Reforme-se ou seja um infeliz no além

O relógio apontava pouco mais de dezoito horas quando os espíritos infelizes que participariam da reunião começaram a chegar à residência de dona Isabel. Eram irmãos em situação de grande perturbação e sofrimento que, se pudessem ser observados pelos encarnados, seriam vistos como a personificação da necessidade de mudarmos urgentemente nossas atitudes perante a vida. Ocorre que muitos confrades frequentam reuniões e realizam tarefas diversas, porém permanecem enraizados no egoísmo, sem atender aos imperativos de evolução. Renunciam ao esforço de se educarem com base no Evangelho e alimentam apenas vagas noções de espiritualidade. Passarão a encarnação inteira dentro de uma instituição espiritista, desencarnarão e chegarão ao plano extrafísico sem serem, de fato, espíritas. Quem não busca, com sinceridade, se reformar intimamente à luz da Boa Nova do Cristo, corre o risco de chegar do outro lado da vida como esses irmãos: assemelhando-se a cadáveres, com rostos esqueléticos e movimentando-se com extrema dificuldade em verdadeiras cenas de horror.
Com sua costumeira gentileza, Aniceto esclareceu que o lar de Isabel e Isidoro não estava preparado para receber entidades perversas. Não obstante, se encontrava apto a auxiliar os sofredores desencarnados, amargurados e abatidos, que desejassem realmente a renovação, porém que não sabiam até aquele momento por onde iniciar. André Luiz percebeu, consternado, que havia alguns que chegavam com ataduras e faixas, enquanto outros mantinham as mãos no ventre pressionando feridas.
Ao verificar o assombro de seus discípulos, o estimado mentor explicou a André e Vicente as causas de um cenário tão terrível: “Muitos não concordam ainda com as realidades da morte corporal. E toda essa gente, de modo geral, está prisioneira da ideia de enfermidade. Existem pessoas, e vocês, como médicos, as terão conhecido largamente, que cultivam as moléstias com verdadeira volúpia. Apaixonam-se pelos diagnósticos exatos, acompanham no corpo, com indefinível ardor, a manifestação dos indícios mórbidos, estudam a teoria da doença de que são portadoras, como jamais analisam um dever justo no quadro das obrigações diárias, e quando não dispõem das informações nos livros, estimam a longa atenção dos médicos, os minuciosos cuidados da enfermagem e as compridas dissertações sobre a enfermidade de que se constituem voluntárias prisioneiras. Sobrevindo a desencarnação, é muito difícil o acordo entre elas e a verdade, porquanto prosseguem mantendo a ideia dominante. Às vezes, no fundo, são boas almas, dedicadas aos parentes do sangue e aproveitáveis na esfera restrita de entendimento a que se recolhem, mas, no entanto, carregadas de viciação mental por muitos séculos consecutivos. (…) Demoramo-nos todos a escapar da velha concha do individualismo. A visão da universalidade custa preço alto e nem sempre estamos dispostos a pagá-lo. Não queremos renunciar ao gosto antigo, fugimos aos sacrifícios louváveis. Nessas circunstâncias, o mundo que prevalece para a alma desencarnada, por longo tempo, é o reino pessoal de nossas criações inferiores. Ora, desse modo, quem cultivou a enfermidade com adoração, submeteu-se-lhe ao império. É lógico que devemos, quando encarnados, prestar toda a assistência ao corpo físico, que funciona, para nós, como vaso sagrado, mas remediar a saúde e viciar a mente são duas atitudes essencialmente antagônicas entre si.”[1]
Em outras palavras: cultuamos as enfermidades e menosprezamos a saúde, tanto a física quanto a mental. Se nos esforçamos tanto para entender as doenças, por que não nos empenhamos também em nos reformarmos intimamente? Do mesmo modo que se matricula em uma academia para cuidar do corpo físico, é imprescindível se inscrever na escola do Evangelho. Inúmeros são os indivíduos que simplesmente passam pela Terra. Passam por passar. Não deixam nenhum legado de fundo moral. Não se interessam pelo estudo das leis da vida. Para elas, Jesus não passa de um artigo religioso e seus ensinamentos contém tão somente um código de conduta a ser seguido por seus adeptos mais sinceros e fiéis. Lamentavelmente, há um contingente bastante considerável de pessoas nestas condições.
Contudo, como todas as nossas decisões geram consequências, de acordo com a lei de causa e efeito, são esses irmãos que, após desencarnarem e muito padecerem no plano espiritual, aportam nas reuniões mediúnicas, infelizes, perturbados e desorientados, em busca da luz do conhecimento, do consolo e do esclarecimento que tanto desprezaram enquanto estavam encarnados.
O aviso de Aniceto foi dado… Quem tem ouvidos de ouvir, ouça!

