Objetivos da encarnação

Ao nos nos reconhecermos como Espíritos eternos, criados simples e ignorantes, porém sujeitos à lei do progresso, e nos conscientizarmos de que a verdadeira vida é a espiritual (tanto que a experiência material é passageira), somos levados quase que intuitivamente a nos questionar acerca da necessidade e dos objetivos da encarnação dos Espíritos. 

Allan Kardec, com o seu rigor metodológico e pedagógico, não deixou de abordar esse relevante tema junto aos Espíritos da codificação, o que foi feito nas perguntas 132 e 133 de O Livro dos Espíritos, as quais serão estudadas neste artigo. 

De forma direta, Allan Kardec questionou os Espíritos da codificação, na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos, qual seria o objetivo da encarnação dos Espíritos, ao que os instrutores espirituais assim responderam: 

“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da Criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.” 

Buscando extrair o espírito da letra, vemos que são várias as lições trazidas pelos instrutores espirituais na resposta citada. De início, observarmos que a encarnação é uma imposição de Deus, ou seja, durante o processo evolutivo do Espírito passará ele pela encarnação, pois tal experiência é necessária para se chegar à perfeição, conforme nos orientam os instrutores espirituais. 

E tal imposição não significa dizer que toda e qualquer encarnação (ou reencarnação) do Espírito será obrigatória, até mesmo porque, a depender do grau evolutivo do Espírito, poderá ele ter reencarnações voluntárias. A imposição a que aludem os instrutores espirituais é para que o Espírito, durante a sua história evolutiva, passe pela experiência encarnatória. 

E isso valerá, inclusive, para os Espíritos que desde o princípio seguiram o caminho do bem. Sobre esse ponto, nos esclarecem os instrutores espirituais, ao responder à pergunta de número 133, que: “Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e trabalhos, conseguintemente sem mérito”. 

Se a vivência da experiência encarnatória é uma imposição a todos os Espíritos, isso não significa dizer que todos deverão passar pela mesma quantidade de tal experiência e nem segundo as mesmas circunstâncias. A quantidade e a forma de nossa experiência encarnatória dependerão da maneira como decidirmos conduzir o nosso processo evolutivo, a partir do uso de nosso livre-arbítrio. 

Assim, aliás, nos esclarecem os instrutores espirituais na resposta à pergunta contida na letra “a” da questão de número 133 de O Livro dos Espíritos, de que o bom uso do livre arbítrio tende a abreviar o caminho, mas não retirar dele as experiências evolutivas. Conforme nos esclareceram os instrutores espirituais, os Espíritos que, desde o princípio, seguem o caminho do bem “Chegam mais depressa ao fim. Demais, as aflições da vida são muitas vezes a consequência da imperfeição do Espírito. Quanto menos imperfeições, tanto menos tormentos. Aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avaro, nem ambicioso, não sofrerá as torturas que se originaram desses defeitos”. 

Trabalhando esse tema, Allan Kardec, em A Gênese (FEB: 2008:249-250), nos explica que: “À medida que progride moralmente, o Espírito se desmaterializa, isto é, depura-se, com o subtrair-se à influência da matéria: sua vida se espiritualiza; suas faculdades e percepções se ampliam; sua felicidade se torna proporcional ao progresso realizado. Entretanto, como atua em virtude do seu livre-arbítrio, pode ele, por negligência ou má vontade, retardar o seu avanço; prolonga, conseguintemente, a duração de suas encarnações materiais, que, então, se lhe tornam uma punição, pois que, por falta sua, ele permanece nas categorias inferiores, obrigado a recomeçar a mesma tarefa. Depende, pois, do Espírito abreviar, pelo trabalho de depuração executado sobre si mesmo, a extensão do período das encarnações”. 

Prosseguindo na reflexão da resposta à pergunta 132 de O Livro dos Espíritos, acima citada, vemos que a encarnação, ao mesmo tempo em que permite a busca pela evolução espiritual, o que se dá com a luta contra as adversidades da vida e com os esforços necessários à própria sobrevivência do ser, também se mostra como instrumento por meio do qual o Espírito concorre para a obra geral da criação. 

A esse propósito, muito pertinente a lição trazida por Allan Kardec, em O Céu e Inferno (FEB, 2008:34), ao pontuar que: “A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao progresso material pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si. A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades”. 

