modelo e guia, Jesus: “Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos”. Tal afirmativa há mais de dois mil anos ainda permanece extremamente atual. Pois a necessidade de tarefeiros nas Casas Espíritas é grande, sobretudo, neste momento pandêmico. Ainda assim, muitos não buscam um serviço nas Fraternidades Espíritas por não se acharem capacitados, ou até mesmo por pensarem que as atividades que irão realizar sejam simples demais e por isso não aceitam o serviço disponível. Outros, ainda, ficam aguardando convites pessoais para ingressar nas tarefas. Outros veem dificuldades em alinhar o estudo à tarefa. Mas não podemos esquecer que o trabalho é uma benção transformadora que nos ajuda reformar a nossa intimidade.
É importante frisar que a vida continua e no Plano Maior os trabalhadores da Seara Espírita buscam aprimorar, ainda mais, a evolução e o progresso próprio e coletivo. Há relato do Espírito André Luiz, nos livros Nosso Lar, Os Mensageiros, Ação e Reação, de diversos postos de tarefas onde os Benfeitores nos mostram atividades constantes e exemplos nobres de dedicação ao Bem.
Dessa forma, sem sofrimento, devemos aproveitar a encarnação atual e dedicar ao trabalho-serviço em favor do próximo e da comunidade. Pois, na seara espírita quem abraça uma tarefa é o primeiro a ser beneficiado.
Darci Sabino Filho
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