Fardo Leve e Jugo Suave

A encarnação do Cristo propiciou à Terra o maior evento que o planeta já viu desde a sua formação. Foi um período em que o sentimento de esperança e otimismo tomou os seres, despertando uma sensação de que tudo mudaria e seria melhor. Esses eram os efeitos do psiquismo do Cristo envolvendo mais diretamente o mundo, porque Ele traria a mensagem da Boa Nova.

Os profetas antigos e Moisés já haviam registrado no antigo testamento as leis divinas, mas coube a Jesus o ensino e a vivência dessas mesmas leis. Ele atraiu para si a responsabilidade de conduzir a Deus o seu rebanho, todos nós vinculados ao orbe terrestre, estejamos encarnados e desencarnados. Mas a Terra, sendo ainda um Planeta de Provas e Expiações, oferece as experiências de dor e sofrimento, em função da imperfeição dos espíritos que aqui vivem.

Como trazemos ainda mais as características da materialidade do que de espiritualidade, mais de vícios do que virtudes, muito nos complicamos diante das experiências.

Desta forma, somos nós mesmos que geramos os sofrimentos que aqui sofremos. É o mau uso do discernimento e do livre-arbítrio que nos coloca nestas situações. E isso demonstra que nossa estrutura psíquica ainda não se encontra apropriada à vivência de uma felicidade sem mesclas.

Porque são necessárias as conquistas de bases interiores para a vivência dessa felicidade que é o Reino de Deus em nós. E dessa forma, Jesus veio atear fogo à Terra com a missão de despertar e acender a centelha divina que cada um de nós tem dentro do próprio ser. E veio nos dignificar, ensinando que somos deuses, que temos um potencial imenso a ser desvelado e expresso. Que no futuro poderemos fazer até mais do que Ele fez, mas que para isso serão necessárias as conquistas de aprimoramento.

A chegada do Cristo no plano material proporcionou para o planeta a marca de uma nova era, onde todos fomos convidados a deixar a infância espiritual para adentrar na fase de maior idade e amadurecimento. E com isso, Jesus atraiu a Si a responsabilidade de cuidar e conduzir todos nós, sofredores e enfermos no mundo. 

Importante lembrar, que o sofrimento deixa a alma mais aberta e receptiva à própria espiritualidade e às mudanças necessárias. É nos momentos de dor que a criatura busca com mais fé e se entrega mais na busca dos valores imortais. E Jesus aparece como o primeiro e grande consolador. É o Vinde a mim todos vós que sois aflitos e sobrecarregados e eu vos aliviarei. E de forma imperativa e segura complementa: Tomai meu jugo sobre vós e aprendei comigo que sou dócil e humilde de coração e encontrareis o descanso de vossas almas; pois meu jugo é suave e meu fardo é leve[1]. E o Espiritismo que é o Consolador enviado por Jesus, que veio no tempo previsto e trouxe a chave ao entendimento dos Seus ensinamentos. Clareando-nos sobre a reencarnação, a imortalidade da alma, a lei de causa e efeito, o livre-arbítrio, a lei de progresso e outros temas tão importante que dão sentido às palavras de vida eterna trazidas por Jesus.

E assim o Espiritismo vai consolando, porque o entendimento também diminui a dor, impede a revolta e nos esclarece que cada um é herdeiro de si mesmo. Cada criatura é responsável pela própria felicidade ou infelicidade. Pois a felicidade é a colheita do fruto de uma sementeira realizada ao longo do tempo.

Portanto o jugo de Jesus, que é aquilo que atrela e que também serve para conduzir e é, em verdade, o convite à vivência da Lei Divina em nossas vidas. É assumir a responsabilidade pelos próprios deveres. E é leve o fardo porque gradativamente vai liberando a própria consciência permitindo a conquista dos valores eternos que dignificam e elevam o ser que se esforça nesta vivência. É a tranquilidade de quem sabe que é um espírito eterno e que a vida durante um largo período, ainda seguirá no plano espiritual, para logo mais continuar de volta ao plano físico. Assumindo a autorresponsabilidade pela conquista da própria felicidade, auxiliando na criação da felicidade do outro, e então sabendo que Deus é um Pai infinitamente amoroso, justo e bom como Jesus ensinou e que nos propicia as oportunidades de vivenciarmos as experiências de que necessitamos para sermos melhores.

Rodrigo Ferretti

[1] Vinde a mim todos vós que sois aflitos e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e aprendei comigo que sou dócil e humilde de coração e encontrareis o descanso de vossas almas; pois meu jugo é suave e meu fardo é leve. Mateus 11: 28, 29 e 30.

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Riqueza e miséria

No decorrer do culto do Evangelho no lar de dona Isabel, André Luiz percebeu claramente que o garoto Joãozinho não compartilhava o banquete de luzes que a Espiritualidade Superior oferecia aos presentes. Já sua mãe e as quatros irmãs permutavam vibrações luminosas, demonstrando que estavam perfeitamente identificadas e unidas naquele sublime ideal cristão. Não obstante, o menino que completava o núcleo familiar, permanecia alheio, distante do ponto de vista espiritual, não se envolvia, pois estava fechado em um verdadeiro círculo de sombras.

De vez em quando, irônico, dirigia um sorriso aos participantes do estudo, completamente insensível ao significado espiritual o momento proporcionava. Foi então que ele, de forma desrespeitosa, perguntou à dona Isabel: “Mamãe, que entende a senhora por pobreza?” [1] A nobre matrona não se fez de rogada e respondeu com muita serenidade: “Creio, meu filho, que a pobreza é uma das melhores oportunidades de elevação, ao nosso alcance. Estou convencida de que os homens afortunados têm uma grande tarefa a cumprir, na Terra, mas admito que os pobres, além da missão que lhes cabe no mundo, são mais livres e mais felizes.