Detalhando esse tema, Allan Kardec, em A Gênese (FEB, 2008:248-249), pontua que: “A obrigação que tem o Espírito encarnado de prover ao alimento do corpo, à sua segurança, ao seu bem-estar, o força a empregar suas faculdades em investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Útil, portanto, ao seu adiantamento é a sua união com a matéria. Daí o constituir uma necessidade a encarnação. Além disso, pelo trabalho inteligente que ele executa em seu proveito, sobre a matéria, auxilia a transformação e o progresso material do globo que lhe serve de habitação. É assim que, progredindo, colabora na obra do Criador, da qual se torna fator inconsciente”. 

Interessante observar, pois, que a experiência encarnatória é de suma importância para o processo evolutivo do Espírito. Ao vivenciar as dificuldades da matéria, o Espírito encarnado se vê obrigado a lutar para manter a sua sobrevivência, a educar-se e a conquistar virtudes com as condições de que dispõe. E, para isso, torna-se necessário encontrar meios e desenvolver pesquisas para viabilizar a sua própria existência naquele mundo, esforços que acabam por contribuir na evolução do orbe em que se encontra. 

Isso evidencia a solidariedade na criação. Como anota Allan Kardec na observação que faz na resposta à pergunta 132 de O Livro dos Espíritos, “A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo. Deus, porém, na sua sabedoria, quis que nessa mesma ação eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximar dele. Deste modo, por uma admirável lei da Providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza”. 

Cada nova experiência encarnatória representa uma oportunidade de evolução. “No intervalo de suas encarnações, o Espírito progride igualmente, no sentido de que aplica ao seu adiantamento os conhecimentos e a experiência que alcançou no decorrer da vida corporal: examina o que fez enquanto habitou a Terra, passa em revista o que aprendeu, reconhece suas faltas, traça planos e toma resoluções pelas quais conta guiar-se em nova existência, com a ideia de melhor se conduzir. Desse jeito, cada existência representa um passo para a frente no caminho do progresso, uma espécie de escola de aplicação” (A Gênese, FEB, 2008:249). E assim caminha o Espírito para a luz. 

Como se vê, a nossa experiência na vida corpórea é de suma importância para o nosso progresso e para a evolução do orbe em que habitamos. Que possamos, cientes disso, aproveitar cada instante nessa escola abençoada que é a Terra, utilizando as oportunidades que a vida nos oferece como degraus de nossa escalada evolutiva, na certeza de que Deus, nosso Pai, acompanha, amorosa e cuidadosamente, todos os nossos passos. 

Frederico Barbosa Gomes 

Humildade

Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus. (Mateus 5:3)

Certamente esta é uma das mais conhecidas bem-aventuranças proferidas por Jesus
no Sermão do Monte. Conforme Kardec nos esclarece no capítulo 7 de O Evangelho segundo o Espiritismo, a expressão “pobre de espírito” deve ser compreendida como equivalente àquele que é humilde, e não àquele tido como ignorante. Assim, Jesus coloca
a humildade como uma das características fundamentais para que possamos erigir o
Reino dos Céus – estado consciencial relativo à verdadeira paz e à felicidade genuína –
em nossa intimidade. Humberto de Campos, no livro Boa Nova, assevera que Jesus convidou, para o círculo daqueles que Lhe seguiriam de modo mais próximo, “os homens mais humildes e simples do lago de Genesaré” (cap. 5). Sem verdadeiramente reconhecermos nossa posição como criaturas ainda muito imperfeitas e que necessitam do apoio e do amparo divino, nada conquistaremos de novo.

Humildade é reconhecermos que somos filhos de um Pai que é todo misericórdia, amor e benevolência. Somos pequeninos em grandeza espiritual, ainda; nossa marcha evolutiva é lenta, incorremos nos mesmos equívocos por diversas vezes… No entanto, ao concebermos que há uma inteligência superior a nós que comanda todos os processos do Universo, reconhecemos que não temos controle sobre quase nada… Além disso, se reconhecemos que ao Criador pertencem todos os processos da vida, que Ele rege as leis do mundo físico e as leis morais, temos paciência para esperar o tempo de Deus. Como dizia Chico Xavier, a paciência desarticula os mecanismos do mal.

