Não seja espírita só no centro
As pessoas que vão à casa espírita devem fazê-lo cientes de que estão adentrando uma instituição que, por meio dos ensinamentos legados por Jesus, Allan Kardec e diversos Espíritos superiores, visa auxiliá-las em sua evolução espiritual, fornecendo-lhe oportunidades de estudo e trabalho. Assim, o centro precisa ser visto como um local sagrado, onde o respeito, a fraternidade e a paz reinem em todos os corações. Para muitos, ele será um hospital que fornecerá o tratamento adequado. Para outros, será visto como importante escola de aprendizado e preparação para a vida. Por fim, alguns o verão como elevada escola de trabalho da seara do Cristo.
Desta forma, para melhor aproveitarmos o tempo que permanecemos entre suas paredes, é imprescindível que tenhamos postura mental adequada, predominando o equilíbrio e a harmonia. Evitar o sono, as conversas paralelas e o pensamento vago são medidas fundamentais que denotam não apenas o respeito que temos pela casa que nos acolhe, mas também demonstra a atitude íntima do discípulo que busca com afinco a compreensão das lições do Mestre Nazareno. Infelizmente, são abundantes as situações em que esses aspectos são desprezados. Além de não aprender, muitos ainda perturbam o ambiente e geram transtornos para a Espiritualidade.
Na residência de dona Isabel, relata-nos André Luiz que o companheiro encarnado Bentes, inspirado por mensageiro invisível de nobre posição, proferia palestra que era recebida com respeito pelos desencarnados. Contudo, o mesmo não ocorria no plano físico, onde observava-se uma instabilidade nos pensamentos. Os presentes estavam demasiadamente inquietos e em ansiosa expectativa, o que acabava perturbando o fluxo vibratório. Uma enorme irresponsabilidade era exibida principalmente pelos mais novos em conhecimentos doutrinários, cujas mentes permaneciam vagando bem longe dos comentários edificantes. Os amigos espirituais chegavam a ver as imagens mentais que emitiam. Alguns estavam pensando nas tarefas domésticas, outros se prendiam meramente na realização imediata dos objetivos que os haviam levado até ali. Atualmente é possível identificar pessoas com olhares vagos, talvez pensando na novela, no filme ou no futebol que estão deixando de assistir enquanto estão na casa espírita.
Segundo André, houve momentos em que o desequilíbrio atingiu proporções capazes de afetar a mediunidade de dona Isabel, bem como a recepção da intuição mediúnica do senhor Bentes, que parecia perder a sequência de ideias em sua palestra. Aproveitando o ensejo, o mentor Aniceto considerou: “Muitos estudiosos do espiritismo se preocupam com o problema da concentração em trabalhos de natureza espiritual. Não são poucos os que estabelecem padrão ao aspecto exterior da pessoa concentrada, os que exigem determinada atitude corporal e os que esperam resultados rápidos nas atividades dessa ordem. Entretanto, quem diz concentrar, forçosamente se refere ao ato de congregar alguma coisa. Ora, se os amigos encarnados não tomam a sério as responsabilidades que lhes dizem respeito, fora dos recintos de prática espiritista, se, porventura, são cultores da leviandade, da indiferença, do erro deliberado e incessante, da teimosia, da inobservância interna dos conselhos de perfeição cedidos a outrem, que poderão concentrar nos momentos fugazes de serviço espiritual? Boa concentração exige vida reta. Para que os nossos pensamentos se congreguem uns aos outros, fornecendo o potencial de nobre união para o bem, é indispensável o trabalho preparatório de atividades mentais na meditação de ordem superior. A atitude íntima de relaxamento, ante as lições evangélicas recebidas, não pode conferir ao crente, ou ao cooperador, a concentração de forças espirituais no serviço de elevação, tão só porque estes se entreguem, apenas por alguns minutos na semana, a pensamentos compulsórios de amor cristão. Como veem, o assunto é complexo e demanda longas considerações e ensinamentos”.¹
Ao contrário do que muitos pensam, concentração não é atitude exterior, mas sim a associação a algo, mas não adianta absolutamente nada querer ou tentar se associar ao bem exclusivamente no decorrer dos trabalhos espirituais. Não se cultiva o bem somente nesse momento. Não se é espírita só no centro. De que adianta conhecer o espiritismo e não o praticar? Para nos congregarmos às forças da luz é preciso andarmos na luz, é necessário ter comportamento condizente com a Doutrina que professamos. Devido a essas condutas inadequadas das pessoas, tanto dentro quanto fora das casas espíritas, André percebeu que a palestra proferida pelo senhor Bentes proporcionava benefícios imediatos aos desencarnados, que recebiam consolação e conforto imediatos. Dentre os encarnados, se não fosse o devotamento dos amigos espirituais, o aproveitamento seria quase nulo, pois a maioria cochilava ou estava com os pensamentos desajustados, facilitando as influências nocivas.
Diante de tudo isso, constata-se que nós, enquanto Espírito imortais, devemos primar para sermos melhores a cada dia, sempre nos ajustando ao Evangelho e nos sintonizando com nossos guias e mentores. Afinal de contas, Aniceto deixou um alerta que, em outras palavras, quer dizer o seguinte: não seja espírita só no centro ou enquanto desempenha suas atividades doutrinárias; seja espírita sempre, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.
Valdir Pedrosa
¹Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco
Cândido Xavier – capítulo 47 (No trabalho ativo).
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