Na pobreza, é mais fácil encontrar a amizade sincera, a visão da assistência de Deus, os tesouros da natureza, a riqueza das alegrias simples e puras. É claro que não me refiro aos ociosos e ingratos dos caminhos terrenos. Refiro-me aos pobres que trabalham e guardam a fé. O homem de grandes possibilidades financeiras muito dificilmente saberá discernir entre a afeição e o interesse mesquinho; crente de que tudo pode, nem sempre consegue entender a divina proteção; pelo conforto viciado a que se entrega, as mais das vezes se afasta das bênçãos da Natureza; e em vista de muito satisfazer aos próprios caprichos, restringe a capacidade de alegrar-se e confiar no mundo.” [1]

Mais uma vez dona Isabel deu prova de sua sabedoria. O fato de nascermos em famílias ricas ou pobres é uma condição inerente às nossas necessidades evolutivas e aos processos pelos quais precisamos passar para nossa evolução espiritual. Ninguém reencarna pobre ou rico por acaso. Aliás, nenhuma das circunstâncias da existência é obra do acaso. O assunto é palpitante e sempre dá margem para discussão. É melhor nascer sob qual condição: de pobreza ou de riqueza?

Na verdade, depende do que necessitamos para nosso crescimento na atual reencarnação. Porém, via de regra, para o homem comum a prova da riqueza é mais difícil de ser vencida. Em relação aos benefícios da pobreza nem é preciso comentar as ponderações extremamente pertinentes, sábias e claras de dona Isabel. Entretanto, entendemos que cabe algumas reflexões sobre a riqueza, considerada por muitos como uma grande vilã do Espírito.

Veremos que não é bem assim… Assevera Allan Kardec: “Se a riqueza houvesse de constituir obstáculo absoluto à salvação dos que a possuem, conforme se poderia inferir de certas palavras de Jesus, interpretadas segundo a letra e não segundo o espírito, Deus, que a concede, teria posto nas mãos de alguns um instrumento de perdição, sem apelação nenhuma, ideia que repugna à razão. Sem dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual.

É o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os pensamentos. Produz tal vertigem que, muitas vezes, aquele que passa da miséria à riqueza esquece de pronto a sua primeira condição, os que com ele a partilharam, os que o ajudaram, e faz-se insensível, egoísta e vão. Mas, do fato de a riqueza tornar difícil a jornada, não se segue que a torne impossível e não possa vir a ser um meio de salvação para o que dela sabe servir se, como certos venenos podem restituir a saúde, se empregados a propósito e com discernimento.”[2]

Portanto, a riqueza não é um entrave total ao aperfeiçoamento espiritual, pois se fosse abolida da face da Terra causaria males imensos e seria a condenação do trabalho, meio pelo qual podemos obtê-la. Uma das consequências disso seria a recondução do homem à selvageria, o que estaria em flagrante contradição com a Lei do Progresso. Não obstante, precisamos ressaltar que a riqueza e a pobreza são, como tantos outros, recursos neutros que Deus oferece a Seus filhos. Nenhum desses recursos é bom ou mau.

Em verdade, tais recursos resultarão em bons ou maus frutos de acordo com a utilização que os homens lhe derem. Em outras palavras, são as pessoas que fazem da pobreza e da riqueza instrumentos de felicidade ou de infortúnio. Sendo assim, independentemente de onde estivermos e da situação em que nos encontremos, agradeçamos sempre a Deus pelas oportunidades de evolução que nos são concedidas. Avaliemos com serenidade e sobriedade todos os recursos que estão à nossa disposição e façamos bom uso deles, sempre visando o bem.

Valdir Pedrosa
[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 36 (Mãe e filhos).
[2] O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – capítulo 16 (Não se pode servir a Deus e a Mamon) – item: Utilidade providencial da riqueza – provas da riqueza e da miséria.

 

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Influências

[…] está em nossas mãos libertarmo-nos das influências do mal e dos sofrimentos que elas acarretam. Dotados de livre-arbítrio temos condições de ceder ou não a tais influências.”
(O Livro dos Espíritos, questão 257)

Até que ponto as influências do meio em que vivemos podem nos impactar? Estamos sujeitos a alguma espécie de determinismo, de fatalidade? Estes questionamentos são alguns dos respondidos na obra O Livro dos Espíritos, na questão 257: “[…] Os sofrimentos deste mundo independem, algumas vezes, de nós; muito mais vezes, contudo, são devidos à nossa vontade. Remonte cada um à origem deles e verá que a maior parte de tais sofrimentos são efeitos de causas que lhe teria sido possível evitar.

Quantos males, quantas enfermidades não deve o homem aos seus excessos, à sua ambição, numa palavra: às suas paixões? Aquele que sempre vivesse com sobriedade, que de nada abusasse, que fosse sempre simples nos gostos e modesto nos desejos, a muitas tribulações se forraria. O mesmo se dá com o Espírito. Os sofrimentos por que passa são sempre a consequência da maneira de viver na Terra”.

Nesta mesma questão de O Livro dos Espíritos, Kardec afirma que se for de nossa livre vontade, podemos trabalhar no sentido de nosso desenvolvimento moral, por exemplo, conhecendo nossos próprios sentimentos e transformando-os: “dome suas paixões animais: não alimente ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho…”. É fundamental nos lembrarmos que quando praticamos o mal, o fazemos “por vontade própria” e podemos ceder às influências que estão fora de nós, por conta de nossas livres escolhas. Assim, abrimos caminho para as obsessões espirituais por invigilância.

Segundo os amigos espirituais, o nosso livre-arbítrio amplia-se na medida em que nos conhecemos melhor, quando aprendermos a nomear os sentimentos ocultos por detrás de cada pensamento ou ação de nossa parte. Isto implica em maturidade e reflexão, só possíveis com esforço próprio. A verdade é que não nos preocupamos em reconhecer e entender nossas emoções e é certo que elas exercem grande efeito sobre as nossas vidas. No aspecto físico, podem causar danos, minando o sistema imunológico e levando a doenças variadas.