Valdir Pedrosa

[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco
Cândido Xavier – capítulo 43 (Antes da reunião).

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Tem cuidado contigo: ama, trabalha, espera, perdoa.

Atualmente é comum as pessoas se queixarem da própria situação em que vivem, sem encontrarem uma resposta adequada para o que fazem e sentem e, principalmente, como mudar essa situação.

Então o que fazer para mudar essa situação?

Em breve consulta e leitura do livro “Paulo e Estevão”, Abigail em conversa com Paulo dispõe acerca dos procedimentos que poderiam levar o ex-rabino a compreender as angústias espirituais sentidas naquele momento.

Claro, não queremos comparar a alma portentosa de Paulo com a nossa, mas sim aplicar esses conceitos de amar, trabalhar, esperar e confiar ao momento que passamos. Seremos tão firmes na fé quanto Paulo, mas é necessário guardar a disciplina para “voos mais altos, pois voos altos necessitam de asas fortes”.

Primeira coisa a fazer é se preservar e, principalmente, se movimentar em direção ao bem. E, entendemos, que diante da nossa falta de habilidade em ajudar, nos deparamos sem ação para fazer isso. Para melhor compreensão desta parte, como exemplo, citamos ajudar um cego a atravessar a rua. Como é complicado darmos uma simples mão para que se atravesse a rua, pensamos se daremos conta, se alguém está olhando, se o cego aceitará nossa ajuda, etc. e depois ficamos aliviados por uma boa alma se dispor a isso. É só exemplo, mas tem várias situações que não sabemos como ajudar.

Mas guardemos cuidado disso, ninguém nasce pronto. Se quiser ajudar, coloque-se a trabalhar, sem importar com o que o outro vai pensar ou melhor julgar. Vamos nos dar o direito de sermos úteis em qualquer lugar em que estivermos e se não soubermos fazer contar com irmãos que possam nos ajudar. Lembremos: Jesus não prescindiu dos doze (12) apóstolos para sua missão na Terra.

Assim, estaremos nos preservando de qualquer adoecimento ou enfermidade, pois estaremos a trabalho do Bem Maior. O espaço para queixas e reclamações será menor, dado que estaremos em trabalho nos preservando desses males.

Feitos esses simples procedimentos, passamos a abordar as sugestões de Abigail para corresponder ao que o Cristo espera de cada um de nós na presente reencarnação.

Lembrando que não somos Espíritos superiores ainda, nossa conduta guarda relação com o que pensamos e os Espíritos superiores não esperam de nós grandes feitos, mas sim o combate ferrenho de nossas imperfeições. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más (Evangelho Segundo Espiritismo, capítulo XVII, Sede Perfeitos, item 4).

Abigail nos recorda:
“Ama a DEUS acima de todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo, do jeito que acredita e que pode ser útil onde estiveres.” Não é necessário relembrar ao próximo o que ele é, ele já sabe, ainda que pense que não. “Jogar pedras” – mais fácil que entender a conduta e dar uma palavra de carinho, ainda que firme (Parábola da mulher adúltera, João 8: 1-11). Ninguém nesse mundo está livre de erros. Deus espera que sejamos um reflexo dos seus atos, ou seja, quanto mais benevolentes, generosos e servirmos ao próximo mais estaremos perto Dele. Construindo esse Reino de Deus que se encontra em nós mesmos. Gratidão a Deus por sermos o que somos e confiança irrestrita no seu amor e o quanto isso nos favorece.