A humildade consiste, ainda, em pedirmos perdão: não poucas vezes sabemos que erramos em relação ao nosso próximo mas, por arrogância ou soberba, mantemo-nos a distancia, sem nos aproximarmos de nosso irmão com o coração aberto, buscando restabelecer a sintonia da concórdia. Ora alegamos vergonha por nossos atos, ora nos justificamos alegando que, se agimos daquele modo menos feliz, é porque o outro provocou aquele sentimento em nós. São os velhos hábitos cristalizados de culparmos os outros ao invés de reconhecermos a parcela de responsabilidade que nos cabe em cada situação.

Por fim, não nos esqueçamos de que ser humilde significa fazer a parte que nos compete sem cobrar ou esperar nada de ninguém, “sem criar problemas, e oferecendo à construção do bem de todos o melhor concurso de que sejamos capazes.” (Emmanuel, livro Encontro Marcado).

Maria do Rosário A. Pereira

Erraticidade: período de refazimento e aprendizado

“Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. (João 14:2.)”

Superada a compreensão de que a vida após a morte e a reencarnação são realidades da sabedoria Divina, uma nova questão se coloca: o que ocorre com as almas quando não estão encarnadas? Na questão 224 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta aos espíritos exatamente isto: “o que é a alma no intervalo entre as encarnações?” A resposta é direta: “Espírito errante, que aspira a novo destino, que espera.” Os dicionários da Língua Portuguesa dão como sinônimo de “errante” os termos “vagueante, que vagueia, que não tem residência fixa, que vive como nômade.” Desta forma, o termo derivado, erraticidade, que denomina este artigo, refere-se a momentos na vida dos espíritos em que eles vagam, livres da matéria tangível, podendo se deslocar pelos espaços do universo. O termo errante não traz, então, relação com o substantivo erro, como muitos, equivocadamente, consideram. Tal confusão decorre da associação que se faz entre a necessidade da reencarnação que a Lei de Progresso nos impõe e os erros e falhas que, ainda, cometemos com os que conosco se relacionam, em função da nossa baixa compreensão em relação à moral do Cristo.

Estar na erraticidade é estar na condição natural de espírito, é estar no “[…] mundo espírita, que preexiste e sobrevive a tudo”.¹ Estar encarnado é condição temporária do espírito. Assim, “Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana”, segundo Teilhard de Chardin.²

A condição de espírito errante causa curiosidade e especulações diversas entre os que não estudam seriamente a Doutrina Espírita, não raro criando mitos e teorias excêntricas sobre as relações entre os dois planos da vida,o plano dos encarnados (plano físico) e o plano dos desencarnados (plano espiritual). Com base, entretanto, nas informações trazidas no início do Capítulo VI de O Livro dos Espíritos aprendemos que o intervalo entre as reencarnações é de duração variável: “[…] Desde algumas horas até alguns milhares de séculos. Propriamente falando, não há extremo limite estabelecido para o estado de erraticidade, que pode prolongar-se muitíssimo, mas que nunca é perpétuo. Cedo ou tarde, o Espírito terá que volver a uma existência apropriada e purificá-lo das máculas de suas existências precedentes.”³

Na categoria de errantes, os Espíritos têm oportunidade de progredir. O estudo, o aconselhamento de Espíritos que lhes são superiores, a observação, as experiências vivenciadas, entre outros, facultam-lhes os meios de melhoria espiritual.4

O filme Nosso Lar destaca intensamente tal situação. O estado de erraticidade cessa quando o Espírito atinge o estágio da Perfeição Moral, tornando-se Espírito Puro. Não é mais errante, visto que chegou à perfeição, seu estado definitivo.5 Conforme o grau de perfeição que tenham alcançado, estes permanecem ligados a determinadas colônias na Espiritualidade. Nessas regiões elevadas do Plano Espiritual, atuam como orientadores, promovendo o progresso da humanidade terrestre.

Sendo a maioria dos Espíritos desencarnados em nosso planeta, a diversidade dos níveis evolutivos dos Espíritos errantes variam ao infinito. São mais ou menos felizes […] conforme seus méritos. Sofrem por efeito das paixões cuja essência conservaram, ou são felizes, de conformidade com o grau de desmaterialização a que hajam chegado. Na erraticidade, o Espírito percebe o que lhe falta para ser mais feliz e, desde então, procura os meios de alcançá-lo.6

As ideias, e, consequentemente, os conhecimentos dos Espíritos modificam-se quando na erraticidade. Com efeito, […] sofrem grandes modificações, à proporção que o Espírito se desmaterializa. Pode este, algumas vezes, permanecer longo tempo imbuído das ideias que tinha na Terra; mas, pouco a pouco,a influência da matéria diminui e ele vê as coisas com maior clareza. É então que procura os meios de se tornar melhor.7

Muitas são as moradas mentais, espirituais e físicas anunciadas por Jesus e todas concorrem para as transformações morais que necessitamos.