Nos relacionamentos, a má qualidade das emoções pode arruinar amizades, casamentos, provocar isolamento. No trabalho, pode nos levar a disputas, confrontos, rejeição e, finalmente, decepção e fracasso. Ainda estando vacilantes na fé e às voltas com as questões da vida material, muitas vezes ansiosos pela conquista ou manutenção de status social, sobre a pressão do “ter” e do “poder” e deixamo-nos envolver pelas influências negativas presentes no meio em que vivemos.

As consequências aparecem sob a forma de aflições, doenças, sofrimentos. Não se trata de determinismo ou fatalidade, trata-se de colher por força de escolhas equivocadas. O espírito Joanna de Ângelis, nos alertando quanto às coisas deste mundo, afirma: “as conquistas dispensáveis pesam na economia emocional e passam a constituir preocupação que desvia a mente das metas que deve perseguir”.

Se queremos nos livrar das más influências em nossas jornadas, importante refletirmos sobre os lembretes de Kardec, acima comentados, procurando viver com mais sobriedade, sendo modestos nos desejos e nos livrando dos muitos condicionamentos sociais.

Letícia Schettino Peixoto
Franco, Divaldo Pereira. Plenitude. Pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos; FEB 1995. Questões 120 e 257, Capítulo VI, Parte II.

Culto no lar: luz do Cristo em nossos corações

Os dias atuais têm trazido profundas mudanças em nossas manifestações de religiosidade e espiritualidade, em nossas demonstrações de comunhão e transcendência, principalmente diante da impossibilidade de nos reunirmos nos templos convencionais de oração. Sempre buscávamos saciar a nossa sede de comunhão, de pertencimento, fortalecimento da fé, através das reuniões, tarefas, passes, receituários, enfim, através da integração entre os dois planos da vida, que até então era com a nossa presença física na casa espírita, o que nos trazia a sensação de completude.

No entanto, trazemos em nós a certeza de que a Fraternidade Espírita Irmão Glacus sempre permanece “ombro a ombro, lado a lado” conosco, em todos os momentos, amparando-nos, fortalecendo-nos, intuindo e instruindo-nos, continuando sua atuação como celeiro de bênçãos, escola e hospital, porém agora de uma forma diferente, que alcança cada um de nós em seu recolhimento atual.

É preciso salientar, entretanto, que a proposta de nos recolhermos significa algo mais que aguardar que a luz do mundo exterior chegue até nós. O convite contemporâneo é de reforçar a necessidade de percorrer o caminho inverso: acender em nossos lares a luz do Evangelho do Cristo, para que ela se propague para o mundo. Através da força das circunstâncias, Cristo renova seu grande chamado para todos nós: façamos o Culto Cristão no Lar! Dediquemos pelo menos uma, das sete noites semanais, ao Culto, para que Jesus venha nos visitar.

Assim já nos orientava a nossa querida benfeitora espiritual Joanna de Ângelis, no Capítulo 59, “Jesus Contigo”, de sua primeira obra, intitulada Messe de amor e psicografada por Divaldo Pereira Franco, ressaltando a importância de não nos afastarmos da linha direcional do Evangelho com os familiares, de debatermos os problemas que nos afligem à luz clara da Boa Nova, de examinarmos as dificuldades que nos perturbam ante a inspiração consoladora do Cristo. Trazermos o Evangelho para os nossos dias, refletindo sobre o cotidiano da vida familiar, considerando esse compromisso como sagrado, não nos permitindo sair de casa na noite definida para o Culto, “senão para os inevitáveis deveres que não possas adiar”.

Muitas pessoas ainda acreditam que os textos evangélicos são um material de difícil compreensão, e que somente mestres, teólogos, padres, pastores e expositores espíritas tem a capacidade de estudo e interpretação. Pensar assim é atribuir somente ao outro o que também cabe a nós realizar. Embora esses irmãos tenham um papel muito importante nas pregações públicas, no despertar do coletivo, educando, instruindo, nos inspirando, indicando caminhos novos para atender a todos; o lar continua sendo o templo mais nobre porque oferece oportunidade de esforço todo dia na própria iluminação. Os instrutores, educadores, nos ajudam a ler, mas somente Jesus nos ensina a proceder em cada passo da nossa existência.

Estamos todos caminhando para Deus, rumo à perfeição espiritual e, evoluindo passo a passo, não podemos perder a oportunidade do esforço de cada dia que o Evangelho no Lar nos proporciona. Esforço para aplicar o que aprendemos. Esforço para não perder a oportunidade que cada criatura ao nosso lado nos traz para exercitarmos a compreensão, a bondade, a tolerância, a paciência e o perdão; o que representa muitas vezes conviver sob o mesmo teto com adversários do passado, convertidos em filho, pai, mãe, irmão, cônjuge, etc. e realmente aceitá-los como são hoje, onde foram colocados por Deus, e estarmos receptivos à transformação dos nossos próprios sentimentos para melhor, com a aceitação do que não podemos mudar e a coragem para as mudanças que forem necessárias, pautadas sempre no amor ao próximo como a nós mesmos.

Não raras vezes, é chegada a hora do culto no lar e nos encontramos magoados com um familiar ou atribulados com algum fato acontecido. Somos então visitados pelo desânimo e pensamos até em desistir do culto naquele dia. Mas é exatamente nesses momentos de fraqueza e tentações que mais necessitamos de persistência e do auxílio da sintonia de Jesus, convidando-o mais uma vez a sentar-se ao nosso lado, a nos intuir nas interpretações evangélicas, nos comentários, a nos fortalecer para enfrentarmos a arena nossa de cada dia, onde os nossos inimigos internos (raiva, revolta, orgulho, preguiça, vaidade, maledicência, egoísmo, superioridade, medo, etc.) sobressaltam, muitas vezes avassaladores, tornando nossas atitudes reativas, impulsivas, nos afastando do amor que Cristo nos ensinou.