Trabalha, “as ocupações materiais são necessárias para a sobrevivência dos homens e para o bem-estar de todos os povos, pois é por elas que se opera o levantamento das casas, o movimento de todas as indústrias, enfim, todas as atividades da sociedade, em todos os países, em troca de experiências. Quanto as ocupações espirituais Jesus nos esclarece: a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Filosofia Espírita, Espírito Miramez, comentários a questão 675 do Livro dos Espíritos). Coloque-se em posição de servir ao bem, começando pela família e estendendo os benefícios aos demais círculos de ação. Toda ocupação útil é trabalho, assim procure boas obras para ler, uma tarefa na casa espírita, quando possível, uma gentileza no trânsito ou na condução, etc e se capacitará para as grande obras.

Espera, é necessário paciência para atingirmos os objetivos propostos para nossa reencarnação. Em passado não tão remoto, entre as vidas passadas e a atual, agimos em desfavor de nós mesmos, em atitudes equivocadas que expressam a condição que vivemos atualmente. A vida não é tão boa, ninguém nos compreende, muitas dificuldades no ambiente de trabalho, etc. Toda essa situação tem origem nas nossas atitudes eivadas de rebeldia e afastamento da Lei Divina. Mas a rebeldia a lei nos leva à situação atual? Sim, quantos de nós diante de uma situação que nos pede paciência, levamos a cabo a nossa vontade sem importar com as consequências que advirão dos nossos atos? Exemplos temos aos montes, imprudência ao volante, palavras ríspidas, condutas inadequadas, irreflexões diversas, etc.

“Construir pode ser a tarefa lenta e difícil de anos. Destruir pode ser o ato impulsivo de um único dia”, Winston Churchill.

Perdoar, no dicionário, o significado é ato de desculpar alguém, sem receio de relevar tais atos. Pergunta: lembraste da frase que Jesus proferiu no Calvário? “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Procedimento muito comum é tentarmos nos vingar a qualquer custo. Mas Deus é Pai vigilante e sua justiça alcança a todos os devedores. Não é necessário nossa intervenção na cobrança, pois aquele que comete uma falta já chama para si a devida correção, dentro da lei de justiça e amor.

Assim meus irmãos, lembrando esta grata conversa de Abigail e Paulo, desejamos a todos próspera vida, dentro dos ditames do Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo.

Avante meus irmãos, para o Alto.

João Jacques Freitas Gonçalves

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Novos tempos, novos ventos, novos começos!

Joanna de Ângelis no Capítulo 12, Consciência e Hábitos, do livro Momentos de Consciência, psicografado por Divaldo Franco, aborda a questão da importância da construção de hábitos edificantes. Deve o homem, pois cultivar a boa vontade, no ato de empenhar-se pelo seu progresso espiritual. Novos hábitos, em substituição àqueles que não permitem o indivíduo crescer espiritualmente, geram mais “consciência de ser”. Eles permitem que os seres se aproximem cada vez mais de um ideal humano de iluminação espiritual. Elucida a mentora: “A repetição dos atos gera hábitos e estes tornam-se memórias, que passam a funcionar automaticamente. Se eleges hábitos mentais de discernimento para o correto, agirás com segurança e essas memórias funcionarão automaticamente, amadurecendo-te intelectiva e afetivamente, com este comportamento oferecendo-te consciência de ti mesmo, identificação com o teu ‘Eu’ profundo.”
Vivemos em uma época de transição entre o velho e o novo. Os ”ventos” carregados de todas as mudanças necessárias, trazem convites para se firmar novos hábitos, deixando todo o peso da “velha carga” que aprisiona para trás. Novos tempos sempre trazem excelentes oportunidades! Há trabalho por toda a parte apenas esperando para ser feito. Assim reconhece quem já despertou espiritualmente para a importância do trabalho na seara bendita do Cristo. Mas sim, são tempos de transição planetária, e por isso é ainda mais desafiante estar encarnado na Terra. Novas etapas, novas oportunidades, novos começos e “re-começos”, novas “pedras no sapato! Cada ser humano caminha para o encontro do seu “verdadeiro eu”. Mais cedo ou mais tarde, despertará para a necessidade da reforma íntima, e posteriormente para a sua continuidade, através da necessidade do aprimoramento moral. Essencial também é praticar a gratidão, essa sabedoria máxima geradora e mantenedora da vida! Lições importantíssimas esperam por todos. O coração, centro de alma, deve estar sempre em prontidão aos aprendizados necessários. Aprendizados estes que nos elevam a patamares cada vez mais próximos do verdadeiro amor incondicional. A cada nova estação neste “trem” da vida, a destinação final aproxima-se. Importante ser portador da prática da fé. Aquela que traz a certeza de que tudo já deu certo! A fé move as engrenagens do tempo e mantém a luz do coração acesa em todo aquele que já descobriu que, se Deus é a força, então é necessário a entrega. Uma vez feita verdadeiramente esta entrega, as correntes dos melhores ventos começam a soprar a favor. Joanna fecha com chave de ouro o Capítulo 12, refletindo sobre uma máxima de Jesus: “O reino dos Céus está dentro de vós – acentuou Jesus com infinita sabedoria, em um tempo de grande ignorância e com um conteúdo de extraordinária atualidade.”