Rômulo Novais

 

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 93.ed. 9. imp. (Edição Histórica). Brasília, DF: FEB, 2019. q. 85.
2 Pierre Teilhard de Chardin (1881/1955) foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que tentou construir uma visão integradora entre ciência e teologia.
3 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 93.
ed. 9. imp. (Edição Histórica). Brasília, DF: FEB, 2019. q. 224-a.
4 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 93.
ed. 9. imp. (Edição Histórica). Brasília, DF: FEB, 2019. q. 226
5 ______. ______. q. 227.
6 ______. ______. q. 231.
7 ______. ______. q. 318.

 

Sementes

Na Parábola do Semeador, Jesus recorre à natureza para facilitar a nossa compreensão acerca da evolução espiritual no planeta Terra. Ao afirmar “Eis que o semeador saiu a semear”, o Mestre nos convida a receber a semente da Boa Nova no terreno de nossos corações e nos lembra que somos semeadores e devemos escolher, com amor, as sementes lançadas nos ambientes que frequentamos.

O Mestre continua: “E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na” (Mt13:4). Ele exemplifica os tipos de terrenos de acordo com o nosso processo evolutivo. Isso não quer dizer que somos iguais a esses terrenos mas, sim, que nos comportamos como os vários exemplos de terreno citados por Jesus ao longo do tempo.

Há dias em que, ao receber o convite da espiritualidade amiga para estudar a Doutrina Espírita, participar das reuniões públicas, e praticar a caridade, agimos como aqueles que estão à margem do caminho e que, ao receberem o convite para o bem, deixam que os interesses materiais e as influências inferiores devorem as sementes do Mestre, alterando o seu trajeto.

Jesus continua: “E outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Mas, vindo o sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz.” (Mt 13:5-6). Quando nos comportamos como o terreno pedregoso, árido, sem empatia, sem caridade e sem amor fraternal, recebemos as sementes do Evangelho, e não as permitimos crescer, logo, elas são queimadas pelo sol do nosso egoísmo, impedindo-nos de seguir em frente com o Mestre. 

Outras vezes, nos comportamos como a terra cheia de espinhos, ficamos animados com o convite da Boa Nova, ficamos motivados, mas, rapidamente, os espinhos, como o do ódio, da ganância e do egoísmo sufocam as sementes que não desenvolveram raízes profundas no bem. 

Muitas vezes, entretanto, representamos a terra fértil na qual a semente do Evangelho é acolhida, aconchegada e produz frutos que contribuem para a nossa elevação espiritual. 

Assim o importante é nos reconhecermos e atuarmos como terrenos em processo de adubação e cultivação de conhecimento e de amor, com grande potencial para espalhar sementes e cultivar outros terrenos na Seara de Jesus.

Francisleny Lopes

Felicidade

O que é a felicidade? Podemos ser felizes aqui na Terra? Depende de nós?

O dicionário nos diz: qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar. Outra definição: estado de espírito de quem se encontra alegre ou satisfeito; alegria, contentamento, fortúnio, júbilo.

Na Bíblia, no sermão do Monte, temos as Bem-aventuranças (cap.5:1-12), que significam segundo o dicionário: estado de plena felicidade; condição de extremo bem-estar. No primeiro momento nós achamos contraditório “bem aventurados os aflitos”, ou seja, felizes os aflitos, mas a Doutrina Espírita vem nos ajudar a compreender.

Vamos ver a felicidade de acordo com a Doutrina Espírita.

Todos nós fomos criados para atingir a felicidade, assim como fomos criados para atingir a perfeição. A felicidade e a perfeição são inerentes ao espírito, ou seja, estamos destinados a sermos felizes assim como a sermos perfeitos. À medida que evoluímos, vamos desenvolvendo a semente que está dentro de nós.