Jesus, ao nosso lado, nos recordará sempre que as armas para vencermos esta batalha dentro de nós mesmos estão contidas no Evangelho e que estudadas, pelo menos semanalmente, nos darão sustentação para a vitória sobre as imperfeições, compaixão para os erros próprios e alheios, calma para a enfermidade, paciência, fé e bom ânimo para levantarmos todas as vezes em que cairmos nessa longa caminhada… Ele nunca disse que seria fácil segui-lo, mas afirmou que nunca nos deixaria sozinhos. Confiemos!

A esplendorosa obra de Emmanuel, Renúncia, psicografada por Chico Xavier, cuja leitura nos acrescenta muito a cada vez que lemos, retrata a grandeza da tarefa de Alcione, no papel de uma dona de casa que se dispõe a amar verdadeiramente os que estão mais próximos, renunciando a tudo por esse amor. A obra é toda enriquecida pelos ensinamentos profundos de Jesus, que Alcione demonstra com a própria vida, inclusive, nos trazendo valiosíssimas reflexões e orientações para realizarmos o Culto no lar.

Em um dos seus cultos domésticos, Alcione compara o estudo do Evangelho no lar a uma pesca de luzes celestiais que fazemos no rio da vida, que está sempre correndo, e que demanda um esforço nosso, uma vontade ardente para mergulhar e coletar a essência dos ensinamentos de Jesus, que são os elementos fundamentais para a edificação da fé em nossos corações, porque uma vida sem fé, sem esperança, é o pior de todos os males.

A essência do Evangelho não é somente motivo de consolação em nossas fraquezas humanas. Não podemos agir como uma criança que espera apenas adoçar o coração. Se recebermos somente consolação e mimos, envenenamos nossos corações na sede insaciável dos caprichos. Além da palavra consoladora, fonte de conforto e doçura, Cristo também trouxe ao mundo o roteiro de trabalho, que precisa ser conhecido, meditado, sentido, seguido e vivido, mesmo no auge das nossas dificuldades e nossos tormentos.

A visita constante de Jesus em nosso lar nos prepara para este trabalho na seara, e o Cristo nos espera de braços abertos. É o primeiro grande passo em nossa jornada terrena. Preparemos o nosso coração para recebê-lo. Esforcemos para trazer nossos sentimentos e raciocínios à luz do seu Evangelho, através da observação constante do nosso íntimo, autoconhecimento, vigilância, oração, disciplina, trabalhando diariamente com Ele na construção do reino de Deus dentro dos nossos corações e, como diz Alcione, “Dia virá em que tomaremos por templo de Deus o mundo inteiro. (…) Acredito que o lar seja o ninho onde o espírito humano cria em si mesmo, com o auxílio do pai celestial, as asas da sabedoria e do amor, com que há de conhecer, mais tarde, as sendas divinas do universo”.

Adriana Souza

Não reclame – trabalhe e confie

Chegou o momento dos comentários no estudo do Evangelho no lar de dona Isabel. Isidoro, seu marido já desencarnado, bem como diversos amigos da esfera espiritual, permaneciam na residência participando daquele verdadeiro banquete de luz. Cada criatura ali presente, de ambos os planos da vida, recebeu os ensinamentos de acordo com sua capacidade de entendimento.

Durante a conversa fraterna com os filhos, dona Isabel foi amplamente amparada e intuída pelos espíritos Isidoro e Fábio. A primeira a falar foi Marieta, que aparentava ter sete anos de idade. Em tom comovedor a pequenina perguntou: “Mamãe, se Jesus é tão bom, por que estamos comendo só uma vez por dia, aqui em casa? Na casa de Dona Fausta, eles fazem duas refeições, almoçam e jantam. Neli me contou que no tempo de papai também fazíamos assim, mas agora… Por que será?”[1]

Aquelas palavras calaram fundo no coração materno. Como explicar a uma criança a escassez de alimentos que vitimava a família após o desencarne do pai? A viúva de Isidoro ponderou que não se deve subordinar todos os pensamentos às necessidades do estômago e que muitos desenvolvem variadas e graves enfermidades devido aos excessos cometidos na alimentação. Em seguida, asseverou: “(…) vocês devem estar certos de que Jesus abençoa o pão e a água de todas as criaturas que sabem agradecer as dádivas divinas. É verdade que Isidoro partiu antes de nós, mas nunca nos faltou o necessário. Temos nossa casinha, nossa união espiritual, nossos bons amigos. Convençam-se de que o papai está trabalhando ainda por nós. (…) Quando sabemos amar e esperar, meus filhos, não nos separamos dos entes queridos que morrem para a vida física. Tenhamos certeza na proteção de Jesus! (…) Nunca deveremos reclamar e sim louvar sempre.”[1]

Como não se emocionar ao ouvir uma explicação como essa? Não se trata apenas das palavras, mas sobretudo do sentimento nobre e das energias que revestiram o verbo de Isabel. Eis uma demonstração cabal da certeza do amparo da Espiritualidade Superior e da mais absoluta confiança em Deus. Isso é fruto da experiência adquirida ao longo da evolução espiritual, que confere sabedoria ao ser, da qual ele se utiliza principalmente em circunstâncias desfavoráveis, se transformando em carta viva do Evangelho, orientando, esclarecendo, consolando e, enfim, iluminando vidas.

Em situações análogas àquelas vividas por essa família, muitos teriam comportamento bem diferente daquele apresentado por Isabel. O homem tem a triste mania de jogar a culpa nos outros por tudo de ruim que acontece em sua vida. Transferir a culpa é sempre o caminho mais fácil do que assumi-la. E nesse processo é comum se voltarem, inclusive, contra Deus, tomados por uma revolta que beira as raias da irracionalidade. Há casos em que o alvo muda. Aponta-se para os inimigos, adversários e até mesmo para os familiares e amigos. Acusa-se o demônio e os espíritos obsessores. Coloca-se a culpa até mesmo na reencarnação. Porém, via de regra, o infeliz raramente volta seu dedo acusador para si próprio.