Denise Castelo Nogueira

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A prática do bem

Com sua profusa sabedoria, a Excelsitude Divina utiliza a cronologia para que a criação possa expressar potenciais, dentro de seu quadro evolutivo.
Nesta perspectiva, do Átomo ao Arcanjo, as possibilidades do tempo ensejam o progresso nos filhos do Senhor. Desafiador, entretanto, os indivíduos pensantes, suprassumo da evolução, conforme supõe a Biologia, devem entender o valor do tempo na prática do bem, em proveito de si próprios.
Ainda arraigados ao materialismo feroz, com certa dificuldade, começamos a vislumbrar a necessidade de observar as luzes espirituais libertadoras, por vezes, diante das dores multivariadas, que são oportunidades de superação ao longo do caminho. Sob esse soslaio, verificamos que o bem direcionado a outrem, é capaz de nos fornecer um refrigério nas sufocantes emoções deturpadas de cada dia.
Embora muitos pensem ser as “grandes obras” o supremo bem aqui na Terra, conquanto sejam louváveis, é imperioso enaltecer que todas elas partiram das mais rudimentares iniciativas, como a palavra amiga entre seres, o planejamento generoso de almas, as conversas quase casuais, o estímulo fraterno. Quantos, sem saber, participaram da ideia nascente de companheiros em busca da evolução moral? Da mesma maneira, as lágrimas compartilhadas, os sorrisos direcionados, as orações sentidas e vivenciadas, bem como o amplexo simples, atestam a possibilidade de qualquer Espírito fazer algo em benefício do próximo.
Sabemos que cada segundo que se passa é pretérito, mas, também, oportunidade de renovação. É tempo de lembrarmo-nos de Jesus que, em todos os segundos de sua passagem conosco, mostrou-nos a importância do dinamismo, na prática do amor, da caridade e da indulgência.

Jerônimo Ferreira

Referência: Emmanuel, Caminho, Verdade e Vida. Lição 60

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A prece pode transformar

“A mente centralizada na oração pode ser comparada a uma flor estelar, aberta ante o infinito, absorvendo-lhe o orvalho nutriente da vida e luz.”1
A prece, quando feita com a mente sintonizada com o plano superior, e aliada à higiene do espírito, nos coloca em contato direto com o Criador. André Luiz, na citação acima, nos esclarece que ao orarmos com a “mente centralizada”, criamos as condições necessárias para recebermos do mais alto o “nutriente” divino que irá nos beneficiar, seja qual for a nossa necessidade. Ao orarmos com amor e sinceridade, nos “blindamos” contra o mal, nos ligamos ao plano superior e criamos campo para que o bem maior, por meio da espiritualidade amiga, consiga se ligar a nós e trazer o lenitivo de luz que tanto necessitamos.
“A prece é o amor que beija o sofrimento e o consola, é a caridade que envolve o infortúnio e reanima o sofredor, retemperando-lhe as energias.”2
Por meio da prece, nossa caminhada neste planeta, que por vezes se faz tão sofrida, se transforma em suave escalada rumo à nossa própria redenção, ela é a luz que se acende em meio à tenebrosa nevoa de pessimismo que paira no ambiente terreno, é o alimento indispensável do Espírito que estagia na matéria grosseira para se depurar.
Como o relâmpago prenunciando a tempestade, a oração precede o eflúvio de sentimentos maravilhosos que invade o imo daquele que se eleva e comunga do amor divino com toda a criação.
Seja no êxtase ou na petição, na alegria ou na aflição, na dor ou na gratidão, a prece nos eleva acima das vicissitudes da matéria a exteriorizar e elevar nossa mente e coração.