Várias encarnações são necessárias neste mundo, e em outros, até que não vamos precisar encarnar mais. Uns evoluem mais rápido, enquanto outros, paralisam e demoram um tempo maior.

Como Jesus nos disse, as Bem Aventuranças, que nos cabem no futuro, dependem de como procedemos aqui, seguindo, praticando e vivenciando seus passos. A plena felicidade e perfeição são fatalidades futuras do espírito. 

Jesus nos disse que seu reino ainda não é deste mundo (João cap.18:36). Cabe a nós entendermos que de acordo com a nossa evolução e o mundo em que vivemos temos que plantar para colher no futuro. 

Quando o Evangelho segundo o Espiritismo nos diz no item 20, cap.5 que “ a felicidade não é deste mundo”, quer que entendamos que a felicidade plena não, pois ela está ligada à perfeição e como somos seres em evolução (ainda imperfeitos) podemos usufruir de uma felicidade relativa que está ligada às conquistas espirituais, e não materiais (efêmeras) que pertencem ao mundo material e não nos acompanharão quando de retorno ao plano espiritual: nossa verdadeira morada. Os bens terrenos (materiais) são instrumentos e não o nosso objetivo. O nosso objetivo é o aprimoramento moral, a evolução do espírito. Jesus em seu Evangelho nos esclarece: “Não queirais entesourar para vós tesouros na terra onde a ferrugem e a traça os consome, e onde os ladrões os desenterram e roubam. Mas entesourai para vós tesouros no Céu, onde não os consome a ferrugem nem a traça, e onde os ladrões não os desenterram nem roubam.” (Mateus, 6:20)

Muitas vezes nos equivocamos, buscando fora de nós a felicidade. Temos que ir construindo dentro de nós. 

No Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, este assunto é tratado na questão 920: Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra? A resposta dos espíritos: “Não, por isso que a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra.”

 

O espírito Joanna de Ângelis nos fala que os sofrimentos, as dores (que são consequências dos nossos erros ou são provas) fazem com que possamos evoluir. (Livro – Vida: desafios e soluções, psicografia Divaldo Franco).

“A maioria dos menos favorecidos no plano terrestre, se visitados pela dor, preferem a lamentação e o desespero; se convidados ao testemunho de renúncia, resvalam para a exigência descabida…” (livro Pão nosso, lição 89, Bem-aventuranças pelo espírito Emmanuel, psicografia de Chico Xavier). Nem todos os aflitos são bem-aventurados (felizes). O Evangelho segundo o Espiritismo nos explica no cap. 5, nas instruções do Espíritos: bem e mal sofrer. (Item 18)

O Livro dos Espíritos nos diz ainda que a felicidade na Terra é comum e possível a todos: Para a vida material, é a posse do necessário; para a vida moral, a consciência tranquila e a

fé no futuro. Questão 922.

Precisamos viver procurando nos conhecer, modificando pensamentos e ações, procurando viver as leis divinas, tendo sempre o Evangelho como guia seguro, aprendendo com nossos

erros, buscando escolhas melhores, praticando a verdadeira caridade como Jesus entendia: benevolência para com todos, indulgência com faltas alheias e perdão.

Fazendo ao outro o que gostaríamos que nos fizessem, aprenderemos e sentiremos a alegria de ser útil e começaremos o alicerce de nossa felicidade em bases sólidas.

Ser feliz ou não, como este mundo comporta, depende de cada um de nós e é “a consequência das atitudes que o homem assume na rota evolutiva pelo cadinho das incessantes reencarnações” como nos diz o espírito Joanna de Ângelis no livro Estudos Espíritas na pág.123, psicografia Divaldo Franco.

Uma boa leitura é o livro Desperte e seja feliz também ditado pelo espírito Joanna de Ângelis e psicografia de Divaldo Franco, pois nos esclarece sobre diversos temas ligados à nossa conduta para sermos tão felizes quanto a Terra permite.

Katia Tamiette

Seja um ipê florido

Que fazemos de especial, quando estendemos nossas mãos, pensamentos e palavras em favor de alguém ou de alguma boa causa?

Estamos, por meio do serviço, aproveitando a oportunidade bendita de realizar a pequena parte que nos cabe na grande construção proposta por Jesus, a implantação do reino de Deus. Prosseguimos no aprendizado constante e necessário do que seja de fato a grande família universal.