Na vida nos deparamos com pessoas que só reclamam e com indivíduos que fazem as coisas acontecer. Os “reclamões” desperdiçam tempo e gastam energia sem proveito. Vivem em um círculo mental vicioso, incapazes de perceberem as oportunidades de melhoria que a Providência lhes oferece. Resmungam, lamentam e se fazem de vítimas, quando na verdade, são vítimas e algozes de si mesmos. Por outro lado, nos encontramos também com pessoas que, apesar de todas as dificuldades vivenciadas e mesmo não sabendo muitas vezes as causas de seus infortúnios, porfiam e lutam. Com grande esforço e perseverança, buscam vencer as adversidades que, intimamente, enxergam como ensejos de crescimento e progresso espiritual.

Dona Isabel resignava-se com a situação, mas lutava e se esforçava bastante para melhorar um pouco a condição de vida de sua família, a fim de que não faltasse o necessário. Não obstante, ela sabia que o amor e a justiça do Pai Celestial, que é todo perfeição, se manifestam por meio da Providência Divina, que não abandona nenhum de seus filhos, atendendo suas reais necessidades e impulsionando-lhes o progresso.

Valdir Pedrosa
[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 36 (Mãe e filhos).W

O verdadeiro sentido das coisas

“São chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido.”
O Espírito de Verdade (ESE).

O espírito Jesus, nosso guia e modelo, não criou nenhuma religião, partido político ou instituição formal, simplesmente o Mestre nos ensinou, por meio de atitudes e palavras, sobre a relevância da humildade, do perdão, da indulgência e da benevolência. Exaltou o amor ao próximo e a nós mesmos, criaturas divinas.

Jesus não foi honrado, reconhecido pela maioria da sociedade de sua época, tampouco considerado uma figura de sucesso. Despediu-se do mundo entre os mais simples, em meio a zombarias, acusações, abandono e torturas. Entretanto, este irmão maior demonstrou fé na vitória final do bem entre a humanidade, nos perdoou incondicionalmente e incentivou todos a se reerguerem e trabalharem na senda do bem. Sua passagem entre nós, a despeito das inúmeras dificuldades que enfrentou, foi repleta de otimismo, esperança e coragem.

Certamente, como servidor fiel do Criador, ele sabia que destemperos, vinganças, apego ao poder, aos rituais e dogmas não conversam com os caminhos do amor, do progresso espiritual e da busca pela verdadeira paz. Há de prevalecer entre os discípulos sinceros do Cristo a disposição para o trabalho, vontade e coragem para vencer o orgulho e egoísmo, acendendo a chama da esperança.

No livro Vinha de Luz, o Espírito Emmanuel chama nossa atenção para a esperança como lume do espírito, que “[…] vem de cima, a maneira do Sol, que ilumina do alto e alimenta as sementes novas, desperta propósitos diferentes, cria modificações redentoras e descerra visões mais altas”. Sim, o verdadeiro sentido das coisas passa por nos conhecermos melhor, redefinirmos propósitos, aprimorarmos atitudes e cooperarmos.

A simplicidade, a afetuosidade, o respeito pela diversidade, o empenho em oferecer oportunidades e valorizar o ser humano nunca se mostraram atitudes tão necessárias como neste ano de 2020, no qual a humanidade enfrenta uma das maiores pandemias por vírus de que se tem registro em sua história. Considerando o novo contexto político-social imposto pelo isolamento social, pela crise econômica mundo afora, a sociedade desperta em muitas partes do globo, mostrando sua indignação com todas as desigualdades: a de renda, a de oportunidades de educação, a de mobilidade social. Racismo, autoritarismo e violência são combatidos em inúmeras manifestações públicas mundo afora.

A Doutrina Espírita, à luz do Evangelho de Jesus, nos exorta a refletir sobre a necessidade do respeito amplo aos irmãos e da assistência aos necessitados, não só no sustento do corpo físico, mas principalmente no tratamento das chamadas doenças da alma, que conhecemos por solidão, remorso, culpa, mágoas, rancores e ressentimentos. Estas doenças dão, na maioria das vezes, espaço para melindres, inveja, preconceitos e indiferença. Adoecidos e perdidos, não enxergamos os outros e geramos conflitos e rusgas na família e fora dela.

Sabemos que todos estes males estão alicerçados nos espinhos do orgulho e do egoísmo, nossos companheiros de milênios, e em busca de um roteiro de esperança, de vida nova e de cura, é de vital importância investir nas atividades de atendimento fraterno, prática comum nas casas espíritas. Além de diversas formas de assistência material e educacional, nestas atividades são apoiados os irmãos em desespero, doentes, desequilibrados, que buscam socorro. Os mais fortes atendem e apoiam os mais fracos, sejam encarnado ou desencarnados. Este é um bom roteiro para buscarmos um verdadeiro sentido para nossas jornadas.

Sim, são chegados os tempos de reconhecermos que trilhamos por muitos caminhos tortuosos, que nos fizeram ignorar pobres, doentes, ignorantes e, consequentemente, permitir o preconceito racial e uma profunda desigualdade social pelo planeta afora. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, o espírito Pascal orienta-nos assim: “ […] sem a caridade não haverá descanso para a sociedade humana. Digo mais: não haverá segurança. Com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira em que vencerá o mais esperto, uma luta de interesses, em que se calcarão aos pés as mais santas afeições, em que nem sequer os sagrados laços de família mereceram respeito”.

Assim sendo, trabalhemos. Com vontade, disciplina e dedicação podemos abraçar tarefas de assistência, apoiar movimentos pacíficos na comunidade, mas sempre, em primeiro lugar, começar a praticar a caridade dentro dos nossos lares, identificando nossas más tendências, aceitando nossas limitações, orando e aprendendo a perdoar e a pedir perdão, fazendo esforço para que a alegria, a coragem e a esperança estejam presentes em todos os momentos.