Fábio Noronha

Bibliografia:
1 Mecanismos da Mediunidade. Chico Xavier, por André Luiz. Cap. 25.
2 O Cavaleiro de Numiers. Yvonne do Amaral Pereira,
por Charles. Parte 4, cap. 3.

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Amor e respeito à natureza

Em uma paisagem belíssima que lembrava os salões verdes de “Nosso Lar”, o superior hierárquico dos trabalhadores espirituais do campo solicitou a Aniceto que interpretasse uma lição evangélica. O querido benfeitor atendeu de pronto e abriu o Evangelho do Cristo na carta escrita por Paulo de Tarso aos Romanos[1]. Enquanto meditava, sublimada luz lhe aureolava a fronte. Diante do profundo silêncio que reinava no ambiente e total interesse dos colaboradores da gleba, bois, muares e aves se aproximaram, atraídos por forças magnéticas que André não conseguiu compreender.
Após a leitura do ensinamento do Apóstolo dos Gentios, Aniceto iniciou os comentários ponderando que há milênios a Natureza espera a compreensão e a colaboração dos homens, todavia só recebe a opressão de todas as vaidades humanas. Lembrou que muitas vezes o auxílio dos trabalhadores espirituais do solo é, lamentavelmente, convertido em baixas explorações no campo dos negócios terrestres. Destacou que a maioria dos cultivadores da terra tudo exige sem nada oferecer.
A parte seguinte da palestra de Aniceto é uma verdadeira ode à Natureza, conclamando o homem a assumir seus deveres e responsabilidades perante a grande obra do Criador. Além disso, destaca-se a impressionante atualidade do ensino, embora a primeira edição do livro em estudo tenha sido publicada no distante ano de 1944: “Enquanto zelais, cuidadosamente, pela manutenção das bases da vida, tendes visto a civilização funcionando qual vigorosa máquina de triturar, convertendo-se os homens, nossos irmãos, em pequenos Moloques[2] de pão, carne e vinho, absolutamente mergulhados na viciação dos sentimentos e nos excessos da alimentação, despreocupados do imenso débito para com a Natureza amorável e generosa. Eles oprimem as criaturas inferiores, ferem as forças benfeitoras da vida, são ingratos para com as fontes do bem, atendem às indústrias ruralistas, mais pela vaidade e ambição de ganhar, que lhes são próprias, que pelo espírito de amor e utilidade, mas também não passam de infelizes servos das paixões desvairadas. Traçam programas de riqueza mentirosa, que lhes constituem a ruína; escrevem tratados de política econômica, que redundam em guerra destruidora; desenvolvem o comércio do ganho indébito, colhendo as complicações internacionais que dão curso à miséria; dominam os mais fracos e os exploram, acordando, porém, mais tarde, entre os monstros do ódio! É para eles, nossos semelhantes encarnados na Crosta, que devemos voltar igualmente os olhos, com espírito de tolerância e fraternidade. Ajudemo-los ainda, agora e sempre! Não esqueçamos que o Senhor está esperando pelo futuro deles! Escutemos os gemidos da criação, pedindo a luz do raciocínio humano, mas não olvidemos, também, a lágrima desses escravos da corrupção, em cujas fileiras permanecíamos até ontem, auxiliando-os a despertar a consciência divina para a vida eterna! Ainda que rodeiem o campo de vaidades e insolências, auxiliemo-los ainda, O Senhor reserva acréscimos sublimes de valores evolutivos aos seres sacrificados. Não olvidará Ele a árvore útil, o animal exterminado, o ser humilde que se consumiu em benefício de outro ser! Cooperemos, por nossa vez, no despertar dos homens, nossos irmãos, relativamente ao nosso débito para com a Natureza maternal.”[3]
Aniceto finalizou comentando a importância do nitrogênio para a vida no planeta. Trata-se de gás inerte, incolor, inodoro e insípido, também conhecido como azoto. O ciclo do nitrogênio é o processo através do qual ele circula pelas plantas e pelo solo sob ação de micro-organismos, passando por vários procedimentos até que lhe seja possível se fixar nas raízes das plantas. Por ser de baixa reatividade, não tem como o nitrogênio ser obtido diretamente de sua fonte primária e utilizado pelas plantas. Ele precisa ser decomposto por bactérias e algumas algas azuis portadoras dessa característica. O ciclo possui diversos passos e ocorre, inicialmente, quando o nitrogênio em estado gasoso na atmosfera, se transforma em nitrato e amônia, beneficiando os vegetais, e em aminoácidos, beneficiando os animais. A partir daí cada etapa se desenvolve obedecendo a criterioso e perfeito programa da Natureza. Cabe ressaltar que o nitrogênio é um componente que faz parte da composição de duas moléculas orgânicas de fundamental relevância para os seres vivos: as proteínas e os ácidos nucleicos.[4] [5]
Face ao exposto, o nobre mentor espiritual, cercado pelos animais que pareciam estar atentos a sua fala, destacou como é fundamental que o homem se conscientize da premente necessidade de se tornar um cooperador do planeta, sem se converter em exterminador da fauna nem destruidor da flora, mas sim amando a terra, sem explorá-la com objetivos inferiores. “Observamos com o Evangelho que a criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus encarnados! Concordamos que as criaturas inferiores têm suportado o peso de iniquidades imensas! Continuemos em auxílio delas, mas não nos percamos em vãs contendas. Os homens esperam também a nossa manifestação espiritual! Desse modo, ajudemos a todos, no capítulo do grande entendimento.”[3] A lição é clara: dependemos uns dos outros e todos somos responsáveis pela vida no planeta.