Fazer o bem, a partir desta compreensão, passa então a ser nosso dever como cristãos, e também a nossa oportunidade de crescer servindo, pois o trabalho é lei de Deus e abre as portas para as conquistas do espírito imortal.

Quando observamos a natureza, percebemos o Espírito de cooperação, que se manifesta em tudo, sem alarde. O grande benfeitor Emmanuel nos ensina que a natureza, em toda a parte, é um laboratório divino que elege o Espírito de serviço por processo normal de evolução.

Conseguiremos imaginar quantas pessoas serão impactadas pela beleza de um ipê florido, durante toda existência da árvore? Ou quantos serão saciados pela água de uma pequena nascente que acaba de brotar da terra mãe?

Quando não sabemos por onde começar e o que fazer, mas de fato estamos dispostos a contribuir, não nos faltam os recursos do mais alto em favor do trabalho a ser realizado.

Para tanto, importa observar o convite diário, mesmo que por alguns instantes, para sairmos de nossa zona de conforto, ou até mesmo dos momentos de dor, e percebermos a realidade e a necessidade do próximo.

Utilizando o método da observação, seguido da prece e ação no bem, conseguiremos encontrar a luz necessária para identificarmos o remédio salutar que nos fará balsamizar as nossas próprias feridas.

Já é tempo de retirarmos os véus da ilusão, descermos dos pedestais do orgulho, da inércia mortuária, para realizarmos, de fato, a vida em plenitude de luz, que nos propõe o mestre Galileu.

O que nos impede de começar agora? O que nos impede de servir ao bem? Seja você também um Ipê florido na vida de alguém!

Mariluce Gelais

As janelas do amor

No livro Jesus e o Evangelho: À Luz da Psicologia Profunda, Joanna de Ângelis, firmada nas excelentes colocações expostas por Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, comenta um item de cada capítulo desse livro, conclamando o indivíduo à mudança de comportamento e de atitudes perante a vida. Em uma das edições do livro, a imagem da capa contempla duas janelas abertas; uma delas, pode-se entender que somos nós quem abrimos, através de nossos méritos e esforços íntimos. A outra janela, onde Jesus está, permanece sempre aberta para todos. Para abrir a primeira janela, são necessárias boas escolhas durante a jornada da encarnação na Terra. Praticando o amor, é possível abri-la. Joanna de Ângelis, no capítulo 13 (Libertação pelo amor) da obra supracitada esclarece que “Amando-se, ultrapassa-se a própria humanidade na qual se encontra o ser, para alcançar-se uma forma de angelitude, que o alça do mundo físico ao espiritual mesmo que sem ruptura dos laços materiais. Todo esse concerto de afetividade inicia-se no respeito por si mesmo, na educação da vontade e no bom direcionamento dos sentimentos, de forma que a autodescoberta trace conduta saudável que irradie harmonia e alegria de viver, tornando a existência física aprazível seja em que forma se apresente, não sofrendo as alterações dos estados apaixonados e dos gostos atrabiliários.” Esses ensinamentos nos levam a refletir que a Terra se assemelha a uma enorme escola, onde estamos todos nós, conectados uns aos outros, direta e indiretamente. Nossas múltiplas vidas, com suas cadeias de sucessões de acontecimentos, nos levam – através de suas particulares lições – a abrir a janela do amor verdadeiro, tal como o Mestre que nos guia: aquele que necessita ser reconhecido como amigo de todas as horas, nosso amado Jesus.

Denise Castelo Nogueira

Isto é caridade?

A proposta espírita-cristã sobre caridade se diferencia de um pensamento distorcido de nossa sociedade, e inclusive, de alguns grupamentos religiosos. Muitas vezes temos a certeza de que estamos fazendo a caridade, mas não estamos. Por outro lado, pessoas que dizem não terem as mínimas condições de realizar a caridade seja material ou moral, a estão exercendo na mais sublime expressão. É importante entender que caridade se diferencia completamente da visão equivocada de que é somente prestação de serviços aos outros, distribuição de esmolas, assistência social e filantropia. A caridade segundo Jesus não se revela por nenhum ato exterior. Também, a caridade não consiste em assumir e comandar os sentimentos de ninguém, porque às vezes nos colocamos na posição de ajudar as pessoas, e na verdade estamos tentando assumir o controle da vida delas, realizando o que elas é que têm que resolver. Assumimos e tentamos comandar sentimentos, decisões, trazer o bem-estar, assumindo os seus problemas, impedindo às vezes as pessoas de evoluírem e construírem o seu próprio destino. A nossa ajuda, em determinados momentos pode-se tornar patológica, porque criamos dependentes materiais ou afetivos, criamos relacionamentos em busca de compensações, construindo uma baixa autoestima nas pessoas ajudadas. Aquele que dá, aquele que doa, aquele que ajuda nunca deve buscar algum favorecimento pessoal, no sentido de propiciar para ele, mesmo que temporariamente, alguma sensação de bem-estar ou demonstrar um poder íntimo, uma vaidade pessoal, tentando provar aos outros que somos pessoas boas, importantes, e às vezes até merecedoras de atenção.