Letícia Schettino Peixoto

Xavier, Francisco Cândido. Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. Lição 75. Kardec, Allan. -(ESE); FEB 2016. Tradução Guillon Ribeiro. “Prefácio” e Capítulo XI, item 12.

Nosso esforço

“[…] o milagre da perfeição é obra de esforço, conhecimento, disciplina, elevação, serviço e aprimoramento no templo do próprio eu” – Emmanuel

Muito proveitosa a leitura da obra Agenda Cristã, pelo espírito de André Luiz. A introdução deste livro coube ao espírito Emmanuel, que nos informa saber que legiões de companheiros encarnados procuram a espiritualidade amiga em busca de diretrizes, preocupados em traçar caminhos exteriores. “Anseiam receber do plano espiritual sugestões diretas que os elevem às culminâncias da vitória fácil.” Entretanto, conclui o benfeitor, “indivíduo algum fugirá à experiência, cuja função é ensinar e melhorar sempre. Em tece de semelhante realidade, qualquer orientação sem base na harmonia Íntima não passará de simples jogo de palavras…”

Devemos nos comunicar com Deus e com os espíritos amigos sempre. Temos na prece poderoso instrumento de reflexão, de demonstração de humildade, de louvor, de agradecimento e de fé. Quando nos deparamos nos nossos caminhos com dores, sofrimentos, angústias, medo, devemos continuar a orar. A prece é luz e orientação em nossos próprios pensamentos, sempre será ouvida, contudo a Providência sabe, melhor do que nós, o que é ou será benéfico. Muitas das vezes, no roteiro de um espírito, o sofrimento por que passa é ou será útil à sua felicidade futura.

Uma coisa é certa, Deus concede sempre aos que rogam com confiança paciência e a resignação para enfrentar as expiações ou provas. Por meio da prece, permite o Criador que os espíritos bons nos intuam, para que tenhamos ideais e iniciativas que nos libertem das dificuldades. Ele assiste os que se ajudam a si mesmos, conforme esta máxima: “Ajuda-te, que o Céu te ajudará”. Na referida obra de André Luiz, encontramos, no capítulo 10, indicações preciosas sobre como se comportar nos Momentos Graves.

Antes mesmo de fazer-nos tais indicações, o espírito amigo, em capítulos anteriores, nos mostra um crescente de ideias e esclarecimentos, com base no Evangelho de Jesus, que reforçam o necessário esforço próprio, o aprimoramento de sentimentos e atitudes, “para que não estejamos recebendo, em vão, as bênçãos do Senhor”.

Começa André Luiz, nos falando dos Imperativos Cristãos, e dentre os vários mencionados, encabeça a lista, a necessidade de aprender com humildade e ensinar praticando. Na sequência, cita os Princípios Redentores, aqueles que chegaram a Terra com o Cristo, mas que ainda temos dificuldades de aplicar no nosso cotidiano: desejar o bem do outro, respeitar as diferenças e os diferentes, evitar confrontos, reparar os próprios defeitos, antes de apontar as falhas dos demais.

Enfatiza a importância de cultivar a simplicidade, de valorizar o tempo, não se afligindo, por que cada dia tem suas obrigações. Conclui este tópico afirmando “Seja alegre, justo e agradecido. Jamais imponha seus pontos de vista. Lembre-se de que o mundo não foi feito apenas para você”.

Segue André, destacando como Privilégios Cristãos, digo eu, dos verdadeiros seguidores do Cristo, a conquista de si mesmo, a renúncia em favor dos outros, o entendimento de que podemos retirar benefícios eternos de perdas temporárias. A Favor de Nós Mesmos indica o Espírito interpretar o adversário como portador de equilíbrio, pois “se precisamos de amigos que nos estimulem, necessitamos igualmente de alguém que indique os nossos erros.” Prescreve, ainda, alguns Medicamentos Evangélicos tais como jamais se desesperar, meditar mais, servir hoje esperando o amanhã e em Nosso Benefício desculpar o desertor, uma vez que ele é fraco e mais tarde terá que voltar à lição.

Solicita que Sejamos Fraternos, orando pelos que jamais encontram tempo ou recursos para serem úteis a alguém e também pelo Irmãos em Perigo: “Os que reconhecem a grandeza das verdades divinas, mas que jamais dispõem de tempo para cultivá-las, em favor da própria iluminação.” A respeito de nossas Conversações, nos instrui André Luiz que uma boa palavra auxilia sempre, mas que o mal não merece comentário em tempo algum. Finalmente, após descrever com clareza e riqueza de exemplos tantos pontos para o trabalho de reforma íntima e aprimoramento de nossas condutas, ele, parecendo nos considerar aptos a lidar com os Momentos Difíceis, indica: calma na luta, paciência nas deliberações, pois, por desígnios superiores, as circunstancias estão sempre mudando.

Conclui dizendo que não há razão para qualquer desespero, pois o tempo não passa em vão e que o reerguimento é a melhor medida para aquele que cai. Que sejamos comedidos nas resoluções e atitudes, pois nos instantes graves, nossa realidade espiritual é mais visível. Caríssimos irmãos, sigamos desejando ardentemente o bem e a renovação da humanidade, mas não nos esqueçamos de combater nos nossos lares, comunidades, cidades e países o bom combate, trabalhando e servindo, para que cheguem até nós as realizações de paz e cura que tanto demandamos.

Letícia Schettino Peixoto

• XAVIER, Francisco Cândido. Agenda Crista, André Luiz.
• XAVIER, Francisco Cândido. Segue-me, Espírito Emmanuel. Capítulo Ação e prece.

Laços de família

Embora alguns poucos ainda acreditem que a instituição familiar se encontra em decadência nos dias atuais, indubitavelmente, a família estará sempre preservada, continuará sendo sempre família, escola sagrada onde o amor é exercitado para se expandir na família universal. Ninguém nasce numa família por acaso. É feita uma programação entre os pais e os reencarnantes do mesmo lar, sejam comprometidos pelo desafeto ou ligados pela afeição sincera, mas visando sempre os ajustes necessários à nossa evolução espiritual. É um impositivo da lei da afinidade, que reúne as criaturas que vibram na mesma faixa, formando os laços de família.