Valdir Pedrosa

[1] Epístola de Paulo aos Romanos 8:19-21.
[2] Moloque era um deus adorado pelos amonitas na terra de
Canaã, cujo principal ritual era o sacrifício de crianças.
[3] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado
por Francisco Cândido Xavier – capítulo 42 (Evangelho no
ambiente rural).
[4] www.infoescola.com/meio-ambiente/ciclo-do-nitrogenio/
[5] www.brasilescola.uol.com.br/biologia/ciclo-nitrogenio.htm

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Em contrapartida

Eu conheci a Doutrina Espírita em minha juventude, fase da vida muito favorável às mudanças. E convenhamos – mudar não é fácil! No entanto, reconhecer que as bases espíritas estão naturalmente presentes nos múltiplos campos do conhecimento humano, facilita bastante. Dizendo de outra forma: o espiritismo não pretende ser uma doutrina de contradição, mas sim de iluminação. Vejamos um exemplo.
Entre as ciências biológicas existe um conteúdo muito interessante denominado “Relações ecológicas interespecíficas”. Nele, encontraremos os diversos modos pelos quais as espécies se relacionam dentro de uma harmonia que revela a existência de uma inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Assim, um beija flor em busca do néctar é muito mais do que um simples processo de polinização. Trata-se da própria expressão do Criador dentro de uma realidade de intercâmbio, pois a ave promove a reprodução da flor como contrapartida. Da mesma forma, as dores da alma são frequentemente motivadas pela não percepção de que a CONTRAPARTIDA É A REGRA DO JOGO. Analisemos as relações amorosas, as familiares, as comerciais, sem o valor da retribuição e, pronto – sofrimento à vista! Acontece que a contrapartida, como não poderia deixar de ser, constitui-se a base sublime das relações que se estabelecem entre as almas em jornada na Terra e os espíritos. Neste caso, traduzimos contrapartida como “Intercâmbio mediúnico”. No livro Mediunidade e Sintonia, o espírito Emmanuel assevera que “Se o homem recebe o concurso dos Espíritos Benfeitores, é natural que os Espíritos Benfeitores algo esperem igualmente do homem”. Notemos, portanto, que a mesma relação ecológica que se estabelece ao nível dos seres vivos também está presente na dimensão do espírito.
O desconhecimento dessa realidade faz com que a pessoa gaste muito tempo e muita energia na pretensão de ser servida e não servir, de ser elogiada e não elogiar, de receber e não se dar, ser perdoada e não perdoar, ser amada e não amar. No entanto, o Evangelho de Jesus e a Doutrina Espírita nos remetem a um movimento exatamente contrário, oferecendo-nos como guia, por exemplo, a oração de São Francisco – “Senhor, fazei que eu procure mais, consolar que ser consolado. Compreender, que ser compreendido, amar que ser amado. Pois é dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado”.
Neste sentido, o médium não pode ignorar A SUA CONTRAPARTIDA em resposta a todos os benefícios potenciais que o intercâmbio mediúnico pode lhe propiciar. É um equívoco frequentar grupos de estudo e reuniões de educação mediúnica desconsiderando que o Evangelho é uma valiosa modalidade do Livro dos Médiuns. É pelo exercício constante da caridade, da simplicidade, do desapego material, da humildade, que ofereceremos aos espíritos a possibilidade da comunicação e da intervenção amorosa em nossa realidade individual e coletiva. É imprescindível assumir um papel ativo diante do trabalho mediúnico por meio de testemunhos diários no seu campo de ação promovendo belos avanços nos diversos setores da vida. Emmanuel na obra supracitada resume o tema afirmando que o “progresso universal, em todos os tempos, é obra de intercâmbio”. E quem não deseja o progresso universal… EM CONTRAPARTIDA?