Segundo o pensamento Cristão, caridade é uma proposta de mudança nos relacionamentos humanos. É uma proposta de extremo respeito ao outro, que é o ponto basilar, porque sem respeito nunca conseguiremos amar, sermos pacientes, tolerantes ou misericordiosos com o próximo. Respeitar as pessoas como elas são, com suas dificuldades, virtudes, valores, sem fantasias e ilusões. Alicerçados no respeito iremos empreender uma ação transformadora em nossas atitudes, vamos superar nossas limitações, vamos fazer aquilo que nós não estamos acostumados a fazer, vamos ser pessoas diferenciadas daquilo que a sociedade dita como ser caridoso, vamos começar a destruir um pouco o nosso orgulho e egoísmo, que são as grandes amarras que nos prendem ainda a esse mundo de sofrimento. Passemos em revista todos os problemas e dificuldades que temos enfrentado em nossos relacionamentos: familiares, afetivos e sociais. E reflitamos se não são problemas ligados à questão do orgulho, da valorização da nossa personalidade, da supremacia da nossa forma de pensar, de não abrir mão das nossas ideias e do nosso modo de ser.

“Fora da caridade não há salvação”. Exatamente! Sem respeito aos direitos dos outros e o exercício constante do amor exteriorizado através da tolerância, benevolência, indulgência, paciência, não tem jeito mesmo. Se não mudarmos os nossos relacionamentos vamos continuar nesse ciclo vicioso de sofrimentos, dificuldade e decepções. O mundo está mudando, está em processo transformador e regenerador, faz-se necessário mudar nossos relacionamentos e buscar o esforço pessoal, tornar-se robusto no sacrifício pessoal, assumindo nossas responsabilidades diante da vida e sermos extremamente caridosos. E, nunca é demais relembrar a reflexão do Apóstolo Paulo sobre o tema: “… A caridade é paciente; é doce e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária e precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura seus próprios interesses; não se melindra e não se irrita com nada…” E, descrevemos ao final uma análise do Espírito Hammed sobre as reflexões do Apóstolo Paulo: “Ainda que eu falasse a língua dos homens e também a dos anjos; ainda que eu tivesse o dom da profecia e penetrasse todos os mistérios; ainda que eu dominasse a ciência e tivesse uma fé tão grande que removesse montanhas, tudo isso não me serviria de nada se não tivesse amor-respeito aos seres humanos”.

Ladimir Freitas

[1] Texto baseado no Capítulo 48 – Os Olhos do Amor, do Livro
Renovando Atitudes – Francisco do Espírito Santo Neto ditado
pelo Espírito Hammed.

Tua Lâmpada

Tua fé viva! – tua lâmpada.
Zelarás por tua lâmpada para que as perturbações do caminho não te mergulhem nas trevas. O serviço é a chama que lhe define a vida, a compaixão é o óleo que a sustenta.
Clareia a estrada para os que se acolhem na sombra e segue adiante!… Vê-los-ás tresmalhados no grande tumulto… Entre eles, encontramos os que se julgam em liberdade, quando não passam de cativos da ignorância e do ódio; os que deliram na ambição desregrada, pisando o cairel de pavorosas desilusões, os que estadeiam soberbia nas eminências do mundo, admitindo-se encouraçados de poder, sem perceberem o abismo que os espreita, os que fizeram da vida culto incessante a todos os excessos e para quem a morte breve surgira por freio de contenção… E com eles se agitam aqueles outros que desprezaram as vantagens do sofrimento, transformando o benefício da dor em cárcere de revolta; os que descreram do trabalho e se enredaram no crime; os que desertaram da consciência atirando-se ao fogo do remorso e os que perderam a fé, incapazes de sentir a bênção de Deus que lhes brilha no coração!…