Assim, abençoados pela misericórdia divina, mergulhamos na carne, no mesmo grupo familiar, todos recomeçando, experimentando uma nova oportunidade de reparação, trazendo na bagagem nossos potenciais adormecidos, nossas reminiscências dos erros passados, tendências, nossas metas e tarefas específicas. Enfim, nosso compromisso com o momento atual.

Santo Agostinho, no Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 14, Item 9, assevera que: “Os espíritos reúnem e formam famílias induzidos pela identidade de progresso moral, em semelhança de gostos e afeições, procuram-se originando-se as famílias unidas e homogêneas.  Se, nas peregrinações, ficarem temporariamente separados, mais tarde se reencontrarão felizes com seu novo progresso. Entretanto, como não devem trabalhar apenas para si mesmos, Deus permite que espíritos menos avançados venham encarnar entre eles a fim de receber conselhos e bons exemplos para progredirem. Causam, às vezes, perturbações no ambiente, mas aí que está a prova a executar. Recebei-os como irmãos; ajudai-os e mais tarde, no mundo dos espíritos, a família se alegrará.”

Não existe família ideal, mas sim família necessária, aquela que contribui para o nosso desenvolvimento espiritual e moral. É imperfeita porque é um espaço de divergências, de lutas, em que cada um traz seus gostos, suas diferenças, mazelas e suas imperfeições, que vão se atritando umas às outras no convívio de cada dia. Contudo, a nossa programação espiritual nos convida à tolerância sem conivência, à paciência, a dizer sim, a dizer não, à coerência, à gentileza.

Diante disso, cabe-nos refletir como tem sido a convivência com os nossos familiares. Temos dirigido a palavra a eles com amor? Temos procurado doar um pouco do nosso precioso tempo para eles? Temos dialogado,  a fim de também ouvi-los em suas necessidades? Temos dado um “bom dia, como vai você?” realmente atentos para a resposta deles? Um “boa noite, durma com Deus” sem realmente guardar ressentimentos de algo que nos aconteceu no dia que se passou? Temos oferecido o nosso melhor? Um abraço, um sorriso… Temos feito companhia uns aos outros, criando momentos de descontração e alegria? Ultimamente tem sido comum nos lares as comunicações virtuais que acabam promovendo um grande distanciamento dentro do lar, cada um em seu cantinho, com seu celular, horas e horas conectados com quem está distante, sem limites.

Todos nós já sabemos, mas nunca é demais repetir que a família é o nosso primeiro compromisso. A missão dos pais na educação dos filhos é indispensável e intransferível. Nós precisamos compreender o quão complexa é esta tarefa. Como diz Emmanuel, no livro Vinha de Luz psicografia de Francisco Cândido Xavier, lição 135, intitulada Pais: “Receber encargos deste teor é alcançar nobres títulos de confiança. Por isso, criar os filhos e aperfeiçoá-los não é serviço tão fácil.

A maioria dos pais vivem desviados através de vários modos, seja nos excessos de ternura ou de exigência, mas à luz do Evangelho caminharão todos no rumo da nova era.” Joanna de Ângelis, em seu livro Constelação Familiar, psicografado por Divaldo Pereira Franco, também proporciona-nos uma importante reflexão a cerca do papel dos pais através de uma educação voltada para o amor, para pacificação, para os valores como a dignidade, a amizade, a solidariedade, o trabalho e a caridade. Convida-nos a desarmarmo-nos dos sentimentos inferiores e individualistas para participar ativamente, educando-nos e educando os filhos ao mesmo tempo, num aprendizado constante. Convida-nos a ficarmos atentos para que os interesses  materialistas, fúteis, mesquinhos, as facilidades do mundo, não predominem na educação dos filhos, influenciando-os em suas escolhas, em seus propósitos de vida.

Os pais devem sim orientar os filhos para que tenham êxito em sua vida profissional, mas deve haver um equilíbrio entre os conhecimentos intelectuais e morais. Alertar sobre a importância do cuidado com a vida material sim, sem perder de vista sua transitoriedade, reconhecendo a importância também dos cuidados com espírito imortal. Conversar sobre as vicissitudes do caminho, sobre a justiça divina, os compromissos reencarnatórios, a função regenerativa da dor, para que os filhos não cresçam indiferentes ao sofrimento humano, não vivam iludidos como se tivessem vindo ao mundo a passeio, para curtir uma viagem de férias num mundo encantado de fantasias. Levá-los a perceber que a felicidade pode e deve ser construída sim, mas nunca fora do dever cumprido, porque não há paz nem alegria sem aprovação da consciência tranquila.

A orientação religiosa na família é de suma importância, tendo em vista que aumenta a resistência nas lutas morais e emocionais. Realizar o culto cristão do Evangelho no Lar semanalmente, incentivar os filhos a frequentarem a casa espírita, a reconhecerem a importância das tarefas, da leitura edificante e constante, isso tudo exige esforço, bom ânimo e renúncia dos pais, que não podem desistir nunca, porque o papel de quem educa é nunca sentir-se cansado a ponto de desistir. E, principalmente na fase da adolescência, na qual muitas vezes os filhos se mostram rebeldes e refratários aos ensinamentos, são necessárias altas doses de paciência e firmeza para não desanimar do plantio. Continuar investindo nessas sementes de hoje, confiando na colheita que virá um dia, na hora certa.

Que possamos nos posicionar na constelação familiar da qual fazemos parte, onde cada membro da família ocupa seu lugar, independente da dimensão onde esteja, da distância, do espaço físico. Que possamos acolher todos os membros desta constelação com a consciência do pertencimento, da hierarquia familiar, pai no lugar de pai, mãe no lugar de mãe, filho no lufar de filho, irmão no lugar de irmão, todos preservando sempre os sagrados vínculos de amor, gratidão e respeito. Que reservemos um lugar de amor dentro dos nossos corações para cada familiar, na certeza de que os laços que nos unem prosseguirão no mundo espiritual, através das nossas peregrinações, rumo à evolução.