Vinícius Moura

Referência:
Mediunidade e sintonia. Francisco Cândido Xavier ditado pelo
espírito Emmanuel. Cap.4: Intercâmbio.

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Um passo além…

Encontraremos em Aristóteles uma reflexão bem profunda que diz: “O todo é sempre maior que a soma de suas partes.” Ao apreciarmos essa bela filosofia e associarmos à Doutrina Espírita, conseguiremos compreender rapidamente como ela ocorre na prática. A partir do momento em que compreendemos que somos um coletivo de pensamentos, sentimentos e expressões; que nunca estamos sós; que agimos sempre acompanhados por “uma multidão de testemunhas”, passamos a ter maior consciência de nossos atos. E, por consequência, começamos a refletir com mais critério acerca de tudo aquilo que ocorre em nossas vidas.

O espiritismo nos revela o quanto somos influenciados uns pelos outros. E, neste sentido, nos responsabiliza ainda mais diante de nossos atos, pois nos faz compreender que o problema de um é o de todos. Não estamos sós e não avançamos sós. Compreender que nossa participação tem um efeito coletivo é a base para a edificação da melhoria de nós mesmos e, por consequência, de todos. É neste âmbito que, ao somarmos todas as partes iremos sempre alcançar algo maior daquilo que já possuímos. Esse talvez seja o princípio filosófico do conceito de evolução.

Contudo, precisamos ainda discutir o nosso modo de proceder. Ideologias e filosofias são plataformas significativas para que as ações se expressem. Crenças e concepções só se fortalecem com atitudes e realizações. Tiago já nos advertia que “a fé sem obras é morta”.

Aqui, convidamos a todos para darem um passo além…

Um passo além de onde estamos, do que temos feito, do que temos pensado, do modo como temos relacionado…

Um passo além do nosso modo automático de agir, de falar e de sentir…

Compreendendo a evolução como um movimento contínuo, precisamos entender claramente que passo além é este que precisamos dar. Emmanuel, no livro Justiça Divina, no capítulo “Nas leis do amor”, nos explica o sentimento e atitudes que são os pilares para alcançarmos a evolução: “À medida que penetramos os segredos do amor puro, vamos reconhecendo que ninguém pode ser realmente feliz sem fazer a felicidade alheia no caminho em que avança.”

O passo que precisamos dar é além de nós mesmos. Vencermos nosso egoísmo e, por consequência, tudo aquilo que se desdobra dele em nosso dia a dia, em nossas relações; em nosso trabalho, família, instituições; de modo geral, em tudo aquilo que nos associamos.

Em Fonte Viva, no capítulo “A cortina do ‘eu’”, Emmanuel tece uma bela dissertação sobre o quão sutis são as faces por onde o egoísmo se esconde. Enxergar por detrás da cortina exige de todos nós abertura e mobilidade. Ele mesmo nos alerta que “por trás da cortina do “eu”, conservamos lamentável cegueira diante da vida.” E ampliando nosso conceito de ego ele nos mostra o quanto continuamos sendo egoístas até quando agimos enquanto “coletividade”. E, como conclusão de nossa reflexão, fica a mensagem de Paulo, aos Filipenses, que é a introdução deste capítulo de Emmanuel (que vale muito ser conferido): “Porque todos buscam o que é seu e não o que é do Cristo Jesus.”