Unge de amor o pensamento transviado de todos os que se demoram na retaguarda, enlouquecidos por sinistros enganos e derrama o bálsamo do conforto nas feridas abertas de quantos se afligem na estrada, sob a névoa do desespero!…
Para isso, não contes dificuldades, nem relaciones angústias. Auxilia e ama sempre.
Se garras de incompreensão ou de injúria te assaltaram na marcha, entrega os tesouros que carregas, abençoando as mãos que te firam ou te despojem, mas alça a tua flama de confiança e caminha. Cada golpe desferido na alma é renovação que aparece, cada espinho que se nos enterra na carne do sonho é flor de verdade a enriquecer-nos o futuro, cada lágrima vertida nos alimpa a visão!…

Tua fé viva! – tua lâmpada!…

Faze-a fulgir, acima de tuas próprias fraquezas, para que, um dia, possas transfigurá-la em estrela de eterna alegria, nos cimos da Grande Luz.

Emmanuel, no livro Caminho Espírita,
psicografado por Francisco Cândido Xavier

E, de repente, o tempo passou…

No ano passado, o desencarne por doença degenerativa de longo tempo de um dos fundadores da Feig levou participantes de um lanche em família a viajarem no tempo. Eram boas as lembranças que cada um tinha dele. Idades diferentes e experiências variadas, mas todas muito afetivas. E a sensação foi: e, de repente, o tempo passou. Nas vidas daqueles ali reunidos, daquele que voltou para a pátria espiritual e também na trajetória da Fraternidade Espírita Irmão Glacus. A Feig entrou em setembro de 2022 no seu 47º ano de atividades, a ser completado em 2023. São muitos os que nasceram junto com ela; os que constituíram suas famílias, algumas já na 4ª geração (filhos dos netos), e, junto com o ano novo, vem aquela pergunta: estamos aproveitando as oportunidades que esta existência tem nos ofertado? A linha do tempo da Feig é intensa em realizações. Sempre são novas as oportunidades, muitos os problemas apresentados e os desafios a serem superados. Na medida em que cresce e se diversifica o trabalho, mais desafiador fica realizar, tanto para voluntários quanto para aqueles que se vinculam profissionalmente à casa.

Em um dos materiais de trabalho da Feig¹ é apresentada a seguinte questão: “Por que as pessoas vêm à casa espírita?” São muitas as possibilidades de resposta. Logo em seguida uma outra é apresentada: “o que a Feig oferece?” De novo, mais um conjunto de oportunidades, que vão desde o estudo da Doutrina Espírita ao trabalho em muitas frentes. Quando pensamos no passar do tempo, quanto mais ele avança, parece ficar mais ligeiro. Já começou o ano de 2023; em um instante estamos no mês de fevereiro; e logo já vamos ter aproveitado ou deixado passar oportunidades que nos oferece este novo ciclo da existência. O plano de trabalho da Feig para 2023 já está acontecendo, intenso e cheio de oportunidades de estudo e de conhecimento da Doutrina Espírita; de trabalho voluntário por meio de atendimentos fraternos; atividades de assistência e promoção social; acolhimentos e orientação à luz do Evangelho e da Doutrina; educação formal de crianças e jovens. E, junto com tudo isso, muitas oportunidades de nos dedicarmos e nos aprimorarmos. Na passagem evangélica em que Paulo, ainda Saulo, encontra-se com Jesus a caminho de Damasco, ele faz a seguinte pergunta: “Que farei?” E o Mestre determina que se “levante para a sementeira de luz e de amor, através do próprio sacrifício”. Guardadas as devidas proporções, este é um convite: refletirmos sobre o que e como faremos neste novo ano, uma vez que o tempo passa célere, inspirados na mensagem “Enquanto temos tempo”, do espírito Emmanuel: “(…) Ergue-se a casa, elemento a elemento. Constrói-se a oportunidade para a vitória do bem, esforço a esforço. E, tanto numa quanto noutra, a diligência é indispensável”. Evangelho e Ação, agora!

Miriam d´Avila Nunes

[¹] Slides usados nos Encontros Integrar, realizados para novos
tarefeiros pelo Departamento de Tarefeiros – DDIA – Feig.