Adriana Souza

Evangelho no Lar

Desejos os chamam, pensamentos os atraem

Antes de partirem com Aniceto rumo ao plano físico visando realização de tarefas e aquisição de conhecimentos, André Luiz e Vicente receberam auxílio magnético para ampliarem suas capacidades visuais. Por isso, ao chegarem à Terra, se depararam com cenas assustadoras, as quais não haviam presenciado em excursões anteriores ao círculo carnal. Disse André: “Entre dezoito e dezenove horas, atingimos uma casa singela de bairro modesto. No longo percurso, através de ruas movimentadas, surpreendia-me, sobremaneira, por se me depararem quadros totalmente novos. Identificava, agora, a presença de muitos desencarnados de ordem inferior, seguindo os passos de transeuntes vários, ou colados a eles, em abraço singular. Muitos dependuravam-se a veículos, contemplavam-nos outros, das sacadas distantes. Alguns, em grupos, vagavam pelas ruas, formando verdadeiras nuvens escuras que houvessem baixado repentinamente ao solo. (…) As sombras sucediam-se umas às outras e posso assegurar que o número de entidades inferiores, invisíveis ao homem comum, não era menor, nas ruas, ao de pessoas encarnadas, em contínuo vaivém. Não havia, ali, a serenidade dos ambientes de “Nosso Lar”, nem a calma relativa do Posto de Socorro de Campo da Paz. (…) Tinha a impressão nítida de havermos mergulhado num oceano de vibrações muito diferentes, onde respirávamos com certa dificuldade.” [1]

De fato trata-se de uma situação terrível. Já imaginaram a quantidade enorme de desencarnados que convivem conosco diariamente? Como ainda somos um tanto quanto atrasados no aspecto moral, vivendo até o momento em um planeta de provas e expiações, podemos deduzir que a maioria dos Espíritos que pululam conosco no dia a dia é formada por seres que também se mantém atrelados à retaguarda evolutiva. São irmãos inferiores que só se aproximam de nós porque permitimos, porque damos guarida e abrimos para eles as portas de nossa casa mental, franqueando-lhes livre acesso ao nosso mundo interior. Um velho adágio popular diz: “Diga-me com quem tu andas que eu direi quem tu és.” Entretanto, com os ensinamentos do Espiritismo podemos atualizá-lo da seguinte forma: Diga-me a natureza de teus desejos e pensamentos e eu te direi a natureza das tuas companhias espirituais. Os guias da humanidade disseram a Allan Kardec que o homem tem totais condições de se livrar da influência dos Espíritos inferiores que tentam arrastá-lo para o mal, tendo em vista que “(…) tais Espíritos só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos que, pelos seus pensamentos, os atraem.” [2]

Porém, essas entidades infelizes não renunciam totalmente às suas tentativas, pois ficam à espreita, em uma espécie de tocaia, aguardando um momento de invigilância do encarnado para retornarem com toda força.[3] Não obstante, é imperioso ressaltar que o meio definitivo para neutralizarmos essas influências nocivas é sempre praticar o bem em todas as oportunidades que nos forem concedidas e colocar toda a nossa fé e confiança em Deus.[4] São condições imprescindíveis para nos afastar dos maus Espíritos e, consequentemente, nos colocar em contato mais direto com os bons.

Percebam que a escolha é sempre nossa. Temos o poder de atrair para junto de nós tanto os maus quanto os bons Espíritos. Tudo depende da nossa sintonia e da nossa afinidade. Por isso, quando percebermos que nossos pensamentos, desejos e sentimentos não estão condizentes com as lições do Cristo, é imprescindível buscarmos o socorro da prece, rogando a Deus e a Jesus o amparo da Espiritualidade Superior, a fim de nos livrarmos das más influências. No entanto, é necessário também nos esforçarmos diariamente na prática do bem em todas as oportunidades possíveis.

Não obstante as dificuldades enfrentadas por André e Vicente na crosta terrestre, Aniceto esclareceu que, com o passar do tempo, seus poderes de resistência seriam ampliados, o que minimizaria os efeitos das sensações penosas que experimentavam. O instrutor, contudo, recomendava aos alunos bom ânimo e fortaleza mental ante todo e qualquer quadro menos agradável com o qual se deparassem. Com sua vasta experiência, explicava aos pupilos que a eficiência do auxílio, a quem quer que seja, depende muito de uma persistente educação, uma vez que não é possível ajudar alguém prendendo-nos a fraquezas de qualquer tipo. E aqui nos lembramos de Kardec, que nos ensinou que “a educação é o conjunto de hábitos adquiridos” [5]. Isso quer dizer que precisamos renovar os nossos hábitos e nos reeducar. Assim, estaremos próximos dos bons Espíritos e em condições de sermos instrumentos úteis em suas abnegadas e luminosas mãos. Seremos, enfim, parceiros de Jesus!

Valdir Pedrosa
[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 34 (Oficina de Nosso Lar).
[2] O Livros dos Espíritos – Allan Kardec – 2ª parte (Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos) – capítulo 9 (Da intervenção dos Espíritos no mundo corporal) – questão 467.
[3] O Livros dos Espíritos – Allan Kardec – 2ª parte (Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos) – capítulo 9 (Da intervenção dos Espíritos no mundo corporal) – questão 468.
[4] O Livros dos Espíritos – Allan Kardec – 2ª parte (Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos) – capítulo 9 (Da intervenção dos Espíritos no mundo corporal) – questão 469.
[5] O Livros dos Espíritos – Allan Kardec – 3ª parte (Das leis morais) – capítulo 3 (Da lei do trabalho) – comentário de Kardec à questão 685-a.