Carla Barros

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A influência do Espiritismo no progresso da humanidade

“Ninguém deita remendo de pano novo em veste velha, porque semelhante remendo rompe a veste, e faz-se maior a rotura.” Mateus, 9:16

O progresso da humanidade é um processo de aquisição gradual de virtudes, sobre as quais se assenta a renovação espiritual da humanidade. Entendendo que “A virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do homem virtuoso.” [1] ou seja, daquele homem que se porta e, em sociedade, se comporta à luz da orientação do Espiritismo cristão. Segundo o evangelista Mateus, Jesus nos alerta que a aquisição de novos hábitos implica o rompimento com antigas condutas, muitas delas cristalizadas ao longo de encarnações e que podem ser exemplifica das por vestes velhas. Mesmo sendo uma lei natural que nos impulsiona ao progresso, quis Deus que cada um fosse o responsável pelo seu adiantamento: aqueles que mais se esforçam, melhores resultados obtêm. “Todo Espírito que se atrasa não pode queixar-se senão de si mesmo, assim como o que se adianta tem o mérito exclusivo do seu esforço, dando por isso maior apreço à felicidade conquistada.” [2]

Com esforço, a humanidade continuará a caminhar, pois só com o tempo as ideias se transformam; gerações serão necessárias para que o Espiritismo cristão possa ser compreendido, e mais do que isso, apreendido, sentido e praticado, em toda a sua extensão. A prevalência atual das ideias materialistas, decorrente do descompasso entre o progresso intelectual/material e o progresso moral, serão, sim, obstáculo. O Espiritismo, “Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, faz que os homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a vida futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que, por meio do presente, lhe é dado preparar o seu futuro. Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores, ensina aos homens a grande solidariedade que os há de unir como irmãos.” [3] Vencidos o orgulho e o egoísmo, que retardam o progresso da Humanidade, alcançaremos a “[…] suprema felicidade só é compartilhada pelos Espíritos perfeitos, ou, por outra, pelos puros Espíritos, que não a conseguem senão depois de haverem progredido em inteligência e moralidade.” [4]

Rômulo Novais
[1] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 126. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.
Cap. 17, item 8.

[2] KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Tradução de Manuel
Justiniano Quintão. 59. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Primeira
parte, cap. 3, item 7.
[3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon
Ribeiro. 89. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007, questão 799.
[4] KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Tradução de Manuel
Justiniano Quintão. 59. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Primeira
parte, cap. 3, item 7.

Sigamos acordados

O despertar, a cada dia, é uma nova oportunidade nessa escola de aprendizagem e crescimento espiritual, porém nem sempre nos damos conta dos detalhes dessa oportunidade. Abrimos os olhos e vemos; nos erguemos do leito e temos a capacidade de nos locomover; ouvimos os sons que nos chegam e os compreendemos; sentimos o cheiro familiar do alimento de cada dia, das flores e das pessoas que amamos.
Às vezes não nos conscientizamos de que são oportunidades, agimos de forma automatizada, mas são ferramentas imprescindíveis, são facilidades em nossa caminhada.

Não deveríamos deixar de agradecer por possuí-las. Velhos condicionamentos podem nos levar a focar a atenção no que nos falta e isso atrasa a nossa caminhada. Observemos nossos pensamentos repetitivos de queixas e lamentações e reflitamos que eles servem para nos manter em um falso lugar. Devemos escolher ser autores de nossa própria história. Valorizemos e aprimoremos nossa inteligência, cultivemos a empatia, a tolerância e a bondade para aprimorar as relações familiares, de trabalho e de convivência em geral. Se não utilizarmos bem o que temos, realizaremos menos do que poderíamos. Nos perderemos na queixa e deixaremos de crescer. As consequências continuam sendo de nossa responsabilidade.
As dificuldades que todos enfrentamos devem ser analisadas com um novo nível de consciência iluminada pela gratidão. Não são problemas, são oportunidades de aprendizado e crescimento espiritual. Aprender e mudar são os objetivos de nossa caminhada como seres em evolução. Se, sobretudo, temos a responsabilidade do exercício da mediunidade, realizemos mais, abandonemos a queixa e concentremos nossas energias, talentos e possibilidades na edificação do BEM em torno de nossos passos. Emmanuel nos aconselha que, “fé e obras de generosidade, perdão, humildade e amor” nos mantém “acordados para as oportunidades de serviço”. “Avancemos para diante… renunciando a nós mesmos.”

Lucia Elena Rodrigues